O livro de Rute é considerado umas das
mais belas peças literárias do Antigo Testamento. Nele, está registrada a
genealogia do rei Davi, que se tornou, por desígnio de Deus, o ancestral mais
importante da genealogia de Jesus Cristo, o Messias e Salvador do Mundo.
A
história de Rute desenrola-se “nos dias em que os juizes julgavam” (Rt 1.1).
Por permissão de Deus, houve uma grande fome em Israel, provavelmente por
castigo pela desobediência do povo. Uma família de Belém de Judá, cujo líder
era Elimeleque, teve de deixar sua terra para ir em busca de sobrevivência na
região de Moabe. Acompanhado de Noemi, sua esposa, e de seus dois filhos, Malom
e Quiliom, Elimeleque estabeleceu-se “nos campos de Moabe” (Rt 1.1). Ali,
morreu o pai daquela família e, mais tarde, os seus dois filhos casaram-se com
mulheres daquela terra — Malom casou-se com Rute, e Quiliom casou-se com Orfa1.
Ambos também morreram, completando o ciclo da morte na família. E Noemi e suas
duas noras ficaram viúvas e desamparadas. No tempo estabelecido por Deus, Noemi
volta para Belém — após a bênção de Deus ter vindo sobre aquela terra —
acompanhada apenas de sua nora Rute, visto que a outra moça preferiu retornar à
casa de seus pais.
I - RUTE: UM RESUMO DE SUA ORIGEM
1. Uma Estrangeira
Neste
estudo, refletiremos sobre o caráter de uma mulher que se destacou de forma
marcante e muito significativa na história de Israel. Não foi por acaso que sua
história mereceu ser organizada num livro, que foi aceito como parte integrante
do cânon do Antigo Testamento. Sua identidade mostra-nos que ela era moabita,
oriunda da terra de Moabe. Essa condição, por motivos históricos e raciais, não
lhe favorecia em termos de relacionamento com o povo de Israel.
O nome Moabe aparece em Gn 19.30-38, como
o filho de Ló, numa relação incestuosa com sua filha mais velha, que se tornou
“pai dos moabitas”. Assim como Israel, Moabe era um povo semita, e Rute
pertencia a esse povo. Certamente, sua genealogia era vista de forma negativa
pelos israelitas, mas um episódio que tornou os moabitas adversários de Israel
ocorreu quando o povo hebreu deslocava-se em direção a Canaã. Por razões
geográficas, o povo de Israel precisava passar pelo território do deserto de
Moabe sob a liderança de Moisés. Os moabitas, porém, não permitiram, mas o
Senhor Deus disse a Moisés para não molestar a Moabe nem contender com eles em
peleja (Dt 2.9).
Por esse motivo bastante negativo, foi
escrito um preceito legal, pelo qual, nem moabitas nem amonitas poderíam fazer
parte da “congregação do Senhor” ou do povo de Israel, “nem ainda a sua décima
geração”. A animosidade entre os dois povos foi agravada por outro episódio
bíblico. Os moabitas alugaram o profeta Balaão para amaldiçoar Israel, mas eles
não conseguiram esse intento maligno porque Deus transformou a maldição em
bênção (Dt 23.4-6; Ne 13.2). Essa é a origem étnica de Rute.
2. Como Rute Vinculou-se a uma Família
Israelita
Como
já foi dito, Deus não escreve certo por linhas tortas, como diz um ditado
popular. Ele escreve perfeita e divinamente certo por suas próprias linhas. Em
sua soberania, Ele cria ou muda circunstâncias. De modo singular, fora da
lógica histórica, geográfica ou cultural, Rute entrou na história do povo de
Israel, não por coincidência, como se podería supor, mas, sim, por providência
de Deus, e Ele usou fatos estranhos para que isso fosse possível. O Senhor age
como quer. As vezes, Ele age aparentemente contrariando seus próprios critérios,
mas só de modo aparente. Diz o salmista: “Mas o nosso Deus está nos céus e faz
tudo o que lhe apraz” (SI 115.3).
Uma família judaica teve que sair de
Belém para escapar da seca que assolava a região. Eram eles: Elimeleque, o
líder; Noemi2*, sua esposa; e Malom e Quiliom, os dois filhos do casal. Eles
emigraram para a terra de Moabe, pois lá a estiagem não tinha chegado e havia
alimento. Ali, viveram durante quase dez anos (1.4). Não padeceram fome, mas
sofreram as agruras de uma vida atribulada. Maus dias alcançaram aquela
família. Lá, o patriarca Elimeleque faleceu. Os dois filhos adaptaram-se àquele
lugar e sua gente. Uma seca e três óbitos mudaram as histórias dessas pessoas.
3. Em Direção à Terra de Judá
A
mão de Deus move-se de um lado para outro conforme a sua santa e soberana
vontade. O Senhor permitiu uma grande seca em Belém e levou a família de Noemi
para os “campos de Moabe”, onde havia alimento (Rt 1.1). Dez anos depois, Ele
concedeu a bênção da fartura de pão em Israel (Rt 1.6). E a viúva de Elimeleque
convidou suas duas noras, também viúvas, para irem a Belém3*, onde havia
alimento. A princípio, as duas noras começaram a jornada em direção a Belém de
Judá. Mas Noemi, sem dúvida, pensando no futuro e no bem-estar delas, deteve-se
e sugeriu às duas que retornassem à casa de suas respectivas mães, desejando de
coração que o Senhor usasse de benevolência com elas, assim como usaram com
Noemi e com os falecidos esposos (Rt 1.8). E ela deu essa sugestão com muita
sinceridade e desprendimento, acrescentando: “O Senhor vos dê que acheis
descanso cada uma em casa de seu marido. E, beijando-as ela, levantaram a sua
voz, e choraram” (Rt 1.9). Nessa atitude, vemos um traço valioso do caráter de
Noemi: ela preferiría viver a solidão em sua terra do que ver suas noras
sofrerem ao seu lado. Ela imaginava que, em Israel, elas talvez não seriam bem
aceitas, tornando-se quase impossível conseguir outro casamento. Era a visão
humana, lógica, amorosa e sincera. Mas os planos de Deus eram outros em relação
a Rute. Os planos de Deus estão muito acima e além do que podemos imaginar (cf.
Is 55.8). A Bíblia diz que nós, cristãos, não devemos buscar só o nosso
proveito, mas também o de outros (1 Co 10.24,33). E nosso dever cultivar o
altruísmo em lugar do egoísmo. Noemi semeou amor, plantou altruísmo. E, mais
tarde, colheu os resultados (G1 6.7).
II - O CUIDADO DE NOEMI E O
CARÁTER DE RUTE
1. O Caráter Amoroso de Rute
1) Um caráter amoroso e confiante. Em
sua decisão de prosseguir na companhia de sua sogra no seu retorno a Belém,
Rute demonstrou que tinha verdadeiro amor por Noemi, além de plena confiança em
sua pessoa. No tempo em que viveu com Malom, o falecido esposo, Rute viu em
Noemi um exemplo de vida, não apenas como sogra, mãe e esposa, mas também como serva
de Deus. Enquanto sua cunhada beijou a sogra e retornou à sua família, Rute
beijou-a, chorou, mas em seu coração confiante e grato, tomou a resolução de
ficar ao lado da sogra: “Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e
me afaste de ti; porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde quer que
pousares à noite, ali pousarei eu [...]” (Rt 1.16a). Essa foi uma declaração
notável de amizade que se fundava no amor, na confiança e no respeito. De um
lado, vemos uma sogra, mulher de Deus que, em meio à amargura e o sofrimento,
tinha zelo e cuidado por sua nora, viúva como ela. De outro lado, vemos o
cuidado, o zelo e o amor de Rute por Noemi, pensando em sua situação de mulher
viúva, desamparada, que voltava para sua terra sozinha. Como uma verdadeira
serva de Deus, Rute demonstrou ter um caráter agradecido e generoso. Ela tomou
a decisão consciente dos possíveis dissabores que podería enfrentar ao lado de
Noemi. Ela estaria a seu lado, em qualquer lugar e em qualquer circunstância.
2) Um caráter fortalecido
na fé em Deus. Por sua origem, Rute era de uma família que adorava
outros deuses quando se casou com Malom. Porém, ao conviver com Noemi, recebeu
dela a mensagem do Deus de Israel. Com toda a certeza, ela foi convertida à Lei
do Senhor. Em sua declaração de amor a Noemi, ela disse com toda a convicção:
“[...] o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16b). Essa
decisão mostra a sua fé em Deus. Rute não tinha a menor ideia do que podería
acontecer com ela em sua caminhada em direção a Belém, nem o que ocorrería
quando ela ali estivesse vivendo com a sogra. Se pensasse com base na lógica e
nas circunstâncias, ela teria motivos para voltar atrás e seguir o exemplo da
cunhada, mas Rute deu exemplo do que é ter fé, como diz a Bíblia: “Ora, a fé é
o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não
vêem” (Hb 11.1). Rute ficou ao lado de Noemi, como vendo o invisível, sob a mão
de Deus.
3) Um caráter
decidido e firme. Suas atitudes demonstravam não ser apenas uma expressão
de um impulso emocional muito comum em meio a situações críticas. Além de
demonstrar que tinha fé em Deus e também confiança em Noemi, Rute expressou sua
inabalável convicção de que valeria a pena enfrentar as circunstâncias
quaisquer que fossem elas, mesmo tudo parecendo incerto e nebuloso. Por isso,
ela completou diante da sua sogra, amiga e irmã de fé sua decisão consciente:
“Onde quer que morreres, morrerei eu e ali serei sepultada; me faça assim o
Senhor e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti.
Vendo ela, pois, que de todo estava resolvida para ir com ela, deixou de lhe
falar nisso” (Rt 1.17,18). Rute não era apenas nora e amiga, mas também
companheira de Noemi, na jornada da vida que Deus reservara às duas. Uma lição
de grande valor para os dias atuais, quando muitos que se dizem cristãos
desistem de seguir a Cristo por causa dos desafios, das lutas e das provações,
desprezando amizades, companheirismo e amor por causa da visão humana,
imediatista e desprovida da verdadeira fé em Deus. Vivemos numa época tão
perigosa em que até casamentos são desfeitos em pouco tempo por motivos muitas
vezes banais e incoerentes. O exemplo de Rute e Noemi deveríam ser considerados
por todos os cristãos.
III - COMO RUTE ENTROU NA GENEALOGIA
DE JESUS
1. Rute Chega a Belém
Saindo
das terras de Moabe, Rute chegou a Belém em companhia de Noemi. Ali, ela pôde
ver como as pessoas receberam a sogra com admiração e espanto, por ver que ela
voltara em condição bem diferente da que saíra: viúva, sem filhos e em
companhia de uma estrangeira. Diz o texto: “Assim, pois, foram-se ambas, até
que chegaram a Belém; e sucedeu que, entrando elas em Belém, toda a cidade se
comoveu por causa delas, e diziam: Não é esta Noemi?” (Rt 1.19) Foi tão duro
para Noemi ouvir as indagações de seus patrícios que ela respondeu de forma
triste e amargurada: “Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande
amargura me tem dado o Todo-poderoso. Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez
tornar; por que, pois, me chamareis Noemi? Pois o Senhor testifica contra mim,
e o Todo-poderoso me tem afligido tanto” (w. 20,21). O nome Noemi significa
“agradável”, enquanto Mara significa “amargurada”. Tal era o sentimento que
enchia o coração de Noemi.
Elas chegaram em Belém “no princípio da
sega das cevadas” (v. 22). Deus permitiu uma estiagem para motivar Elimeleque e
Noemi a deixarem sua terra e migrarem para os campos de Moabe. O Senhor também
usou a tristeza da morte de Elimeleque e seus dois filhos como motivação
negativa para Noemi voltar a sua terra; e também a benção da fartura em Belém
como motivação positiva para que ela fosse para a terra de Israel em busca de
dias melhores.
2. Rute Chama a Atenção de Boaz
Rute
era uma mulher trabalhadora. Ela não comia “o pão da preguiça” (Pv 31.27). Ao
chegar a Belém, após se acomodarem, Rute não esperou Noemi sugerir algum
trabalho para a sua manutenção. Ela mesma tomou a iniciativa: “E Rute, a
moabita disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espiga atrás daquele
em cujos olhos eu achar graça. E ela lhe disse: Vai minha filha” (Rt 2.2). Em
Israel, era comum as mulheres, especialmente as mais jovens, trabalharem na
colheita, como indica o texto (v. 8). Era um tempo de festa; tempo em que as
plantações produziam conforme o esperado, um sinal da benção de Deus (Is 9.3).
1) A providência de Deus. Em vários campos,
nas propriedades agrícolas, havia muitas pessoas trabalhando na colheita da
cevada. Mas, por providência de Deus, Rute dirigiu-se ao campo “certo”. Diz o
relato do livro de Rute: “Foi, pois, e chegou, e apanhava espiga no campo após
os segadores; e caiu-lhe em sorte uma parte do campo de Boaz, que era da
geração de Elimeleque” (Rt 2.3). Isso mostra que, quando uma pessoa procura
andar na vontade de Deus, Ele dirige seus passos até em detalhes mínimos. Pouco
tempo depois, Boaz, o proprietário daquele campo, chegou, saudou a todos os
trabalhadores e teve a atenção chamada para Rute, que estava colhendo espigas.
Havia outras moças, mas sua atenção voltou-se para a moabita: “Depois, disse
Boaz a seu moço que estava posto sobre os segadores: De quem é esta moça?” (Rt
2.5).
Se
Rute chegou no campo “certo”, Boaz chegou na hora “certa” e perguntou quem era
aquela moça, uma jovem senhora que, apesar do sofrimento da viuvez, era bela e
agradável aos olhos. Certamente, a “beleza interior” sobressaía ante a
aparência física, mas o que chamou a atenção de Boaz foi a beleza de Rute. Ao
perguntar quem era ela, o supervisor do campo de Boaz respondeu: “Esta é a moça
moabita que voltou com Noemi dos campos de Moabe. Disse-me ela: deixa-me colher
espigas, e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores. Assim, ela veio e,
desde pela manhã, está aqui até agora, a não ser um pouco que esteve sentada em
casa” (1.7).
2) Fatos significativos no encontro de Boaz
com Rute. Até o desfecho desta história de amor que estava sob a benção e a
providência de Deus, diversos acontecimentos foram desenrolados numa sucessão
de cenas dignas de uma produção literária, teatral ou até cinematográfica do
melhor nível, como, de fato, já existe no mercado das artes baseadas na Bíblia.
Boaz dirige-se a Rute, para a surpresa dela, e diz a ela que não vá a outro
campo, mas que fique ali juntamente com as suas moças. Rute, cheia de
admiração, inclinou-se a terra e perguntou: “Por que achei graça em teus olhos,
para que faças caso de mim, sendo eu uma estrangeira?” (Rt 2.10). Então, Boaz
respondeu que ele soubera o quanto Rute fora generosa com Noemi, sua sogra,
depois da morte do seu esposo; e de como ela deixara a casa de seu pai e a
terra onde nascera e viera abrigar-se com um povo que não conhecia. E fez uma
declaração profética: “O Senhor galardoe o teu feito, e seja cumprido o teu
galardão do Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar”. Diante
de tão grande declaração, Rute respondeu: “Ache eu graça em teus olhos, senhor
meu, pois me consolaste e falaste ao coração da tua serva, não sendo eu nem
ainda como uma das tuas criadas” (v. 13). Se Boaz já estava admirado pela
beleza de Rute diante de tal demonstração de humildade e gratidão, agora, sem
dúvida, o homem passou a sentir mais simpatia e amor por ela.
3) Noemi orienta Rute acerca de Boaz. Aquela altura,
Boaz já sentia por Rute a atração de um homem por uma mulher digna de ser amada
por ele, sendo grandemente generoso a respeito dela. Ao voltar para casa, Rute
contou a Noemi o que havia acontecido e disse o nome do homem que a tratou com
total desvelo e atenção. Ao saber que era Boaz, Noemi bendisse a Deus e fez
saber a Rute que Boaz era um “parente chegado” e um dos “remidores” da sua
família. Era Deus mostrando que, apesar de todas as circunstâncias, Ele está no
controle das situações e que seus propósitos insondáveis hão de ser
estabelecidos. Noemi aconselhou Rute a não procurar. outros campos: “Assim,
ajuntou-se com as moças de Boaz, para colher, até que a sega das cevadas e dos
trigos se acabou; e ficou com a sua sogra” (Rt 2.19-23).
Sendo uma mulher experiente, Noemi
percebeu que os sentimentos de Boaz por Rute não eram apenas de alguém que
admirava sua amizade e consideração pela sogra, mas, sim, de um homem que tinha
intenções mais profundas. Então, ela agiu como uma sogra hábil, esperta e bem
informada, e disse para Rute que Boaz estaria naquela mesma noite na eira, a
fim de padejar a cevada. E ela deu instruções a Rute para se preparar para ir
ao encontro do “remidor” de forma agradável e atraente, bem vestida e perfumada
(cuidados que certas mulheres cristãs esquecem ao lado dos esposos). E, ao
perceber Boaz dormindo, Rute deveria deitar-se aos seus pés e aguardar os
acontecimentos. E assim ela fez. Ela percebeu as intenções da sogra. Quando
Boaz já estava dominado pelo sono e dormindo, Rute chegou de mansinho e
deitou-se aos seus pés. Certamente, ela correu um grande risco de ser possuída
pelo homem que tanto a admirava, mas Deus age em meio às atitudes sinceras de
quem nEle confia, dando o livramento necessário. Ao despertar à meia-noite,
Boaz percebeu a presença da moça aos seus pés e estremeceu, perguntando quem
era ela, pois não havia luz no ambiente.
Rute
declarou-se, pedindo que ele estendesse a aba de sua túnica sobre ela, pois ele
era o remidor. Boaz, profundamente admirado pela atitude de Rute, disse que ele
era “o remidor”, mas que havia outro que tinha prioridade na remissão da
família; Boaz, então, promete procurá-lo. Se ele redimisse a família, assim
seria feito. Se não redimisse, ela deveria aguardar, pois ele — Boaz — faria a
remissão. Com profundo respeito, ele permaneceu ao lado dela, mas não tiveram
relações sexuais. Ao retornar para Noemi, Rute contou como foi a experiência
daquela noite, e Noemi entendeu que tudo estava ocorrendo como ela orientara,
como se fosse uma hábil escritora de um romance. E disse: “Sossega, minha
filha, até que saibas como irá o caso, porque aquele homem não descansará até
que conclua hoje este negócio” (Rt 3.18). Além de o amor de Deus estar presente
na história de Rute, havia também o amor humano ardendo no coração de Boaz, que
sonhava em casar-se com a linda jovem moabita. Deus permite que coisas humanas
— às vezes, fora do padrão normal — aconteçam para mostrar que Ele faz como
quer, quando quer e com quem quer.
3. Rute Casa com Boaz
Boaz
procedeu de acordo com a lei, convidando o remidor mais credenciado para remir
as terras da família de Noemi e, ao mesmo tempo, casar com Rute “para suscitar
o nome do falecido sobre a sua herdade” (Rt 4.5). O homem aceitava redimir as
terras, mas não teve interesse em redimir Rute e casar-se com ela. Tudo estava
dentro do plano de Deus. Boaz, então, perante os anciãos da cidade, declarou
que eles eram testemunhas de que tomara tudo quanto pertencera a Elimeleque e a
seus filhos, da mão de Noemi. E, mais que isso, disse ele: “[...] também tomo
por mulher a Rute, a moabita, que foi mulher de Malom, para suscitar o nome do
falecido sobre a sua herdade, para que o nome do falecido não seja desarraigado
dentre seus irmãos e da porta do seu lugar: disto sois hoje testemunhas” (Rt
4.11).
1) Um casamento singular. Foi um casamento
interessante e completamente fora dos padrões dos israelitas. Ao que tudo
indica, o primeiro remidor não quis casar-se com Rute porque ela era moabita,
estrangeira, viúva, pobre e excluída da comunhão do seu povo. O amor, porém,
supera tudo, quando as pessoas envolvidas estão no centro da vontade de Deus.
Boaz amava Rute de todo o coração e propôs-se a suscitar o nome do falecido
mesmo sem ser seu irmão carnal, como era preceito legal em Israel (Dt 25.5).
Como
todo casamento que se preza e é valorizado pelas famílias e pela sociedade, o
matrimônio de Boaz e Rute teve dez testemunhas especialmente convidadas para
confirmar o ato legal perante o seu povo (Rt 4.2). Além dos dez anciãos tomados
como testemunhas, parte do povo fez-se presente à cerimônia, tendo sido
atraídos pelo inusitado acontecimento, que foi divulgado “pelas redes sociais”
da época, em que um hebreu estava casando-se com uma moabita. Quando Deus
aprova um casamento, os noivos ficam felizes, as famílias aprovam, e os amigos
também se alegram com a união dos noivos. No matrimônio de Rute e Boaz, houve
uma manifestação de júbilo pelos que se reuniram à porta da cidade. Diz o
texto: “E todo o povo que estava na porta e os anciãos disseram: Somos
testemunhas; o Senhor faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel
e como a Léia, que ambas edificaram a casa de Israel; e há-te já valorosamente
em Efrata e faze-te nome afamado em Belém. E seja a tua casa como a casa de
Perez (que Tamar teve de Judá), da semente que o Senhor te der desta moça” (w.
11,12).
2) Rute e Boaz - Como Cristo veio para
nossa salvação. A história de Rute e seu casamento com Boaz é prova
inequívoca de que Deus trabalha com seus parâmetros divinos, que transcendem
toda lógica e compreensão humana. A inclusão de uma estrangeira, moabita, na
genealogia de Jesus Cristo demonstra que Deus não é Deus apenas de Israel, mas
também é “Senhor do céu e da terra” (Mt 11.25; At 17.24). E Jesus Cristo é
salvador “do seu povo” e também do mundo, da humanidade, como indica o seu
nome, dado pelo anjo que anunciou isso a José, quando este pensava em fugir
ante o tremendo impacto da gravidez de sua noiva: “E, projetando ele isso, eis
que, em sonho, lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi,
não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do
Espírito Santo. E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS, porque
ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.20,21); isso é afirmado na
mensagem do próprio Cristo em seu sermão a Nicodemos: “Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo
não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo
3.16,17).
Em seus planos divinos, Deus projetou a
salvação para todos os homens, sem barreiras de quaisquer naturezas. Na bênção
a Abraão, Ele disse que nele seriam “benditas todas as famílias da terra” (Gn
12.3b). Jesus mandou seus seguidores pregarem o evangelho “por todo o mundo” a
“toda criatura” (Mc 16.15). Ele jamais predestinou alguns para a salvação
eterna e outros para a condenação inexorável ao abismo eterno. Ele é justo,
misericordioso, compassivo e não faz acepção de pessoas (Dt 10.17; At 10.34; Tg
2.9).
Boaz, na condição de “remidor” e “parente
mais chegado”, é figura de Cristo, que “se fez carne e habitou entre nós” (Jo
1.14). Ele tornou-se remidor não apenas de um povo, mas também veio para
redimir toda a raça humana. Boaz pagou o preço das terras de Elimeleque e dos
filhos falecidos para poder resgatar a família de Noemi. Cristo pagou o preço
exigido pela santidade de Deus para resgate do homem. O livro de Rute é muito
mais que uma história de amor entre um homem e uma mulher estranha à sua
família. O livro mostra também a linda história de amor entre Deus e o homem,
que tudo fez para salvar o pecador.
CONCLUSÃO
A
história de Rute, a jovem moabita, que se casou com um judeu e passou a fazer
parte da ascendência de Jesus Cristo, o Salvador do mundo, demonstra, de forma
clara, que Deus criou o homem, mesmo sabendo que ele iria cair na perspectiva
de um plano de salvação para todas as pessoas, em todos os lugares,
independentemente de sua nacionalidade, de sua cor ou condição social. Pela
lógica humana, jamais uma mulher moabita faria parte da linhagem santa, da qual
nasceu o Messias de Israel, o Salvador do mundo. O amor de Deus está além de
toda a compreensão limitada do homem.
Fonte
: Livro o
Caráterdo Cristão
Moldado
pela Palavra de Deus e provado como ouro
Elinaldo
Renovato de Lima
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