Amando ao Senhor, teu Deus,
dando ouvidos à sua voz e te achegando a ele; pois ele é a tua vida e a longura
dos teus dias; para que fiques na terra que o Senhor jurou a teus pais, a
Abraão, a Isaque e a Jacó, que lhes havia de dar.
- Deuteronômio 30.20
O caminho que Abrão teria que
percorrer traçado por Deus não era um caminho sem as dificuldades próprias que
surgem na caminhada. Mas seria um caminho sob a égide de Deus, e Abrão não
teria o que temer, porque Deus cuidaria dele e tudo quanto possuía. Entretanto,
Abrão se deixou dominar pelo sentimentalismo familiar e permitiu que seus parentes
interferissem na sua caminhada traçada por Deus para a “Terra Prometida”.
Quando Deus o chamou, fez-lhe um
desafio em que a obediência seria o ponto-chave do sucesso do projeto de Deus
na sua vida. Esse projeto revelado a Abrão acerca da Terra Prometida não
incluía seus parentes, mas Abrão não conseguiu dizer não para os seus
familiares, e estes criaram várias dificuldades ao longo da sua peregrinação
desde que saiu de Ur dos Caldeus (Gn 12.1). Havia um sobrinho chamado Ló que
tinha família formada e estava instalado naquela terra. Ele era ambicioso e
sonhador, por isso, sem que Abrão pudesse explicar que o plano não o incluía,
Ló juntou seus pertences, levando mulher, filhos, servos e servas, seu gado e tudo
quanto poderia carregar em seus animais seguindo a mesma rota do caminho de
Abrão. Na realidade, o plano original de Deus para Abrão foi interceptado por
aqueles parentes que lhe trouxeram muitos problemas. Essa interferência foi
mantida por muitos anos, mas Deus, paciente e amoroso, soube esperar o momento
certo para agir e liberar Abrão e Sarai daquelas amarras familiares.
No
capítulo 13, Abrão ainda era identificado pelo nome de família, Abrão”, bem
como sua esposa, “Sarai”. Depois alguns anos, desde que saiu de Harã, já com 99
anos de idade, Deus promove um encontro pessoal com Abrão, lhe faz promessas e
muda o seu nome de Abrão para “Abraão”, com o significado de “pai de uma
multidão de nações”. Também trocou o nome de Sarai para “Sara”, cujo
significado é “mãe de nações”, e lhe promete um filho em sua velhice (Gn
17.1,4,5,15). Da semente de Abrão formaram-se muitas nações.
Entretanto,
essa história vem demonstrar ao povo de Deus hoje, a Igreja, que as
interferências humanas e materiais podem prejudicar os projetos de Deus para a
nossa vida. Abrão deveria, tão somente, obedecer e fazer a vontade de Deus e,
então, todas as coisas fariam seu curso normal porque Deus garante o que diz.
Embora Deus determine todas as coisas, Ele o faz respeitando a vontade do
homem, seu livre-arbítrio. Por isso, cada um de nós é responsabilizado pelas
decisões que tomamos. Deus tem sua vontade soberana e pode determinar o que
quiser, mas, ao mesmo tempo, Ele faz valer suas misericórdias quando não
correspondemos plenamente o que Ele nos ordena fazer. Por isso, Deus não
desistiu de Abrão porque sabia que ele o amava e queria fazer a sua vontade.
Deus sabia também que Abrão, como homem, tinha as limitações próprias que
poderiam criar algumas dificuldades.
0 CUIDADO COM NOSSAS ESCOLHAS
Interferência de Provações Imprevisíveis
Nossas escolhas podem influenciar nossas decisões
para bem e para o mal. Muito das nossas escolhas tem a ver com a questão da
vontade, a nossa vontade e o confronto com a vontade de Deus. Todos queremos
fazer a vontade de Deus, mas sabemos que fazer a vontade de Deus, quase sem
exceção, envolve riscos, ajustes, decepçóes, sucessos e derrotas e, também,
mudanças. Normalmente amamos tudo aquilo que for familiar e conhecido por nós;
gostamos em especial das coisas que podemos controlar. Nossas escolhas pessoais
envolvem esses elementos. Em relação a Deus, queremos entregar a Ele nossos
desejos e alinhá-los com o seu querer. Porém, quando temos de escolher um
caminho de renúncia que Ele nos mostra para percorrer, temos dificuldades com a
aceitação desse desafio. Abrão, mesmo percebendo a dureza do caminho que lhe
mostrara, creu em Deus, mas, como homem, cometeu alguns deslizes que resultaram
em consequências ruins.
Há
momentos na vida de um servo de Deus que se tornam difíceis, principalmente
quando se precisa tomar decisões. A fé nas promessas de Deus era o estímulo
maior para a peregrinação de Abrão à Terra Prometida. Entretanto, ele teria que
se manter fiel ao plano original de Deus e saber que as provações seriam
inevitáveis.
Ao
deparar-se com “a fome na terra”, deixou de buscar de Deus a direção para a sua
vida e tomou a decisão de ir para o Egito, terra que tinha pastagens para o seu
gado e muita riqueza. Ele baixou seus olhos para as coisas da terra e, então,
fraquejou na fé quando, mesmo com o empobrecimento da terra onde estava
vivendo, não lhe faltava nada. Ele mudou a visão da Terra Prometida por uma
visão limitada e materialista. Foi dominado por um sentimento de ambição
material ao ouvir da prosperidade da terra do Egito. Decidiu então sair de terra
de Canaã e tomar o caminho do Egito sem consultar a Deus. Abrão permitiu que a
força da carne o dominasse e seu coração se enchesse de ambição. Dominado por
essa força carnal, ele decidiu quebrar seus princípios éticos e morais e, para
sobreviver sem ser incomodado, mentiu e usou de engano (Gn 12.11). No Egito,
Abrão não levantou um altar ao Senhor como sempre fez desde que havia saído de
Harã. Por pouco não perde tudo, inclusive com a ameaça de morte.
O
caminho fora da vontade de Deus induz aos caminhos tortuosos e pecaminosos. Sem
dúvida, Abrão entristeceu a Deus e não o consultou sobre qualquer decisão que
tomou naquela terra. Mesmo assim, Deus, que o amava, não desistiu de dele. Pelo
poder soberano divino, o Senhor interferiu naquele momento histórico em que
Abrão e Sarai corriam o risco de serem mortos por terem enganado o próprio rei
do Egito. O Senhor enterneceu o coração de Faraó para que o casal não fosse
punido no Egito. O cuidado de Deus ainda estava com o casal quando Abrão
entendeu que precisava começar tudo de novo e pedir o perdão de Deus pelo seu
descaminho.
Abrão,
então, deixou o Egito e voltou para Betei, e naquele lugar onde Deus o
abençoara tão abundantemente, ele lembrou-se do Senhor e, mais uma vez,
levantou um altar de pedras ao Senhor” (Gn 12.4). Quando havia saído de Betei e
tomou o caminho do Egito, Abrão não ofereceu culto algum a Deus. Apesar dessa
fraqueza de atitude, Deus não o abandonou e manteve seu propósito com ele.
Porém, Abrão ainda enfrentou algumas dificuldades.
Interferência no Plano de Deus
Depois que Abrão decidiu voltar, também Ló o
acompanhou de volta a Canaã. Ambos progrediram e aumentaram seus gados e
riquezas, mas começou a haver conflito entre os pastores de ambos porque o
espaço geográfico ficou pequeno para eles. Abrão, desde que voltara do Egito,
mais que nunca, entendeu que Ló não fazia parte do plano de Deus e ainda estava
provocando problemas.
A lição difícil que se aprende nessa história é
que o fruto da desobediência é sempre amargo. Abrão estava vivendo essa
experiência por ter se deixado dominar por situações que poderia ter evitado
quando se dispôs sair da sua terra em Ur dos Caldeus. A interferência de Ló
começou a provocar problemas de ordem social dentro da família. O tempo todo o
seu sobrinho Ló havia saído com tudo o que possuía, gados e pessoas para
servi-lo e, onde chegavam, os seus pastores procuravam as melhores pastagens em
prejuízo do gado de Abrão. Começou a haver choque de interesses, e Ló não teve
o menor respeito por seu tio Abrão quando seus pastores começaram a contender
com os pastores os dele.
Ao deparar-se com o problema, Abrão entendeu a
gravidade do conflito e entendeu que era a hora de definir a situação. Então,
procurou fazer isso da melhor forma possível, confiando na provisão e promessa
de Deus que lhe daria sabedoria para solucionar esse conflito. Essa
interferência não invalidou a promessa de Deus para Abrão, mas ele entendeu
que, se não podia voltar ao início de tudo, pelo menos podia amenizar o
problema confiando que Deus o perdoaria. É sempre perigoso quando permitimos
interferências no plano de Deus para a nossa vida.
Interferência de
Sentimentalismos
Quando alguém toma consciência
do plano de Deus, deve desven- cilhar-se de qualquer coisa relacionada à sua
vida pessoal que possa vir a ser um obstáculo ao plano divino. No caso de Abráo
foi o sentimento familiar que bloqueou sua decisão de apenas obedecer a Deus e
sair do meio de seus parentes indo para a terra que o Senhor lhe havia
prometido. Ao estabelecer esse requisito a Abráo, ele deveria ter saído
imediatamente daquela terra.
O desafio e a promessa envolviam
a conquista de uma terra de leite e mel (Gn 12.1), mas ele ficou empolgado e
revelou o projeto de Deus à família. A revelação do projeto fez pulsar a
ambição de toda a familia, a partir do próprio pai Tera, além de Ló, sobrinho
de Abrão, filho de seu irmão Naor. Então Abraão, pressionado por seus parentes
e, principalmente, pelo pai Tera, não conseguiu sair so com sua esposa. Ele não
conseguiu desvencilhar-se de seus parentes. Sentimentos familiares interferiram
no plano original e ele não conseguiu dizer para a família que não estavam
incluídos. Quando permitimos que os nossos sentimentos pessoais interfiram no
plano de Deus para a nossa vida, não conseguimos evitar as consequências dessa
atitude.
Interferência
no Espaço e Geográfico que Era Destinado para Abrão
A vontade de Deus para Abrão era
uma vontade específica que deveria, tão somente, ser obedecida sem permitir que
interferências a impedissem de ser concretizada. Entretanto, as interferências
no plano original de Deus para Abrão foram várias, a começar pelos parentes;
depois, pelo espaço físico que deveria pertencer apenas a Abrão e sua mulher.
Mas o texto de Génesis 13.6 diz literalmente que: “E não tinha capacidade a
terra para poderem habitar juntos , entáo, começaram a surgir os conflitos
dentro desse espaço.
Há uma lei na ciência da física
que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Metaforicamente
entendemos que Deus havia estabelecido um espaço dentro do seu plano para Abrão
e, portanto, aqueles familiares no contexto do plano original de Deus eram
excedentes e não faziam parte do plano divino. Na realidade, toda essa situação tornou-se
uma intromissão no plano de Deus, e Abrão se viu obrigado a aceitar,
trazendo-lhe péssimos resultados. Não se tratava apenas de um espaço físico
comprimido entre Abrão e Ló, mas significava uma intromissão no espaço que Deus
havia destinado apenas para Abrão e sua esposa Sarai.
Em
nossos tempos, no meio cristão, especialmente no seio da igreja, desenvolvem-se
desacordos e contendas por causa de campo de trabalho eclesiástico. Se não
houver uma solução cristã capaz de neutralizar a contenda, parte-se para a
separação de interesses.
Conflitos Modernos nos Espaços
Eclesiásticos
Lamentavelmente, existem interferências e
invasões de igrejas em campos alheios em que a ética parece ter sido aposentada
na cabeça de algumas lideranças, que justificam suas atitudes em nome do
crescimento da igreja. Não respeitam limites nem agem com bom senso, sem levar
em conta pelo menos um limite geográfico que respeite o campo de trabalho do
outro. Essas interferências não têm respaldo bíblico nem apoio do Espírito
Santo, porque tais atitudes promovem conflitos que não glorificam a Deus.
RUPTURAS GERADAS POR ESCOLHAS MAL FEITAS
Em meu livro Abraão, a Experiência de nosso Pai
na Fé (CPAD), apresentei como resultado negativo do conflito entre Abrão e Ló
algumas rupturas que culminaram com a quebra de relações familiares e a
separação inevitável entre ambos. Além das interferências circunstanciais a que
havia se submetido, as rupturas provocadas pela contenda com Ló fizeram com que
Abrão, mais uma vez, levantasse um altar e ali invocasse o nome do Senhor a fim
de obter de Deus a graça para saber administrar aquela situação entre ele e Ló.
Abrão não queria cometer nenhuma injustiça, mas sabia que, inevitavelmente, a
decisão que tomaria traria pesar e separação entre ambos. Ao oferecer
sacrifício ao Senhor, Abrão foi fortalecido em sua fé (Gn 12.8). Anteriormente,
Abrão já havia experimentado o dissabor da sua estada no Egito, mas agora, o
Senhor desperta a sua mente para o reinicio de sua caminhada de fé para a conquista
final do plano original. Entretanto, esse reinicio seria palmilhado por algumas
rupturas produzidas por aquela contenda. Destacamos, pelo menos, três rupturas.
A Primeira Ruptura Foi Social
Não foi fácil para Abráo decidir a separação,
porque ele tinha um coração generoso a despeito da atitude egoísta de Ló, sua
família e seus pastores. Mas ele precisou decidir, mesmo sabendo do que iria
incidir como resultado daquela decisão. É natural que, quando tomamos uma
decisão que atinge o nosso emocional, nos assaltem duvidas e hesitações que
poderiam imobilizá-lo. Eram dúvidas que respondiam a temores íntimos e que
poderiam impedi-lo de agir com convicção. São os medos interiores que embargam
nossas ações e podem prejudicar o nosso futuro. Mas Abrão foi capaz de superar
esses medos, e mesmo com o coração partido, ele precisou escolher a separação
do seu sobrinho.
A separação entre ambos foi, na verdade,
produzida pela contenda entre os seus pastores, de Ló e de Abrão, por causa das
pastagens e água que não eram suficientes para os dois. Abraão tinha consciência
de que seu erro iniciou quando saiu de Harã para ir a terra que Deus havia lhe
prometido. Ló começou a agir de forma egoísta a ponto de perder o respeito ao
seu tio Abráo. Aceitou os argumentos de seus pastores de ovelhas e cabras e
permitiu que a contenda agisse como um vírus que contagiou a relação com os
pastores de Abrão. Brigaram por causa dos poços abertos sob a sua tutela e
queriam se apossar desses poços. Abraão entendeu que seria impossível viver
pacificamente com seu sobrinho quando os interesses estavam acima do respeito
familiar e do temor a Deus.
A Segunda Ruptura da Concessão
Para evitar maiores confusões, Abrão estava
consciente de que o que estava acontecendo era o fruto de sua falha em ter
permitido que Lo o acompanhasse. Mas, acima de tudo, Abráo estava debaixo da
bênção de Deus e estava disposto a pagar o preço pelo erro passado. Quando
ofereceu sacrifício ao Senhor em Betei, Abrão estava em paz consigo mesmo porque naquele
monte ele havia renovado seu pacto com Deus (Gn 13.4). A partir de então, ele
estava pronto para assumir as responsabilidades de seus atos e decidir sobre
coisas que não mais restringiriam sua obediência completa ao plano original
feito por Deus.
Abraão
sabia que sua decisão implicaria na concessão de coisas, mesmo com perdas, para
que o plano divino não fosse obstruído por qualquer outra circunstância. Para
que não houvesse mais constrangimento entre ambos, eles deveriam separar-se
geograficamente (Gn 13.8,9). Partiu de Abrão a oportunidade oferecida de escolha.
Em sua decisão, Abrão preferiu fazer concessões que propiciassem a paz entre
ambos, mesmo que se separados geograficamente.
A Terceira Ruptura Foi a Cobiça de Ló
Com essa concessão do velho Abrão para o seu
sobrinho Ló, percebe- -se que a cobiça de Ló foi um dos motivos da contenda
entre ambos. À sombra da prosperidade de Abrão, o seu sobrinho Ló ia tirando
proveito com o aumento de sua fazenda e de sua riqueza, mas Ló não tinha visão
espiritual do projeto de Deus que só Abrão sabia e conhecia. Não foi leal com
seu tio quando não puderam mais conviver na mesma terra. Por isso, com a opção
da escolha concedida por Abrão, Ló expôs sua ambição carnal e material, e não
teve a menor consideração pelo seu tio Abrão.
A palavra “cobiça” pode ser identificada na Bíblia
como “avareza, avidez, ganância”. Na verdade, a cobiça que dominou a mente e o
coração de Ló era tão forte que ele não teve escrúpulos em tirar proveito do
seu tio Abrão. Mas o velho Abrão temia ao Senhor, e sabia que Deus cuidaria
dele e o abençoaria onde ele colocasse os pés. Essa ruptura da cobiça aconteceu
nas relações familiares e entre seus pastores, porque ela sempre produz
contenda e infecciona todo um ambiente de paz (Pv 17.14; Fp 2.3,4). A cobiça de
Ló o tornou ardiloso e insensível; por isso, seu coração endureceu e a contenda
provocada trouxe muitos espinhos que feriram as relações de convivência entre
as famílias.
Um dos mandamentos de Deus para o povo de Israel,
alguns séculos depois, destacava a cobiça como algo que deveria ser punido no
meio do povo. Era o décimo mandamento que condenava e proibia a cobiça de tudo
quanto é coisa que envolvesse a casa do vizinho, sua esposa, servos, gado ou qualquer
outra coisa alheia (Êx 20.17). Existe uma história no Antigo Testamento acerca
do rei Acabe que, cobiçando a vinha de Nabote, não teve qualquer escrúpulo
juntamente com sua diabólica mulher Jezabel em mandar matá-lo para possuir a
vinha de Nabote, que era uma herança de seus pais (1 Rs 21.1-16). No Novo Testamento,
a cobiça é condenada como uma forma de idolatria (Cl 3.5, NTLH). Na Carta aos
Romanos 7.7, Paulo fala da cobiça como uma força da carne que precisa ser
bloqueada para obter uma vida cristã vitoriosa. Jesus condenou a cobiça, quando
fala de “avareza” em um dos seus discursos: “Porque do interior do coração dos
homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os
homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a
inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro
e contaminam o homem” (Mc 7.21-23). Em 1 Timóteo 6.10, o apóstolo Paulo declara
que “o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males”. Foi o caso de
Ananias e Safira, que mentiram por causa da cobiça e avareza de seus corações
(At 5.1-11). No caso de Ló, sua cobiça o fez perder o bom senso e o respeito
pelo seu tio.
DUAS ESCOLHAS
Abrão chegou a um ponto no qual não podia mais
voltar atras; tinha que escolher uma decisão que pudesse resolver o problema do
conflito entre ele e Ló. Na história da Literatura sul-americana, no Chile, o
poeta Pablo Neruda declarou certa ocasião: “Você é livre para fazer suas
escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. Ele disse, ainda: “Escrevo isso
porque acredito mesmo que podemos decidir sobre aquilo que é melhor para nós”.
Uma vez que as nossas escolhas definem as consequências que teremos que viver
mais a frente.
A Escolha de Ló
Saber fazer as escolhas é sinal de sabedoria. Por
outro lado, devemos entender que tudo o que escolhemos fazer gera consequências
para nós e atinge as pessoas do nosso convívio. Até que ponto a nossa escolha afetara as pessoas ao
nosso redor. Parece-nos que Ló, dominado pela avareza em seu coração, não
percebeu o mal que estava fazendo para si mesmo e acabaria atingindo as pessoas
do seu convívio.
O
texto diz que levantou Lo os seus olhos e viu toda a campina do Jordão”. Pela
ética familiar, o direito de escolha era de Abrão, mas Abrão preferiu oferecer
a Lo a oportunidade de escolher. Abrão subiu a um lugar alto e mostrou a Ló os
dois lados das terra à vista, do lado oriental e do lado ocidental (Gn
13.10,11). A visão egoísta e materialista, sem pestanejar, focalizou as
melhores terras do lado Oriente, onde estavam as campinas do Jordão, próximas
das cidades de Sodoma e Gomorra. Havia grandes e vastos campos para o seu gado
e para o plantio. Abrão não duvidou da promessa de Deus e olhou o outro lado
onde havia enormes montanhas e que não inspiravam qualquer sonho para a terra
de Canaã e habitou ali (Gn 13.12).
Ter
atitude de respeito, compreensão, contribuição, cooperação, amizade, amor,
tolerância e gratidão são elementos positivos que encurtam o caminho de quem
faz a vontade de Deus. A escolha egoísta de Ló, não muito depois daquela
decisão, com poucos anos naquela terra que havia escolhido em prejuízo de seu
tio Abrão, converteu-se em morte e destruição para as cidades de Sodoma e
Gomorra. Ao escolher o que entendia ser a melhor parte, nas campinas do Jordão,
não podia imaginar o dedo de Deus naquele lugar onde perdeu tudo o que tinha,
inclusive a família. Diz a Bíblia que Ló armou as suas tendas até Sodoma e
passou a habitar naquela cidade (Gn 13.12). As consequências inevitáveis
aconteceram e, mesmo que Ló procurasse ter uma vida de retidão onde vivia, não
conseguiu dominar o ímpeto de sua família, perdendo a autoridade sobre sua
mulher e suas filhas, as quais se corromperam com o estilo de vida depravado
daquela cidade (Gn 19.14,16,17). Lo escolheu segundo o espírito do mundo
representado por Sodoma e Gomorra.
A Escolha de Fé de Abrão
Abrão, um homem de fé, confiou na provisão de
Deus e, por isso armou as suas tendas, e veio, e habitou nos carvalhais de
Alanre, que estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao Senhor”. Nos
lugares que
lhe restaram na terra de Canaã, não havia campinas verdejantes nem terra fértil
para o plantio. As fontes de água eram poucas, porque era uma região pedregosa
e montanhosa, mas Abrão sabia que, aquilo que parecia ser o pior, era, de fato,
o melhor, porque, ao depender de Deus, o aparente prejuízo foi transformado em
lucro.
No
Egito, Abrão teve que viver por “vista”, e não “por fé”. Por isso, sua visão
apenas horizontal para a prosperidade das terras egípcias roubou a sua visão
vertical para Deus. No Egito, ele enfrentou dissabores morais e espirituais que
marcaram a sua vida. Ló, enquanto estava à sombra de seu tio Abrão, tinha a
bênção de Deus, mas buscou liberdade para reger sua própria vida, a
prosperidade conquistada não durou muito tempo. Naquelas belas campinas do
Jordão, Ló perdeu sua família, seus bens e até a honra, mas Abrão recebeu a
promessa de uma família que encheria a terra. Quando Deus é o primeiro em nossa
vida, não importa quem é o segundo ou o último. O que parecia perda com a
escolha gananciosa de Ló, na verdade, converteu-se em lucro para o patriarca.
CONCLUSÃO
Jesus, em um dos seus discursos, fez uma séria
advertência aos seus discípulos, lembrando a triste e decadente história de Ló
e sua família em meio a uma geração corrompida, como foi a de Sodoma e Gomor-
ra. Com poucas palavras, apenas disse: “Lembrai-vos da mulher de Ló” ( Lc
17.32). Em nossos dias, muitos cristãos se deixam levar pela avareza e tornam
seus corações ambiciosos, porque se deixam dominar pelo espírito do mundo
moderno, mas Jesus adverte-nos, dizendo: “E olhai por vós, para que não
aconteça que o vosso coração se carregue de glutonaria, de embriaguez, e dos
cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia” (Lc 21.34).
Abraão creu no invisível e foi abençoado pelo
Senhor. A terra que ele teve que escolher era inóspita e pedregosa, e não
parecia produzir riqueza alguma, mas Abrão aprendeu a depender de Deus, que o
fez prosperar e crescer. Nessa história, a despeito de algumas situações de
fraqueza a que se rendeu Abrão, em nenhum momento deixou de temer ao Senhor.
Se, por um pouco, oscilou na fé e se descuidou da relação com Deus, seu caráter
passou por uma drenagem e limpeza para que ele aprendesse a não depender de ações
temperamentais. A partir de então, ele pôde iniciar a retomada do caminho da
fé. As decisões erradas de outrora seriam apenas lembranças de algo que ele não
cometeria mais. Seu caminho estava agora livre para alcançar a vitória do
Senhor.
Deus
deu o livre-arbítrio ao homem para que, com inteligência e temor em seu
coração, saiba escolher e decidir sobre sua vida.
FONTE:
ODeus de Toda Provisão Esperança e sabedoria divina para a Igreja em meio às
crises
Elienai Cabral
Iª Edição DA CPAD
Rio de Janeiro 2016