Jesus: Sumo Sacerdote de uma Ordem Superior Comentário de Hebreus 7.1 -28

Extraído do livro: A supremacia  de  Cristo , Fé, esperança  e ânimo na carta aos Hebreus.
José Gonçalves.

         Tendo terminado a sua seção parentética no capítulo 6, que havia introduzido no final do capítulo 5, o autor volta a tratar do assunto que ele acha central em sua argumentação — a doutrina do sacerdócio   de Cristo. Para tal, ele principia resgatando sua fundamentação histórica e profética.
         “Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou” (v. 1). O autor já afirmara (Hb 5.4-6) que Jesus havia sido constituído por Deus como Sumo Sacerdote de uma ordem superior a de Melquisedeque. Aqui, ele vai mostrar a importância que teve essa figura enigmática dentro do plano divino. Ele chama a atenção para o fato de que Melquisedeque fora rei e sacerdote. Melquisedeque, portanto, é o único personagem na história do Velho Testamento que fora rei e sacerdote ao mesmo tempo. Donald Hegner observa que, no judaísmo primitivo, prevalecia a crença de que o Messias acumularia essas duas funções.1 A intenção do autor é mostrar, não pelo simples fato de que essa era uma expectativa judaica, mas, sobretudo, porque era um fato profético, que Jesus era Sumo Sacerdote dessa mesma ordem. Foi esse sacerdote-rei que abençoou o patriarca Abraão. “A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça e depois também rei de Salém, que é rei de paz” (v. 2). De acordo com a Enciclopaedia Judaica, o nome Melquisedeque é interpretado pelo autor de Hebreus como sendo “rei de justiça" e “paz" com o propósito de associá-lo à pessoa de Jesus”.
         “Na epístola aos Hebreus (7.1-7), Melquisedeque (rei de justiça - Zedek; de paz - Salém) é descrito como único, sendo ambos um sacerdote e rei, e porque ele é ‘sem pai, sem mãe, sem genealogia’; ele é eterno, ‘não tendo começo de dias e nem fim da vida’. Nesse sentido, Melquisedeque assemelha-se a Jesus, o Filho de Deus, e, assim, é um tipo do Salvador".
         “Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fm de vida, mas, sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre” (v. 3). Esse versículo forneceu combustível para muitos debates em tomo da figura enigmática de Melquisedeque.' To­davia, a interpretação mais natural, como descreveu a Enciclopaedia Judaica, é aquela que a tradição cristã tem-lhe atribuído — um tipo de Cristo.  O vocábulo grego aphomoioo, traduzido como semelhante, só aparece aqui no Novo Testamento. A. T. Robertson destaca “que essa semelhança está na figura tirada do Gênesis, e não na própria pessoa".  Melquisedeque é um tipo do qual Jesus é o antítipo. A ordem sacerdotal, e não simplesmente a pessoa de Melquisedeque, está no foco da argumentação do autor. De forma análoga, Richard Taylor observa que as descrições dadas sobre a pessoa de Melquisedeque no versículo 3 (sem pai, sem mãe e sem genealogia) devem referir-se à sua ordem sacerdotal, e não à sua pessoa.6 Esse entendimento é confirmado no fato de que, para um judeu conhecedor do sistema levítico, era totalmente inconcebível alguém reivindicar o sacerdócio sem que seus pais fossem sacerdotes. John Nelson Darby (1800-1882) destaca que
"como sacerdote, Cristo era sem genealogia, não como homem. Sua mãe era conhecida. Uma vez feito sacerdote, não podia ser descartado ao chegar a uma certa idade, como aqueles sacerdotes. Ele permanece para sempre. ‘Feito semelhante ao filho de Deus’ — somente como sacerdote. A realeza está vinculada com o sacerdócio".
Melquisedeque foi uma pessoa física, histórica, mas o seu sistema sacerdotal era atemporal, eterno.  Muito barulho tem sido feito em torno da figura enigmática de Melquisedeque porque é desconhecida a forma como a hermenêutica judaica interpretava o silêncio de determinado texto. Na interpretação rabínica dos textos sagrados, até mesmo o silencio falava alto. Filo, um judeu de Alexandria, por exemplo, utilizou-se muito desse recurso.Donald Hegner destaca:
"Do ponto de vista rabínico, o silencio é tido como verdadeiramente significativo, em vez de apenas fortuito, de modo especial em se tratando de uma pessoa tão importante, rei e sacerdote ao mesmo tempo. Visto não ter registro da morte de Melquisedeque, nem do término do seu sacerdócio, pode se concluir que ele permanece sacerdote para sempre. Considerando-se, pois, o que as Escrituras dizem e o que silenciam a respeito de Melquisedeque, toma-se evidente que ele é semelhante ao filho de Deus, que também jamais teve início de dias, nem fim de vida, com um sacerdócio de validade eterna”.
"Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos" (v. 4). Há um jargão popular que diz: “Na terra de Melquisedeque, Abraão só paga o dízimo”. Nesse versículo 4, o autor mostra a superioridade de Melquisedeque em relação a Abraão. Todos os judeus, incluindo os cristãos provenientes do judaísmo, tinham consciência da grandeza do patriarca Abraão para a história hebraica. Todavia, o autor de Hebreus está mostrando a seus leitores que Abraão foi grande sim, mas que Melquisedeque fora ainda maior do que ele, visto Abraão ter reconhecido como legítimo o sacerdócio de Melquisedeque através da devolução dos dízimos. É exatamente dessa ordem sacerdotal muito superior à Ievítica que advém o sacerdócio do Filho de Deus .
          “E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham descendido de Abraão" (v. 5). O autor tem em mente mostrar a seus leitores que, no contexto do Antigo Testamento, há duas linhas sacerdotais. Uma delas começa com Abraão, passando por Levi e seus descendentes, e a outra tem início com Melquisedeque, o sacerdote-rei. Essa ordem sacerdotal, que começou com Melquisedeque, vai até o Messias, Jesus Cristo (SI 110.4). Dessa forma, o autor prova que, embora o sacerdócio levítico tenha recebido dízimos, assim como Melquisedeque recebeu do patriarca Abraão, nem mesmo assim eles podem equiparar-se em grandeza ao rei-sacerdote de Salém.
"Mas aquele cuja genealogia não é contada entre eles tomou dízimos de Abraão e abençoou o que tinha as promessas” (v. 6). Esse sacerdócio de Melquisedeque, que nem mesmo registro possuía entre eles, tinha mais realeza do que o sistema levítico. A ordem sacerdotal Ievítica era humana, terrena; já a ordem de Melquisedeque era divina, celestial.
“Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior" (v.7). O fato relevante mostrando que Abraão devolveu o dízimo a Melquisedeque e que ele fora abençoado pelo mesmo demonstra a superioridade de Melquisedeque sobre o patriarca hebreu. O rei deve abençoar o súdito; o soldado presta continência para o oficial; o filho subordina-se ao pai. Da mesma forma, foi Abraão em relação a Melquisedeque.
         “E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive" (v. 8). Simon Kistemaker observa, como já foi destacado neste livro, que o autor de Hebreus segue uma lógica diferente da nossa porque emprega uma metodologia rabínica adotada no primeiro século. Dentro dessa metodologia interpretativa, o autor declara que o testemunho sobre Melquisedeque é que ele "vive”. Estaria ele querendo dizer com isso que Melquisedeque jamais morreu? Se a lógica fosse essa, ele seria um ser sobrenatural, o próprio Filho de Deus, fato esse que o autor já descartou quando disse que o sacerdote de Salém era “semelhante” ao Filho de Deus, e não o próprio Jesus (Hb 7.3). Kistemaker destaca que "nos lugares onde seu nome é mencionado (Gn 14.18-20; SI 110.4), Melquisedeque (quanto a seu sacerdócio) é descrito como uma pessoa que ‘vive’. Isso significa que a ordem sacerdotal de Melquisedeque é permanente’’.  Entendimento semelhante é dado pelo expositor Donald Hegner:
"O argumento do v. 8 tem caráter rabínico, pois atribui grande significado ao silêncio do texto (cf. v.3). A referência àquele de quem se testifica que vive, no entanto, encontra paralelismo nas referências a Cristo nos w . 15, 16 e 24, em que a referência à vida eterna sem fim é absolutamente verdadeira".
         Dentro da tradição cristã, portanto, esse versículo ganha o sentido de que, aqui, a ordem levítica, constituída por homens mortais, toma dízimos; ali, isto é, na ordem sacerdotal de Melquisedeque, personificada em Jesus Cristo, o Sacerdote Eterno, recolhia dízimos porque é superior à ordem levítica e continuará sempre existindo. Melquisedeque não era eterno, mas a sua ordem sacerdotal sim. A ordem sacerdotal levítica, encarregada de tomar os dízimos, era temporal, passageira, pois era constituída de homens mortais. Essa ordem sacerdotal tomou-se obsoleta e caducou. A ordem de Melquisedeque, porém, jamais acabará porque é eterna. É dessa mesma ordem que Cristo, o Sacerdote-Rei, exerce o seu sacerdócio para todo o sempre!
“E, para assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos" (v. 9). A ordem sacerdotal de Melquisedeque é superior à levítica, visto que todo o sistema levítico, representado na pessoa de Abraão, pagou dízimos a Melquisedeque. Esse fato é usado para mostrar a superioridade e relevância da ordem do sacerdote-rei de Salém. Mesmo que ainda não tenha sido gerado, Levi, tribo da qual seriam escolhidos os sacerdotes, pagou dízimos na pessoa de Abraão.
"Porque ainda ele estava nos lombos de seu pai, quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro” (v. 10). O fato está estabelecido — há mais de uma ordem sacerdotal: Melquisedeque e Levi. Todavia, a ordem sacerdotal de Melquisedeque é superior à levítica. O sistema levítico de sacerdotes era imperfeito, mas o melquisedequiano, perfeito.
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão?” (v. 11). Se o sistema levítico fosse perfeito e, logo, não sujeito à substituição, então por que a profecia prenunciou o surgimento de outra ordem sacerdotal superior e mais perfeita (SI 110.4)?
“Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei” (v. 12). O autor fala da necessidade da mudança do “sacerdócio” enquanto sistema legal e vigente, e não apenas do “sacerdote” enquanto pessoa. Neil R. Lightfoot observa que o autor refere-se a toda ordem mosaica concebida como sacrificial em sua essência. A Lei e o sacerdócio eram entidades inseparáveis dentro do sistema mosaico, sendo que a própria Lei fora dada com base no sacerdócio. Nesse aspecto, observa Lightfoot, “a lei dependia do sistema sacrificial e não podia funcionar sem ele. O sacerdócio era para a Lei o que o alicerce era para o edifício”.15 Noutras palavras, caindo um, o outro vai junto.
“Porque aquele de quem essas coisas se dizem pertence a outra tribo, da qual ninguém serviu ao altar” (v. 13). Tendo provado que todo o sistema mosaico, com o sacrifício e a Lei, tomara-se obsoleto, o autor chama a atenção para quem o Espírito profético do Salmo 110.4 está mostrando — “de quem essas coisas se dizem" — uma referência ao Messias. “Visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo nunca Moisés falou de sacerdócio” (v. 14). De acordo com o Pentateuco, a quem o autor denomina aqui de “Moisés", somente da tribo de Levi é que sacerdotes poderiam ser levantados. Jesus Cristo, entretanto, era da tribo de Judá, que, de acordo com o antigo sistema sacerdotal, jamais poderia possuir sacerdotes. Mas o autor já havia mostrado que justamente aqui se encontra a profecia — Jesus era sacerdote de uma ordem superior e que substituíra a antiga — a ordem de Melquisedeque. Como poderia, pois, os seus leitores estarem voltando para um sistema que havia sido substituído por outro muito melhor?
“E muito mais manifesto é ainda se, à semelhança de Melquisedeque, se levantar outro sacerdote" (v. 15). O autor chegou onde queria: mostrar a necessidade de outro sacerdócio plenamente cumprido em Jesus. O sacerdócio de Cristo possui semelhança com o de Melquisedeque, ou seja, é superior ao levítico e é eterno. A palavra semelhança usada aqui aparece anteriormente na carta aos Hebreus no capítulo 4.15, onde está dito que Jesus foi feito semelhante a nós. Naquele contexto, significa que Jesus identificou-se com a raça humana e, por isso, pode representá-la diante de Deus.
“Que não foi feito segundo a lei do mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível" (v. 16) A palavra grega sarkinos, traduzida aqui como carnal, tem o sentido, nesse contexto, de algo que está relacionado com aquilo que é humano. “A ordenação foi carnal no sentido de que tinha a ver apenas com a carne. Fazia com que o sacerdócio estivesse implicado com/e dependente da descendência carnal”.  Ao contrário do sistema sacerdotal levítico, o sacerdócio de Jesus estava fundamentado no princípio de uma vida "incorruptível”, isto é, indestrutível. Essa indestrutibilidade está fundamentada nas palavras do salmista.
         “Porque dele assim se testifica: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque" (v. 17). Para o autor, somente Jesus pode cumprir essa profecia porque, como Messias e Filho de Deus, Ele assentou-se à direita do Pai. "Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés (SI 110.1).
“Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade" (v. 18). A antiga ordem sacerdotal e também as leis que o regiam foram substituídas por uma nova que havia chegado. A razão é que esse sistema tomara-se inadequado em razão de sua fraqueza e inutilidade. A ideia do autor é mostrar que o antigo sistema só tinha valor antes da manifestação de Cristo, para quem a antiga ordem apontava.
“(pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus" (v. 19). A palavra grega eteleiosin, aoristo de teleioô, tem o sentido de conduzir ao alvo. James Moffatt (1870-1944) observou que, em Josefo, esse termo ganha o sentido de substituição. A Lei tomou-se antiquada, e sua substituição tornou-se necessária porque jamais pôde chegar ao alvo tencionado por Deus. Em Cristo, esse alvo havia sido alcançado, e essa é a razão de nossa esperança.
“E, visto como não é sem prestar juramento (porque certamente aqueles, sem juramento, foram feitos sacerdotes" (v. 20). A superioridade do sacerdócio de Cristo está também evidenciada pela palavra empenhada por Deus (juramento) de que Ele é para sempre. O sistema levítico não teve tal garantia.
"Mas este, com juramento, por aquele que lhe disse: Jurou o Senhor e não se arrependerá: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque.)" (v. 21). O comentarista C. S. Keener observa que esse juramento de Deus estabelecendo uma nova ordem sacerdotal desfaz por inteiro qualquer pretensão de perpetuação do antigo sistema sacerdotal. Deus empenhara a sua palavra de que o mesmo seria substituído. "Este ponto constitui uma resposta parcial para qualquer possível apelação ou reivindicação ao Antigo Testamento de que as prescrições levíticas eram ordenanças eternas”.
 "De tanto melhor concerto Jesus foi feito fiador" (v. 22). O termo grego engyos, traduzido como fiador, só aparece aqui no Novo Testamento. O lexicógrafo Celas Spicq mostra que esse termo tem o sentido de uma "promessa colocada na mão de alguém”. A ideia é a de segurança. Spicq destaca:
"Uma pessoa é fiadora de outra, comprometendo-se com um credor dando-lhe uma garantia para a execução de uma obrigação no caso de inadimplência do devedor. Um fiador é, portanto, aquele que é responsável pela dívida de outra pessoa; sua responsabilidade toma-se operacional quando o devedor declara-se insolvente com relação aos termos do contrato”.
A garantia do cristão é total, pois Jesus já pagou o preço. “E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque, pela morte, foram impedidos de permanecer” (v. 23). O sacerdócio levítico possuía a necessidade de ser renovado constantemente, visto que seus oficiantes eram impedidos de continuar em razão da morte. Todavia, o sacerdócio de Cristo não estava sujeito a essa limitação.
"Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo" (v. 24). O infinitivo presente menein, traduzido como permanecer, continuar, tem ação contínua e interminável. O seu sacerdócio é para sempre ou perpétuo, assim como vaticinou o oráculo divino no Salmo 110.
“Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (v. 25). A expressão grega eis to pantelés, traduzida aqui como “perfeitamente” em virtude do contexto, mantém o sentido temporal que lhe dá a versão americana RSV e significa "em todas as épocas”. Ao contrário do sacerdócio levítico, o ministério de Cristo não é prejudicado pelo tempo. Em qualquer época, Ele continua sendo sacerdote. Ele salva aqueles, conforme observou Adam Clarke, que, mediante a graça de Deus, através de seu sacrifício e propiciação, achegam-se a Ele implorando misericórdia.21 Cristo é o intercessor de todos os salvos.
“Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus" (v. 26). Cinco coisas são afirmadas aqui sobre Jesus: (1). Ele é santo. Aqui, no texto grego, temos a palavra hosios em vez de hagios (separado). O termo grego hosios ocorre oito vezes no NT e tem o sentido de “santo, piedoso, misericordioso". Aqui, a ideia é a mesma encontrada na palavra hebraica chasid, "misericordioso”; (2) Ele é inocente. Aqui, a ideia é de alguém que não tem maldade. A sua santidade não é apenas externa, mas também interna. Ele é santo por dentro e por fora;22 (3). Ele é imaculado. A ideia aqui é extraída dos princípios exigidos na consagração dos sacerdotes. O sacerdote na antiga aliança não poderia ter defeito corporal algum. O autor mostra que Jesus possui um caráter imaculado. O seu sentido vai muito além da pureza ritual, mostrando a natureza ética do sacerdócio de Jesus; (4) separado dos pecadores. Ao fazer essa declaração, o autor usa o tempo perfeito, que mantém a ideia de algo que começou no passado, mas cujos efeitos continuam no presente. Nesse aspecto, Jesus foi separado dos pecadores, isto é, pertence a uma classe distinta deles e continua dessa forma. Ele não pode ser alcançado pelo pecado. Não há pecado nEle; (5) mais sublime do que os céus. Ele está acima de tudo, até mesmo das mais altas hostes angelicais.
“Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente, por seus próprios pecados e, depois, pelos do povo; porque isso fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo" (v. 27). A Almeida Revista e Corrigida (ARC) enfraqueceu o sentido da palavra grega ephapaks ao traduzi-la simplesmente como "uma vez”. O seu sentido está melhor demonstrado na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) como “uma vez por todas". O sacrifício de Cristo foi perfeito e completo. Não há, pois, necessidade, em tempo algum, de sua repetição.
“Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre" (v. 28). A “perfeição” aludida pelo autor tem um sentido de "obra cumprida integralmente”, isto é, “completada”. Esse fim jamais poderia ser alcançado pelo sacerdócio levítico, devido a seu caráter transitório e imperfeito.



Extraído do livro: A supremacia  de  Cristo , Fé, esperança  e ânimo na carta aos Hebreus.
José Gonçalves.

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