1. Cristo,
a nossa Vida. “Nele
estava a vida”. Cristo é a verdadeira fonte de vida espiritual. “Eu vim para
que tenham vida, e a tenham cm abundância” (Jo 10.10). Para esta finalidade o
Filho de Deus tornou-se Filho do homem: a fim de que os filhos dos homens
possam ser feitos filhos de Deus. “Quem tem o Filho, tem a vida”.
Esta vida de
Cristo cm nós precisa tomar a primazia; enquanto subjugamos pela Fonte a vida
do próprio-eu, sustentamos a vida de Cristo em nós; quanto mais alimentamos cm
nossa vida a de Cristo, a vida do próprio-eu vai passando fome. Miquelângelo, o
grande escultor, dizia das lascas de mármore que iam caindo em grandes
quantidades no chão do seu estúdio: “Enquanto o mármore vai se desgastando, a
estátua vai crescendo.” Enquanto nós, mediante a abnegação, tiramos lascas da
nossa velha natureza, a vida de Cristo se torna manifesta cm nossos corpos
mortais.
Cristo, para
ilustrar esta verdade, fez alusão à prática da poda: “Toda vara cm mim que não
dá fruto, a lira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (Jo
15.2). O objetivo da poda c canalizar a vida de partes inúteis para partes
úteis. A parte da planta que antes monopolizava o vigor da planta sem dar
resultados, de repente c cortada, a fim de que a seiva vital passe de modo
ativo às partes frutíferas. A abnegação c um tipo de poda espiritual
mediante a qual as energias antes malbaratadas em atividades pecaminosas ou sem
proveito são postas a serviço da vida espiritual.
Enquanto
conservarmos nosso contato com Cristo, que é a nossa vida, temos a vida
abundante. Se deliberadamente nos separamos dele, perdemos esta vida. A árvore
não se alastra da folha; é a folha que cai da árvore. Cristo não abandona
ninguém; são os homens que o abandonam.
Como nutrir a
vida divina que há em nós? Pela leitura da Palavra, pela oração, observando
diligentemente todos os meios da graça.
2. Cristo,
nossa Luz. “Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem
ao mundo” (Jo 1.9). Por que Jesus é comparado à luz?
2.7. A luz
é pura. Brilha nos lugares mais imundos sem perder sua pureza. Cristo foi
chamado “o amigo dos pecadores”, sem que a mínima mancha de pecado lhe tenha
maculado o caráter. A luz brilhou nas trevas, sem nunca por elas ser vencida,
obscurecida. Longe de afastá-lo dos pecadores, sua pureza fez com que sentisse
simpatia por eles. Os verdadeiros homens de Deus sempre demonstram ternura
pelas pessoas que caíram cm erros.
2.2. A luz
é meiga. A luz pode tocar numa teia de aranha sem fazer tremer um único
fio. Cristo sempre demonstrava meiguice ao tocar vidas quebradas, para sarar e
não para esmagar (cf. Mt 12.20). Todos os verdadeiros cristãos são pessoas
meigas, pacíficas (Tg 3.17). Muitas vezes o conceito de poder se confunde com o
da violência; a meiguice, porem, é um poder construtivo.
2.3. A luz. revela. Quão grande é o
alívio para o viajante tateando na noite escura, quando rompe a aurora! Quão
grande a alegria para o peregrino nas sendas desta vida quando a luz da
revelação divina esclarece os problemas da vida! “Eu sou a luz do mundo; quem
me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).
3. “O
homem, este desconhecido". Foi este o título que o cirurgião c cientista Dr. Alexis
Carrel, de renome mundial, deu a um livro seu que teve enorme aceitação. Nele,
indica que as dificuldades pelas quais a humanidade passa são devidas ao fato
de que o homem, sábio quando se trata de invenções, é proporcional mente
ignorante quanto à natureza do seu próprio ser. Há algum tempo, um notável
biólogo fez uma declaração semelhante. Expressou o receio de que a nossa
civilização esteja caminhando para a ruína porque o homem, com tantos
conhecimentos quanto ao emprego dos objetos materiais, ainda permanece sendo um
“mistério biológico”.
A razão por
que o homem não conhece a si mesmo é não conhecer o seu Criador. Assim como
João escreveu: “Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, c o mundo não o
conheceu” (Jo 1.10). Jesus “sabia o que havia no homem” (Jo 2.25). Sabe,
também, o que é melhor para o homem. Seu jugo é suave porque, diferentemente do
jugo do pecado, se adapta à alma.
4. Deus
manifestado na carne. Narra-se
a história de um culto hindu, que, passeando despreocupadamente, foi olhar de
perto um formigueiro. Quando se abaixou, sua sombra assustou as formigas e elas
correram em todas as direções. Tendo uma natureza simpática, o hindu pensou
consigo mesmo: “Gostaria de poder conversar com estas pequenas criaturas, para
dizer-lhes que não quero lhes fazer nenhum mal”. Mais uma vez, aproximou-se
delas, e elas, como da primeira vez, se amedrontaram. Quando ele recuou um
pouco, recomeçaram as atividades do formigueiro. Sua mente, como que brincava
com o incidente: “Gostaria de poder falar àquelas criaturinhas”, voltou a
pensar. Então ocorreu-lhe o pensamento: “Não poderia falar com elas mesmo se
possuíssem inteligência; ainda que possuíssem uma língua, c que eu pudesse
aprender tal língua, não conseguida me comunicar com elas, porque os meus
pensamentos não são os pensamentos delas. Meus termos de expressão não seriam
compreensíveis a elas.” Sua imaginação continuou trabalhando: “Se eu pudesse
vir a ser uma formiga como elas, c ainda reter minha própria personalidade c
consciência, então, vivendo entre elas, conseguida comunicar-me, e elas entenderiam
pelo menos alguma coisa dos meus pensamentos”. O seguinte pensamento raiou- lhe
de súbito: “E exatamente isto que estes ensinadores cristãos querem nos dizer:
que Deus se fez homem a fim de revelar se a nós c salvar-nos”. E, assim, sob a
influência da própria ilustração que ele mesmo viu, o hindu veio a aceitar a fé
cristã.
A encarnação c
um mistério que desafia a lógica. Para nossa fé, porém, basta sabermos que Deus
se revelou por meio de Cristo, a fim de abrir-nos o caminho da salvação.