IV - Ensinamentos Práticos

1. Cristo, a nossa Vida. “Nele estava a vida”. Cristo é a verdadeira fonte de vida espiritual. “Eu vim para que tenham vida, e a tenham cm abundância” (Jo 10.10). Para esta finalidade o Filho de Deus tornou-se Filho do homem: a fim de que os filhos dos homens possam ser feitos filhos de Deus. “Quem tem o Filho, tem a vida”.
Esta vida de Cristo cm nós precisa tomar a primazia; enquanto subjugamos pela Fonte a vida do próprio-eu, sustentamos a vida de Cristo em nós; quanto mais alimentamos cm nossa vida a de Cristo, a vida do próprio-eu vai passando fome. Miquelângelo, o grande escultor, dizia das lascas de mármore que iam caindo em grandes quantidades no chão do seu estúdio: “Enquanto o mármore vai se desgastando, a estátua vai crescendo.” Enquanto nós, mediante a abnegação, tiramos lascas da nossa velha natureza, a vida de Cristo se torna manifesta cm nossos corpos mortais.
Cristo, para ilustrar esta verdade, fez alusão à prática da poda: “Toda vara cm mim que não dá fruto, a lira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo 15.2). O objetivo da poda c canalizar a vida de partes inúteis para partes úteis. A parte da planta que antes monopolizava o vigor da planta sem dar resultados, de repente c cortada, a fim de que a seiva vital passe de modo ativo às partes frutíferas. A abnegação c um tipo de poda espiritual mediante a qual as energias antes malbaratadas em atividades pecaminosas ou sem proveito são postas a serviço da vida espiritual.
Enquanto conservarmos nosso contato com Cristo, que é a nossa vida, temos a vida abundante. Se deliberadamente nos separamos dele, perdemos esta vida. A árvore não se alastra da folha; é a folha que cai da árvore. Cristo não abandona ninguém; são os homens que o abandonam.


Como nutrir a vida divina que há em nós? Pela leitura da Palavra, pela oração, observando diligentemente todos os meios da graça.
2. Cristo, nossa Luz. “Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo” (Jo 1.9). Por que Jesus é comparado à luz?
2.7. A luz é pura. Brilha nos lugares mais imundos sem perder sua pureza. Cristo foi chamado “o amigo dos pecadores”, sem que a mínima mancha de pecado lhe tenha maculado o caráter. A luz brilhou nas trevas, sem nunca por elas ser vencida, obscurecida. Longe de afastá-lo dos pecadores, sua pureza fez com que sentisse simpatia por eles. Os verdadeiros homens de Deus sempre demonstram ternura pelas pessoas que caíram cm erros.
2.2. A luz é meiga. A luz pode tocar numa teia de aranha sem fazer tremer um único fio. Cristo sempre demonstrava meiguice ao tocar vidas quebradas, para sarar e não para esmagar (cf. Mt 12.20). Todos os verdadeiros cristãos são pessoas meigas, pacíficas (Tg 3.17). Muitas vezes o conceito de poder se confunde com o da violência; a meiguice, porem, é um poder construtivo.
2.3. A luz. revela. Quão grande é o alívio para o viajante tateando na noite escura, quando rompe a aurora! Quão grande a alegria para o peregrino nas sendas desta vida quando a luz da revelação divina esclarece os problemas da vida! “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).
3. “O homem, este desconhecido". Foi este o título que o cirurgião c cientista Dr. Alexis Carrel, de renome mundial, deu a um livro seu que teve enorme aceitação. Nele, indica que as dificuldades pelas quais a humanidade passa são devidas ao fato de que o homem, sábio quando se trata de invenções, é proporcional mente ignorante quanto à natureza do seu próprio ser. Há algum tempo, um notável biólogo fez uma declaração semelhante. Expressou o receio de que a nossa civilização esteja caminhando para a ruína porque o homem, com tantos conhecimentos quanto ao emprego dos objetos materiais, ainda permanece sendo um “mistério biológico”.
A razão por que o homem não conhece a si mesmo é não conhecer o seu Criador. Assim como João escreveu: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, c o mundo não o conheceu” (Jo 1.10). Jesus “sabia o que havia no homem” (Jo 2.25). Sabe, também, o que é melhor para o homem. Seu jugo é suave porque, diferentemente do jugo do pecado, se adapta à alma.
4. Deus manifestado na carne. Narra-se a história de um culto hindu, que, passeando despreocupadamente, foi olhar de perto um formigueiro. Quando se abaixou, sua sombra assustou as formigas e elas correram em todas as direções. Tendo uma natureza simpática, o hindu pensou consigo mesmo: “Gostaria de poder conversar com estas pequenas criaturas, para dizer-lhes que não quero lhes fazer nenhum mal”. Mais uma vez, aproximou-se delas, e elas, como da primeira vez, se amedrontaram. Quando ele recuou um pouco, recomeçaram as atividades do formigueiro. Sua mente, como que brincava com o incidente: “Gostaria de poder falar àquelas criaturinhas”, voltou a pensar. Então ocorreu-lhe o pensamento: “Não poderia falar com elas mesmo se possuíssem inteligência; ainda que possuíssem uma língua, c que eu pudesse aprender tal língua, não conseguida me comunicar com elas, porque os meus pensamentos não são os pensamentos delas. Meus termos de expressão não seriam compreensíveis a elas.” Sua imaginação continuou trabalhando: “Se eu pudesse vir a ser uma formiga como elas, c ainda reter minha própria personalidade c consciência, então, vivendo entre elas, conseguida comunicar-me, e elas entenderiam pelo menos alguma coisa dos meus pensamentos”. O seguinte pensamento raiou- lhe de súbito: “E exatamente isto que estes ensinadores cristãos querem nos dizer: que Deus se fez homem a fim de revelar se a nós c salvar-nos”. E, assim, sob a influência da própria ilustração que ele mesmo viu, o hindu veio a aceitar a fé cristã.

A encarnação c um mistério que desafia a lógica. Para nossa fé, porém, basta sabermos que Deus se revelou por meio de Cristo, a fim de abrir-nos o caminho da salvação.