SUBSÍDIO LIÇÃO 11 - ADOTADOS POR DEUS.

Extraído do livro: A obra da Salvação.
Autor da obra: Claiton  Ivan Pommerening.
A adoção é um processo da salvação que ocorre conjuntamente com a regeneração. Esse é o novo nascimento, a efusão de uma nova vida que torna o crente apto a ser chamado filho de Deus. Convém distinguir a adoção da “regeneração, que tem a ver com nossa vida espiritual interior. A justificação tem a ver com nossa posição diante da lei de Deus. Mas a adoção tem a ver com nossa comunhão com Deus como nosso Pai, e, por causa da adoção, são-nos dadas muitas das maiores bênçãos, das quais nos lembraremos por toda a eternidade.
A adoção é um dos resultados da morte de Cristo, onde passamos de criaturas de Deus e servos do pecado para a condição de filhos libertos, desfrutando de todos os privilégios que essa posição traz no presente e também no futuro quando desfrutaremos a adoção plena em glória. “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não conhece a ele” (1 Jo 3.1).

O CONCEITO BÍBLICO DE ADOÇÃO
No sentido bíblico, os seres humanos são criaturas de Deus, e não filhos. Para tornar-se filho de Deus, é preciso crer e receber o sacrifício de Cristo, que tem o poder de tornar a criatura em filho de Deus (Jo 1.12); assim, antes da salvação, todos são criaturas, depois se tornam filhos por adoção (Gl 4.5). Em seguida, passam a fazer parte da família de Deus e chamá-lo de Aba (paizinho) (Gl 4.6), numa relação filial amorosa e relacional íntima, onde todos os demais membros da família passam a chamá-los e considerá-los irmãos em Cristo (1 Ts 2.14). A possibilidade da adoção só é possível por causa de Cristo, em quem fomos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo (cf. Ef 1.5).
Os crentes são filhos de Deus por adoção. Isso significa que eles não são filhos de Deus por natureza, pois nem todos os seres humanos são filhos de Deus. Somente aqueles que possuem um relacionamento filial com Deus por meio de Cristo são filhos de Deus. Por meio dessa adoção, Deus coloca o pecador no estado de filho e passa a tratá-lo como filho. Em virtude de sua adoção, os crentes são inseridos na família de Deus e passam a ter direito a todos os privilégios da filiação. Por um lado, eles são adotados por Deus como filhos. Por outro, eles passam a comportarem-se como filhos de Deus. Paulo mostra-nos esses dois elementos da adoção funcionando lado a lado: “[...] Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4.4-6). O Espírito de Cristo regenera-nos, e santifica-nos, e estimula-nos a dirigirmo-nos a Deus cheios de confiança, vendo-o como nosso Pai. Por isso, devemos assumir nossa relação filial com Deus e comportarmo-nos como seus filhos.
Fazer parte de uma família, e, nesse caso, da família de Deus (Ef 2.19) traz inúmeros benefícios como, por exemplo, segurança, confiança e conhecimento imediato de pertencer a uma casa paterna. Casa lembra um lugar de refúgio, paz e descanso; portanto, num mundo conturbado em que vivemos, encontrar a casa do Pai é um grande alívio e também um antídoto contra perturbações, angústias e aflições que este mundo traz. Portanto, a possibilidade de chamar Deus de Pai é um privilégio ímpar, pois já não somos mais escravos, e sim filhos (cf. Gl 4.7).
Na Oração do Pai Nosso, Jesus deixou claro que a realidade de ser filho altera o relacionamento com Deus. Antes, as orações eram frias, repetitivas e enfatizavam apenas a grandeza de Deus. Ele, agora, importa-se também com as fraquezas e necessidade humanas. No seu ensino sobre a oração, Jesus enfatiza que Ele é o “teu Pai que vê em oculto”, que Ele recompensa seus filhos, que Ele conhece as necessidades antes de pedirmos, que podemos pedir pelo pão diário — ou seja, todas as necessidades básicas —, que Ele está pronto a perdoar nossos pecados e que Ele nos livra da tentação. Tudo isso mostra um Deus cheio de cuidados paternos que não poupa esforços em prol dos seus filhos.
O Espírito Santo testifica no íntimo de nossos corações, dizendo-nos que somos realmente filhos de Deus (Rm 8.16) porque fomos adotados por Deus e passamos a fazer parte de sua família e desfrutar do privilégio de sermos herdeiros (Tt 3.7). “E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo” (Rm 8.17). Com a adoção, deixamos de ser escravos, sem herança nem direitos, e tornamo-nos filhos (Gl 4.7) com todos os privilégios da casa do Pai. A herança maior é incorruptível, incontaminável e imarcescível e está reservada nos céus para nós (1 Pe 1.4).
Chamar Deus de Pai ajuda a livrar a mente humana da perturbação às vezes presente em situações em que não se compreende corretamente a pessoa de Deus — isso é o que leva a pessoa a pensar que Ele é um Deus vingativo, irado e pronto a castigar. Essa imagem de Deus é extremamente maléfica e é vencida na compreensão da doutrina da adoção, que faz compreender que Ele nos tem concedido seu amor (1 Jo 3.1); que Ele entende cada um de nós, pois é “como um pai [que] se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Sl 103.13-14); toma todos os cuidados em nossas necessidades, pois “vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas” (Mt 6.32); Ele dá a nós bons presentes como gesto de amor, pois “se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mt 7.11); Ele concede-nos também seu Espírito Santo para confortar e consolar nas angústias (Lc 11.13).
A ADOÇÃO NO TEMPO PRESENTE
O apóstolo João afirma que, pelo fato de agora sermos filhos, somos semelhantes ao Pai, ou seja, manifestamos em nossa vida as características do caráter do Pai (1 Jo 3.2), cuja principal é o amor (Ef 5.1), que será aperfeiçoado em nós até o dia final (Fp 1.6). A característica genética do filho não é escolhida por este, mas, sim, comandada pelo “DNA” do pai; portanto, quem é filho de Deus automaticamente é parecido com o Pai. Quem não herdou as características do Pai precisa nascer de novo e passar pelo processo de adoção para ser como o Pai é (Is 64.8) e ter sua filiação eterna garantida para escapar da condenação do pecado.
O processo de adoção pelo qual todos nós passamos ao aceitarmos a salvação que há em Cristo é prova do grande amor que Deus tem por nós, seus filhos (1 Jo 3.1). Agora, o assombro da culpa do pecado, das angústias da perdição eterna e a insignificância de ser escravo do pecado não perturbam mais (Ef 6.23). E, na comunhão do Pai, podemos morrer gradualmente para nossas ilusões de poder e controle, que fatalmente nos afastam do Pai, e podemos dar ouvidos à voz de amor paterno escondida no centro de nosso ser que nos chama para seus braços.
Os filhos de Deus passam a ter garantias e direitos (Rm 8.17) de filhos legítimos enxertados (Rm 11.17) na oliveira verdadeira, que é Cristo. Eles passam a ter um novo nome (Ap 2.17); passam a fazer parte de uma nova família (Ef 2.19); estão livres e emancipados da lei que gera morte (Gl 3.25); todos os povos e raças, desde que tenham aceitado a Cristo, tornam-se filhos de Deus sem distinção (Gl 3.28).
Os amados do Pai são guiados pelo Espírito de Deus (Rm 8.14) e mortificam a carne com seus apetites desordenados porque neles habita a vida do Espírito de Deus (Rm 8.13). Eles manifestam sua aversão ao mundo e aos valores do mundo porque retribuem o amor do Pai amando da mesma forma (1 Jo 2.15). Portanto, há um antagonismo claro entre amar o Pai e amar o mundo, pois o filho de Deus não pode ter um coração dividido. Para permanecer em seu amor, é preciso guardar os seus mandamentos, que sempre serão contrários aos do mundo (Jo 15.10).
Como filhos, temos o grande privilégio de fazermos parte da família de Deus. Dessa forma, desfrutamos da comunhão com nossa grande família de irmãos, que mutuamente se cuidam e se nutrem espiritualmente, formando a comunidade do Espírito, que se torna um sinal gracioso da presença, já neste mundo, do Reino vindouro de Deus, quando o amor será a marca mais evidente deste Reino. A comunhão dos irmãos permite que nossa verdadeira identidade de filhos seja sempre de novo reafirmada e também que a tentação de distanciar-se de Deus seja impedida através do cuidado dos irmãos, renovando a voz interior de que somos filhos amados do Pai, lugar onde nossa verdadeira identidade está ancorada. A compreensão dessa realidade evita a destrutiva competição entre os irmãos e encoraja a todos para cooperarem uns com os outros e contribuírem assim para amenizar a dor e o sofrimento de um mundo tomado pela avareza, individualidade, consumismo e ignorância relacional. A Bíblia afirma que aqueles que agem contrariamente ao comportamento de filhos de Deus em relação a seus irmãos são “filhos do diabo” (1 Jo 3.10).
Para servir aos outros em amor na grande família de Deus, cada um precisa encontrar-se como filho de Deus. Só quem se encontrou a si mesmo como filho é capaz de doar-se a si mesmo. “Só quando alguém sabe que se aceitou a si mesmo é que ele pode aceitar os outros sem dominá-los. Quem passou a ser livre em si, este pode libertar os outros e compartilhar seus sofrimentos.”  Só quem é filho pode transmitir possibilidade da filiação paterna aos outros.
Os filhos de Deus têm também deveres que são: apartar-se do mundo e do que é imundo (2 Co 6.17,18); vencer o mundo (Ap 21.7); praticar a justiça e amar o seu irmão (1 Jo 3.10); buscar a perfeição do Pai (Mt 5.48); amar os inimigos, bendizer os que maldizem, fazer o bem aos que nos odeiam e orar pelos que nos maltratam e perseguem (Mt 5.44); e com todos esses deveres devemos glorificar a Deus (Mt 5.16). Os filhos também devem aceitar a disciplina do Pai, pois essa disciplina demonstra o seu amor, que é para nosso aperfeiçoamento em santidade (Hb 12.5-11).
Como Pai, Deus permite que todas as coisas cooperem para nosso bem (Rm 8.28), o que significa que tudo o que Ele faz é para sermos conforme Jesus é. Isso leva ao fato de que Ele, como Pai, também nos corrige, como está escrito na carta aos Hebreus:
“E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos” (Hb 12.5-8).
Isso nos leva a encarar o sofrimento, que normalmente causa angústia e dor, como instrumento de aprendizado da parte do Pai. Não necessariamente porque fizemos algo errado ou por causa da consequência de pecados, mas, especialmente, como uma possibilidade de crescimento e maturidade espiritual, pois, através do sofrimento, descobrimos o que habita nosso coração e temos possibilidade de sermos libertos e curados daquilo que nos aprisiona e que, muitas vezes, só é descoberto através das dificuldades. Isso nos leva a confiar no Pai, pavimentando um caminho de humildade e dependência em tudo, mesmo em meio ao sofrimento mais atroz. Tendo isso em mente, John Piper escreveu:


Aprendemos por meio da dor a fidelidade de Deus e a realidade da nossa fé. As pessoas mais inabaláveis na esperança são as mais profundamente testadas. As pessoas que olham com mais sinceridade, firmeza e ânimo para a esperança da glória são as privadas dos confortos por meio das tribulações. Essas são as pessoas mais livres de todas. Seu amor não pode ser intimidado por ameaças ou calamidades.
Como filhos de Deus, podemos viver num mundo que proporciona tanto alegria quanto sofrimento, em que estamos sujeitos a receber tanto elogios quanto reprovação, mas tudo isso pode ser visto como uma oportunidade de afirmarmos nossa identidade básica de filhos, pois essa identidade está ancorada em Deus, transcendendo todo louvor ou condenação que se possa receber.

A ADOÇÃO PLENA NO FUTURO
Nossa adoção futura prevê que teremos uma grande herança nos céus. É nessa entrada nos céus que seremos herdeiros de todas as coisas conquistadas por Cristo na cruz e teremos acesso à “uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós que, mediante a fé, estais guardados na virtude de Deus, para a salvação já prestes para se revelar no último tempo” (1 Pe 1.4-5).
Por causa do que ainda nos espera de herança como filhos, Paulo afirmou que “nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). Essa redenção, embora precária aqui na terra, será completa, perfeita e plena no céu. Queremos que “o mortal seja absorvido pela vida.” (2 Co 5.4). Assim como Cristo foi glorificado, nós também o seremos; assim sendo, essa glorificação é incomparável em relação às aflições que aqui passamos (Rm 8.15-18). Que bendita esperança!
Uma vez que somos filhos de Deus, para sempre o seremos, mas aqui experimentamos toda sorte de infortúnios e dores, pois gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu (1 Jo 3.1-3; 2 Co 5.2). Nossas almas anseiam pelo momento em que poderemos adentrar à casa do Pai eternamente. Habitamos aqui provisoriamente e em intervalos interruptos com o Pai; mas, naquele grande dia, habitaremos com Ele para todo o sempre (Ap 22.17).

Extraído do livro: A obra da Salvação.
Por: Claiton  Ivan Pommerening.


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