Extraído do livro: A obra da Salvação.
Autor da obra: Claiton Ivan Pommerening.
A obra terrena de Jesus foi de um valor e alcance
inimagináveis. Além de fazer muitos sinais e maravilhas (Hb 2.4), curar
enfermos (Mt 9.35), ressuscitar mortos (Lc 7.15; Jo 11.41-45), acalmar
tempestades (Mt 8.24-26), multiplicar pães e peixes (Mt 14.13-21) e muitos mais
a ponto de não caber em livros (Jo 21.25), sua maior obra dentre todas foi a
sua morte na cruz com todas as implicações que ela traz para a humanidade e
para o universo criado.58 É o que veremos neste capítulo e no seguinte.
Nenhum
esforço humano é possível para retirar o homem da condição de pecador afastado
de Deus, exceto pela obra salvadora de Cristo. Através da salvação efetuada por
Cristo na cruz, o pecado é removido, e a paz com Deus é estabelecida, e, pelo
resgate efetuado, o pecador é redimido e liberto da escravidão, sendo absolvido
perante o tribunal de justiça divino, pois Cristo já suportou seu castigo e
tomou sobre si o pecado do homem. Sendo assim, em sua morte, Cristo é vitorioso
e garante a todos a redenção eterna.
A
obra salvífica de Cristo custou-lhe um alto preço: o seu próprio sangue
derramado na cruz. Sua obra garante-nos a salvação porque foi uma oferta
completa, perfeita e definitiva. Por causa disso, temos a certeza da salvação e
a garantia da vida eterna e desfrutamos antecipadamente, aqui na terra, dos
benefícios dessa salvação.
O SACRIFÍCIO DE JESUS
A
encarnação de Jesus, já estudada no capítulo 3, foi apenas uma parte da obra de
Cristo. Ela não seria completa se não envolvesse o ministério terreno, o
desprezo, o sacrifício, o sofrimento e a morte de Jesus; esse conjunto é o que chamamos
de obra de Cristo. Sua obra completou-se com sua ressurreição e
ascensão aos céus (Jo 19.30; 1 Co 15.1-4).
No
Antigo Testamento, a palavra para “sacrifício” é qorbãn, como aquilo que
é trazido para perto e tem o propósito de fazer expiação (em hebraico, é kapper).
Existem outras palavras correlatas e de menor importância como, por exemplo, zebhah (sacrifício),
olã (oferta queimada, aquilo que acende) e outras variantes. Alguns sacrifícios
eram oferecidos diariamente, outros aos sábados, nas luas novas, no dia da
expiação e ainda nas festas judaicas das Semanas, dos Tabernáculos (ou Cabanas)
e também na festa da Páscoa. O principal propósito dos sacrifícios era fazer a
expiação pelos pecados, mas também havia os de gratidão, de ação de graças, de
paz e de alguns outros rituais judaicos que não cabe descrição aqui. Todos
esses variados sacrifícios apontam, ainda que comparativamente inadequados,
para o sacrifício final e definitivo de Cristo.
Além
da Páscoa, com seu significado já abordado em capítulo anterior, o sacrifício
com significado especial era o anual Dia da Expiação, quando o sumo sacerdote
oferecia sacrifícios de animais e fazia expiação para si mesmo, para os outros
levitas e para as demais tribos de Israel (Lv 16). A oferta teria que ser
custosa, demonstrando que se oferecia a vida da vítima, derramando seu sangue
para fazer expiação (Lv 17.11). Os diversos aspectos rituais e liturgias com
seus significados incutiam na mente do povo a seriedade da condição pecaminosa
e da necessidade que tinham de uma expiação completa. Todavia, os sacrifícios
de animais eram incompletos e não podiam expiar o pecado humano por inteiro;
por isso, o sacrifício de Cristo assume uma relevância de dimensões eternas por
ser completo e perfeito.
As
Escrituras afirmam que foi necessária a morte sacrificial de Jesus para cumprir
um propósito eterno (Ap 13.8) e para que Deus pudesse perdoar o pecado e
garantir a salvação do homem.59 A serpente levantada no deserto também é comparada ao levantamento
de Cristo na cruz (Jo 3.14). Jesus foi rejeitado (cf. Lc 17.25)
e Ele mesmo disse que lhe era necessário sofrer, morrer e ressuscitar (Mt 16.21; At 17.3) e que estava
consagrado para o sacrifício (Jo 17.19). Nossa união com
Cristo pela fé, possibilitada por seu sacrifício, manifestou o amor de Deus,
libertando-nos do sofrimento causado pelo pecado em nós mesmos e no mundo.
O
problema do pecado não se resolve apenas com o arrependimento do pecador porque
a justiça de Deus também precisa ser satisfeita. Dessa forma, torna-se
necessário que o pecador cumpra a pena. Como o pecador não tinha as mínimas
condições de pagar essa pena por ser imperfeito por causa do próprio pecado,
fez-se necessário que alguém, em condições de satisfazer a perfeição do sacrifício, entrasse
em cena. Esse alguém somente poderia ser Deus, mas também teria de ser homem, e
quem poderia cumprir essa exigência seria unicamente Jesus, o homem perfeito, o
Deus encarnado. Assim, para Deus resolver o problema da exigência da Lei e da
justiça divina, Ele fez com que seu Filho pagasse a pena imposta. A pena imposta
pela Lei foi a morte, pois essa era a pena máxima que alguém poderia pagar ou
ofertar. Nenhum dinheiro seria suficiente para satisfazer a justiça, a não ser
a morte de Cristo.
A
morte de Cristo satisfez ainda outra necessidade: De que forma tirar o pecado do homem como se ele nunca o tivesse praticado? Lançando esse pecado
sobre o ser perfeito, que é Cristo.60 Portanto,
trata-se de uma morte vicária que nos representando na cruz (2 Co 5.14),
resgatando-nos da “maldição da Lei, fazendo-se, Ele próprio, maldição
em nosso lugar” (Gl
3.13). No Antigo Testamento, foi afirmado que quem fosse morto num madeiro
seria maldito de Deus (Dt 21.22-23).
O
sistema de sacrifícios do Antigo Testamento foi instituído para tentar alcançar
méritos diante de Deus, mas esse sistema tornou-se antiquado (Hb 8.13) com a
nova aliança, que foi instituída com o sacrifício de Cristo. Não existem mais
méritos pessoais, mas apenas e exclusivamente o mérito de Cristo (Gl 2.21).
Ele, sim, é capaz de cobrir todo e qualquer pecado e restabelecer a comunhão do
ser humano com Deus. Dessa forma, o único mérito aceito por Deus nesse novo
relacionamento com a humanidade é, exclusivamente, o sacrifício de Cristo.
A
morte de Cristo tem algumas conotações que é preciso esclarecer.61 Ela é o ato de redenção do pecador através da obra vicária de Cristo,
que possibilitou a expiação
e a propiciação e, por fim, promoveu
nossa reconciliação com Deus. Cada um desses aspectos será abordado
neste e no próximo capítulo.
Ela
é vicária, isto é, substitutiva, no sentido de alguém que toma o lugar de
outro, como bem afirma Isaías: “[...] mas o Senhor fez cair sobre ele a
iniquidade de nós todos” (Is 53.6 – conforme ainda 2 Co 5.21; 1 Pe 2.24; 3.18).
Portanto, Cristo morreu pelos nossos pecados; Ele, porém, era sem pecado. O
sistema sacrificial e a Lei apenas nos mostraram o caminho perfeito para a obra
de Cristo (Gl 3.24) que foi tão completa que Ele mesmo foi o sacerdote, o
ofertante (Ele deu a si mesmo) e a oferta. A cruz é o sinal que aponta para essa realidade. A centralidade da cruz está presente até mesmo no Apocalipse, pois retrata a
Jesus como “o primogênito dos mortos” (1.5) e aquEle que foi morto, mas agora
vive para sempre (1.18). “Àquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos
nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele, glória
e poder para todo o sempre” (1.5,6). As palavras ditas na atmosfera de adoração
que João vê diante do trono são: “foste morto e com o teu sangue compraste para
Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação” (5.9). João também chama
Jesus 28 vezes de “o Cordeiro”62, numa clara alusão à sua morte vicária. Povos de todas as tribos,
línguas e nações, “toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da
terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há” (5.13), bem como
“muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos” (5.11) proclamam
dizendo ao que está assentado
no trono que Ele “é o
Cordeiro” e “Digno é o Cordeiro, que foi morto,
de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e
honra, e glória, e ações de graças” (5.12).
Sua
morte também é a propiciação (Rm 3.25; 1 Jo 2.2; Hb 2.17) do pecado, cujo
sentido do hebraico kipper e do latim propitio é afastar a ira
através de um sacrifício; num sentido pagão,
significaria que se está pacificando ou apaziguando um deus irado e vingativo; teologicamente,
porém, significa o cumprimento da Lei divina que havia sido violada, permitindo, agora, o transbordar
do amor de Deus e também de suas bênçãos sobre o pecador (Sl 7.38). Dessa forma, a propiciação não apenas satisfaz
a Lei, mas também torna Deus magnânimo para com o pecador.63 A propiciação torna
o ser humano pecador
arrependido favorável diante de Deus. Paulo afirma
que “[...] sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da
ira” (Rm 5.9). A ira de Deus é o que provoca o desespero e o terror do pecado
no homem pecador e leva-o ao arrependimento.64 Ora, a santidade da ira de Deus não suporta o pecado; entretanto,
Ele mesmo tomou a providência para que a sua própria ira fosse aplacada,
demonstrando mais uma vez seu amor e misericórdia, pois “[...] que ele nos amou
e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10). Dessa
forma, a propiciação é um resultado da expiação, pois somente a morte de Jesus
supera o paradoxo entre o amor e a ira de Deus.65
A NOSSA RECONCILIAÇÃO COM DEUS PAI
A palavra
“reconciliação” provém do verbo grego
katallasso e significa “mudar de inimizade para
amizade”, “reconciliar”. Para expressar uma reconciliação completa, usa-se o
verbo apokatallasso, utilizado em Efésios 2.16 (“e, pela cruz, reconciliar
ambos [judeus e gentios] com Deus em um corpo”) e Colossenses 1.20 (“[...] por
meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as
coisas”). O substantivo katallage (Rm 5.11; 11.15)
dá a ideia de mudar de um
lugar para o outro. Reconciliação implica em estabelecer, por iniciativa de
Deus, uma relação sadia com Ele.
A reconciliação é uma obra da graça
de Deus somente
possível como consequência da obra de Cristo. Ela é necessária porque nosso
relacionamento com Deus estava rompido, pois o homem pecador não pode ter
comunhão com o Deus santo (Is 6.5). A reconciliação é consequência da
conversão, da regeneração e da justificação, pois o pecado tornou o homem
hostil e repugnante para com Deus, e foi assim que uma inimizade foi
estabelecida (Cl 1.21; Tg 4.4), e nem mesmo com os sacrifícios do Antigo
Testamento poderia haver uma reconciliação, pois eles apenas apaziguaram o
problema. Por isso, foi necessário o sacrifício de Cristo, que se tornou
inimizade (Ef 2.15-16) em nosso lugar para que Deus viesse a agradar-se de nós
(Rm 5.10), eliminando, assim, a causa da inimizade e abrindo-nos um novo e vivo
caminho para o Pai (Hb 10.20).
A
expiação é a própria oferta de Cristo a Deus pelo pecado; a reconciliação é o
resultado prático humano da expiação efetuada por Cristo; logo, a reconciliação é consequência da expiação. Todavia,
não é Deus quem se reconcilia com o homem; é o homem que
precisa reconciliar-se com Deus, pois sua comunhão foi interrompida por causa
do pecado. O problema da hostilidade
era do homem para com Deus, cujo problema foi resolvido com a obra de Cristo. O
autor da reconciliação do homem com Deus é o próprio Deus; é Ele quem toma a iniciativa; e o agente
da reconciliação é Cristo
através de sua obra.
A
reconciliação é necessária por causa do estado de alienação (separação) de
Deus. No estado de alienação, o ser humano encontra-se fora de seu centro
divino do qual seu próprio centro pertence de forma dependente. Quando a
serpente enganou o homem no Jardim do Éden, este foi induzido a achar que
poderia viver fora deste centro divino e centrar-se em si mesmo, o que alguns
teólogos chamam de hybris.66 Assim, o homem tentou autoelevar-se à esfera do divino. O homem foi tentado a
ser maior do que o centro divino do qual dependia, e essa tentativa quebrou a
dependência humana deste centro divino e alienou-o da presença de Deus. Como a existência humana plena só é
possível a partir de Deus, é essencial que o estado de alienação seja revertido
para o estado de reconciliação.
Dentro
da reconciliação que Jesus fez para com o homem pecador, está também o seu ministério intercessor, o qual Ele exerceu
quando andou na terra e que ainda exerce por nós diante do Pai (Hb 7.25; Rm
8.27). Ele orou para que a alegria dos discípulos fosse completa (Jo 17.13);
para que não fossem tirados do mundo, mas, sim, guardados do mal (Jo 17.15);
para que formassem uma unidade (Jo 17.21) e também por aqueles que viriam a
crer, abrangendo a todos nós (Jo 17.20). Atualmente, Ele defende-nos das
acusações de quem quer que seja e intercede por nós diante
do Pai, não permitindo que nada nos separe do seu
amor (Rm 8.33-35), compadecendo-se de nossas fraquezas (Hb 4.15; 9.24).
A
partir da reconciliação, o crente experimenta os benefícios dela, que são: no
sentido vertical, a comunhão com Deus; no sentido horizontal, a benção de ser
um novo ser que se reconcilia também com os seus semelhantes; e também com a
própria natureza, não sendo mais hostil a ela no sentido de depredá-la ou
explorá-la de forma inconsequente. “Porque, se nós, sendo inimigos, fomos
reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E
não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor
Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação” (Rm 5.10-11).
A
eliminação da causa da inimizade aquieta e apazigua nosso coração, pois toda acusação
e culpa são eliminadas e removidas, estabelecendo-se uma amizade com Deus através de Cristo. Os reconciliados por
Cristo recebem o ministério da reconciliação, e de suas bocas procedem palavras
de reconciliação (2 Co 5.18-19). Ela é tão abrangente que todo o Universo, céus
e terra estão envolvidos (Cl 1.20).
Pelo
fato de que agora estamos reconciliados com Deus, é-nos permitido estar
vivificados (Ef 2.1, 5; Rm 5.17). Esse é o estado em que, dentro de nós, o
Espírito Santo opera produzindo vida espiritual que se converte em fonte
transbordante (Sl 84.6).
Essa vivificação produz
no crente sede e desejo ardente pela presença de Deus (Sl
42.1-2; 63.1; 143.6), faz dele uma fonte de água viva (Jo 4.10; 7.38), fá-lo
produzir muitos frutos (Jo 15.5) e o desejo que todos conheçam a salvação que
há em Cristo (Mt 5.20; Lc 4.19; At 5.42; 20.27; 1 Co 9.16).
A REDENÇÃO ETERNA
Uma
das principais conquistas da morte de Cristo foi ela promover a redenção, ou
nos redimiu, do verbo grego lytron,67 que
significa libertar do cativeiro, da escravidão ou da condenação da morte
através do pagamento de um preço de resgate. Dessa forma, redenção tem um duplo
sentido: pagar o preço e dar a liberdade, sendo que a morte de Jesus pagou o
preço e libertou o pecador (Mt 10.28).
Redenção é o ato de redimir ou remir, que significa
libertação, reabilitação, reparo e salvação.
Através de um valor pago em
dinheiro, adquire-se algo de novo — é o ato de resgatar, de tirar do poder alheio,
do cativeiro. É estabelecer um recurso para salvar uma pessoa de uma situação
de extrema aflição. É livrar-se de um passado sombrio e das penas do Inferno.
Os
seres humanos são escravos do pecado e fazem tudo o que o pecado determina que
eles façam. Eles estão presos e impossibilitados de, por si só, serem livres
dessa situação. O pecado normalmente é concebido como falha moral e ética —
como errar o alvo proposto por Deus —, mas seu conceito vai muito além disso.
Ele é o estado de alienação (separação) entre Deus e a criatura, presentes na
expulsão do Paraíso, na hostilidade entre o ser humano e a natureza, na
constante perversão da imagem de Deus no ser humano (Rm 1.22-25), transformando-a em ídolos, na procura de desejos distorcidos e prejudiciais para si e para os outros. O homem não se
contenta com a condição de criatura e quer ser igual a Deus (Gn 3.5) e ainda
adorar ídolos (Rm 1.23-25).
O
pecado causa muitas feridas e traz sofrimentos dolorosos (Sl 31.9-10; 51.1-6),
dor e morte ao ser humano, condição esta degradante e muito deprimente. Em síntese, pecado é tudo aquilo que prejudica o homem. O pecado que se comete não fere a Deus ou
diminui o seu poder. O Senhor jamais quis isso para o homem, o que lhe faz
sentir tristeza pelo pecado (2 Co 7.10). O pecado é o ato pessoal de
afastamento de Deus, trazendo angústia e uma propensão à tragédia sobre o ser
humano, sem que ele nem mesmo tenha consciência clara desse estado.
Ele precisará da “luz dos gentios” (Cristo, conforme Is 9.2; 42.6; 49.6)
iluminando sua mente para discernir sua condição, e confiando em Cristo para resolver essa situação (Rm 1.17) e encontrar paz (Ef 2.16).
O
que caracteriza o pecado não é meramente a desobediência à Lei, mas, sim, o
fato de os atos pecaminosos expressarem a alienação (inimizade, conforme Ef
2.16) do ser humano em relação a Deus (2 Co 5.18), ao próximo (Mt 5.24) e a si
mesmo. A única forma de vencer a alienação é aplicar em tudo a lei do amor,
que, segundo Jesus, é o resumo da Lei. Assim, o pecado é vencido aplicando-se
contra ele as palavras de Jesus; e a angústia é vencida no amor, como escreveu
João: “No amor, não há temor [medo, angústia]; antes, o perfeito amor lança
fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em
amor” (1 Jo 4.18).
Através
da redenção de Cristo, o dominador (pecado — Jo 8.34; 7.14) que escravizava não
tem mais poder sobre o antes dominado (pecador). Ele derramou seu próprio
sangue para sermos redimidos (Rm 3.24; Ef 1.7). A redenção praticada por
Cristo, por causa do elevado preço envolvido, é motivo para o crente
glorificar a Deus (1 Co 6.20), pois sua vida agora
demonstra que ele não está mais aprisionado na escravidão de outrora. Os
privilégios da redenção incluem o perdão dos pecados (Ef 1.7), a justiça (Rm
5.17), o Reino e a vida eterna (Ap 5. 9,10). Paulo escreveu que, antes de
aceitarmos a Cristo, éramos “escravos do pecado” (Rm 6.17), mas a cruz de
Cristo possibilitou a libertação dos escravos desse poder de morte (Rm 6.23).
Prisioneiros de guerra poderiam ser libertos através
do pagamento de um
resgate, assim como escravos poderiam
ser soltos através
de um resgate; assim, a liberdade é adquirida através de um valor
pago que cobre o valor do redimido.
A
redenção tem um significado triplo, que pode ser: 1) pagar o preço do resgate
(Hb 9.12); 2) remover o pecador do mercado de escravos (Gl 3.13); e 3) livrar completamente um escravo
ou prisioneiro, dando liberdade completa e definitiva (Cl 1.14). A redenção de escravos na antiguidade poderia
ter conotações variadas, mas o preço pago por Cristo efetuou as três
condições acima juntas para nós.
Há um incrível poder na cruz de
Cristo. Poder para despertar a consciência mais adormecida e derreter o coração
mais duro; para purificar o impuro; para reconciliar aquele que está afastado,
restaurando-o à comunhão com Deus; para redimir o prisioneiro de suas algemas
e levantar do lixo o mendigo; [...] para transformar nossas
personalidades instáveis à imagem de Cristo. [...] Tudo isso faz parte da
salvação que Deus opera nos homens e mulheres através do kerygma de Cristo
crucificado. A palavra da cruz é poder de Deus” (1 Co 1.18).68
Segundo afirmação bíblica, Cristo não nos redimiu
“nem por sangue
de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no
santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” (Hb 9.12). Portanto, a
redenção é a libertação de um escravo ou livramento de algum mal mediante um
resgate (Mt 20.28). Nessa redenção, “Cristo nos resgatou da maldição da Lei”
(Gl 3.13); da própria Lei em si (Rm 6.14; 7.4); do poder do pecado (Rm 6.2,6);
de Satanás (Hb 2.14-15);69 e dos males oriundos da pecaminosidade, da corrupção humana e do corpo mortal
(Gl 1.4).70 Assim, Ele “se deu a si mesmo em preço de redenção por todos”
(1 Tm 2.6).
Para
diferenciar os vários aspectos da salvação quanto ao seu significado, podemos
afirmar que “a expiação é do pecado do pecador; a redenção é da pessoa do
pecador; e a propiciação tem a ver com Deus em relação ao pecado já perdoado,”71 pois agora
sua ira não existe mais. Numa sequência lógica, porém não cronológica — pois a
redenção (a obra de salvação) de Cristo é composta de um evento único —,
podemos afirmar que a obra vicária (substitutiva) de Cristo, na qual Ele tomou
nosso lugar, possibilita a expiação (cobrir o pecado). Estando o pecado
coberto, existe a possibilidade da propiciação (remover a ira pelo pecado),
pois Deus agora já não enxerga o pecado, mas, sim, a justiça de Cristo.
Portanto, isso não fere sua santidade, que, por sinal, possibilita a
reconciliação (reatar o relacionamento quebrado pela alienação do pecado).72 Duffield e Cleave resumem esses aspectos da seguinte maneira:
Quando falamos [da morte de Cristo]
como vicária, pensamos
em substituição; quando falamos de expiação, pensamos em cobertura; como
propiciação, pensamos em apaziguamento; como reconciliação, pensamos em
reatamento da amizade; e como resgate, pensamos em redenção.73
A
condição de redimido não traz apenas benefícios para o crente no tempo
presente, mas também é a garantia da vida eterna, de morar para sempre com
Cristo e de desfrutar do Paraíso celestial, algo somente possível para o crente através da morte de Cristo, que nos
proporciona a certeza da salvação eterna. Portanto, a abrangência de sua morte
invade a vida eterna, extrapolando as dimensões terrenas, temporais e
espaciais.
A
IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
De acordo
com as Escrituras, Jesus Cristo
“ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4.25). Assim,
tanto sua morte quanto sua ressurreição complementam uma a outra, e uma não
poderia haver sem a outra para que a obra fosse completa.
Se não tivesse ressuscitado, Ele não passaria
de um mártir cristão como
tantos outros. “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda
permaneceis nos vossos pecados” (1 Co 15.17). Sua ressurreição também é a
garantia do perdão dos pecados: “[...] Se, com a tua boca, confessares ao
Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás
salvo” (Rm 10.9).
O
novo nascimento do crente fundamenta-se na ressurreição de Jesus: “Bendito seja
o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande
misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de
Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pe 1.3). A ressurreição de Jesus prova a
grande força do poder de Deus (Ef 1.19-20) e que nós, crentes, também seremos
ressuscitados (1 Ts 4.14; 2 Co 4.14), pois a morte foi vencida através de sua
ressurreição (1 Co 15.54-57; Hb 2.14).
A
ressurreição de Cristo atesta o fato de que Ele é Filho de Deus (Rm 1.3- 4). O
apóstolo Paulo afirma que, se ele não tivesse ressuscitado, a pregação seria
vãmente inútil (1 Co 15.14), pois o túmulo vazio deu certeza aos discípulos de
que Ele era o Filho de Deus e que o evangelho era a verdade para a qual eles
deram suas vidas. Se Ele não tivesse ressuscitado, nossa fé seria inútil (v.
14); os apóstolos teriam sido falsas testemunhas (v. 15); os crentes continuariam em seus pecados
(1 Co 15.17); e os que morreram pereceriam no Inferno (vv.
18-19). Todavia, eles foram testemunhas oculares de sua ressurreição (At
1.21-22).
Tanto
o nascimento de Jesus quanto sua ressurreição são fatos milagrosos. Dessa
forma, foi o milagre da ressurreição de Jesus que deu coragem aos discípulos
amedrontados e escondidos por causa de sua morte. Eles encheram-se de ousadia
para pregar o evangelho e virar o mundo de então de cabeça para
baixo.
Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Claiton Ivan Pommerening.
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