Extraído do livro: A supremacia de Cristo.
No seu comentário sobre a carta aos Hebreus, o teólogo
Gabriel Josipovici apresenta uma abordagem metodológica que, a meu ver, além de
facilitar muito o entendimento desse importante documento neotestamentário, também nos permite
enxergar toda a sua excelência e beleza literária. Josipovici
parte da narrativa do encontro de Jesus com os discípulos no caminho de Emaús
(Lc 24.13-35) para, de forma metafórica, fazer uma ponte literária entre o
passado e o presente. Essa passagem bíblica contrasta a vida dos discípulos por meio
da relação entre o que havia acontecido antes com aquilo que estava acontecendo
agora. Os discípulos estavam com suas mentes e focos no passado e não
conseguiam enxergar nada além dele. O que havia acontecido, sublinha Josipovici, eram
“os eventos confusos que levavam à morte de Jesus; o desaparecimento do corpo;
o fornecimento de informação, que é clara, porém não compreendida, embora se
pre- suma que os dois discípulos estejam familiarizados com a Escritura”. É
nesse contexto que Jesus revela-se, fazendo que eles vejam o que está
acontecendo naquele momento. Essa manifestação do Cristo vivo produz
a “iluminação final, por meio de uma ação específica executada por alguém
presente entre eles, que lança uma luz retrospectiva sobre tudo o que aconteceu
antes”.1
O
Cristo ressurreto faz que eles vejam o que está acontecendo, e não apenas o que
havia acontecido. Jesus faz a ponte entre o passado e o presente! Ele irá
mostrá-los que os eventos passados dão significado ao presente, mas que o
presente, da mesma forma, dá significado ao passa- do. Esses fatos, quando
relacionados à vida de Cristo, acontecem numa sucessão de eventos: a morte de
Jesus, o túmulo vazio, as Escrituras, que dão testemunho desses fatos, e a presença
viva de Jesus. Josipovici conclui:
“A Epístola aos Hebreus concentra-se
principalmente na terceira etapa, o modo como a Escritura confirma os eventos
da vida de Jesus e como aqueles eventos dão significado à Escritura. Seu
argumento poderia ser resumido assim: Deus, em tempos passa- dos, falou-nos por
meio de sombras e enigmas, mas o sacrifício de Jesus, seu Filho, agora tornou seu
significado claro. Os ho- mens da Antiga Aliança eram, como nós, peregrinos,
avançando em direção a seu objetivo e lugar de descanso final, mas
nunca realmente o
alcançando. Nós, por outro lado, agora conhecemos conosco
o objetivo e estamos em posição de alcançá-lo. É por isso que uma
carta assim é necessária, para confortar e encorajar aqueles que poderiam, por
causa do medo, preguiça ou ambos recuar, perder a fé, recusar-se a ver a
verdade óbvia”.2
Anônima, porém inspirada
Hoje, há praticamente uma unanimidade entre os biblistas
de que o apóstolo Paulo não foi o autor da carta aos Hebreus. Para esses intér-
pretes, é mais fácil dizer quem não escreveu Hebreus do que afirmar quem a
escreveu. Todavia, o seu uso na liturgia da igreja antiga desde os primórdios
do cristianismo atesta que a mesma teve, ainda muito cedo, aceitação como documento
inspirado. Esse fato foi impulsionado pela tradição antiga que associava essa
carta ao corpus paulino, colocando-a logo após a epístola aos
Romanos. Essa ordem, por sua vez, segue um antigo manuscrito grego (200 d.C),
conhecido como P46, que contém a carta aos Hebreus.
As controvérsias sobre a autoria de Hebreus
aconteceram de forma mais acalorada na igreja do Ocidente, de fala latina, do
que na igreja Oriental, de fala grega, e estenderam-se até o século
IV d.C. Essas controvérsias giravam em torno de uma segunda oportunidade de
arrependimento para quem viesse a pecar depois do batismo. Os textos que
serviram como base dessa controvérsia eram, respectivamente, Hebreus
6.4-6; 10.26- 31 e 12.17. Isso pode ser visto, por exemplo, na exposição dos textos do Pastor de
Hermas (120–140 d.C) e de Tertuliano (160–220 d.C), bispo de
Cartago. Novaciano (200–258), que era conhecido pelo seu rigorismo, afirmava
que os cristãos que renunciaram a fé por conta da perseguição movida por Décio
(201–251) não podiam mais ser perdoados. Por outro lado, Cipriano defendia que,
após uma penitência rigorosa, os infiéis poderiam ser novamente enxertados na igreja.
Os
pais gregos, diferentemente dos latinos, embora questionassem as interpretações
dadas a carta aos Hebreus, não dogmatizaram, todavia, as questões relacionadas
à sua autoria. Erik M. Heen e Philip D. Krey destacam que:
“O
Oriente grego, ainda que se discutiam temas relacionados com a autoria
paulina, as passagens do segundo arrependimento não se consideravam tão
problemáticas como no Ocidente, e nunca se questionou seriamente a autoria da
carta aos Hebreus. Os exegetas alexandrinos Pateno e Clemente aceitaram a autoria
paulina, ainda que Clemente sugeriu que as diferenças estilísticas da carta se
deviam a tradução que Lucas fez do original hebraico para o grego;
esta tradução foi incorporada a ordinária e foi a opinião
tradicional que prevaleceu na igreja medieval do Ocidente. Orígenes aperfeiçoou
essa ideia ao sugerir que
a carta estava redigida em uma ordem diferente em que apresentava em sua
tradução”.3
Os comentários de Orígenes sobre a autoria da carta aos Hebreus
são representativos da tradição grega em geral.4 Em sua Homilia Sobre a Carta aos Hebreus, Orígenes (185–254 d.C), escreveu:
“De
minha parte, se hei de dar minha opinião, eu diria que os pensamentos são do
apóstolo (Paulo), mas o estilo e a composição são de alguém que evocava de memória
os ensinamentos do apóstolo, como um aluno que anota por escrito as coisas que
seu mestre disse. Por conseguinte, se alguma igreja tem esta carta como de
Paulo, que também por isto a estime, pois não sem motivo os antigos a tem
transmitido como de Paulo. Mas quem escreveu a carta? Deus sabe de
verdade”.5
Clemente
Romano cita a carta aos Hebreus em 95 d.C, mas não faz nenhuma alusão a Paulo.
Em cerca de 180 d.C, Pantenus, um dos pais orientais, defendeu a autoria paulina de
Hebreus, posição semelhante adotada pela igreja ocidental a partir de Hilário.
Todavia, foi somente no Concílio de Cartago, ocorrido em 397
d.C., que a carta aos Hebreus foi reconhecida de forma oficial pela igreja e
tida como fazendo parte, de fato e de direito, do corpus paulino. A
partir desse Concílio, a carta aos Hebreus é tida como uma obra escrita pelo
apóstolo dos gentios e que, portanto, possuía valor canônico. Na Idade Média,
foi essa a opinião prevalecente. No entanto, com o advento do Renascimento e da
Reforma Protestante,
onde um interesse por um retorno às fontes dominava os círculos acadêmicos, as
antigas questões relacionadas à carta aos Hebreus voltaram
novamente. Não se questionava a sua inspiração, mas, sim, a sua autoria.
Lutero, por exemplo, acreditava que Apolo (e não Paulo) seria o autor dessa
carta. F. M. Young destaca que Lutero estava ciente da antiga discussão em
torno dessa carta e concluiu que Paulo não poderia ser seu
autor. “Ele notou que a recusa em permitir o arrependimento após o batismo em
Hebreus (6.4-6) diferia da aceitação do arrependimento após o batismo nos
evangelhos e nas epístolas de Paulo”.6 Para ele, Apolo, por ser um varão “eloquente e poderoso nas
Escrituras” (At 18.24), ajustava-se melhor no perfil de quem escreveu Hebreus.
O
dogma criado pela igreja católica em torno da autoria paulina de
Hebreus prevaleceu por muito tempo, e seus defensores
apresentam o que acreditavam ser prova disso. Neil R. Lightfoot, que não é
dogmático nessa questão, enumerou as razões favoráveis a uma autoria
paulina para Hebreus, conforme postas por
seus defensores:
1.
circunstâncias apresentadas nos versículos
finais de Hebreus
são semelhantes àquelas existentes nas
cartas reconhecida- mente como paulinas (Hb 13.3 e 13.18; comparar com Rm
15.30; 2 Co 1.11; At 23.1; 24.16; 2 Co 1.12; 1 Tm 3.9; 2 Tm
1.3; Hb 13.19; comparar com Fm 22; Fp
1.24-25; Hb 13.20,25;
comparar com Rm 15.33, 1 Tm 5.28 e 2 Tm 3.18).
a)
Muitas ideias apresentadas em Hebreus são semelhantes às
encontradas nas cartas paulinas. Cristologia. Em Hebreus e em Paulo, Cristo é
representado como a imagem de Deus (Hb 1.3; cf. Cl 1.5); o
agente e sustenta- dor de toda a criação (Hb 1.1-3, 10-12; cf. Cl 1.16-17; 1 Co
8.6); humilhado como homem e exaltado acima dos anjos (Hb 2.14-17; 1.4-14; cf.
Fp 2.5-11; Ef 1.20-23); aquele cuja
morte foi um sacrifício por todos (Hb 1.3; 2.9; 9.26; 10.12; cf. 1 Tm 2.6; Ef
5.2; 1 Co 15.3).
b)
As duas Alianças. A Velha Aliança não passava de som- bra
das boas coisas da Nova (Hb 10.1, cf. 2.16-17), assim como os
acontecimentos e planos da antiga eram típicos da nova (Hb 8.1-6; 4.1-2,11; cf. 1 Co 10.11). A Antiga
Aliança, por causa da sua fraqueza (Hb 7.18; cf. Rm 8.3), tinha de
aguardar algo além de si mesma (8.8-13) e ser substituída com o estabelecimento de
uma nova aliança (Hb 7.19; 8.13, cf. 2 Co 3.9-11).7
2.
Certo
número de frases e termos em Hebreus é similar
aos encontrados nas cartas paulinas.
3.
Segue-se uma lista de alguns dos paralelos dados por Moses Stuart.
a) O texto de
Hebreus 1.5 só ocorre outra vez no Novo Testamento
e é de uso paulino em At 13.33 em referência a Cristo.
b) O
texto de Hebreus 2.4 destaca os dons do Espírito San- to, que é
paralelo aos encontrados nos escritos de Paulo (1 Co 12.4; 12.11; Rm 12.6).
c) O texto de
Hebreus 2.10 destaca Cristo como o autor e proprietário de todas as coisas. A
mesma verdade é ensi- nada
por Paulo (Cl 1.16; 1 Co 8.6)
d) O texto de Hebreus 2.16 enfoca a descendência de Abraão, que é paralelo àquilo que Paulo escreveu sobre o
velho patriarca (Gl 3.29; 3.7; Rm 4.16)
e) Hebreus 4.12 usa a espada como um símbolo
da Palavra de Deus. A mesma metáfora
é usada por Paulo (Ef 6.17).
f) O texto de Hb 6.3: “[...] se Deus o permitir”
só é usado outra vez no Novo Testamento em 1 Co 16.7.
g) O texto de Hb 10.19 destaca o acesso a Deus
que foi garantido por
Cristo. Muitos paralelos são encontrados em Paulo (Rm 5.2; Ef 2.18; 3.12).8
Apesar de esses paralelos parecerem bastante
fortes em defesa da autoria paulina de Hebreus, a erudição bíblica protestante,
seguindo os reformadores Martinho Lutero (1483–1546), Filipe
Melâncton (1497–1560), João Calvino (1509–1564) e Teodoro de Beza (1519–1605), optou por
rejeitar essa autoria. As diferenças de estilo, forma e temas teológicos
são as principais razões que os levaram a essa rejeição. Dentre essas razões,
são enumeradas:
a)
O apoio histórico
para a autoria
paulina é praticamente nulo. A opinião de Clemente de Alexandria, que atribui a autoria de Hebreus ao apóstolo dos gentios, é tardia e incorreta porque
não há evidência alguma de que essa carta foi escrita original- mente em hebraico
e, depois, traduzida para o grego.
O texto grego de Hebreus,
o mais refinado do Novo Testamento, depõe contra a ideia de uma tradução.9 Por outro lado, o testemunho de Orígenes, para quem “somente
Deus sabia quem escreveu Hebreus”,
deve ser levado em conta. O cânon muratoriano, Irineu, Hipólito e Gaio de Roma não consideravam Hebreus
como sendo escrita
por Paulo.10
b)
O estilo e a linguagem
da Epístola aos Hebreus diferem
consi- deravelmente das cartas de Paulo. Enquanto o estilo paulino
é marcado por frequentes
irregularidades, anacolutos, parênteses inconclusos e misto metafórico, a carta
aos Hebreus possui fluidez, simetria
e é possuidora de um estilo artisticamente elaborado. O conceito
de fé também difere nos dois autores.
Em Hebreus, a fé aparece
como uma recompensa daqueles que ousaram
crer nas promessas
de Deus, enquanto
em Paulo, a fé está associada à justificação que independe das obras da lei.11 As expressões “Jesus Cristo”, “Nosso Senhor Jesus Cristo”, Cristo Jesus” e “Senhor” (para Cristo) são usadas
mais de 600 vezes por Paulo; todavia,
não estão presentes
em Hebreus. O tema do Sumo Sacerdócio de Cristo,
que praticamente domina
toda a carta aos Hebreus, está ausente em Paulo. Outro fato notável
é a maneira como os dois autores
usam o Velho Testamento em suas citações.
O autor de Hebreus utiliza-se
do recurso: “Deus diz”; “O Espírito
Santo diz” ou foi “testificado em algum lugar”, enquanto Paulo valia-se
de fórmulas, tais como: “Está escrito”; “as Escrituras dizem”.12
c)
O autor de Hebreus recorre à Septuaginta,
enquanto Paulo nem
sempre se vale dessa tradução.
7.
O autor admite que a salvação pregada por ele foi transmitida e “confirmada pelos que a ouviram” (Hb
2.3). Paulo, por outro lado, insiste que não recebeu o evangelho por parte
de homem
algum, mas diretamente de Jesus Cristo (Gl 1.11-12).13
Outros nomes
além de Paulo foram levantados como possíveis autores de Hebreus.
Tertuliano (160–220 d.C) defendeu Barnabé, com- panheiro de Paulo, como sendo o
autor dessa carta. Ele escreveu: “Pois ainda existe um livro escrito por
Barnabé aos Hebreus”.14 Charles A. Trentham observa que Barnabé, um levita,
natural de Chipre, ajusta-se bem ao profundo conhecimento que o autor de Hebreus
possuía sobre a adoração levítica. Por outro lado, o significado de seu
nome (“filho da exortação” ou “consolação”) explica o forte tom exortativo
dessa carta. Sendo natural de Chipre, ilha reconhecidamente de cultura
alexandrina, Barnabé estava qualificado, como judeu helenista, a manusear o
grego com maestria como o fez o autor de Hebreus. A sua amizade com Timóteo e
Paulo explicaria aquilo que parece influência paulina em Hebreus.15
Fica,
portanto, em aberto a questão da autoria da carta aos Hebreus,
mas não a sua inspiração. Quis o Espírito
Santo que o autor ficasse no
anonimato,
mas não a sua autoridade e inspiração.
os primeiros Leitores
Os manuscritos
gregos Sinaiticus (c. 330–360) e Vaticanus (c.
300–325) trazem o título “Pros Hebraious” (Aos Hebreus). Todavia, como se tratam de
cópias, não é possível afirmar com segurança que esse título fizesse parte da
redação original. O que pode ser afirmado é que eles atestam a existência de
uma tradição muito antiga que associava a carta aos Hebreus
a uma antiga comunidade de crentes de origem judaica. Uma quantidade
significativa de intérpretes conservadores acredita que essa tradição reflete
melhor as evidências encontradas no texto de Hebreus. As evidências
internas da carta revelam que os destinatários de Hebreus eram judeus
helênicos. Não faria sentido o autor recorrer ao Velho Testamento como forma de
validar seus argumentos se os seus leitores fossem gentios.
Nesse aspecto, vale a pena destacar que a
carta contém várias pas- sagens que só fazem sentido se o público
leitor fosse de judeus (Hb 7.11; 13.13). Frederick Fyvie Bruce (1910–1990)
comenta:
“Os
destinatários parecem ter sido, portanto, um grupo de cristãos judeus
que nunca tinha visto ou ouvido falar de Jesus em pessoa, mas eles tinham
aprendido sobre ele (como fez o escritor da epístola) de alguns que tinha
pessoalmente ouvido de sua conversão. Tinham sido expostos à
perseguição, especialmente em um estágio no início de sua corrida cristã,
mas apesar de terem de suportar abuso público, prisão e saques de suas casas,
ainda não tinha sido chamado a morrer por sua fé. Tinham fornecido provas
concretas de sua fé para servir os seus irmãos cristãos e especialmente para
cuidar daqueles em sua congregação que tinha sofrido mais em tempos de
perseguição. Mas seu desenvolvimento cristão tinha parado: em vez
de avançar, tendiam a estagnar completamente em seu progresso espiritual e até mesmo
a recuar em direção a uma fase que tinham superado. Muito provavelmente, eles
se recusaram a cortar seus últimos laços com a religião que con- tava com a
proteção do direito romano e enfrentar os riscos de um compromisso irrevogável
para a caminhada cristã. O escritor, que conhece ou ouviu falar sobre eles por
um tempo considerável, e sente solicitude pastoral para com seu
bem-es- tar, alerta-os sobre esse recuo, porque isso pode resultar em um
afastamento completo da fé cristã. Ele encoraja-os com a garantia de que
podem perder se voltarem, mas vencerão se continuam resolutamente no caminho”.16
Conteúdo e propósito
Uma leitura cuidadosa de Hebreus mostra que
o autor tencionava pro- duzir ânimo, esperança e fé em um tempo de apostasia.
Como faziam parte da segunda geração de crentes, os Hebreus estavam dando sinais de
arrefecimento na fé muito cedo. Aquele entusiasmo presente marca- do pelo
primeiro amor estava desaparecendo. Em lugar disso, alguns mostravam
encantamento pelo velho sistema do qual haviam saído.
Já no início de sua exposição, o autor faz
um contraste entre a posição dos anjos com a posição do Filho. No judaísmo
antigo, os anjos ocupavam uma posição de alta relevância, e, ao que parece,
muitos cristãos a quem o autor dirige a palavra estavam novamente sendo
fascinados por esse ensino. O autor ressalta a importância que os anjos
possuíam, mas eles estão longe de serem comparados com Jesus, o Filho de Deus,
que não é uma criatura angélica, mas, sim, o criador de todas as coisas
e a expressão exata do ser de Deus (1.1-4). A passagem de hebreus 2.1-4 “visa
conscientizar os leitores sobre as graves consequências do menosprezo da
mensagem de Deus, ou seja, a salvação mediada pelo Filho”.17
Os
capítulos 3 e 4 são usados pelo autor para contrastar as figuras de Moisés e
Josué com a pessoa de Jesus. Nem Moisés nem tampouco Josué conseguiram o
objetivo de prover o descanso completo para o povo de Deus. Nessa parte, o
autor lembra seus leitores que, assim s fracassaram na caminhada, os cristãos,
nos seus dias, da mesma forma, estavam incorrendo no mesmo perigo
(Hb
3.8,13,15; 4.6,11,14).
Numa
seção mais extensa, que vai do capítulo 4.14 até 10.39, a carta explora o
sistema sacerdotal levítico, contrastando com o sacerdócio de Jesus, que é de
uma ordem superior. Para o autor, esse assunto não seria de
fácil explicação porque os seus leitores tornaram-se tardios para ouvir. Ao invés de
agirem como adultos, terem suas faculdades exercitadas e alimentarem-se
de comida sólida, eles ainda estavam necessitando de leite. “Esse bloco
teológico se conclui com um novo trecho exortativo (10.19-39), que acrescenta
algumas informações novas: Há pessoas que estão abandonando a comunidade
(10.23-25). Como brasas que se isolam do braseiro, vão perdendo a esperança, a fé e o
amor. Ao invés de buscar na comunidade o calor e a força para resistir, há
pessoas que preferem a saída mais fácil de renunciar à prática da fé”.18
A seção que vai
do capítulo 12.1 a 13.17 é usado pelo autor para agregar mais conteúdo
exortativo. O autor está consciente das lutas de seus irmãos, porém
lembra-os de que esses sofrimentos não eram motivo de desespero,
visto que eles ainda não haviam suportado o martírio por causa da fé que
professavam. Nenhum deles havia derramado sangue por sua fé. Era preciso
atentar para o fato de que muitas provas eram permitidas por Deus. Era
uma forma de disciplina usada pelo Senhor com o propósito de que os crentes
participassem da sua santidade.
O momento, portanto, não era de
voltar atrás, mas, pelo contrário, de sair fora do arraial para que, juntamente
com Cristo, levassem seu vitupério. Era a igreja sendo igreja fora dos seus
portões.
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