Ter o controle de si mesmo é a coisa que todo ser humano deseja, por
isso frequentemente vai aos centros de terapias, participa de seminários,
palestras, faz curso de hipnose, tudo na vasca de ter esse autocontrole.
No dicionário grego do professor C. Taylor, temperança é enkráteia,
quer dizer domínio próprio, continência, domínio sobre os desejos e as paixões,
especialmente os apetites sensuais.
Donald Guthrie explica a temperança assim:
Domínio-próprio: i.e., o domínio sobre os desejos do ego.
O verbo correspondente é usado em 1 Coríntios 7.9 sobre o controle dos
desejos sexuais, mas o substantivo no presente contexto inquestionavelmente tem
uma conotação mais ampla. Na vida dirigida pelo Espírito, o “eu”, deve manter-se
no seu lugar adequado. O autocontrole, no entanto, não significa a negação de
si mesmo, mas uma avaliação real da função do nosso ego na forma mais nobre de
vida. Não poderá haver exemplo melhor do que o de nosso Senhor, que jamais
enfatizou sua própria vontade, mas nunca deixou de impressionar os demais com o
poder da sua personalidade.
O Espírito reproduz no crente o mesmo tipo de conceito equilibrado do
“eu”. (GUTHRIE, 1999, p. 180)
Pelas palavras de Donald, o Espírito Santo não mata o eu, ele não é
excluído de nós, mas Ele não deixa que o tal esteja em primeiro lugar, por isso
Paulo disse: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo
vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o
qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” (G1 2.20).
Nas páginas do Novo Testamento, encontraremos a excentricidade do eu
na concepção de Paulo, evidenciando que ele está em nós, mas que para barrar
sua atividade egocêntrica é preciso o fruto da temperança, a fim de que o
autocontrole aconteça.
a) Paulo destacou a importância da temperança (At 24.25).
b) A temperança deve ser sempre acrescentada à vida cristã (2 Pe 1.6).
c) Ê um domínio próprio que não comete coisas fora do controle (1 Co
7.9)
d) E uma prova de uma vida bem disciplinada (1 Co 9.25).
e) Os pastores devem priorizar esse fruto, tendo domínio de si (Tt
1.8).
A derrota de um homem está em não ter controle de si, dos seus desejos
e suas paixões. Por vezes ele luta para isso, mas tudo em vão, pois a natureza
pecaminosa com suas obras falam mais alto. Deus disse para Caim que o desejo
estava dentro dele, cumpria a ele dominá-lo, mas não pôde. “Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado
jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás” (Gn 4.7).
Para muitos estudiosos, é difícil manter o domínio de si mesmo. Nesse
particular, Freud tentou dar suas explicações e como alcançar o equilíbrio
certo. Analisando a personalidade humana, ele disse que nela existem três
elementos chamados de:
a) Id. E a parte irracional ou animal. Ela é o lado biológico, hereditário,
e que procura sempre os nossos impulsos sexuais, isto é, a nossa libido.
b) Superego. Pode ser definido como um tipo de força que é adquirida
lentamente por influência da nossa vida em sociedade.
Por viver em sociedade, o homem sempre está recebendo influência do
seu meio, como por exemplo: ideias morais, religiosas, regras de conduta. Elas
terão forças em nossa própria personalidade.
c) Ego. Seria a nossa razão. Por meio dele é que se consegue manter o
equilíbrio; ele é a nossa inteligência.
Freud ensinava que os impulsos do Id eram inconscientes, ignorados,
despercebidos. Ele dizia que entre o Id e o Superego havia constante conflito,
pois, o Superego não se coadunava com a satisfação animal; já o Id queria
sempre se realizar. Freud dizia que esse conflito interno jamais seria
percebido por nós.
O ego era o responsável para manter o equilíbrio entre essas duas
forças opostas. Sendo assim, a pessoa passaria a ter uma saúde mental normal,
mas quando ele não consegue manter esse equilíbrio, aparecem os distúrbios.
Para Freud, a nossa personalidade é bem dinâmica, nela estão presentes duas
forças opostas.
Pela Palavra de Deus, não há nada dentro do próprio homem que possa
lhe dar forças para vencer as obras da carne, pois até sua justiça é como trapo
de imundícia (Is 64.6). Obviamente, podemos dizer que Freud e outros educadores
não atentaram para a questão espiritual, mas está claro que a inclinação da
carne é sempre para a carne, e que nela o homem não pode agradar a Deus (Rm
8.5-9; Gl 5.22,25), para vencer e reprimir seus desejos é preciso ter o fruto
do Espírito.
Na temperança, o homem não se entrega a diversões ou prazeres dissolutos,
corruptos, mas tem a posse de si mesmo, sabe controlar seus desejos, emoções
(Gn 43.31). Muitos estudiosos falam que no aspecto ético o homem que tem
controle de si é prova de que sua alma está agindo, de modo que ele repele
aquilo que pode prejudicá-lo. Mas como isso é possível quando tudo no seu ser
está contaminado pelo pecado?
Alguns filósofos falaram da importância de se ter a enkráteia na vida,
mas isso ficou só na teoria, pois muitos deles se entregaram aos mais infames
prazeres. Os pais da igreja destacaram a importância da temperança, afirmaram
que ela era a maior virtude que um homem podia ter, uma dádiva de Deus. Segundo
Clemente, a temperança era uma das colunas que sustentavam a fé cristã, era a
expressão maior do amor cristão.
O cristão que deseja ter um viver controlado, que não quer se entregar
aos mais baixos prazeres, a não perder o equilíbrio, mas que quer manter a boa
disciplina, o autocontrole, deve ser dominado pelo fruto da temperança.
Prostituição, uma Obra Carnal
No grego, a palavra para prostituição épomeia. Na sua primitiva raiz,
pomé quer dizer prostituta, mas prostituição é mais abrangente. No seu
prosseguimento de definições, essa palavra vai apontar também para uso do corpo
para a venda do sexo, daí o verbo pemumi. Muitos gramáticos gregos preferem
fazer a tradução depomeia para “imoralidade”, pois desse modo ela aponta para
uma série de pecados imorais praticados com o corpo.
Na palavra porneia está implícito também o sentido de adultério, e
para os judeus tal pecado estava relacionado com a religião, pois nos cultos de
fertilidade, os atos imorais praticados nos templos pelas prostitutas sagradas
eram vistos como atos religiosos. O dinheiro que as prostitutas cultuais
recebiam era considerado “sagrado”, e era usado para a expansão ainda maior do
pecado de idolatria. Historicamente, a cidade de Corinto tinha mais de mil
prostitutas (Rm 1.18-27). Paulo era consciente dos males que essa prática
pecaminosa poderia causar, por isso bateu de frente contra esse pecado.
A prostituição deve ser evitada porque nela há uma quebra geral da
valorização da pessoa humana. Quando um homem se entrega aos braços de uma
prostituta, a relação não é feita por amor, carinho, respeito, consideração,
mas se baseia apenas em uma venda, uma compra de um prazer sexual, em que a
mulher é apenas um mero objeto para o homem realizar suas fantasias e desejos.
Perceba o quanto as obras da carne são maléficas. Enquanto Deus deseja o melhor
para o homem e a mulher, criando o casamento para a felicidade, onde os dois
podem ser respeitados, valorizados, a prostituição entra em cena tão somente
para fins luxuriosos. Essa é a razão de Paulo dizer: “Fugi da prostituição.
Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui
peca contra o seu próprio corpo” (1 Co 6.18).
No meu livro Tesouros nas Cartas Missionárias, ao explicar o versículo
acima digo:
Paulo fala que existem coisas que são para o corpo e que não trazem
nenhum problema espiritual, mas, quanto à porneia, que é a prostituição,
relação sexual ilícita (Ap 2.21), que fala também de imoralidade praticada no
corpo, ela causa pecado, pois o corpo é para o Senhor. Paulo faz uso do dativo
grego para expressar essa ideia: tô kyriô. O corpo do crente é membro do corpo
de Cristo, o substantivo méle no grego significa parte do corpo (Mt 5.29; Mc
7.5; Ef 5.30), portanto, sendo o nosso corpo membro do corpo de Cristo, o mesmo
não pode ser usado como membro de uma prostituta, pois quando isso acontece a união
com Cristo é desfeita, pois nesse caso desenvolve aquilo que Paulo chama de
kollómenos, isto é, uma união,um abrasamento, grudamento (Gn 2.24; Lc 10.11; Mt
19.5; At 5.13). A prostituição tira o lugar de Cristo, (no prelo)
O mundo moderno fala do ficar, da moça e do rapaz serem livres para
fazer o que quiserem com o seu corpo, inclusive manter relações sexuais fora do
casamento sem qualquer compromisso, não levando em consideração os efeitos que
um relacionamento sem responsabilidade pode causar, pois a prostituição não
cria amor, respeito, mas leva o outro ou outra a serem vistos simplesmente como
objetos.
Olhando para trás, vemos que os povos antigos eram libertinos na
questão dos prazeres, especialmente no sexo. Muitos diziam que era normal
manter sexo fora do casamento, e que o homem poderia ter sua esposa apenas para
gerar filhos, mas jamais deveria abrir mão de prostituas para a realização dos
mais vergonhosos prazeres. Essa posição plangente pôde ser contemplada na
Grécia e em Roma.
A promiscuidade era algo sem precedente. Reis, imperadores, rainhas,
filósofos, políticos, senadores, todos viviam na mais alta libertinagem
praticando todo tipo de pecado: prostituição, incesto, homossexualismo,
adultério, pedofilia. O casamento passou ao não ser levado a sério, e muitos
queriam proceder como Platão, Sócrates e Aristóteles, que eram amantes de
meninos.
O mais interessante, diante desse cenário de pecados crassos,é que não
foram os cristãos que procuraram relatar tudo isso, mas sim escritores pagãos,
pois muitos já não suportavam mais esse
panorama, alguns tentaram criar leis para barrar tais desejos, mas entenderam
que era impossível controlar, pois estava na natureza deles. Esse teatro de
pecado tornou-se tão comum na Grécia, que é de onde Roma aprendeu a pecar, que
na igreja de Corinto o incesto não era visto como coisa anormal (ICo 5.1).
A Bíblia condena a prostituição, que é vista da seguinte maneira:
a) Obra da carne (G1 5.19).
b) Coisa da natureza pecaminosa (Cl 3.5).
c) Todos devem abster-se dela (1 Ts 4.3).
d) E pura imundícia (Ap 17.4).
e) Corrompe (Ap 19.2).
Queridos irmãos, a prostituição é uma obra carnal que destrói os bons
valores, os saudáveis relacionamentos. Dela todo crente deve fugir, pois agora
vivemos no Espírito Santo e temos o fruto para nossa santificação (Rm 6.22). Sobre nossa vida em Cristo, atente
para as palavras do pastor Stanley Horton:
O cristão, ao identificar-se com o Salvador crucificado, realmente
crucificou a carne com as suas concupiscências.
Mas aquela vitória, que é potencialmente nossa, deve se tornar ativa e
real. Nós, como cristãos, vivemos no Espírito no sentido de termos nossa vida
mediante o Espírito. Mas também devemos andar no Espírito para as tendências,
os impulsos e os desejos da carne serem realmente purificados
na nossa experiência diária (Rm 8.4,5). (1993, p. 192)
Podemos vencer as obras da carne, pois agora somos novas criaturas em
Cristo Jesus, de modo que foi sepultado o homem velho.
A Glutonaria e seus Males
A palavra kômos quer dizer orgias, conforme aparece no texto grego,
mas algumas Bíblias traduziram como glutonarias, diversões, e notamos que
méthai, bebedeira, vem como companheira.
É bom de imediato entender que a ênfase aqui não é sobre o glutão,
aquele que come muito, pois os que procedem assim pecam contra o corpo e não
para com o Senhor. O conselho para quem come demais é seguir o que disse Salomão:
“E põe uma faca à tua garganta, se és homem glutão” (Pv 23.2).
O glutão, como sendo aquela pessoa que come muito, no hebraico é
denominado de zaial. Este vive se entregando à comida, bebida, festividades,
sem compromisso de nada (Dt 21.20; Pv 23.20,21). Note que na concepção hebraica
o termo glutão não tinha apenas o sentido de comer muito, mas envolvia o
aspecto da rebeldia; por isso era aplicada a pena de morte.
No grego, glutão éphdgos, tem o sentido de comer muito (Mt 11.19; Lc
7.34). Jesus foi acusado de ser um comilão e beberrão, mas a citação que diz
isso não está dizendo que Ele era um glutão, pois não vivia apenas para
satisfazer o estômago (Tt 1.12).
Podemos então entender que glutonaria na Bíblia não aponta apenas para
o comer demais. Em boa parte que essa palavra aparece, ela está ligada a
excessos de comida e bebidas envolvendo tonalidades negativas do pecado. Mas no
âmbito geral, tirando a pecaminosidade, a glutonaria sempre é prejudicial ao
corpo, pois compromete sua saúde.
Não há dúvidas de que a sociedade humana sabe dos perigos que a bebida
pode causar, e os crentes são sempre alertados quanto à embriaguez, pois a
bebida alcoólica é sempre forte, fazendo com que o homem perca sua capacidade
pensante, racional, o que sem saber faz coisas horríveis, razão pela qual ela
deve ser evitada (Pv 20.1; Is 28.7; Ez 23.33).
Certa vez, uma jovem me perguntou se era pecado beber. Eu respondi:
“Olhe para o episódio de Noé. Sendo ele um homem de quem Deus deu testemunho,
não conseguiu se controlar por causa do vinho, imagine nós”.
E bebeu do vinho, e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda.
Viu Cam, o pai de Canaã, a nudez de seu pai, e fê-lo saber a ambos seus irmãos
fora. Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na sobre ambos os seus
ombros, e indo virados para trás, cobriram a nudez do seu pai, e os seus rostos eram virados, de maneira que não viram a nudez do seu pai.
E despertou Noé do seu vinho, e soube o que seu filho menor lhe fizera. (Gn
9.21-24)
Esse texto nos mostra que somos fracos, pecadores, e qualquer coisa
pode despertar a natureza carnal que está dentro de nós. Ela só pode ser
repelida pela busca constante do poder do Espírito Santo.
Um cristão que tem o Espírito Santo de Deus na vida procura abster-se
da embriaguez, e não procede de modo que cause escândalo ao seu irmão, nem usa
de sua liberdade para pecar (Rm 14.21; 1 Co 8.9).
Diante de tudo o que expusemos, entendemos agora que a palavra Kômos
não se refere à glutonaria propriamente, nem somente à festa de comemoração por
uma vitória, como diziam os gregos. Mas orgia, nesse texto, é uma referência
direta à obra carnal, uma realização deliberada no prazer sexual,
licenciosidade; é a dita festa do bacanal. Falando da festa dedicada ao deus
Baco, veja o que diz Champlin:
[...] Glutonarias... Originalmente essa palavra indicava, no grego, um
cortejo festivo, em honra ao deus pagão do vinho, Dionísio. Era uma refeição e
um banquete festivo; mas com frequência seus participantes perdiam o domínio próprio
e tudo se transformava em ocasião de glutonaria e bebedeira, de “orgia”, sendo
possível que a lista de vícios, preparada por Paulo, queria levar-nos a
compreender ambos esses sentidos da palavra [...] por Dionísio (Baco) era
adorado com os excessos sexuais próprios desse culto, com a bebedeira, com a
glutonaria, com os excessos, e os que tais coisas praticavam racionalizavam,
tal como se verifica hoje em dia, que nada se fazia de errado com tais atos,
apelando para uma ou para outra desculpa. A “adoração ao deus” era boa, segundo
pensavam, a despeito das maldades que daí resultavam. O conceito de “liberdade”
era identificado como o “direito” de participar de tais festividades,
acompanhado da imunidade da censura pública... (CHAMPLIN, 1995, p. 508)
Quantas festividades na atualidade não são realizadas em nome da
cultura, da liberdade, mas que na sua praticidade o que acontece são os pecados
mais vis, que inclusive os jornais e revistas têm vaticinado.
Tanto kômos como méthai, dentro desse texto de Gálatas 5.21, não se
referem a comida e bebida no seu sentido natural, mas descrevem um procedimento
puramente carnal e desregrado da natureza pecaminosa, que se atira às mais
horríveis orgias.
Desse tipo de comportamento todo cristão sincero e que deseja o céu
deve fugir.
Fonte: Aqui👇👇
Autor do blog: Almir Batista
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