Mais de 400 anos haviam se passado desde as últimas profecias do
Antigo Testamento, e os judeus religiosos de todo o mundo ainda estavam
esperando pelo Messias (Lc 3.15). Sob a inspiração do Espírito Santo, Mateus
escreveu esse livro dirigido aos judeus para apresentar Jesus como Rei e
Messias, o prometido descendente de Davi que iria reinar para sempre (Is
11.1-5). O Evangelho de Mateus faz uma ligação entre o Antigo e o Novo
Testamento contendo muitas referências para mostrar como Jesus cumpriu as
profecias do Antigo Testamento. Jesus era judeu, viveu entre os judeus e
obedecia às suas leis (desde que fossem verdadeiramente as leis de Deus).
Agindo assim, Ele cumpriu as Escrituras do Antigo Testamento.
1.1 Registro dos ancestrais de Jesus, o Messias. Os dezessete primeiros versículos do Evangelho de Mateus apresentam
os ancestrais de Jesus. Como a linhagem de uma família servia para provar que
ela pertencia ao povo escolhido de Deus, Mateus começou mostrando que Jesus era descendente (ou “ filho” ) de
Davi, que era descendente de Abraão (versão NTLH), cumprindo assim as
profecias do Antigo Testamento sobre a linhagem do Messias (a expressão “pai
de” também pode significar “ancestral de”). Mateus traçou a genealogia de Jesus
até Abraão, através de José. Essa genealogia comprova a linhagem legal (ou
real) de Jesus através de José, que era descendente do rei Davi (veja também 2
Sm 7.16; Is 9.6,7; Ap 22.16).
1.2 Abraão gerou a (“era o pai de” )
Isaque. A frase “era o pai de” também pode significar “era
o ancestral de”. Dessa forma, não havia necessidade de haver um relacionamento direto
entre o pai e o filho entre todos aqueles que estavam relacionados numa
genealogia. Na antiguidade, as genealogias eram muitas vezes arranjadas de
forma a ajudar a memorização.
Assim, Mateus registrou sua genealogia através de três conjuntos de
quatorze gerações (veja 1.17). Abraão foi chamado por Deus, recebeu as
promessas da aliança, e creu que Deus iria manter as suas promessas (Gn 15.6).
Sua história é contada em Gênesis 11-25. Abraão gerou a Isaque. Abraão e
Sara queriam saber se Deus lhes enviaria o filho prometido; mas Deus sempre
cumpre as suas promessas. Veja Gênesis 21-22.
Isaque gerou a Jacó. Muitas vezes esses três homens - Abraáo, Isaque e Jacó – são mencionados
juntos como “patriarcas”, pais da nação e depositários da aliança (ou concerto)
de Deus (veja Gn 50.24; Ex 3.16; 33.1; Nm 32.11; Lc 13.28; At 3.13; 7.32).
Jacó gerou a Judá e a seus irmãos. Jacó teve doze filhos através de suas esposas Raquel e Lia, que se
tornaram as doze tribos de Israel (veja Gênesis 49.1-28). Mateus, desejando
traçar a linhagem real de Jesus, fez uma especial anotação sobre Judá, porque
a linhagem real iria continuar através dele (Gn 49.10).
1.3 Judá gerou de Tamar a Perez e a Zerá.
Nesse verso aparece uma interessante observação.
Geralmente, se espera que uma genealogia evite mencionar ancestrais menos respeitáveis,
mas, os filhos de Judá nasceram de Tamar, que havia se prostituído com o sogro.
A história de Judá e Tamar é contada em Gênesis 38. Embora Judá fosse
o pai de Perez e Zerá, não estava casado com Tamar.
Perez e Zerá eram gêmeos (veja também 1 Crônicas 2.4). A linha que
traça Perez até ao rei Davi também está registrada em Rute 4.12,18-22.
Esrom... Rão [ou Arão]. Pouco se sabe sobre Ezrom e Rão. Ezrom é mencionadoem Gênesis
46.12 e 1 Crônicas 2.5. Rão [ou Arão] é mencionado em 1 Crônicas 2.9.
1.4 Aminadabe e Naassom são mencionados em Êxodo 6.23. A filha de Aminadabe, e irmã de Naassom,
Eliseba casou-se com Arão que se tornou sumo sacerdote de Israel. Veja também Números
1.7; 2.3; 7.12-17. Salmom é mencionado
novamente apenas na genealogia de Rute 4,18-21. Esses homens também estão relacionados
em 1 Crônicas 2.10,11.
1.5 Salmom gerou de Raabe a Boaz, e Boaz
gerou de Rute a Obede, e Obede gerou a Jessé. Raabe é a
mulher da cidade de Jerico que escondeu os espias de Israel: e depois foi salva
por eles quando os israelitas destruíram Jericó. Raabe era uma prostituta (Js
2.1) que veio a crer no Deus de Israel: Ela foi incluída na Galeria dos Heróis
da Fé de Hebreus 11, entretanto existe um problema cronológico ao fazer de
Raabe a verdadeira mãe de Boaz.
Assim como na frase “pai de”, as mulheres que são relacionadas como
mães numa genealogia podem ser ancestrais, ao invés de mães verdadeiras.
O livro de Rute conta a história de Boaz e de uma jovem chamada
Rute, que tinha vindo de uma nação vizinha. Boaz casou-se com Rute e
eles se tornaram os pais de Obede (Rt 4.13-17). Mais tarde Obede se
tornou o pai de Jessé (Rt 4.21,22). Veja também 1 Crônicas 2.12.
1.6 Jessé teve
vários filhos, sendo que um deles foi ungido pelo profeta Samuel para ser o
próximo rei de Israel, depois do rei Saul (veja 1 Sm 16.5-13). A história do
rei Davi é contada em 1 e 2 Samuel, com a transferência do trono para seu filho
Salomão, registrada em 1 Reis 1.
Davi gerou a Salomão da que foi mulher
de Urias. Essa história, registrada em 2 Samuel 11,
descreve como Salomão nasceu de Davi e Bate-Seba, e como Davi mandou matar
Urias. Deus ficou muito irado com as más açóes de Davi e o primeiro filho que nasceu
de Davi e Bate-Seba morreu (2 Sm 11.27-12.23). O segundo filho a nascer foi Salomão,
que mais tarde foi rei de Israel, cujo reinado foi chamado de idade de ouro dessa
nação. A sabedoria que recebeu de Deus tornou-se mundialmente conhecida e ele
escreveu muitos provérbios, que estão registrados no livro de Provérbios, assim
como em Eclesiastes e Cantares. Sua história é contada em 1 Reis 1-11 e 2
Crônicas 1-10.
1.7 O cruel filho
de Salomão, Roboão, dividiu o reino por causa de uma decisão orgulhosa e
imprudente (veja 1 Reis 12.1-24) e assim surgiram dois novos reinos: o reino do
sul, chamado Judá, governado por Roboão, e o reino do norte, chamado Israel,
governado
por Jeroboão. O filho de Roboão, Abias (também chamado Abião) também
foi um rei cruel (1 Rs 15.3,4). Asa foi um rei temente ao Senhor (1 Rs 15.11).
1.8 O bom rei
Asa foi o pai de outro rei, Josafá (1
Rs 22.43). Entretanto, o filho de Josafá, Joráo
(também chamado Jeoráo), era cruel (2 Rs 8.18). O filho de Jeoráo, Uzias (também chamado Azarias) deu um
exemplo de como essa frase nem sempre quer dizer
verdadeiramente “filho de”. De Acordo com a genealogia mostrada em 1
Crônicas 3.10- 14, Mateus omitiu três nomes entre Jorão e Uzias: esses três
reis eram Acazias, Joás e Amazias. Mateus provavelmente não incluiu esses nomes
a fim de manter seu padrão de
três conjuntos de quatorze gerações nessa genealogia.
1.9 Jotáo andou firmemente na presença de Deus (2 Cr 27.6), mas a sua boa
influência não se estendeu ao seu filho, pois Acaz era um homem cruel a ponto
de sacrificar seu próprio filho no fogo (2 Rs 16.3,4). Depois do reinado
excessivamente cruel de Acaz, veio o
próspero reinado do bom rei Ezequias (2
Rs 18.5).
1.10 Manassés. Ezequias obedecia a Deus, mas seu filho Manassés foi o rei
mais cruel que reinou no reino do sul (2 Cr 33.9). Entretanto, ao chegar ao fim
da vida, ele se arrependeu dos seus horríveis pecados (2 Cr 33.13).
Infelizmente, seu filho Amom herdou
muito do caráter do pai. Ele cometia pecados e adorava e oferecia
sacrifícios aos ídolos (2 Cr 33.22,23). Mais uma vez Deus teve misericórdia da
nação e o filho de Amom, Josias,
tentou desfazer todas as más ações do pai (2 Rs 23.25).
1.11 Josias gerou a Jeconias (ou Joaquim)
e a seus irmãos na deportação para a Babilônia. Mateus omitiu outro nome da linhagem. Josias era, na verdade, o pai de
Jeoaquim que foi deportado para a Babilônia quando se rebelou novamente contra
Nabucodonosor. Depois da partida de Jeoaquim, seu filho Jeconias (também chamado
Joaquim) reinou em Jerusalém.
Seu reino durou apenas três meses, antes de Nabucodonozor sitiar a
cidade, provocando sua rendição. A frase “ea seus irmãos” refere-se ao
irmão de Jeconias (ou Joaquim), Zedequias, a quem Nabucodonosor colocou no
trono de Jerusalém como um rei “fantoche”. Mas Zedequias cometeu o grande erro
de também se rebelar, e isso provocou a ira final do rei da Babilônia que
conquistou Judá de forma completa, destruindo Jerusalém, inclusive seu maravilhoso
Templo. Toda a nação de Judá foi levada para o exílio na Babilônia (2 Rs 24.16-25.21).
Isso aconteceu em 586 a.C.
1.12 Depois da deportação para a Babilônia, Jeconias (ou Joaquim) gerou
a Salatiel. Nesse agrupamento final, Jeconias (ou Joaquim) é relacionado
como pai de Salatiel, de acordo com 1 Crônicas 3.17. Ao dizer que Jeconias (ou Joaquim) gerou a Salatiel,
Mateus se afastou da genealogia de 1 Crônicas 3.19 que relaciona Pedaías como
pai de Zorobabel. Entretanto, Mateus concorda com várias outras Escrituras que
relacionam Salatiel como pai de Zorobabel (Ed 3.2; 5.2; Ne 12.1; Ag 1.1; 2.2;
23). Zorobabel figurou de forma proeminente na história de Israel depois
do exílio. Quando o povo de Judá teve finalmente permissão de retornar à
sua nação, Zorobabel tornou-se seu governador (Ag 1.1) e começou a obra do
Templo de Deus (Ed 5.2). Deus abençoou imensamente o seu servo Zorobabel,
reafirmando e garantindo sua promessa de um Messias através da linhagem de Davi
(Ag 2.23).
1.13-15 Abiúde... Eliaquim... Azor...Sadoque...
Aquim... Eliúde... Eleazar...Matã... Jacó. Nada se
sabe nas Escrituras sobre qualquer um desses homens. Na linhagem do Messias
foram incluídas pessoas comuns, que nunca haviam sido relacionadas em quaisquer
genealogias e nunca tiveram sua história contada através das gerações.
1.16 A linhagem
real continuou através de José que,
embora não fosse o pai de Jesus, era o marido
de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo. Mateus havia
terminado seu objetivo de relacionar essa genealogia para mostrar, sem qualquer
dúvida, que Jesus era descendente de Davi e que, dessa forma, estava cumprindo
as promessas de Deus.
1.17 Todas as gerações, desde Abraão até
Davi, são catorze gerações; e, desde Davi até a deportação para a Babilônia,
catorze gerações; e, desde a deportação para a Babilônia até
Cristo, catorze gerações.
O Evangelho divide a história de Israel em três conjuntos de quatorze
gerações, mas provavelmente houve mais gerações do que aquelas relacionadas
aqui. Muitas vezes as genealogias condensam a história, e com isso nem todas as
gerações dos ancestrais foram
especificamente relacionadas.
Parece que também existe um problema ao compararmos a genealogia de
Mateus com a de Lucas (registrada em Lucas 3.23-37). As diferenças em Mateus
podem ser explicadas pela omissão de alguns nomes a fim de obter a simetria de
três conjuntos de quatorze gerações. Também é muito provável que Lucas estivesse
traçando os ancestrais humanos de Jesus através de José, enquanto Mateus estava
preocupado com os nomes legais e reais para enfatizar a sucessão ao trono de
Davi e a chegada de Jesus como o prometido Rei. Mateus insistia na história
israelita enquanto a genealogia mais longa de Lucas traça seus ancestrais
através de Natã, filho de Davi, e
não através de Salomão, como fez Mateus. Mateus também incluiu os
nomes de quatro mulheres, ao contrário de Lucas.
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