Introdução
Simônides de Céos (556-468 a.C.) afirmou que a cidade é a grande mestra do
ser humano. Não sei em que sentido o poeta grego referia-se ao caráter
pedagógico da metrópole. Acredito que tanto no bom quanto no mau sentido. Na
cidade, apreendemos a fazer o bem e a solidarizar-nos nas emergências e
tragédias. Ela, porém, dá-nos a impressão de que jamais deixa de ser emergente
e trágica, pois leva-nos a ver o mal em cada uma de suas praças e logradouros.
Que alternativa nos resta? A natureza
gregária da alma humana prende-nos ao espírito urbano.
Logo, não podemos fugir à cidade. Se
nos voltarmos, porém, à Bíblia Sagrada, constataremos que ainda é possível ser
feliz numa megalópole como São Paulo; a bênção divina não cobre apenas o
campônio, mas também o citadino. Confortando os israelitas prestes a deixar o nomadismo
para se tornarem gregários, promete-lhes o Senhor: “Bendito serás tu na cidade
e bendito serás no campo” (Dt 28.3).
O que nos ensina a promessa divina?
Antes de tudo, que Deus tem um plano específico para a sua cidade, querido leitor, visando à irradiação
do evangelho para regiões longínquas e desconhecidas. A evangelização do mundo,
a propósito, teve Jerusalém como ponto de partida. E, centrifugando-se da
Cidade Santa, veio a alcançar os confins da Terra.
I. A Cidade e o Instinto Gregário do Ser
Humano
Se o mundo é criação divina, a cidade é
invenção humana. Ela surgiu da necessidade social de Adão que, embora haja
vindo à existência no Éden, logo demandou a presença de um ser que lhe fosse
semelhante. Sem Eva, o jardim jamais seria um paraíso. Observando o isolamento
do homem, declarou o Pai Celeste que a solidão não é nada boa. Lançava-se, ali,
entre os rios Tigre e Eufrates, a semente que germina a família, floresce a cidade e frutifica o Estado.
1. Definindo os limites da cidade. Quando
Aristóteles (384-322) afirmou que o
homem é um animal político, não se referia apenas à política partidária que,
tanto em Atenas quanto em Brasília, divide nossos representantes em agremiações
e siglas. A expressão grega zoon
polítíkon (animal político) denota, em primeiro plano, o instinto gregário
do ser humano; sem a cidade, a política é impossível.
A palavra “cidade” origina-se do
vocábulo grego polís. E, deste,
provém o nome que, há quase três milênios, emprestamos ao ofício que deveria promover
o bem comum de toda a sociedade. Refiro-me à velha e mal compreendida política. Embora ciência e
arte, ela não parece, às vezes, nem humana, nem exata e muito menos bela. Por
isso, requerem-se, de quem a exerce, algumas virtudes indispensáveis: amor a
Deus e ao próximo, moral irretorquível e comprovada vocação para administrar a coisa
pública.
Já em latim, a palavra “cidade” vem do
vocábulo civitatem , do qual nasceram
dois importantes termos que, ainda, não foram devidamente incorporados ao nosso
cotidiano: civismo e civilidade. Logo, a vida numa cidade só é possível quando
cumprimos nossos deveres e usufruímos dos direitos fundamentais da cidadania.
Urbs é outra palavra latina para cidade. Temos, aqui, um termo
que descreve a metrópole não propriamente como fenômeno político, mas como a
comunidade racionalmente organizada e sustentável. É por isso que denominamos a
ação evangelizadora, na cidade, de evangelismo urbano. Nossa estratégia
contemplará a Urbs de
forma racional e planejada, visando à proclamação da Palavra de Deus em todas
as estratificações da região metropolitana.
2. A primeira cidade. Arguido por Deus quanto ao assassinato de Abel, seu irmão,
supunha Caim restar-lhe apenas uma alternativa: ser um nômade naquela vastidão
ainda inexplorada. Por essa razão, queixa-se ao Justo Juiz: “Eis que hoje me
lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e
errante na terra, e será que todo aquele que me achar me matará” (Gn 4.14). Seu
impulso gregário, porém, constrange-o a fixar-se em Node, na banda oriental do Éden, onde constrói a
primeira cidade humana.
Naquele ermo, não muito longe de Adão,
o homicida se casa com uma de suas irmãs, gera filhos e filhas, e dá continuidade à cultura da terra. A expansão de
sua família faz surgir uma aldeia, que não demoraria a tornar-se uma cidade
dinâmica e produtiva. Em homenagem ao seu filho, chama a iníqua metrópole pelo nome de seu filho,
Enoque.
Os enoquianos prosperam, expandem a
agropecuária e desenvolvem tecnologias e artes. O autor sagrado, ao denunciar a
poligamia de Lameque, sumaria os avanços científicos e artísticos daqueles citadinos:
E tomou Lameque para si duas mulheres; o nome de uma era Ada, e o nome da
outra, Zilá. E Ada teve a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm
gado. E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam
harpa e órgão. E Zilá também teve a Tubalcaim, mestre de toda obra de cobre e
de ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Naamá. (Gn 4.19-22)
Com o avanço da cidade de Enoque,
chegam a intolerância e a violência. Numa confissão que mais parece um poema épico, Lameque gaba-se de suas
façanhas homicidas às suas esposas: “Ada e Zilá, ouvi a minha voz; vós,
mulheres de Lameque, escutai o meu dito: porque eu matei um varão, por me
ferir, e um jovem, por me pisar. Porque sete vezes Caim será vingado; mas
Lameque, setenta vezes sete” (Gn 4.23,24).
A partir do marco zero daquela cidade,
a impiedade alastra-se por toda a sociedade adâmica e contamina, inclusive, os
descendentes de Sete que, ao contrário dos filhos de Caim, ainda porfiavam em buscar o Senhor. Mas, àquela altura, a metrópole caimita
já estava condenada a desaparecer nas águas do Dilúvio.
3. A última cidade. Desde a cidade de Enoque, muitas metrópoles surgiram e
desapareceram. Algumas, como Babilônia, fizeram-se orgulhosas e imperiais. Outras, à semelhança de
Nínive, tornaram-se sanguinárias e genocidas. Mas, uma a uma, vêm caindo diante
do Senhor de toda a Terra. Até a capital do Império Romano, que está para
ressurgir, experimentou a derrota, a vergonha e a humilhação.
Na consumação da História e do Tempo, o
Senhor revelará a Jerusalém Celeste, na cronologia divina, derradeira. Ela,
porém, já existia em seu espírito antes que o universo fosse criado. Na ilha de
Patmos, o evangelista João veio a contemplá-la como que descendo de Deus, para
inaugurar o Novo Céu e a Nova Terra. Como descrevê-la? Perseveremos até o fim, para que entremos por seus átrios
com louvor e ações de graças. Esta é a Cidade de Deus.
II. Cidade, um Lugar Estratégico
As cidades sempre foram estratégicas à
obra de Deus. Ele usou até mesmo a capital do Império Romano para expandir o
seu Reino. Por essa razão, trabalhemos o evangelho de Cristo urbanisticamente,
visando alcançar o mundo através de nossas metrópoles.
1. Babel, a cidade do antievangelho.
Após o Dilúvio, repete Deus a Noé a
ordem que, no princípio, dera a Adão: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 9.1). Os filhos do patriarca, todavia, ao deixarem
a região do Ararate, concentraram-se na planície de Sinear, e, ali, puseram-se a
construir uma cidade à prova d’água, cuja torre haveria de arranhar o céu. Por
isso, o Senhor resolve confundir a língua da segunda civilização humana (Gn
9.7).
Daquela cidade, que entraria para a
História Sagrada como sinônimo de apostasia e confusão, os descendentes de Noé
são espalhados pelos mais distantes e desconhecidos continentes. Agrupando-se
de acordo com seus troncos linguísticos, os jafetitas concentram-se na Europa,
os camitas, na África e partes de Canaã, e os semitas, desde Aram, espraiam-se pelo
Oriente Médio.
Ao dispersar a raça a partir de Sinear,
o Senhor preservou-nos a espécie, pois nenhum ajuntamento, quer humano quer
animal, sobrevive fechando-se em guetos. Se aqueles antigos pretendiam, com a
sua torre, arranhar o céu, vieram a tocar os alicerces do inferno.
A lição de Babel é emblemática e não
será ignorada pela Igreja. A ordem de Cristo é que, a partir da cidade,
alcancemos as regiões mais remotas da Terra. Se a Igreja é a assembleia de Deus
chamada para fora de suas paredes, não haverá de concentrar-se em torres.
Concentrando-se, jamais arranhará os céus. Mas, saindo de seu comodismo, andará
com o Senhor nas regiões celestiais.
Não são poucas as igrejas que, hoje,
extinguem-se em confusões e desinteligências, pois já não saem a evangelizar,
pois querem evangelizar sem sair. A evangelização, contudo, é dinâmica.
Evangelizar e sair são verbos geminados. Quem evangeliza, sai; quem sai,
evangeliza. Por isso, a ordem do Senhor é clara: “Ide”. Ela também poderia ser
traduzida como “indo”. O evangelista jamais deixa de ir; sai dia e noite, pois
a sua sementeira não conhece tempo nem estação. Faça como o evangelista da
parábola. Jesus garante que ele saiu, mas não diz se ele voltou.
2. Jericó, a cidade das grandes
conquistas.
Josué foi divinamente inspirado a
iniciar a conquista de Canaã a partir de Jericó (Js 2.1). Ele poderia ter
escolhido outra cidade, quer aquém, quer além do Jordão, mas nenhuma era tão
estratégica a Israel como a metrópole das palmeiras.
Subjugando-a, os israelitas teriam
condições de neutralizar as demais vilas e aldeias de Canaã.
Josué, como servo do Senhor dos
Exércitos, iniciou a sua campanha justamente por Jericó. E, dali, teve
condições de manter uma guerra sem quartel nem trégua, até que o povo de Deus
estivesse instalado segura e confortavelmente naquela terra boa e ampla.
De igual modo, agirá a Igreja em sua
obra evangelizadora. Não podemos simplesmente comissionar evangelistas e
missionários, sem dispormos de um plano mestre de evangelismo e missões. É
urgente conhecermos o tempo, o terreno a ser conquistado e a estratégia a ser
empregada num empreendimento evangelístico.
A obra evangelizadora assemelha-se a
uma operação de guerra. Por esse motivo, precisamos da ajuda do Senhor dos
Exércitos. Aquele que ajudou Josué a sitiar e a tomar Jericó não nos faltará
com o seu auxílio num momento de tanta urgência como este.
3. Jerusalém, a cidade da grande comissão.
Se o Reino de Jesus fosse secular e
mundano, teria Ele ordenado a construção de igrejas e catedrais, para
eternizarem-lhe a mensagem e a obra. Uma igreja imortalizar-lhe-ia o primeiro
milagre; outra, o Sermão do Monte; e, ainda outra, a multiplicação dos pães. Em
Jerusalém, mandaria erguer pelo menos quatro catedrais. A primeira lembraria a
sua entrada triunfal na cidade, a segunda recordaria o seu julgamento diante de
Pilatos, a terceira evocar-lhe-ia a morte vicária e a quarta, mais imponente e
grandiosa, haveria de perenizar-lhe a ressurreição dentre os mortos.
O Reino de Deus não necessita de
palácios e castelos para firmar-se. A evangelização
é suficiente para
espalhá-lo de um hemisfério a outro. Por isso mesmo, o Senhor Jesus ordenou aos
seus discípulos que iniciassem a conquista do mundo, tendo como marco zero
Jerusalém: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre
vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria e até aos confins da terra”
(At 1.8). A Cidade Santa, por conseguinte, apesar de todo o seu significado
para a História Sagrada, não era o objetivo final de Jesus, mas o ponto de
partida, por meio do qual seus discípulos, já devidamente instruídos, chegariam
aos confins da Terra.
De igual modo, a cidade onde nos
congregamos não pode ser considerada a meta derradeira de nossas atividades evangelísticas.
Nela, e através dela, estabeleçamos um plano de ação que inclua, desde as áreas
mais carentes até os avanços transculturais mais ousados. Que a igreja local
seja vista como um quartel-general, de onde são elaboradas estratégias, para se
proclamar o evangelho de Cristo até a última fronteira do planeta.
4. Antioquia, a igreja missionária.
Jerusalém é a cidade da Grande Comissão, mas Antioquia, a cidade missionária
por excelência. Se nos valermos do registro de Lucas, constataremos que a congregação
antioquina estava mais do que aparelhada para avançar evangelisticamente além
de suas fronteiras nacionais e culturais. Entre os seus ministros, havia apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e mestres (At 13.1,2). Era um rebanho
agraciado com todos os dons do Espírito Santo. Além dos espirituais, dispunha
dos ministeriais e de serviço.
Lucas, o maior historiador de seu
tempo, assim descreve o dinamismo da igreja síria: Na igreja que estava em
Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado
Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo.
E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a
Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. (At 13.1,2) Qual o segredo de Antioquia? Na verdade, não
havia segredo algum entre os crentes daquela cidade, pois eles, desde o
princípio, sempre porfiaram por uma
vida espiritual de comprovada excelência. Mas se precisamos de algum mistério
que estimule uma igreja local a universalizar-se, apontaremos alguns fatores
que levarão também a sua igreja, querido leitor, ao mesmo patamar da
congregação antioquina.
Antes de tudo, considere o ensino
persistente da Palavra de Deus. Os que evangelizaram os crentes antioquinos cuidaram
também de seu discipulado. Firmados na doutrina dos apóstolos, os novos
convertidos logo amadureceram na fé, e passaram a andar como Jesus andava. Eles
eram tão parecidos com Cristo, que não demoraram a ser conhecidos como cristãos
(At 11.26). Aliás, foi a primeira vez que os seguidores de Jesus eram assim
chamados; nem mesmo os crentes de Jerusalém obtiveram tal honra. Portanto, o
segundo fator de excelência da igreja em Antioquia era o testemunho vivo e
contagiante, que insta toda a cidade a ver, em cada cristão, o rosto de Cristo.
O terceiro fator do padrão de
excelência de Antioquia era a sua vida de profunda comunhão com Deus: “Então,
jejuando, e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram” (At 13.3). Mesmo
ouvindo a voz do Espírito Santo, por meio de uma profecia, a congregação
antioquina pôs-se a orar e a jejuar até que o Senhor confirmasse a chamada de
Paulo e Barnabé.
As demais igrejas sírias, a exemplo de
Antioquia, eram realçadas pela excelência. Por essa razão, o Senhor enviou para
lá o iracundo Saulo, que, compungido pela visão celestial, ficou sob os cuidados de Ananias (At 9.10-18).
Não temos muitas informações acerca desse obreiro que, na História Sagrada, é
chamado simplesmente de discípulo. Todavia, era alguém capacitado, inclusive,
para instruir o apóstolo que, em breve, seria conhecido como o doutor dos
gentios.
O que mais diremos de Antioquia? Era
uma igreja tão excelente, que não precisou de nenhuma carta de exortação ou de
correção doutrinária. À semelhança de Bereia, era fortemente comprometida com a
Palavra de Deus.
5. Filipos, a pioneira da Europa.
Deus jamais deixou de ser o Senhor dos
Exércitos. Se no Antigo Testamento, instruiu Josué a conquistar as terras de
Canaã, em o Novo Testamento, suas estratégias continuam infalíveis. Por isso,
impulsionou os apóstolos e evangelistas a irem de cidade em cidade até que
fossem alcançados os limites mais extremos daquele mundo. O trabalho
evangelístico semeado em Jerusalém e florescido em Antioquia frutificaria, agora, em terrenas europeias. Essa importantíssima
fase da obra missionária da Igreja Cristã teve início com uma visão.
Paulo encontrava-se em Trôade, região
ocupada hoje pela Turquia, quando teve uma visão. Eis que lhe aparece um varão
macedônio, rogando-lhe com insistência: “Passa à Macedônia e ajuda-nos” (At
16.9). O apóstolo entendeu imediatamente a urgência do chamamento divino, pois não
se tratava apenas da evangelização de uma cidade, ou de uma região, mas de um
novo continente.
À equipe de Paulo, junta-se Lucas. A
missão seria árdua, desafiadora e crivada
de provações. O Médico Amado fala do espírito voluntário da equipe paulina: “E,
logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o
Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho” (At 16.10).
Deixando Trôade, que alguns imaginam
ser a Troia de Eneias, Paulo ruma em direção ao Ocidente. Atravessando a
Samotrácia e Neápolis, a equipe apostólica chega a Filipos, a principal cidade
da Macedônia. Ao contrário de Eneias que, segundo Virgílio, fundara a cidade
que deu origem ao Império Romano, o apóstolo tem uma tarefa mais ousada e duradoura.
Agora, fundaria as bases de uma obra evangelística que, tendo como base a
Macedônia, chegaria a Roma, atravessaria o canal da Mancha, enfrentaria o
Atlântico até alcançar a mim e a você, querido leitor.
As dificuldades, em Filipos, não foram pequenas. O apóstolo foi
preso, sua equipe dispersou-se e a nova igreja não pôde ser devidamente doutrinada.
Não obstante, aqueles aparentes fracassos redundariam, mais tarde, num avanço
extraordinário do Reino de Deus por toda a Europa.
Filipos entraria à História Sagrada
como a igreja mantenedora, por excelência, do ministério paulino, conforme
ressalta o apóstolo: “Porque os irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha
necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado e ainda me guardarei” (2 Co
11.9).
Portanto, se Antioquia envia e Filipos
sustenta, a cidade de Jerusalém dedica-se, agora, à intercessão. Em Atos, por
conseguinte, há um plano divinamente estabelecido para se evangelizar o mundo a
partir de cidades chave.
6. Roma, o escritório missionário de
Paulo.
Se o apóstolo Paulo foi chamado à obra missionária por meio
de uma profecia, e se necessitou de uma visão para evangelizar a Europa, agora,
será levado a Roma às expensas imperiais. Ao apelar para César, o apóstolo
garantia uma viagem gratuita e até certo ponto, segura, à capital do Império
Romano. Levando-se em conta as dificuldades e provações que lhe marcariam a trajetória de Cesareia,
na Judeia, à presença de César, em Roma, o Senhor o assistiu em todas as
coisas. Essa foi, sem dúvida, a sua última e mais importante viagem missionária
registrada na Bíblia.
Nesse sentido, Cesareia pode ser
apontada como uma das cidades mais estratégicas na evangelização do mundo
subjugado pelo Império Romano.
Já em Roma, Paulo desenvolve um
ministério diferente, mas de igual modo dinâmico e eficaz. Em vez de ir às pessoas, as
pessoas iam até ele, para ouvir o evangelho de Cristo. Da casa que alugara,
evangelizava, discipulava, escrevia e testemunhava acerca da ressurreição de
Cristo. Foi nessa cidade, sob a vigilância romana, que o apóstolo completou a
sua obra teológica, solidificando as igrejas, quer ocidentais, quer orientais, na Palavra
de Deus.
Sua detenção em Roma foi divina e
providencial. Doutra forma, não acharia tempo para escrever as cartas que
viriam a ser conhecidas como as epístolas da prisão. Quem trabalha sob a
orientação do Espírito Santo, ainda que detido, livremente evangeliza. Na obra
de Deus, nem sempre atividade representa produtividade. Às vezes, corremos de
um lado para o outro sem qualquer objetivo. Por isso, estejamos atentos à voz
do Mestre.
Se a coluna de fogo se detiver, não
continuemos; humilde e obedientemente, recolhamo-nos. Quando ela se puser em
movimento, prossigamos. Até mesmo para uma pausa requer-se uma cidade
estratégica.
Antioquia enviou o apóstolo às missões.
Filipos manteve-o no campo missionário. Quanto a Roma, deu-lhe a tranquilidade
necessária para que doutrinasse as igrejas de Deus e, ali, testemunhasse sem
impedimento algum.
7. Belém do Pará, as Boas-Novas vêm do
Norte.
Divinamente orientados, Daniel Berg e
Gunnar Vingren escolheram a cidade de Belém, no Pará, como ponto de partida
para a sua missão no Brasil. Logo em sua chegada, em 19 de novembro de 1910,
constataram que a capital paraense era geograficamente estratégica para se alcançar o país em todas as direções.
No livro As aventuras de Daniel Berg na Selva Amazônica Marta Doreto destaca
como o trabalho foi executado pelos missionários suecos na capital paraense, e
como, de lá, saíram a evangelizar outras cidades e regiões: A dupla de
missionários achava-se em Belém havia cerca de dois anos, e cada rua já fora
percorrida por Daniel Berg. Cada morador já tivera a oportunidade de comprar
uma Bíblia e ouvir as boas novas da salvação. No coração daqueles que
aproveitaram a oportunidade, a semente da Palavra estava germinando e
crescendo. Eles já haviam batizado nas águas quarenta e um novos convertidos, e
quinze deles já tinham recebido o batismo no Espírito Santo.
Percebendo que o seu trabalho de
distribuir Bíblias em Belém chegara ao fim, o jovem Daniel sentiu que deveria semear, agora, noutros
campos. Enquanto Gunnar Vingren ficaria pastoreando a igreja na cidade, ele seguiria a Estrada
de Ferro Belém-Bragança, vendendo Bíblias nas cidadezinhas do interior. [...]
Levando nas mãos a mala de Bíblias, e no coração a chama pentecostal, o missionário
encaminhou-se ao primeiro povoado à beira da ferrovia. [...] de longe, Daniel
Berg avistou o teto das primeiras casas de Bragança. Seus pés cansados
retomaram o ritmo acelerado, e seus lábios rachados pelo sol votaram a murmurar
a canção: ‘A semente é boa para semear. A semente boa, não pode falhar. A
semente e boa, foi Deus quem mandou. Vamos irmãos, unidos, trabalhar para o Senhor!’.
A cidade de Bragança era a última etapa
da longa jornada de semeadura da Palavra de Deus. Em toda cidadezinha ou vila
por onde Daniel passara, havia pelo menos um novo convertido lendo a Bíblia e
ajudando a espalhar a boa semente.
A partir de Belém do Pará, o evangelho
não demorou a chegar a outras regiões e estados da federação brasileira. Por
essa razão, escolhamos com muito cuidado a cidade a partir da qual planejamos
evangelizar um país, ou mesmo um continente. Daniel Berg e Gunnar Vingren,
orientados pelo Espírito Santo, souberam como chegar aos confins de nosso país. Foram do Norte ao
Sul, sem impedimento algum, apesar dos desafios que encontravam pelo caminho.
III. Os Desafios da Evangelização Urbana
Na evangelização urbana, há desafios e imprevistos que podem ser convertidos
em oportunidade.
1. Incredulidade e perseguição.
Num tempo em que o evangelho é desgastado
por falsos pregoeiros, anunciemos a Cristo com sabedoria, poder e eficácia (2 Tm 4.17). Nossa mensagem não
pode ser confundida com a dos mercenários e falsos profetas (Rm 6.17).
Preguemos a mensagem da cruz na virtude do Espírito Santo (1 Co 1.18). Se
formos perseguidos, não desistamos. Jesus também o foi em sua própria cidade,
mas levou a sua missão até o fim (Lc 4.28-30).
2. Enfermos.
As áreas urbanas acham-se tomadas de
enfermos e doentes terminais. No tempo de Jesus, não era diferente. Ao entrar
em Jericó, Ele deparou-se com um cego que lhe rogava por misericórdia (Lc 18.35).
E, às portas de Naim, encontrou o féretro do filho único de uma viúva (Lc 7.11-17). Ungido pelo Espírito
Santo, curou o primeiro e ressuscitou o segundo.
Só o evangelho genuinamente pentecostal
para impactar as cidades (Mc 16.15-18). Desenvolva a capelania hospitalar; não
deixe de visitar os enfermos e moribundos.
3. Endemoninhados.
Quem se dedica à evangelização urbana
deve estar preparado, também, para casos difíceis de possessão demoníaca. Muitos
são os gadarenos espalhados pela cidade (Mt 8.28-34). Então, ore, jejue e
santifique-se (Mc 9.29). Não faça da libertação dos oprimidos um espetáculo.
Mas, no poder do Espírito Santo, cure, ressuscite os mortos e liberte os cativos
de Satanás (Mt 10.8).
IV. Como Fazer Evangelismo Urbano
A evangelização urbana só será
bem-sucedida se tomarmos as seguintes providências: treinamento da equipe,
estabelecimento de postos-chave, acompanhamento do trabalho, e estabelecimento
de círculos e núcleos evangelizadores.
1. Treinamento da equipe.
Antes de chegar à Macedônia, o apóstolo
Paulo já podia contar com uma equipe altamente qualificada para implantar o evangelho na
Europa. Primeiro, tomou consigo a Silas e, depois, o jovem Timóteo (At 15.40;
16.1,2). Acompanhava-os, também, Lucas, o médico amado (At 16.11). Com esse
pequeno, mas operoso grupo, o apóstolo levou o evangelho a Filipos, a
Tessalônica e a Bereia, até que a Palavra de Deus, por intermédio de outros
obreiros, chegasse à capital do Portanto, forme a sua equipe com oração e jejum
(Lc 6.12,13). Se souber como treiná-la, o êxito da evangelização urbana não
será impossível.
2. Estabelecimento de postos-chave.
Sempre que chegava a uma cidade gentia, Paulo buscava uma
sinagoga, de onde iniciava a proclamação do evangelho (At 17.1-3). Embora o
apóstolo, na maioria das vezes, fosse rejeitado pela comunidade judaica, a
partir daí expandia sua ação evangelística urbana até alcançar os gentios.
Encontre os postos-chave para a
evangelização urbana. Pode ser a casa de um crente, ou a de alguém que está se
abrindo à Palavra de Deus (At 16.15; Fm 1.2). Na evangelização, as bases são
muito importantes.
3. Acompanhamento do trabalho.
Finalmente, acompanhe o progresso da nova frente
evangelística. Ao partir para uma nova área urbana, deixe alguém responsável
pelas igrejas recém-implantadas, como fazia o apóstolo Paulo (At 17.14). E,
periodicamente, visite-as até que amadureçam o suficiente para caminhar por si
próprias (At 18.23). Não descuide dos novos convertidos. Fortaleça-os na fé, na
graça e no conhecimento da Palavra de Deus. Quem se põe a evangelizar as áreas urbanas
deve estar sempre atento. Por isso mesmo, tenha uma equipe amorosa, competente
e disponível.
4. Estabelecimento de círculos e núcleos
evangelizadores.
A verticalização das metrópoles
impede-nos que evangelizemos de porta em porta, como acontecia há 50 ou 60
anos. Por isso, crie um círculo de relacionamentos. Não podemos entrar em um condomínio,
mas um novo convertido que ali reside há de estabelecer um núcleo de
evangelização, por meio do qual alcançaremos outras famílias.
O evangelho de Cristo não muda.
Todavia, os métodos de evangelização devem ser periodicamente avaliados, para
que o nosso trabalho não se torne improdutivo. Use as redes sociais. Seja
criativo. Não desperdice oportunidade alguma.
Conclusão
A Igreja de Cristo nasceu na Cidade
Santa. De lá, espalhou-se por todas as regiões do globo. Por esse motivo,
sejamos prudentes e sábios na escolha das áreas metropolitanas que pretendemos
evangelizar, pois, se estratégicas e bem localizadas, teremos condições de
atingir não só um distrito, mas todo um país. Nenhuma cidade será esquecida de
nossa ação evangelística, pois o Senhor Jesus nos ordena que alcancemos a
todos, em todo o tempo e lugar, por todos os meios. Todavia, consideremos a
estratégia em cada plano evangelístico e missionário que estabelecermos.
Que Deus nos ajude. Ele quer
abençoar-nos tanto na cidade como no campo em nossos empreendimentos
evangelísticos.