Jovens – L 06- Vivendo Amorosa e Honestamente.

Retirado do livro : A Igreja do Arrebatamento

O Padrão dos Tessalonicenses para estes Últimos Dias
Thiago Brazil.

Neste capítulo, discutiremos sobre a vivência do amor de Deus na comunidade em Tessalônica e, também, sobre a exortação paulina com relação à necessidade de desenvolvimento de uma vida  honesta e simples. Essas duas temáticas são muito caras a Paulo na escrita desta  epístola e extremamente atuais se levarmos em consideração os princípios que orientam a sociedade contemporânea. Busquemos, nas instruções de Paulo a Tessalônica, fundamentos que nos possam ajudar a experimentar o verdadeiro amor de Deus em meio a uma geração ímpia e corrupta.
O Amor como Alicerce da Comunidade Tessalonicense
Não existe outra maneira de experienciar o amor senão por meio de uma relação íntima e profunda com Deus. Ele é a fonte primária do amor; por isso, toda vivência comunitária de amor também passa por uma ação direta do Criador.
No texto em 1 Ts 4.9, ao tratar sobre a excelência da   fraternidade dos tessalonicenses entre si e, também, destes para com todas as comunidades no entorno daquela cidade, Paulo esclarece que não há qualquer necessidade de orientação externa, uma vez que o testemunho de Timóteo e das igrejas circunvizinhas apontava para a aturidade do amor daqueles novos irmãos.

Há um detalhe bastante importante nesse mesmo versículo: no início da frase, Paulo elogia o “amor fraternal” dos tessalonicenses — termo este compreendido morfologicamente como um substantivo. Já no final da sentença, ao falar sobre a prática dessa amabilidade que se destacava naquela igreja, o apóstolo não utiliza um verbo     derivado de    para definir a relação de amor entre aqueles irmãos, mas, antes, o verbo . A vida em fraternidade testemunhada em Tessalônica era fruto direto do amor pleno que emana exclusivamente de Deus para os homens e da humanidade redimida para aqueles que ainda estão em obscuridade.
O amor, como demonstra o apóstolo nesse texto, é a mais intuitiva das virtudes cristãs; em outras palavras, se a compreensão daquilo que seja domínio próprio, perdão ou mesmo paciência é algo que demanda um conjunto de conhecimentos prévios, a experiência do amor, no entanto, é algo absolutamente natural para aquele que vivenciou a graça da salvação em Cristo.
Não é possível aprender a amar em um curso de cinco passos, muito menos por meio de um best-seller de autoajuda. O entendimento do amor advém da obra da salvação presente em cada um daqueles alcançados pelo evangelho  de Cristo. Ao invés de um investimento pessoal ou coletivo numa compreensão exclusivamente teorética do amor, precisamos vivenciar uma existência cotidiana do amor sob a orientação do Pai.
Sobre esse aspecto da transmissão do amor pelo Pai a cada um de nós, defende Claro:

Paulo introduz o tema da fraternidade com uma preterição: explica que não tem necessidade de escrever, mas acaba por abordá-lo, pretendendo  ligar  o  tema  do amor fraterno (1 Ts 4, 9-10a) com o tema do trabalho (1 Ts 10b-12). O apóstolo explica que foi o próprio Deus quem ensinou os tessalonicenses a amarem-se uns    aos outros, em caridade fraterna. O termo usado por Paulo   – é único na literatura grega e original de Paulo. Não excluindo que a pregação evangélica foi mediada pelos apóstolos, pretende evidenciar que a mediação humana no processo   de evangelização pretende conduzir o crente numa relação direta com Deus. Na verdade, Paulo parece aqui querer contrapor-se ao frequente autodidatismo das correntes filosóficas helenistas, particularmente cínicas, bem como aqueles que,  como os estoicos e epicuristas, julgavam possuir um conhecimento inato. (CLARO, 2017, p. 68)

Uma humanidade afastada de Deus e atravessada pela tragédia do pecado estruturalmente assimilado é incapaz de crer no amor. Por isso, o que muito  se observa na sociedade atual são ações de autopromoção, práticas de desencargo de consciência e, até mesmo, constrangimento moral. Contudo, nada disso é a verdadeira manifestação do amor, a qual é mediada exclusivamente pela operação do Espírito Santo no coração daqueles que reconhecem Jesus Cristo como o Senhor.
Ora, percebamos a aparente contradição: Os tessalonicenses eram perseguidos, novos  conversos  e uma  comunidade sem um pastor;    todavia, eles eram abundantes no amor uns para com os outros e também para com aqueles que não eram de seu círculo comunitário. De fato, não há qualquer absurdo aqui; na verdade, foi o amor que vinculou cada um daqueles irmãos à causa de Cristo. Sem a conectividade produzida pelo amor que vem de Deus, aquela jovem igreja certamente não se manteria una em meio a tantas oposições e perseguições.
Esse parece ser o melhor caminho para a prosperidade de qualquer comunidade local hoje. Em um tempo de crise institucional-religiosa como o nosso, líderes e igrejas estão, de maneira desesperada, em busca de fórmulas mágicas para a superação de seus dilemas particulares. Fundamentar todas as suas ações no alicerce do amor, assim como fizeram os cristãos tessalonicenses, é, sem dúvida, a melhor atitude a ser adotada por cada um de nós.
O Caráter Contagiante do Amor
O amor é, com muita naturalidade, a instância existencial mais desacreditada pela sociedade contemporânea; é claro, porém, que tal rejeição possui uma justificativa lógica. Vivemos num modelo social anticomunitário; somos um amontoado de pessoas, mas cada um está preso as suas ambições e desejos individualistas.
A cibercultura, componente inegável de nosso mundo atual, tem  contribuído, direta e paradoxalmente, para o afastamento das pessoas. Deve- se entender como uma incongruência esse nexo causal entre cibercultura e atomização dos indivíduos, pois o discurso que se propagandeia associado  aos mecanismos de comunicação em massa atrelados à Internet é o de que eles foram criados para facilitar a comunicação e interação interpessoal.
Entretanto, não é essa a constatação empírica que percebemos na realidade. A Internet — e, de maneira mais específica, as redes sociais — torna-se cada vez mais num ambiente de isolamento dos indivíduos e seus discursos. Ora, num esforço para dar a cada indivíduo a tão prometida visibilidade  universal objeto de desejo incessante da maioria das pessoas hoje — a Internet fez com que todos pudessem falar o que quisessem, o quanto desejassem e da maneira como melhor acreditassem.
Em tempos de culto à imagem de si mesmo, cada um agora tem sua própria tela de projeção pessoal (Youtube), por meio da qual pode criar as histórias de si e para si o quanto quiser. Numa sociedade onde as grandes obras da literatura mundial estão sendo relegadas ao esquecimento, qualquer indivíduo pode escrever um livro contando sua história particular (Facebook), a qual, sob seu controle, sempre enaltece seu personagem principal. Em última análise, as pessoas nem se comunicam mais; elas apenas, de modo animalesco, emitem seus grunhidos (Twitter) umas às outras.
Como consequência dessa ilusória liberdade de dizer e de ser visto, temos um culto ao monólogo, onde as pessoas falam sozinhas sobre o que acham, desejando que outros indivíduos concordem com elas, compartilhem, curtam, façam views de suas opiniões, sendo que, na maioria dos casos, a fala do outro, o ponto de vista do outro e até mesmo os argumentos do outro são sufocados pela preocupação mesquinha de cada indivíduo consigo mesmo.
Todos querem ser vistos e ouvidos, mas quem deseja acolher e compreender o outro? Pouquíssimas pessoas. Instalou-se, assim, um culto ao individualismo. O suposto amor que se encerra em si é, na verdade, narcisismo ou, até mesmo, idolatria. Essa é a maior sofisticação da operação do erro na contemporaneidade: “Por que preciso da imagem de outro ser se posso cultuar a minha?”, “Por que devo ajoelhar-me diante do altar de outro personagem se posso prostrar-me diante de mim mesmo?”, “A quem oferecer glórias se a vanglória a mim direcionada satisfaz meu ego?”.
É por isso que o amor não tem espaço nessa sociedade, pois, enquanto categoria constitutiva do ser divino, o amor implica doação. Ora, não se doa nada a si mesmo; para algo ser oferecido, é necessária a existência de um alguém a quem se dedique aquilo que se está a oferecer.
O amor não cabe em si mesmo; não pode conter-se num único ser. Por isso, o universo foi criado em amor, como que pelo transbordamento de Deus no cosmos. A constatação de que se vive em amor é alcançada a partir do momento em que se compreende que não se deve viver apenas em si ou para si, pois se precisa, de modo concreto, do outro.
Os surpreendentes acontecimentos em Tessalônica só podem ser explicados mediante o amor contagiante que aqueles novos irmãos experimentaram. A pequena semente que foi espalhada por Paulo converteu-se numa frondosa árvore cujos frutos não apenas o apóstolo colhia, mas também a própria comunidade de novos cristãos e, de maneira surpreendente, toda a região ao redor.
Qualquer tentativa de conter esse amor que constantemente aumenta acarretaria na crise da própria experiência cristã. Um cristão medíocre é identificado por sua carência de amor. Quem vive em comunhão íntima  com
o  Pai pode enfrentar a escassez com relação às coisas supérfluas da vida, mas nunca será privado da dádiva do amor.
Por isso, a oração de Paulo, antes mesmo de concentrar-se em qualquer clamor por segurança física ou prosperidade material daqueles irmãos, era pelo crescimento em amor de cada tessalonicense. E o quanto é possível crescer em amor? Infinitamente. Por muito amar seu filho, uma mulher foi capaz de abrir mão de seu direito de maternidade para não testemunhar a morte de seu filho (1 Rs 3.26); por amor à vida de sua filha, um príncipe da sinagoga prostrou-se em público diante de Jesus, rogando pela vida de sua filha (Mc 5.22,23); exclusivamente por amor, Jesus fez tudo o que era necessário para garantir-nos o acesso à salvação.
E o que significa crescer em amor? Significa transcender padrões humanos de relacionamento e aproximar-se continuamente do exemplo vivo do caráter de Deus, que é Cristo. Significa estender abrações de misericórdia e perdão àqueles que, por necessitarem, estão amargurados de espírito. Assim como os
tessalonicenses, cresçamos em amor; que haja entre nós mais líderes que orem continuamente por uma experiência comunitária de amor.
Paulo aos Tessalonicenses: sobre uma Vida Simples e Sossegada
Consumismo, busca desenfreada pelo estrelato, desejo de poder. Essas são algumas das doenças de nosso tempo, por meio das quais as pessoas têm-se submetido a padrões de vida extremamente degradantes na intenção de atingirem o tão sonhado status social.
As orientações de Paulo para os cristãos tessalonicenses vão na contramão de todo esse projeto de vida contemporâneo; o apóstolo sugere que cada indivíduo busque uma vida quieta (1 Ts 4.11), isto é, longe das discussões inúteis e apartada das confusões gananciosas que se estabelecem em nosso entorno.
O ensino de Paulo não procura justificar qualquer tipo de acomodação ou falta de atitude — inclusive, como discutiremos a seguir, a fala do apóstolo vai na direção da exortação ao trabalho pessoal —, mas, sim, um ideal de vida que fuja da ambição por glória ou poderes humanos.
De que maneira, conforme o entendimento de Paulo, estabelece-se uma vida de simplicidade? Basicamente, de duas maneiras: primeira, cuidando daquilo que diz respeito a nós mesmos e, segunda, utilizando nosso tempo com atividades úteis para nossas vidas. Passemos a analisar cada uma dessas duas medidas a serem tomadas de forma prática para o bem-estar de nossas vidas.
A sabedoria judaica antiga já afirmava: “O que, passando, se mete em questão alheia é como aquele que toma um cão pelas orelhas” (Pv 26.17). Muitos dos problemas que enfrentamos na vida não dizem respeito diretamente a nós mesmos, mas aos outros; dessa forma, no intuito de ajudar um amigo, intrometemo-nos em graves e complexos conflitos.
O que devemos fazer? Devemos aceitar que a colheita de determinadas consequências é algo inevitável para todos nós e que, por mais que    amemos
alguém, algumas pessoas terão de sofrer as repercussões de suas tortuosas escolhas. Isso não é egoísmo, mas, sim, consciência de responsabilidades. Devemos ajudar os irmãos em suas aflições e apoiá-los em suas dores; todavia, procurar assumir suas responsabilidades, como já diz o texto  sagrado, é tolice.
O que a sabedoria do proverbialista aponta-nos é que, ao “intrometermo- nos” em problemas alheios, entramos num campo desconhecido, no contexto do incontrolável, onde haverá enormes possibilidades de sairmos feridos.  Mas por que se ferir por uma situação que você não promoveu? Novamente, concentrar-se na resolução de seus problemas não é individualismo, mas um simples reconhecimento de limitação humana — se não sou capaz de resolver todas as minhas dificuldades (e quem é?), como serei capaz de solucionar as dos outros?
Em seu comentário sobre as epístolas aos tessalonicenses, Tomás de Aquino compreende a questão de não se envolver em questões alheias da seguinte maneira:

Reprimindo-se o ócio por exercer algum ofício. Por isso diz: Procurai ocupar-vos   dos vossos negócios. Prov. 24, 27: Lavra cuidadosamente o teu campo, para que depois edifiques a tua casa. Diz, porém, os vossos; mas porventura não se deve  cuidar de negócio alheio? E parece que sim. Rom. 16, 2: E a ajudeis em qualquer negócio.
Respondo: deve dizer-se que todas as coisas podem ser feitas desordenadamente, se são feitas fora da ordem da razão, ou seja, quando alguém age improbamente, e [podem ser feitas] ordenadamente, ou seja, quando se observa a ordem da razão, e  em [caso de] necessidade; e isto é louvável. (AQUINO, 2015,  p.52)

Dedicar-se à superação de nossas crises pessoais é manter o foco em algo específico. Muitas vezes, no esforço de auxiliarmos a família alheia, esquecemo-nos da nossa; quantas vezes já não ouvimos histórias trágicas de pessoas que, no afã de salvar o casamento dos outros, destruíram os seus.
Deus não está nisso!
Por fim, podemos entender a orientação paulina como uma radical crítica à fofoca. Se pararmos de “preocuparmo-nos” com aquilo que os outros estão pensando ou fazendo, estaremos muito menos ocupados e mais livres para lutarmos por nossa felicidade. Invocando mais uma vez a sabedoria dos antigos judeus, esta nos atesta que se dedicar a fazer suposições sobre a vida de alguém não faz bem a ninguém (Pv 26.22). Dediquemo-nos a nossas vidas!
Já a segunda orientação apostólica para uma vida boa e sossegada diz respeito à necessidade de trabalhar em prol da própria subsistência. Paulo é bastante enfático aqui e em 2 Tessalonicenses ao denunciar todo tipo de prática de auto favorecimento injusto. Em outras palavras, aquele que não se esforça para honestamente adquirir seu sustento ainda não teve um real encontro com Cristo.
Sobre a questão do trabalho naquele contexto histórico, afirma-nos  Richards:

A instrução de Paulo sugere que muitos em Tessalônica eram ociosos e precisavam concentrar-se na colocação de seus próprios negócios em ordem. No entanto, o seu chamado para trabalhar com as “próprias mãos” sugere muitas coisas sobre  a  camada social que compunha a igreja.
No mundo romano, trabalhar com as próprias mãos era considerado algo inferior — uma atividade que só era apropriada para escravos e para aqueles  que  foram  libertos, pertencentes à camada mais baixa da ordem social. Em contraste,  o  judaísmo exaltava o trabalho com as mãos, e o judeu ideal era um homem que era treinado tanto nas Escrituras como no comércio. O Cristianismo compartilhava esta visão do trabalho, e, para dar o exemplo, o próprio Apóstolo Paulo ocupou-se do     seu negócio na confecção de tendas (trabalho em couro) sempre que  possível.
O chamado de Paulo para trabalhar com as próprias mãos sugere fortemente que a maioria dos cristãos em Tessalônica originava-se das classes mais baixas da sociedade (1 Co 1.26-31). (RICHARDS, 2008, p.  456)

O trabalho é um mandado divino universal ordenado por Deus à humanidade antes mesmo da Queda. Por isso, ter saúde para trabalhar honradamente deve ser o anelo de todas as pessoas. Como bem declara o apóstolo, se individualmente lutarmos para a manutenção de nossas vidas, não enfrentaremos qualquer tipo de constrangimento em virtude da necessidade de dependermos de outra pessoa para sobrevivermos.
Dessa forma, devemos dar o máximo de nós para trabalharmos por meio das habilidades e dons individuais que Deus concedeu a cada um de nós. É de vital importância, no entanto, que tudo o que fizermos seja realizado dentro da mais digna honestidade. Não somos chamados para estarmos entre os preguiçosos, muito menos entre os corruptos.
O próprio Jesus, sendo Ele homem de uma comunidade própria, tinha sua atuação profissional a qual exerceu até o início de seu ministério (Mc 6.3). Muitos indivíduos, sob o pretexto de piedade, quando, na verdade, não conseguem esconder sua ociosidade, afirmam que é impossível atuar ministerialmente de modo sério e continuar trabalhando. Bem, na verdade, não é isso o que Paulo defende em vários momentos de seu ministério (At 18.3; 1 Co 4.12; 2 Ts 3.8-11).
Na verdade, é compreensível que, em situações específicas, a igreja sustente integralmente seus ministros; o que é inadmissível é que estes — à custa de comunidades humildes — vivam como verdadeiros marajás. Se tais obreiros sentem-se vocacionados a uma vida integralmente dedicada ao trabalho de Cristo, pois que vivam na simplicidade de Paulo e na crença na providência diária do Pai, assim como Jesus Cristo.
Conclusão
Como se pode perceber até aqui neste estudo sobre a primeira epístola de Paulo aos tessalonicenses, não são os temas complexos que perturbavam o
apóstolo com relação à comunidade em Tessalônica, mas, sim, o fortalecimento dos princípios mais elementares, os quais seriam capazes de conduzir aquela igreja local a um novo patamar de espiritualidade para, dessa forma, completar a obra de Cristo no meio deles.
Bibliografia
AQUINO, Tomás de. Comentário a Tessalonicenses / tradução de Tiago Gadotti. Porto Alegre: Concreta, 2015.
CLARO, Francisco Eloi Martinho Prior. Marcas helenistas na Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: A inculturação no primeiro escrito bíblico cristão. Dissertação (Mestrado em Teologia). Porto, 2017. 116f.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.


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