O Antigo
Testamento manifestou claramente o Pai e, obscuramente, o Filho. O Novo
manifestou o Filho e, obscuramente, indicou a divindade do Espírito Santo.
Hoje, o
Espírito habita entre nós e se dá mais claramente a conhecer” (Gregório de
Nazianzo). Embora o Credo Niceno termine com as seguintes palavras: “Cremos
também em um só Espírito Santo”, não há informações sobre a identidade do
Espírito Santo. Segundo Gregório de Nazianzo, a revelação das três Pessoas da
Trindade foi gradual. Uma vez definida a cristologia em Niceia, faltava agora
definir a doutrina da terceira Pessoa da Trindade. Esse tema só foi concluído
depois da segunda metade do século IV.
Segundo Stanley M. Horton, a doutrina do Espírito Santo nunca havia recebido um
tratamento justo nos tratados de teologia antes do Avivamento da Rua Azusa: “Os
antigos compêndios de teologia sistemática, em sua maioria, não possuem nenhum
capítulo sobre pneumatologia” (HORTON, 2001, p. 9). Eruditos, durante e depois
do Avivamento da Rua Azusa, empreenderam vários estudos sobre o Espírito Santo,
sobre o batismo no Espírito Santo, sobre a glossolalia e sobre os dons do
Espírito Santo.
Obtiveram
avanços significativos. A erudição não anula o fervor espiritual da fé cristã
pentecostal.
É o Senhor Jesus o centro da mensagem pregada pelas Assembleias de Deus. Ainda
há entre os evangélicos quem diga que a ênfase é o Espírito Santo acima de
Jesus. O Pr. George Wood, presidente da Convenção Americana das Assembleias de
Deus, numa entrevista à revista Christianity Today, edição de 29 de junho de
2015, fala em quatro grandes erros a respeito das Assembleias de Deus: 1) a
crença no Cânon aberto, 2) a ênfase do Espírito Santo acima de Jesus, 3) a
prática espiritual elitista e 4) a teologia da prosperidade. Ele rebate cada
ponto explicando a fé assembleiana.
O
ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS SAGRADAS
Sua
divindade
O
Espírito Santo é chamado de Senhor nas Escrituras Sagradas:
“Ora, o
Senhor é o Espírito; e, onde está Espírito do Senhor, aí há liberdade” (2 Co
3.17 – ARA). Os nomes Deus e Espírito Santo aparecem alternadamente na Bíblia:
“Porque encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e
retivesses parte do preço da herdade? ... Não mentiste aos homens, mas a Deus”
(At 5.3, 4). Veja que Deus e o Espírito Santo aqui são uma/mesma divindade.
Primeiro o apóstolo Pedro diz que Ananias/mentiu ao Espírito Santo, e depois o
mesmo Espírito é chamado/de Deus. O apóstolo Paulo também emprega esse tipo
de/linguagem: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o/Espírito de
Deus habita em vós?” (1 Co 3.16). Isso vem desde o/Antigo Testamento: “O
Espírito do SENHOR falou por mim, e a sua/palavra esteve em minha boca. Disse o
Deus de Israel, a Rocha de/Israel a mim me falou” (2 Sm 23.2, 3). Da mesma
forma o Espírito/Santo é chamado de “Javé” ou “SENHOR” nas nossas versões
de/Almeida. Compare ainda Juízes 15.14; 16.20 e Números 12.6; 2/Pedro 1.21.
Jesus
prometeu dar aos seus discípulos “outro Consolador” (Jo/14.16). A palavra
“outro” aqui corresponde ao original grego//allos, que significa “outro”, mas
da mesma natureza, da mesma/espécie e da mesma qualidade. Segundo A. T.
Robertson, “outro/da mesma classe (allon, não héteron)” (ROBERTSON, vol.
5,1990, p. 279). O termo grego para “Consolador” é paráklētos, que significa
“ajudador”, “alguém chamado para auxiliar”, um “advogado”. Essa mesma palavra
aparece em 1 João 2.1 com este significado: “Meus filhinhos, estas coisas vos
escrevo, para que não pequeis: e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o
Pai, Jesus Cristo, o justo”. Em outras palavras, Jesus dizia aos seus
discípulos que estava voltando para o Pai, mas que continuaria cuidando da
Igreja, pelo seu Espírito Santo, seu Paraklētos, um como ele, que teria o mesmo
poder para preservar o seu povo.
São
inúmeras as obras de Deus efetuadas pelo Espírito Santo.
Ele gerou a Jesus Cristo (Lc 1.35), dá
a vida eterna (Gl 6.8) e guia o seu povo (Is 63.14; Rm 8.14; Gl 5.18), pois é o
Senhor da igreja (At 20.28) e o santificador dos fiéis (1 Pe 1.2). O Espírito
habita nos crentes (Jo 14.17), é autor do novo nascimento (Jo 3.5, 6), dá a
vida (Ez 37.14; Rm 8.11), regenera (Tt 3.5) e distribui os dons espirituais (1
Co 12.7-11).
A divindade do Espírito Santo é
revelada na Bíblia, por meio de seus atributos divinos, como acontece com o
Senhor Jesus Cristo.
Ele é
onipotente (Rm 15.19) e fonte de poder e milagres (Mt 12.28; At 2.4; 1 Co
12.9-11). A onipresença é outro atributo incomunicável de Deus presente na
terceira Pessoa da Trindade, o que mostra ser ele onipresente (Sl 139.7-10).
Por ser onisciente, Ele conhece todas as coisas, até as profundezas de Deus (1
Co 2.10, 11), o coração do homem (Ez 11.5; Rm 8.26, 27; 1 Co 12.10; At 5.3-9) e
o futuro (Lc 2.26; Jo 16.13; At 20.23; 1 Tm 4.1; 1 Pe 1.11). Possui também o
atributo da eternidade, pois é chamado de “Espírito eterno” (Hb 9.14). A
palavra asseidade advém do latim aseitatis, que vem de dois termos – a se
significa “por si” ou “autocausado”, ou seja, diz respeito à existência por si
mesmo e serve para designar o atributo divino segundo o qual Deus existe por si
próprio. Assim como o Pai e o Filho, o Espírito Santo é autoexistente, ou seja,
não depende de nada fora de si para existir. Ele sempre existiu. É o Criador do
homem e do mundo (Jó 26.13; 33.4; Sl 104.30) e, também, o Salvador (Ef 1.13;
4.30; Tt 3.4, 5).
A Palavra de Deus apresenta, de igual
modo, seus atributos comunicáveis, como a santidade, pois o Espírito Santo é
santo (Rm 15.16; 1 Jo 2.20). Essa santidade do Espírito é única e real,
absoluta e perfeita; não se trata, pois, de uma santidade cerimonial, mas de
algo inerente à sua natureza. Ele é a verdade (1 Jo 5.6), é sábio (Is 11.2; Jo
14.26; Ef 1.17), bom (Ne 9.20; Sl 143.10) e verdadeiro (Jo 14.17; 15.26; 16.13;
1 Jo 5.6).
Sua
personalidade
A personalidade do Espírito Santo está
presente em toda a Bíblia de maneira abundante e inconfundível e tem sido
crença da Igreja desde o princípio. Há nele elementos constitutivos da
personalidade, como o intelecto; ele penetra todas as coisas (1 Co 2.10, 11) e
é inteligente (Rm 8.27). Ele tem emoção, sensibilidade (Rm 15.30; Ef 4.30) e
vontade (At 16.6-11; 1 Co 12.11). As três faculdades – intelecto, emoção e
vontade – caracterizam a personalidade.
Os
substantivos gregos apresentam três gêneros: masculino, feminino e neutro. O
termo grego pneuma, usado amplamente no Novo Testamento para “espírito”, é
substantivo neutro. O pronome demonstrativo na frase: “aquele Espírito da
verdade” (Jo 15.26; 16.13) e o pessoal, em “Ele me glorificará” (Jo 16.14)
estão no masculino. Isso revela a personalidade do Espírito Santo. Outra prova
da personalidade do Espírito Santo é que ele reage a certos atos praticados
pelo homem. Pedro obedeceu ao Espírito Santo (At 10.19, 21); Ananias mentiu ao
Espírito Santo (At 5.3); Estêvão disse que os judeus sempre resistiram ao
Espírito Santo (At 7.51); o apóstolo Paulo nos recomenda não entristecer o
Espírito Santo (Ef 4.30); os fariseus blasfemaram contra o Espírito Santo (Mt
12.29-31); os cristãos são batizados em seu nome (Mt 28.19).
A Bíblia revela os atributos pessoais
do Espírito Santo. Ele ensina (Jo 14.26), fala (Ap 2.7, 11, 17), guia (Rm 8.14;
Gl 5.18), clama (Gl 4.6), convence (Jo 16.7, 8), testifica (Jo 15.26; Rm 8.16),
escolhe obreiros (At 13.2; 20.28), julga (At 15.28), advoga (Jo 14.16; At
5.32), envia missionários (At 13.2-4), convida (Ap 22.17), intercede (Rm 8.26),
impede (At 16.6, 7), se entristece (Ef 4.30) e contende (Gn 6.3).
O Espírito é do Pai (1 Co 2.12; 3.16) e
do Filho (At 16.7; Gl 4.6). Filioque é um termo latino que significa
literalmente “e do filho”, usado em teologia para indicar a dupla processão do
Espírito Santo, do Pai e do Filho (Jo 15.26; 20.22). A divindade possui uma só
essência ou substância indivisível, e Pai, Filho e Espírito Santo são três
hipóstases, ou seja, “forma de existir”.
Usa-se
comumente na teologia o termo “Pessoa” por falta de uma palavra mais precisa na
linguagem humana para descrever cada uma dessas identidades conscientes. Quando
se fala a respeito do Espírito Santo como terceira Pessoa da Trindade, isso não
significa terceiro numa hierarquia, mas porque aparece em terceiro lugar na
fórmula batismal: “batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo” (Mt 28.19). As três hipóstases ou Pessoas são iguais em poder, glória e
majestade, e não há entre elas primeiro e último.
HISTÓRIA
DA DOUTRINA PNEUMATOLÓGICA
Período
Pré-niceno
O capítulo 3, sobre a Santíssima
Trindade, explica por que o tema pneumatológico foi deixado de lado antes do
Concílio de Niceia. A discussão era centrada em Jesus e a sua identidade, e a doutrina
sobre o Espírito Santo raramente entrava nos debates.
São
escassas as informações a respeito da identidade e das obras do Espírito Santo
nos primeiros pais da Igreja.
As discussões no final do segundo
século e no século seguinte giravam em torno da identidade do Logos, e isso
envolvia o Espírito Santo como a terceira Pessoa da Trindade. O tema dos grupos
adocionistas e modalistas era sobre Deus e o monoteísmo, e nesses debates o
Espírito Santo estava presente, mas sem aprofundamento acerca de sua natureza.
A cristologia ocupou praticamente os debates dos séculos 3 e 4 e quase não
sobrou espaço para a pneumatologia. Não houve discussão a respeito do Espírito
Santo em Niceia.
Orígenes, como visto no capítulo
anterior, defendia uma Trindade influenciada pelo neoplatonismo: “O Filho é
coeterno com o Pai, mas seu poder de ser é pouco inferior ao do Pai. É a mais
alta das realidades geradas, mas menor do que o Pai. O mesmo se diz do Espírito
Santo que age nas almas dos santos” (TILLICH, 2004, pp. 76, 77). No seu
comentário sobre o evangelho de João 1.3, ele afirma que o Espírito Santo é
criatura do Logos.
Não há
muita coisa sobre o Espírito Santo nos séculos 2 e 3, e de tudo o que existe,
há problemas e, em Orígenes em especial, mais erros do que acertos.
Depois de
Niceia
As controvérsias arianas continuaram.
Ário negava a eternidade do Logos, defendia sua existência antes da encarnação,
como as atuais testemunhas de Jeová, mas negava que ele fosse eterno com o Pai,
insistia na tese de que o Verbo havia sido criado como primeira criatura de
Deus. A palavra de ordem dos arianistas era:
“Houve
tempo em que o Filho não existia”. Ário considerava também o Espírito Santo
como criatura, embora esse tema estivesse fora das discussões na época e o os
debates se concentrassem no Filho. Alexandre, bispo de Alexandria, se limitava
a manter a antiga afirmação de que o Espírito Santo inspirou os profetas e
apóstolos. Eusébio de Cesareia emprega a exegese de Orígenes, colocando o
Espírito Santo em terceira categoria, como “um terceiro poder” e como uma das
coisas que vieram à existência por meio do Verbo, na interpretação origeneana
sobre João 1.3 (Preparatio Evangelica, 11.21).
Não existia consenso sobre o Espírito
Santo no Oriente nas primeiras décadas depois do Concílio de Niceia. Havia
diversas interpretações. Uns diziam que as Escrituras Sagradas eram vagas sobre
o assunto e por isso preferiam não se pronunciar; outros achavam que Ele era
criatura; outros diziam que era um anjo; e outros, que era um espírito
intercessor entre o Senhor Jesus e os anjos. Havia até triteístas entre eles.
Cirilo de
Jerusalém apresenta alguns lampejos em favor da ortodoxia. Ele escreveu no ano
348 o seguinte: “O Espírito Santo é um e o mesmo; vivente e subsistente e que
sempre está presente com o Pai e o Filho” (Catequese XVII.5). Cirilo diz ainda
que o “Espírito Santo que é honrado com o Pai e o Filho e que no momento do
santo batismo é simultaneamente incluído na Trindade Santa” (Catequese XVI.4).
Na carta enviada a Serapião, bispo de
Tmuis, cidade do Baixo Egito, Atanásio expõe o seu pensamento a respeito do
Espírito Santo, afirmando que Ele partilha da mesma substância do Pai e do Filho:
“O Espírito Santo é um, as criaturas são muitas e os anjos muitos. Que
semelhança há entre o Espírito e as criaturas?
Está claro, portanto, que o Espírito
não é uma das muitas criaturas, nem tão pouco é um anjo. Mas porque ele é um, e
ainda mais por que ele pertence ao Verbo que é um, ele pertence a Deus que é
um, e um consubstancial com ele [homooúsion]” (Carta a Serapião I.27.3). Aqui
Atanásio está dando uma resposta aos tropicianos. Ele refuta os arianos, os
tropicianos e os pneumatomacianos. É claro e direto ao afirmar que o Espírito
Santo é consubstancial com o Pai e com o Filho. “Em 362, entretanto, por
ocasião do Concílio de Alexandria, Atanásio conseguiu aceitação para a
proposição de que o Espírito não é uma criatura, mas pertence à substância do
Pai e do Filho, sendo inseparável dela” (KELLY, 2009, p. 195).
Os pais
capadócios
Basílio de Cesareia, nos primeiros anos
de sua pesquisa, era amigo e aliado de Eustáquio de Sebaste, líder dos
pneumatomacianos. Contudo, depois de um exame mais preciso sobre o assunto, ele
se encontrou com Eustáquio em Sebaste no ano de 372 e depois voltou a se
encontrar com ele no ano seguinte, mas Eustáquio não concordou com a ideia de
Basílio.
Essa ruptura aconteceu em 373. Basílio
a essa altura defendia a ortodoxia nicena e passou a combater os
pneumatomacianos. Ele emprega cerca de 460 passagens bíblicas, sem contar as repetições,
em seus escritos. O seu epistolário conta com 366 epístolas. Quem examinou
todos os seus escritos afirma que “em lugar algum o Espírito Santo é chamado
Deus, nem Sua consubstancialidade é afirmada explicitamente” (KELLY, 2009, pp.
196, 197). Mas, segundo Timothy P. McConnell, em sua obra Illumination in Basil
of Caesarea’s Doctrines of the Holy Spirit (2004), Basílio dispensa a filosofia
e evita termos filosóficos na teologia, preferindo a linguagem próxima da
Bíblia.
Basílio defende a divindade do Espírito
Santo sem o uso desses termos: “Glorificamos o Espírito com o Pai e o Filho
porque cremos que Ele não é estranho à natureza divina” (Epístola 159.2);
“Quanto às criaturas, recebem de outrem a santificação, os pneumatomacianos.
Ele escreveu com elegância e clareza sobre a Trindade e, especialmente, sobre o
Espírito Santo por meio de epístolas, poemas e sermões, sendo as Orações ou
Discursos Teológicos cincos sermões, numerados de 27 a 31.
Ele foi o mais ousado dos três
capadócios. Diz abertamente em alto e bom som que o Espírito Santo é Deus e
consubstancial: “Então o quê? O Espírito é Deus? Sim, de fato é Deus. Então ele
é consubstancial? Sim, é verdade, pois ele é Deus” (Discurso 31.10). Ele afirma
no quinto Discurso Teológico: “Se houve tempo em que Deus não existia, então
houve um tempo em que o Filho não existia. Se houve um tempo no qual o Filho
não existia, então houve um tempo no qual o Espírito não existia. Se um existiu
desde o começo, logo os três também existiram” (Discurso 31.4).
Foram os
pais capadócios que definiram de uma vez para sempre a doutrina da Trindade
aceita e ensinada pelos principais ramos do cristianismo. Eles completaram a
tarefa de Atanásio. A partir deles, ficou esclarecida a verdadeira identidade
do Espírito Santo; no entanto, a processão ainda está em aberto. Em Gregório de
Nazianzo encontra-se sua extraordinária contribuição para a vitória final da fé
nicena. Ele organizou os dados da revelação divina, registrados nas Escrituras,
e afirmou categoricamente que o Espírito Santo é Deus. O Concílio de
Constantinopla, 381, descreveu o Espírito como Deus e como “o Senhor e provedor
da vida, que procede do Pai e é adorado e glorificado com o Pai e com o Filho”.
Está claro nas Escrituras que ele é o
Senhor e provedor da vida: “O Senhor é o Espírito” (2 Co 3.17); “Porque a lei
do Espírito de vida” (Rm 8.2); “O Espírito é o que vivifica” (Jo 6.63); “e o
Espírito vivifica” (2 Co 3.6); que ele procede do Pai (Jo 15.26); “o Espírito
que provém de Deus” (1 Co 2.12); e que falou pelos profetas (2 Pe 1.21).
O que parece crucial nessa declaração é
o fato de o Espírito Santo ser adorado com o Pai e com o Filho. A frase “adorado
e glorificado com o Pai e com o Filho” vem de Atanásio ao afirmar que o
Espírito Santo: “está unido ao Filho, como está unido ao Pai, ele que é
glorificado com o Pai e o Filho é chamado Deus com o Verbo, e realizando o que
o Pai faz mediante o Filho” (Carta a Serapião I.25.2). E Basílio de Cesareia
diz: “... e constrói as igrejas que confessam a sã doutrina em que o Filho é
reconhecido ser da mesma substância do Pai, e o Espírito Santo é considerado e
adorado com a mesma igualdade de honra” (Epístola, 90.2).
Há uma única passagem nas Escrituras
que fala diretamente sobre a adoração do Espírito Santo: “Porque a circuncisão
somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e
não confiamos na carne” (Fp 3.3). O verbo “servir” aqui é latreuo, e em o
sentido de prestar, culto, adorar, serviço sagrado. A construção grega aqui
ficou ambígua e Agostinho de Hipona afirma que as gerações de cristãos antes
dele adoravam o Espírito Santo com base nessa passagem paulina:
O
Espírito Santo não é criatura. Ele, ao qual todos os santos prestam culto, no
dizer do apóstolo: Os verdadeiros circuncidados somos nós, que servimos ao
Espírito de Deus (Fl 3,3). E em grego estão designados pelo termo latreuontes.
Em muitos exemplares de mesmo nos
latinos assim se lê: Que servimos ao Espírito de Deus; assim se encontra também
na maioria ou quase em todos os códices gregos. Em algumas cópias latinas,
porém, o texto não é: Servimos ao Espírito de Deus, mas: Servimos a Deus, no
Espírito (A Trindade, Livro I, 13).
A cláusula grega para “somos nós, que
servimos a Deus no Espírito”, em grego, hoi pneumati theou latreuontes, é
ambígua porque a terminação –ti, no substantivo pneuma,“espírito”, significa
tanto “no Espírito” como também “ao Espírito”, ou ainda “pelo Espírito” e
também “com o Espírito”. A ausência de uma preposição em pneumati deixa o
assunto em aberto naquilo que a gramática grega chama de caso dativo, caso
locativo ou caso instrumental. Se é dativo, a frase significa “nós que adoramos/servimos/prestamos
culto ao Espírito de Deus”. A. T. Robertson reconhece essa possibilidade: “Caso
instrumental, ainda o caso dativo como o objeto de latreuō também tem bom
sentido (adorando ao Espírito de Deus)” (ROBERTSON, tomo 4, 1989, p. 600).
Há absoluta igualdade dentro da
Trindade e nenhuma das três Pessoas está sujeita à outra, como se houvesse uma
hierarquia divina. Existe, sim, uma distinção de serviço, e o Espírito Santo
representa os interesses do Pai e do Filho na vida da Igreja na terra (Jo
16.13, 14). O Espírito Santo dá prosseguimento ao plano de salvação idealizado
pelo Deus Pai e executado pelo Deus Filho.
As três
Pessoas estão presentes, atuando cada uma na sua esfera de atuação, em perfeita
harmonia e perfeita unidade.
Extraído do livro A razão de nossa fé: assim cremos,
assim vivemos / Esequias Soares.
Casa Publicadora das Assembleias de
Deus.