Por: Gesiel Pereira
Dos três milagres de Jesus em que Ele esteve ressuscitando
pessoas, devolvendo a vida e a alegria, e glorificando o Pai que está nos céus
por meio desses milagres, podemos afirmar que o acontecimento narrado pelo
evangelista Lucas na cidade de Naim (Lc 7.11-17) foi o mais comovente e
deslumbrante. O que nos chama a atenção nas outras ressurreições - a volta à
vida da filha de Jairo e a ressurreição de Lazaro - é que, por mais que o
poder, o amor e a compaixão de Cristo estejam sendo manifestados, o crer é
exigido tanto de Jairo como de Marta e Maria. Nos dois casos, os interessados
partem ao encontro de Jesus, ao contrario do milagre acontecido na cidade de
Naim, onde Jesus vai ao encontro da viúva. Em Naim, acontecera um milagre
subsequente de Jesus, visto que Ele partira a Naim vindo de Cafarnaum (Lc
7.1-10), de um cenário onde “goteja fé”, e muita fé por sinal, pois o próprio
Jesus maravilhou-se de não ter visto tanta fé nem mesmo em Israel. Mas, o que
levou o Senhor da vida a caminhar aproximadamente cinquenta quilômetros para um
lugar onde não havia fé nenhuma naquele momento, quando é a a fé que move todas
as coisa e por ela as coisas são estabelecidas? Talvez para conseguir responder
isso deveríamos perguntar também. O que levou o Deus eterno a descer dos céus à
Terra e torna-se homem? Por que Ele lavou os pés daquele que o trairia? Por que
Ele multiplicou pães e peixes para uma grande multidão? Tinha Ele que restaurar
a orelha do soldado? Por que na véspera da Sua morte, em vez de se confinar
sozinho em algum lugar, Ele resolveu jantar com os seus Seus amigos? Foi por
causa de alguma fé que surgiu nesses eventos? De maneira alguma. Foi por causa
do seu grande amor e pelo mover de sua íntima compaixão. Foi devido a umde seus
atributos: o amor. Jesus é movido pelo Seu amor, e por essa razão vai ao
encontro de uma viúva, à qual só restavam as lágrimas. Creio que tudo o que
aquela viúva poderia ter feito pelo seu filho ela fez. Provavelmente cumpriu os
costumes judaicos, lavou e ungiu o corpo do seu filho, colocou o seu filho em um
esquife (uma espécie de maca, e não um caixão fechado) para levá-lo ao
sepulcro, adquiriu pelo menos duas flautas e contratou pelo menos uma
carpideira para prantear pelo seu filho. O cortejo fúnebre judaico em tudo se
diferencia dos cortejos fúnebres ocidentais. A pobre mulher, pela segunda vez
provavelmente, fazia o mesmo trajeto, pois já havia sepultado o seu esposo.
Ela, mesmo estando viva, puxava o pelotão da morte. A pequena Naim, que
significa “agradável”, mais uma vez exalava o odor da morte. Morrer
precocemente era pior ainda, pois era considerado um juízo da parte de Deus
para a família ou para a pessoa. Nos costumes judaicos, a mulher sempre andava
na frente do cortejo, pois, pela tradição rabínica, pela mulher o pecado entrou
no mundo e, por esta razão, a mulher teria que estar à frente do cortejo. Para
aquela multidão e para a própria viúva, mais uma vez o juízo de Deus é
manifesto, visto que, pela desobediência, o pecado surgiu e, pelo surgimento do
pecado, o juízo de Deus é exercido pela morte. Entretanto, naquele exato momento,
o Deus- -homem, que satisfaz a justiça do Pai, exerce o juízo sobre a morte e faz a Sua misericórdia triunfar
sobre o juízo. Conforme profetizara o profeta Isaias, Ele - o Messias - seria
conhecido como homem de dores (Is 53.3), aquele que foi provado até a morte,
que em tudo foi tentado, mas nunca pecou. Alguns o chamavam de “santo”,
enquanto outros o chamavam de “profano”; uns, por revelação divina, afirmavam
ser Ele o Filho do Deus vivo; outros, tomados por completa incredulidade,
afirmavam ter Ele demônios. A Sua própria encarnação já se tornara um estado de
humilhação; a Sua morte seria um espetáculo e um vitupério ao mesmo tempo.
Verdadeiramente, o profeta falou com propriedade: Ele seria um homem de dores.
Mas, o profeta continua com sua profecia messiânica e anuncia:
“Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores
levou sobre si...” (Is 53.4). Quando Jesus, movido pela Sua intima compaixão,
se aproxima da viúva e comunica-se com ela, dizendo-lhe “Não chores”, Ele, o
homem de dores, conforta aquela pobre viúva, trazendo-a para junto de Seu
coração e recebendo em Si mesmo toda dor que pesava na alma daquela mulher.
Pessoa alguma que estava com ela conseguira aquietá-la ou fazê-la parar de
chorar. Mas, Jesus é diferente. Não deu nem tempo de a viúva lhe dirigir
palavra alguma, pois imediatamente o Deus que se comunica com os vivos
aliviando as suas dores também é o Deus que se comunica com os mortos. O Mestre
da vida, além de falar com o jovem morto, também o toca (ficando assim imundo
pela Lei mosaica). O homem de dores, ao receber o choro da viúva, lhe outorga
alegria; ao receber a imundícia da morte do jovem, lhe concede o poder de viver
novamente, dizendo: “Jovem, a ti te digo: Levanta-te”. E o que fora defunto
assentou-se e começou a falar. Não havia fé, não havia esperança, tudo já
estava decretado, a sepultura já esperava o seu morto, a morte já cantava o seu
cântico, mas Jesus resolveu caminhar cinquenta quilômetros, sem ser convidado,
para manifestar o Seu poder e a Sua compaixão. O apóstolo Paulo escreve dizendo
que a morte é o último inimigo a ser aniquilado (1Co 15.26). Nas ressurreições
realizadas por Jesus, é demonstrada de forma preliminar a vitória dEle sobre a
morte, pois com Ele estão as chaves da morte e do inferno (Ap 1.18).
Gesiel Pereira é
evangelista na AD em Balneário Rincão (SC), graduado em Teologia e coordenador
teológico da Faculdade FAEST.