Extraído do livro: A obra da Salvação.
Autor da obra: Claiton Ivan Pommerening.
A adoção é um processo da salvação que
ocorre conjuntamente com a regeneração. Esse é o novo nascimento, a efusão de uma
nova vida que torna o crente apto a ser chamado filho de Deus. Convém distinguir
a adoção da “regeneração, que tem a ver com nossa vida espiritual interior. A
justificação tem a ver com nossa posição diante da lei de Deus. Mas a adoção
tem a ver com nossa comunhão com Deus como nosso Pai, e, por causa da adoção,
são-nos dadas muitas das maiores bênçãos, das quais nos lembraremos por toda a
eternidade.”
A
adoção é um dos resultados da morte de Cristo, onde passamos de criaturas de
Deus e servos do pecado para a condição de filhos libertos, desfrutando de
todos os privilégios que essa posição traz no presente e também no futuro
quando desfrutaremos a adoção plena em glória. “Vede quão grande amor nos tem
concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso, o mundo não
nos conhece, porque não conhece a ele” (1 Jo
3.1).
O
CONCEITO BÍBLICO DE ADOÇÃO
No
sentido bíblico, os seres humanos são criaturas de Deus, e não filhos. Para
tornar-se filho de Deus, é preciso crer e receber o sacrifício de Cristo, que
tem o poder de tornar a criatura em filho de Deus (Jo 1.12); assim, antes da
salvação, todos são criaturas, depois se tornam filhos por adoção (Gl 4.5). Em seguida,
passam a fazer parte da família de Deus e chamá-lo de Aba
(paizinho) (Gl 4.6),
numa relação filial
amorosa e relacional íntima, onde todos os demais membros
da família passam a chamá-los
e considerá-los irmãos em
Cristo (1 Ts 2.14). A possibilidade da adoção só é possível por causa de
Cristo, em quem fomos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo (cf. Ef
1.5).
Os
crentes são filhos de Deus por adoção. Isso significa que eles não são filhos
de Deus por natureza, pois nem todos os seres humanos são filhos de Deus.
Somente aqueles que possuem um relacionamento filial com Deus por meio de
Cristo são filhos de Deus. Por meio dessa adoção, Deus coloca o pecador no
estado de filho e passa a tratá-lo como filho. Em virtude de sua adoção, os
crentes são inseridos na família de Deus e passam a ter direito a todos os privilégios da filiação. Por um lado, eles são adotados por Deus
como filhos. Por outro, eles passam a comportarem-se como filhos de Deus. Paulo
mostra-nos esses dois elementos da adoção funcionando lado a lado: “[...] Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que
estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois
filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama:
Aba, Pai” (Gl 4.4-6). O Espírito de Cristo regenera-nos, e santifica-nos, e estimula-nos a dirigirmo-nos a Deus cheios de confiança, vendo-o como nosso Pai. Por
isso, devemos assumir nossa relação filial com Deus e comportarmo-nos como seus
filhos.
Fazer
parte de uma família, e, nesse caso, da família de Deus (Ef 2.19) traz inúmeros
benefícios como, por exemplo, segurança, confiança e conhecimento imediato de
pertencer a uma casa paterna. Casa lembra um lugar de refúgio, paz e descanso;
portanto, num mundo conturbado em que vivemos, encontrar a casa do Pai é um
grande alívio e também um antídoto contra perturbações, angústias e aflições
que este mundo traz. Portanto, a possibilidade de chamar Deus de Pai é um
privilégio ímpar, pois já não somos mais escravos, e sim filhos (cf. Gl 4.7).
Na
Oração do Pai Nosso, Jesus deixou claro que a realidade de ser filho altera o
relacionamento com Deus. Antes, as orações eram frias, repetitivas e
enfatizavam apenas a grandeza de Deus. Ele, agora, importa-se também com as fraquezas
e necessidade humanas.
No seu ensino sobre a oração, Jesus enfatiza que Ele é o “teu Pai que vê
em oculto”, que Ele recompensa seus filhos, que Ele conhece as necessidades antes de pedirmos, que podemos pedir
pelo pão diário — ou seja, todas as necessidades básicas —, que Ele está pronto
a perdoar nossos pecados e que Ele nos livra da tentação. Tudo isso mostra um
Deus cheio de cuidados paternos que não poupa esforços em prol dos seus filhos.
O
Espírito Santo testifica no íntimo de nossos corações, dizendo-nos que somos
realmente filhos de Deus (Rm 8.16) porque fomos adotados por Deus e passamos a
fazer parte de sua família e desfrutar do privilégio de sermos herdeiros (Tt
3.7). “E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus
e coerdeiros de Cristo” (Rm 8.17). Com a adoção, deixamos de ser escravos, sem
herança nem direitos, e tornamo-nos filhos (Gl 4.7) com todos os privilégios da
casa do Pai. A herança maior é incorruptível, incontaminável e imarcescível e
está reservada nos céus para nós (1 Pe 1.4).
Chamar
Deus de Pai ajuda a livrar a mente humana da perturbação às vezes presente em
situações em que não se compreende corretamente a pessoa de Deus — isso é o que
leva a pessoa a pensar que Ele é um Deus vingativo, irado e pronto a castigar.
Essa imagem de Deus é extremamente maléfica e é vencida na compreensão da
doutrina da adoção, que faz compreender que Ele nos tem concedido seu amor (1
Jo 3.1); que Ele entende cada um de nós, pois é “como um pai [que] se compadece
de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem. Pois ele
conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Sl 103.13-14); toma
todos os cuidados em nossas necessidades, pois “vosso Pai celestial bem sabe
que necessitais de todas essas coisas” (Mt 6.32); Ele dá a nós bons presentes
como gesto de amor, pois “se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos
vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe
pedirem?” (Mt 7.11); Ele concede-nos também seu Espírito Santo para confortar e
consolar nas angústias (Lc 11.13).
A
ADOÇÃO NO TEMPO PRESENTE
O
apóstolo João afirma que, pelo fato de agora sermos filhos, somos semelhantes
ao Pai, ou seja, manifestamos em nossa vida as características do caráter do
Pai (1 Jo 3.2), cuja principal é o amor (Ef 5.1), que será aperfeiçoado em nós
até o dia final (Fp 1.6). A característica genética do filho não é escolhida
por este, mas, sim, comandada pelo “DNA” do pai; portanto, quem é filho de Deus automaticamente é parecido com o Pai. Quem não herdou as características do Pai
precisa nascer de novo e passar pelo processo de adoção para ser como o Pai é
(Is 64.8) e ter sua filiação eterna garantida para escapar da condenação do
pecado.
O
processo de adoção pelo qual todos nós passamos ao aceitarmos a salvação que há
em Cristo é prova do grande amor que Deus tem por nós, seus filhos (1 Jo 3.1).
Agora, o assombro da culpa do pecado, das angústias da perdição eterna e a
insignificância de ser escravo do pecado não perturbam mais (Ef 6.23). E, na
comunhão do Pai, podemos morrer gradualmente para nossas ilusões de poder e
controle, que fatalmente nos afastam do Pai, e podemos dar ouvidos à voz de
amor paterno escondida no centro de nosso ser que nos chama para seus braços.
Os
filhos de Deus passam a ter garantias e direitos (Rm 8.17) de filhos legítimos
enxertados (Rm 11.17) na oliveira verdadeira, que é Cristo. Eles passam a ter
um novo nome (Ap 2.17); passam a fazer parte de uma nova família (Ef 2.19);
estão livres e emancipados da lei que gera morte (Gl 3.25); todos os povos e
raças, desde que tenham aceitado a Cristo, tornam-se filhos de Deus sem
distinção (Gl 3.28).
Os
amados do Pai são guiados pelo Espírito de Deus (Rm 8.14) e mortificam a carne
com seus apetites desordenados porque neles habita a vida do Espírito de Deus
(Rm 8.13). Eles manifestam sua aversão ao mundo e aos valores do mundo porque
retribuem o amor do Pai amando da mesma forma (1 Jo 2.15). Portanto, há um
antagonismo claro entre amar o Pai e amar o mundo, pois o filho de Deus não
pode ter um coração dividido. Para permanecer em seu amor, é preciso guardar os
seus mandamentos, que sempre serão contrários aos do mundo (Jo 15.10).
Como
filhos, temos o grande privilégio de fazermos parte da família de Deus. Dessa
forma, desfrutamos da comunhão com nossa grande família de irmãos, que
mutuamente se cuidam e se nutrem espiritualmente, formando a comunidade do
Espírito, que se torna um sinal gracioso da presença, já neste mundo, do Reino vindouro
de Deus, quando
o amor será a marca mais
evidente deste Reino. A comunhão dos irmãos permite que nossa verdadeira
identidade de filhos seja sempre de novo reafirmada e também que a tentação de distanciar-se de Deus seja impedida através
do cuidado dos irmãos, renovando a voz interior
de que somos filhos amados do Pai, lugar onde nossa verdadeira identidade está
ancorada. A compreensão dessa realidade evita a destrutiva competição entre os
irmãos e encoraja a todos para cooperarem uns com os outros e contribuírem
assim para amenizar a dor e o sofrimento de um mundo tomado pela avareza,
individualidade, consumismo e ignorância relacional. A Bíblia afirma que
aqueles que agem contrariamente ao comportamento de filhos de Deus em relação a
seus irmãos são “filhos do diabo” (1 Jo 3.10).
Para
servir aos outros em amor na grande família de Deus, cada um precisa encontrar-se
como filho de Deus. Só quem se encontrou a si mesmo como filho é capaz de
doar-se a si mesmo. “Só quando alguém sabe que se aceitou a si mesmo é que ele
pode aceitar os outros sem dominá-los. Quem passou a ser livre em si, este pode
libertar os outros e compartilhar seus sofrimentos.” Só quem é filho pode
transmitir possibilidade da filiação paterna aos outros.
Os
filhos de Deus têm também deveres que são: apartar-se do mundo e do que é
imundo (2 Co 6.17,18); vencer o mundo (Ap 21.7); praticar a justiça e amar o
seu irmão (1 Jo 3.10); buscar a perfeição do Pai (Mt 5.48); amar os inimigos,
bendizer os que maldizem, fazer o bem aos que nos odeiam e orar pelos que nos
maltratam e perseguem (Mt 5.44); e com todos esses deveres devemos glorificar a Deus (Mt 5.16). Os filhos também
devem aceitar a disciplina do Pai, pois essa disciplina
demonstra o seu amor, que é para nosso aperfeiçoamento em santidade (Hb
12.5-11).
Como
Pai, Deus permite que todas as coisas cooperem para nosso bem (Rm 8.28), o que
significa que tudo o que Ele faz é para sermos conforme Jesus é. Isso leva ao
fato de que Ele, como Pai, também nos corrige, como está escrito na carta aos
Hebreus:
“E já
vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não
desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores
repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe
por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque que
filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos
são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos” (Hb 12.5-8).
Isso
nos leva a encarar o sofrimento, que normalmente causa angústia e dor, como
instrumento de aprendizado da parte do Pai. Não necessariamente porque fizemos
algo errado ou por causa da consequência de pecados, mas, especialmente, como
uma possibilidade de crescimento e maturidade espiritual, pois, através do
sofrimento, descobrimos o que habita nosso coração e temos possibilidade de
sermos libertos e curados daquilo que nos aprisiona e que, muitas vezes, só é
descoberto através das dificuldades. Isso nos leva a confiar no Pai,
pavimentando um caminho de humildade e dependência em tudo, mesmo em meio ao
sofrimento mais atroz. Tendo isso em mente, John Piper escreveu:
Aprendemos por meio da dor a fidelidade
de Deus e a realidade da nossa fé. As pessoas mais inabaláveis na esperança são
as mais profundamente testadas. As pessoas que olham com mais sinceridade,
firmeza e ânimo para a esperança da glória são as privadas dos confortos por
meio das tribulações. Essas são as pessoas mais livres de todas. Seu amor não
pode ser intimidado por ameaças ou calamidades.
Como
filhos de Deus, podemos viver num mundo que proporciona tanto alegria quanto sofrimento,
em que estamos sujeitos a receber tanto elogios quanto reprovação, mas tudo
isso pode ser visto como uma oportunidade de afirmarmos nossa identidade básica
de filhos, pois essa identidade está ancorada em Deus, transcendendo todo
louvor ou condenação que se possa receber.
A
ADOÇÃO PLENA NO FUTURO
Nossa
adoção futura prevê que teremos uma grande herança nos céus. É nessa entrada
nos céus que seremos herdeiros de todas as coisas conquistadas por Cristo na
cruz e teremos acesso à “uma herança incorruptível, incontaminável e que se não
pode murchar, guardada nos céus para vós que, mediante a fé, estais guardados
na virtude de Deus, para a salvação já prestes para se revelar no último tempo”
(1 Pe 1.4-5).
Por
causa do que ainda nos espera de herança como filhos, Paulo afirmou que “nós
mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos,
esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). Essa
redenção, embora precária aqui na terra, será completa, perfeita e plena no
céu. Queremos que “o mortal seja absorvido pela vida.” (2 Co 5.4). Assim como
Cristo foi glorificado, nós também o seremos; assim sendo, essa glorificação é
incomparável em relação às aflições que aqui passamos (Rm 8.15-18). Que bendita
esperança!
Uma vez
que somos filhos de Deus, para sempre o seremos, mas aqui experimentamos toda
sorte de infortúnios e dores, pois gememos, desejando ser revestidos da nossa
habitação, que é do céu (1 Jo 3.1-3; 2 Co 5.2). Nossas almas anseiam pelo
momento em que poderemos adentrar à casa do Pai eternamente. Habitamos aqui
provisoriamente e em intervalos interruptos com o Pai; mas, naquele grande dia,
habitaremos com Ele para todo o sempre (Ap 22.17).
Extraído
do livro: A obra da Salvação.
Por:
Claiton Ivan Pommerening.
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