RETIRADO DO LIVRO - VALORES CRISTÃOS -Enfrentando as questões morais do nosso tempo. Douglas Baptista.
Devido
ao avanço tecnológico, várias mudanças foram inseridas na sociedade. A rede mundial de
computadores, conhecida como Internet, conecta o mundo todo. Com o
surgimento das redes sociais, tudo o que acontece é comentado e divulgado de modo instantâneo. Informações são
transmitidas com rapidez surpreendente. Em contrapartida, vivemos
um estágio em que as
pessoas se relacionam mais virtualmente do que presencialmente.
O desenvolvimento das tecnologias
digitais favoreceu o estabelecimento de novas formas de interação social e, a
partir destas, novos paradigmas de relacionamentos. Nesse novo paradigma, as
relações sociais tornaram-se virtuais, o contato e o diálogo foram se
distanciando de seu conceito original e as relações sociais tornaram-se
efêmeras. As publicações nas redes sociais apresentam distorções da felicidade,
criam ilusões e padrões utópicos de vida perfeita. A falsa ideia de privacidade
e anonimato permite extravasar sentimentos e paixões culminando em relações
sociais descartáveis e desastrosas. Estatísticas indicam que mais de um terço
da população mundial está conectada à web e interage por meio de redes sociais.
Dados indicam que as redes sociais transformaram-se em um importante meio para
a divulgação de informações e a propagação de ideologias e todo o tipo de ativismo.
Diante desses fatos, a igreja precisa
instruir seus membros no uso das novas
tecnologias e buscar métodos da evangelização por meio das redes sociais. O
cristão precisa estar consciente de suas responsabilidades e deveres no mundo
virtual. A igreja não pode viver alienada diante dessa realidade cada vez mais
presente na vida dos fiéis. Neste capítulo, veremos a gênese da comunicação virtual, o conceito, o
perigo e o mau uso das redes sociais, bem como o desafio da igreja hodierna em
evangelizar por meio dessas novas tecnologias. Para tanto, dizem as Escrituras,
“rejeitamos as coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia
nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de
todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (2 Co 4.2).
I. O
CONCEITO DE REDE SOCIAL
As redes sociais podem ser consideradas de modo genérico
como sites de relacionamentos. Como fator positivo, possibilitam às
pessoas se relacionarem virtualmente; todavia, também oferecem riscos aos seus
usuários.
O termo é utilizado para indicar uma
aplicação da rede mundial de computadores (web) cuja finalidade é
relacionar as pessoas. Os que aderem a um site de relacionamentos podem
conectar-se entre si, criar um perfil, adicionar amigos e conhecidos, enviar
mensagens, fazer depoimentos, trocar informações, fotos e vídeos, além de
estabelecer vínculos. A rede social moderna surgiu no início do século XXI e
viabilizou aos usuários encontrar amigos do passado, reencontrar pessoas e
ampliar o círculo social.
As redes sociais não são
satisfatoriamente seguras. Os dados e informações pessoais podem ser invadidos
por terceiros. Entre os principais riscos associados às redes sociais está a
invasão de privacidade, danos à imagem e à reputação, vazamento de informações
e contato com pessoas mal- intencionadas. Além disso, existem muitos perfis
falsos (fakes), comunidades polêmicas, discriminatórias, conteúdos com
imoralidade e preconceitos em geral. Como tudo na Internet e nas tecnologias da
informação, as redes sociais apresentam
danos para seus usuários.
II. O PERIGO DA
RELAÇÃO DESCARTÁVEL E AS NOVAS
TECNOLOGIAS
A velocidade da informação e a efemeridade nos
relacionamentos virtuais têm provocado sérios danos nas relações sociais.
Quando as novas tecnologias são
utilizadas como fuga de problemas ou como substitutas das relações humanas, o
chamado avanço tecnológico se torna um verdadeiro retrocesso.
1. A Distorção da Felicidade
Nas redes sociais em geral, as pessoas publicam uma vida
perfeita e um mundo repleto de felicidade. As redes estimulam a prática do
narcisismo, ou seja, o indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem
e nutre uma paixão excessiva por si mesmo. Essas pessoas tendem a buscar uma
felicidade fútil, em meio a fotos montadas e a sorrisos falsos. Os usuários
editam a própria vida apresentando a si mesmos como vencedores e vendem a ilusão de que vivem em plena paz e
harmonia. As Escrituras condenam os que se ufanam e vivem em hipocrisia (Is 5.20,21).
A verdadeira felicidade
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
define felicidade como “completo bem-estar físico, mental e social”. O
“Relatório Mundial sobre a Felicidade” publicado pela Universidade de Columbia,
em 2012, apontou multiplicidade no conceito:
A felicidade inclui avaliações sobre a vida de maneira geral
e aspectos positivos e negativos de emoções que afetam o dia a dia de cada um.
Alguns fatores são externos como emprego, renda e saúde. Outros são pessoais,
como gênero, educação, saúde mental e idade. Outros são inter- relacionados:
com maior renda é possível ter melhor educação e sendo mais feliz, a saúde também melhora. (KAHN,
Jan. 2013)
O problema desses conceitos é que eles
estão condicionados a algo, a alguém ou a alguma coisa. Quando esses quesitos
não são preenchidos, a felicidade acaba ou não acontece, e se instala a
frustração e, em consequência, a tristeza e o sofrimento. A Bíblia Sagrada
apresenta a felicidade como sendo a alegria que não depende de nenhuma
circunstância (Lc 12.15). Ela é fruto do Espírito, caracterizado por um deleite
e regozijo permanente na vida do cristão (Gl 5.22, Fp 4.4). A tentação de
buscar a felicidade nos bens efêmeros é insensatez e resulta em desgosto (1 Tm
6.8,9). A verdadeira alegria só pode ser encontrada no temor e na obediência ao
Criador: “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos!
Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem” (Sl 128.1,2).
2. O Isolamento e a Solidão
Na década de 1990, pesquisadores chamaram atenção para o mal
social chamado de “paradoxo da Internet”. Trata-se da contradição de alguém ter
vários relacionamentos virtuais e, ao mesmo tempo, ausência real de contato
humano. Estudos recentes demonstram que o aumento no uso da Internet coincide
com o aumento da solidão, problema acentuado pelas redes sociais. O ser humano
está sendo integrado à tecnologia e tratado como se fosse também uma máquina.
Essa falta de equilíbrio tem desencadeado crises emocionais, ansiedade e
isolamento (Jr 6.14).
Dependência virtual
Reconhecemos a importância, a
contribuição e os benefícios proporcionados pela Internet e as redes sociais.
No entanto, não podemos fechar os olhos diante de seus efeitos colaterais,
como, por exemplo, a dependência
virtual. Estudos psicológicos detectaram
oito sinais de uso
patológico da rede: (i) incapacidade de controlar o uso da internet; (ii)
necessidade de se conectar mais vezes; (iii) acessar a rede para fugir dos
problemas ou para melhorar o estado de ânimo; (iv) pensar na internet quando se está off-line; (v) sentir agitação
ou irritação ao tentar restringir o uso; (vi) descuidar do trabalho, dos
estudos ou até mesmo dos relacionamentos
pessoais por causa
da rede; (vii)
sofrer pela abstinência; (viii) mentir sobre a
quantidade de horas que passa conectado e/ou permanecer muito mais tempo do que
o previsto (SAYEG, 2000, p. 153). O usuário enquadrado em alguns dos itens
acima pode estar usando a Internet como fuga para problemas psicológicos. O não
tratamento desses sintomas resulta em dependência e isolamento cada vez maior.
3. Relações Sociais Efêmeras
Segundo o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), a
sociedade vive um momento de frouxidão nas relações sociais. Bauman chama esse
fenômeno social de “modernidade líquida”. Os tempos são “líquidos” porque tudo
muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. Nas redes
sociais, com apenas um clique é possível bloquear, deletar e excluir pessoas. E
com outro clique pode aceitar, comentar e curtir outras pessoas. Essa situação
representa um declínio das sólidas relações humanas, uma vez que, por meio das
tecnologias, a amizade, o amor e o respeito
entre as pessoas são facilmente
descartáveis (Ec 1.2).
O efeito paradoxal
A maior parte das pessoas busca nas redes
sociais aproximação com outras pessoas. Mas, em total paradoxo, os
relacionamentos virtuais tendem a ter maior importância que os relacionamentos
reais. É comum, por exemplo, pessoas caminharem “conectadas” absortas e
cabisbaixas pelas ruas, alienadas do mundo real. Quase ninguém mais conversa
sem o uso da Internet. Nos restaurantes, famílias inteiras ou grupo de amigos, acessam
a Internet e não dialogam entre si, exceto por monólogos ou sobre o que
estão vendo nas redes sociais. Esse fenômeno também é observado nas escolas, no
âmbito do trabalho e até de maneira insana e irresponsável no trânsito urbano.
Tal comportamento é um retrocesso, pois torna as relações humanas superficiais,
transitórias e irrelevantes. Faz-se necessário e imprescindível corrigir essas
distorções, especialmente em nossa vida privada, junto de nossa família e de
nossos amigos. A sensatez é primordial, uma vez que todo excesso é extremamente
danoso ao ser humano.
4. A Falsa Sensação
de Privacidade
Diversos usuários das redes sociais iludem-se com a sensação
de privacidade e ficam expostos a toda espécie de constrangimentos. Comentários
pessoais, sentimentos de foro íntimo, fotos e vídeos comprometedores saem da
área do privado e se tornam públicos. Essa sensação de privacidade também
favorece a prática do pecado viral (algo que se espalha rápido como um vírus).
Pode ser desde a reprodução e retransmissão de pornografia até a divulgação de
notícias falsas e difamatórias (2 Tm 2.22; Pv 16.28).
A indecorosa prática do “nudes”
A possibilidade de manter a identidade
real oculta é um dos fatores que impulsionam o uso equivocado da Internet.
Algumas pessoas sentem-se à vontade para extravasar seus impulsos sexuais
ilícitos sem medo de repercussão. A fantasia do anonimato e a falta de inibição
estimulam a prática da imoralidade. Uma conduta deplorável tem sido a postagem
de “nudes” (imagens da pessoa nua).
Segundo pesquisas divulgadas por sites
especializados, mais de 50% das mulheres com acesso a redes sociais já
enviaram, ao menos, uma foto de nudes e mais de 42% dos homens já
realizaram tal prática (TRIBUNA DO CEARÁ, out. 2016). A postagem da imagem de
“nudes” acontece no âmbito privado, mas, em vários casos, quem recebe as
imagens salva as fotos e as compartilha nas redes sociais, tornando-as de
domínio público. Tal atitude pode ser responsabilizada criminalmente; no
entanto, nenhuma condenação poderá reparar o dano moral causado. Os que tiveram
suas fotos divulgadas passaram e passam por diversos infortúnios, tais como o
bullying, automartírio, abalos psicológicos e alguns chegam inclusive ao
extremo de cometer o suicídio. O ideal mesmo é não compartilhar nenhuma imagem
íntima nem sua e nem de terceiros, primeiro por ser uma prática imoral (Gl
5.19) e segundo por ser uma conduta antiética.
III. A REDE
SOCIAL A SERVIÇO DO REINO DE DEUS
A igreja de Cristo precisa ser consciente quanto ao
potencial das redes sociais e deve usá-la na propagação do Reino de Deus. Mas
para evangelizar nas mídias não basta postar mensagens de cunho cristão; é
indispensável o bom testemunho do usuário na rede de computadores.
1. O Bom Testemunho
nas Redes Sociais
Cristo ensinou que o cristão é a luz do mundo (Mt 5.14) e
que essa luz deve resplandecer por meio das boas obras a fim de glorificar o
nosso Pai que está nos céus (Mt 5.16). Desse modo, para o bom testemunho nas
redes sociais, o cristão não deve postar comentários negativos ou fazer pré-julgamento
das pessoas. Deve tomar todo cuidado e precaução com fotos e vídeos que
publicar, sejam pessoais, sejam de terceiros. Avaliar o conteúdo, a coerência,
o vocabulário e a ética cristã das mensagens antes de postar, comentar ou
curtir. Paulo nos ensina a fazer de tudo para ganhar as pessoas para Cristo (1
Co 9.22).
Importância da boa reputação
O
requisito de boa reputação é fator preponderante na evangelização, tanto a pessoal (corpo a corpo) quanto a
virtual (Internet). O bom caráter e a idoneidade daquele que evangeliza deve
ser testemunhado pelos não crentes. Espera-se dos cristãos que desfrutem de um
viver reto e íntegro, por meio da oração e santificação no Espírito Santo. Se
isso não for observado, a evangelização será inócua, quem evangeliza será
difamado e envergonhado, a igreja colocada em descrédito e o evangelho de Jesus
vilipendiado:
Um viver incoerente, contraditório com os valores morais e
éticos do evangelho, certamente inviabilizaria toda e qualquer possibilidade de
ser reconhecido como um líder cristão, como um instrumento de bênção nas mãos
de Deus. Um viver incompatível com o evangelho apenas revela o profundo abismo
existente entre o homem e Deus. (EMAD, 2005, p. 241)
Somos servos de Deus e estamos sendo observados. Se
quisermos testemunhar de Cristo e seu evangelho, precisamos vigiar nossa
conduta. Portanto, é inadmissível que aqueles que usam as redes sociais para
provocar constrangimentos, estimular o preconceito e a discriminação, enviar ou
receber “nudes”, curtir e compartilhar imagens, vídeos e mensagens com conteúdo
lascivo ou duvidoso possam ter autoridade moral ou espiritual para evangelizar
alguém. Quanto à necessidade de evangelizar corretamente, Paulo nos alertou: “se o faço de boa mente,
terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada” (1
Co 9.17)
2. O Uso Correto da
Evangelização Digital
A Internet é uma grande aliada na divulgação do evangelho,
porém alguns cuidados são necessários para não tornar a mensagem inócua. As
postagens não podem ser grandes e os vídeos não podem ser demorados. A mensagem
precisa ser clara, concisa e objetiva. Antes de compartilhar as imagens, deve-
se verificar a veracidade bíblica daquela mensagem e o seu teor teológico.
Em lugar de postagens com frases de efeito ou de autoajuda,
devem-se priorizar os versículos bíblicos. Ao reproduzir áudios e vídeos,
deve-se verificar se não existe algo que possa causar escândalos ou
intolerância religiosa. Também não se deve atacar a ninguém, apenas anunciar e
confessar a Cristo (1 Co 1.23,24).
Evangelizar é comunicar
No decorrer da história da humanidade,
Deus tem se revelado e se comunicado com o ser humano. O escritor aos Hebreus
assevera que Deus falou antigamente aos pais, pelos profetas, e a nós falou-nos
nestes últimos dias pelo seu Filho (Hb 1.1). Desse modo, o ápice da comunicação
divina acontece na Encarnação do Verbo Divino: “o Verbo se fez carne e habitou
entre nós, e vimos a sua glória” (Jo 1.14). Jesus Cristo é o encontro mais
pleno alcançado entre Deus e o homem. Ao revelar sua mensagem aos escolhidos,
Deus desejou que ela fosse compartilhada com todos: “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”
(Mt 28.19, ARA). Portanto, evangelizar não é simplesmente anunciar uma
doutrina, mas é comunicar-se com o outro, isto é, “entrar em diálogo,
relacionar-se, viver em comunhão com Deus para poder testemunhar com
autenticidade Àquele em quem se crê e entrar em comunhão com outras pessoas”
(SILVA, 2015, p. 12). Sob essa perspectiva, as redes sociais tornam-se um campo
fértil para a comunicação do evangelho.
Resultados promissores
Em
2011, a Global Media Outreach (Alcance Global pela Mídia) divulgou que
mais da metade das pessoas que se decidem por Cristo na Internet posteriormente
compartilham sua fé com outros internautas. Desses convertidos on-line, 34%
afirmam ler a Bíblia Sagrada diariamente. O estudo denominado de
“Índice do Crescimento
Cristão” ouviu mais
de 100 mil pessoas ao redor do mundo. Segundo Walt Wilson, presidente
da instituição, desde a sua fundação, em 2004, mais de 15 milhões de pessoas já
se decidiram por Cristo. A eficácia da evangelização pode ser resumida em três
processos bem simples: (i) levá-los ao Salvador — páginas web que ajudem a
encontrar Jesus; (ii) alimentá-los na fé — websites de discipulado e
guias para recém-conversos; e, (iii)
conectá-los à Igreja — conduzir o convertido a frequentar uma igreja local.
Para isso, explica Wilson, não basta ter uma página na internet, transmitir
cultos e comunicar-se pelas web rádios. O resultado se obtém por meio do
discipulado e a comunicação com o novo convertido; essas ações são tão
imprescindíveis quanto o evangelismo (ARAGÃO, Dez. 2011).
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