MARIA, MÃE DE
JESUS: UMA SERVA HUMILDE
Neste capítulo, conheceremos um pouco da história,
da vida e do caráter de uma personagem da Bíblia de maior repercussão no
cristianismo. Trata-se de Maria de Nazaré, uma jovem humilde, desconhecida, que
residia numa das cidades menos importantes política e socialmente falando de
toda a Palestina. Os nomes de seus pais não são registrados na Bíblia, o que
comprova sua origem humilde e sem influência na sociedade onde vivia.
Maria, porém, foi escolhida por Deus
para protagonizar o papel mais importante que uma mulher podería receber em
toda a sua vida. Foi uma missão singular e única na história das mulheres em
todos os tempos. Ela recebeu a missão de ser mãe de Jesus Cristo, o Verbo que
“se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do
Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Em seu ventre, ela
acolheu, de forma singular, aquEle que veio ao mundo para salvar a humanidade
perdida.
Maria foi a única mulher no mundo
que teve uma concepção que não envolveu a semente do homem, contaminada pelo
pecado. Ela não foi concebida sem pecado, como ensina o catolicismo romano, mas
concebeu Jesus sem pecado, por ter sido gerado pelo Espírito Santo, e não pelo
processo natural da fecundação humana. As leis da reprodução e a genética foram
ativadas pelo poder sobrenatural de Deus, para que ela se tornasse a “semente
da mulher”, prometida por Deus no Éden, logo após a Queda dos primeiros seres
humanos que foram criados por Deus (cf. Gn 3.15).
Por se tratar de uma mulher que teve uma
missão tão nobre e digna e além da imaginação de qualquer ser humano, Maria,
mãe de Jesus, tem sido alvo de muitas controvérsias e versões das mais diversas
sobre o seu verdadeiro papel — de forma particular, no que concerne à visão que
o catolicismo tem a seu respeito. Como a igreja católica não se guia apenas
pela Bíblia como “regra de fé e prática”, e sim, de forma bem marcante, pela
Tradição, o magistério católico considera Maria “Mãe de Deus”, e não somente
mãe do Jesus Cristo homem. Sendo Jesus Deus, eles dizem — numa lógica racional
simplista — que forçosamente ela tem que ser a “mãe do Criador”, a mãe de Deus.
A
Bíblia, no entanto, mostra-nos que não devemos ir “além do que está escrito”
(cf. 1 Co 4.6 b). Os cristãos não devem aceitar especulações teológicas ou
hermenêuticas que não são fundamentadas na ortodoxia da Palavra de Deus. Maria
jamais podería ser “Mãe de Deus”, pois, sendo criatura, não podería ser mãe do
Criador. Mesmo Jesus sendo Deus, o agente da criação, Maria, de modo singular e
extraordinário, foi mãe de sua natureza humana, mas não da divindade de Jesus.
Além dessa conclusão, com base na Palavra de Deus, a própria Maria, a mais “bendita
[...] entre as mulheres” (Lc 1.42), nunca reivindicou glória para si e nem para
seu nome. Muito pelo contrário! Ela considerou-se “serva” e também carente de
salvação. Ao receber a mensagem da anunciação do nascimento de Jesus, ela
exclamou: “[...] Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua
palavra” (Lc 1.38).
Em seu cântico de exaltação a Deus,
Maria demonstrou ter consciência de sua condição humana, imperfeita e objeto da
salvação de Deus. Ela cantou jubilosa e reverente, demonstrando como se sentia
diante de Deus e por ter sido escolhida para tão grande missão: “Disse, então,
Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus,
meu Salvador” (Lc 1.46,47). Com profundo respeito, meditemos no testemunho, no
caráter e na vida dessa extraordinária mulher que foi Maria, a mãe de Jesus.
I - MARIA, A
MÃE DE JESUS
1. Quem Era
ela
O nome Maria era muito comum no seu
tempo. Deriva do nome hebraico Miriã, fazendo alusão à irmã de Moisés, o líder
do Êxodo. Na septuaginta, versão grega do AT, o nome original é (Maryam). O
nome da mãe de Jesus foi tão importante nos países cristãos que Maria,
atualmente, talvez seja um dos nomes mais comuns em muitos lugares. A respeito
dela, o texto bíblico traz poucas informações, embora todas relevantes e cheias
de significado espiritual. Não há registro sobre o nome de seus pais. A
Tradição católica afirma que seus pais foram São Joaquim e Santa Ana. O texto
bíblico não confirma esse entendimento. Maria era da linhagem real, descendente
do rei Davi. Mateus registra a genealogia de Jesus, dizendo: “Livro da geração
de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão [...]. Jessé gerou ao rei Davi,
e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias” (Mt 1.1,6). Essa é a
ponta inicial da linhagem real que vincula Maria a Davi.
O texto
prossegue até o versículo 15, que diz: “e Eliúde gerou a Eleazar, e Eleazar
gerou a Matã, e Matã gerou a Jacó, e Jacó gerou a José, marido de Maria, da
qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo” (w. 15,16). Os judeus tinham
consciência de que o Cristo viría da descendência de Davi (Jo 7.41,42). Paulo
citou que Jesus “[...] nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (Rm
1.3). Assim sendo, como Jesus nasceu no ventre de Maria, ela era da descendência
de Davi. Mas a sua ascendência real indica que ela pertencia à tribo de Levi.
Essa conclusão se deve ao fato de ser ela prima de Isabel, e esta era da tribo
de Levi: “Existiu, no tempo de Herodes, rei da Judeia, um sacerdote, chamado
Zacarias, da ordem de Abias, e cuja mulher era das filhas de Arão; o nome dela
era Isabel” (Lc 1.5 - grifo nosso). Arão era o sumo sacerdote que tinha de ser
da tribo de Levi.
O lugar de seu nascimento e seu nome
estão bem destacados. O texto diz que ela era de Nazaré, cidade da Galileia, ao
Norte de Israel; e que ela era “desposada” com um homem chamado “José, da casa
de Davi”, e que seu nome era Maria, e ela era “virgem” (Lc 1.26,27). Nazaré era
uma cidade sem grande importância (cf. Jo 1.46) no contexto político e
geográfico de Israel, mas a escolha de uma jovem daquele lugar já nos mostra
que, em seu plano de redenção, Deus quebra paradigmas humanos e convencionais.
Ele não escolheu uma jovem de família abastada, no contexto social de uma
grande metrópole, como Antioquia, Atenas, ou mesmo Jerusalém, a capital de
Israel. Mas, dos céus, olhou para a pequenina e desprestigiada Nazaré e
escolheu uma jovem, certamente uma camponesa, humilde e desconhecida para o
cumprimento de sua promessa feita no Gênesis. Deus usa as coisas menos
importantes aos olhos humanos, em sua vaidade e presunção, para confundir “as
que são” (1 Co 1.27-29).
2. Suas
Qualidades e seu Caráter
Nazaré foi escolhida para entrar
para a história da redenção não por sua importância, mas, sim, por causa da
pessoa que seria escolhida por Deus. Maria, porém, foi escolhida para ser mãe
do Salvador, antes de tudo, por decisão divina, mas também, sem dúvida alguma,
por suas qualidades espirituais e morais. Havia muitas moças em Israel com
qualificações intelectuais, sociais, ou econômicas que poderíam ter entrado na
lista das prováveis receptoras do nascimento do Messias.
Gardner
diz que “Maria, mãe de Jesus, é uma das figuras mais proeminentes da Bíblia.
Sua vida foi caracterizada pela fé, humildade e obediência à vontade de Deus.
Ela também ocupa uma posição única na história humana, como a mulher escolhida
pelo Senhor para conceber Jesus, o Salvador do mundo”.1 Cremos, no entanto, que
Deus fez uma triagem e selecionou Maria de Nazaré para ser a escolhida por seu
caráter puro e santo. Não devemos divinizá-la, nem tampouco subestimar o seu
papel de grande relevância no plano de Deus para a salvação do homem. Podemos
destacar qualidades dignas daquela jovem sobre quem Deus pôs seus olhos.
1) Ela era virgem. Gabriel, o
mensageiro celeste, foi enviado especialmente da parte de Deus à cidade de
Nazaré “a uma virgem”, cujo nome era “Maria” (Lc 1.26,27). Naqueles tempos, a
virgindade física de uma jovem era um valor de grande significado espiritual e
moral. Falando sobre a glória de Jerusalém, o Senhor diz que “como o jovem se
casa com a donzela, assim teus filhos se casarão comigo [...]” (Is 62.5). Ela
era desposada (ou noiva) com José, o jovem carpinteiro, mas mantinha-se pura em
seu estado moral. José não teve relações com Maria antes de ela dar à luz a
Jesus (Mt 1.25). Sua virgindade era indispensável para o cumprimento da
profecia de Isaías (7.14), 760 anos antes de Cristo, destacada por Mateus em
seu livro: “Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte
do Senhor pelo profeta, que diz: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um
filho, e ele será chamado pelo nome de EMANUEL. (EMANUEL traduzido é: Deus
conosco)” (Mt 1.22,23).
Nos dias presentes, uma adolescente
ou jovem ser virgem é motivo de deboche em meio a uma sociedade sem Deus, que
despreza os princípios espirituais e éticos da Palavra de Deus. Infelizmente,
até mesmo nos meios evangélicos, a pureza que Deus requer dos jovens tem sido
relativizada. Segundo estatísticas não oficiais, 57% dos jovens evangélicos
brasileiros praticam o sexo antes do casamento, cometendo o pecado da
fornicação (At 15.29; Ap 21.8). Paulo fala da preparação da Igreja por Cristo,
como “uma virgem pura a um marido” (2 Co 11.2). Os princípios e valores éticos
da Bíblia não mudam com o tempo ou os lugares. A depravação no Brasil é tão
grave que o governo comprovou que a prática de sexo pelas meninas começa aos 10
anos! Diante disso, o exemplo de Maria é muito eloquente contra a
pecaminosidade reinante na juventude.
2) Ela era agraciada. Diz Lucas: “E,
entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, agraciada [...]” (Lc 1.28a). O
termo quer dizer que ela foi honrada por Deus ou “muito favorecida”, recebendo
a graça de Deus não apenas naquele momento, mas também no restante de sua vida.
Deus sempre procura pessoas assim: simples, humildes, despretensiosas,
despojadas de ambições carnais. Isso aconteceu com José, com Ester, com Davi,
com Débora e com tantos outros chamados por Deus em sua condição humilde. A
jovem Maria jamais imaginara que estaria sendo observada dos céus pelo Senhor e
Criador do Universo. Em Nazaré, na basílica que tem seu nome, há uma inscrição
numa gruta, sugerindo que o anúncio angelical havia sido ali. Não há, porém,
base bíblica para isso. E pura tradição. Maria pode ter recebido a visita do
anjo quando estava cuidando dos seus afazeres domésticos, ajudando seus pais.
3) Ela tinha a presença do Senhor.
Em sua mensagem, que foi diretamente da parte de Deus, o anjo disse: “[...] o
Senhor é contigo [...]” (Lc 1.28b). Não temos dúvida de que Maria era uma jovem
dedicada a Deus; cremos que ela estava em comunhão com o Senhor e desenvolvia
uma vida devocional intensa e amorosa. Ao dizer que o Senhor era com ela, o
anjo declarou o que talvez ela não tivesse consciência de forma tão clara. Deus
estava do seu lado. Deus estava com ela. Maria tinha a presença do Senhor. Essa
expressão foi usada por Deus para outros instrumentos escolhidos por Ele. Deus
assim falou a Josué (Js 1.9); a Gideão (Jz 6.12), com Israel; “Não temas,
porque eu sou contigo [...]” (Is 41.10a). Por sua condição de pertencer a uma
família humilde, num lugar de pouca expressão em Israel, Maria não deve ter
sido notada por nenhuma pessoa importante. Deus, no entanto, “dá graça aos
humildes” (Tg 4.6; 1 Pe 5.5). Ele “eleva os humildes” (SI 147.6).
4) Ela era bendita entre as
mulheres. O anjo declarou ante o olhar de espanto de Maria: “[...] bendita és
tu entre as mulheres” (Lc 1.28c). Com essa expressão, o anjo quis enfatizar que,
para Deus, ela era abençoada, ditosa e feliz. No meio de tantos milhares de
mulheres em Israel, ser alcançada por tão grande deferência da parte de Deus
era algo acima de qualquer pensamento humano. Quem imaginaria que uma jovem de
Nazaré, pobre, desconhecida, de família tão humilde, que sequer os nomes de seus
pais são mencionados fosse a escolhida por Deus para ser a mulher que acolhería
em seu ventre o Salvador do mundo? Dias depois, ao visitar Isabel, sua prima,
que também estava grávida, ela ouviu-a dizer: “Bem-aventurada a que creu [...]”
(Lc 1.45a).
II - A
ELEVADA MISSÃO DE MARIA
1. Deus
Escolheu Maria para ser Mãe do Salvador
Depois das palavras do anjo, Maria
sentiu temor em seu coração por não entender como podería ela ouvir coisas tão
elevadas a seu respeito: “E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras
e considerava que saudação seria esta” (Lc 1.29). Era a reação natural de uma
moça que nunca tivera experiência tão profunda em sua vida de comunhão com
Deus. A presença de um anjo diante dela já era motivo para sentir-se abalada em
suas emoções, e, ao ouvir tal saudação, seus sentimentos foram inquietados com
profundo temor e reverência. Ao perceber o temor de Maria, o anjo procurou
acalmá-la e, ao mesmo tempo, fez uma revelação mais inquietante ainda, que a
deixou perplexa: “Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste
graça diante de Deus, e eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um
filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do
Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará
eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim” (Lc 1.30-33).
Quando José tomou conhecimento de
que Maria, mesmo sem ter coabitado com ele, estava grávida de um menino, ele,
então, como um bom homem de Deus, um homem justo, preferiu ir embora para bem
longe, secretamente, sem infamá-la. Deus, contudo, viu suas atitudes e
revelou-se a ele em sonho: “Então, José, seu marido, como era justo e a não
queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isso, eis
que, em sonho, lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi,
não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do
Espírito Santo. E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS, porque
ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.19-21). Ao escolher Maria, Deus
também incluiu José no plano da redenção do homem através da “semente da
mulher” —Jesus (Gn 3.15).
2. O Anúncio de que ela Seria Mãe de
Jesus
Certamente, se o anjo procurou
acalmar o coração de Maria, acabou deixando-a mais impactada .com sua mensagem,
pois declarou a ela que, mesmo sendo uma virgem, haveria de dar à luz um menino
a quem deveria pôr “o nome de JESUS”. E o anjo descreveu as características
daquele menino, dizendo que ele seria “grande”; seria “chamado Filho do
Altíssimo”; e seria Rei, pois Deus lhe daria “o trono de Davi, seu pai”, e
reinaria “eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim”! Era uma
mensagem muito forte aos ouvidos e ao coração da jovem simples de Nazaré. Maior
admiração e espanto perturbaram sua mente. “E disse Maria ao anjo: Como se fará
isso, visto que não conheço varão?” (Lc 1.34). A pergunta tinha plena razão de
ser feita dentro da lógica humana. Ela não era uma moça qualquer, uma promíscua
ou leviana. Mesmo sendo desposada com José, os dois nunca tinham tido qualquer
relação sexual (Mt 1.25). O plano de Deus, porém, transcende a todo o tipo de
lógica ou razão de natureza humana. Deus não faz coisas sem lógica, mas, sim,
segundo a sua própria lógica: “Porque os meus pensamentos não são os vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55.8).
Ao ouvir a exclamação de Maria sobre
o ser mãe, sendo ela uma virgem, o anjo completou as informações e explicações
que ela precisava ouvir, ainda que fossem elevadas demais para a sua
compreensão humana. O anjo esclareceu que o nascimento de Jesus não seria por
um processo biológico natural, e sim por uma ação sobrenatural do Espírito
Santo: “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e
a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo,
que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). Ao tranquilizar
Maria, o anjo ainda lhe fez saber que a mão de Deus também seria estendida de
forma miraculosa sobre Isabel, sua prima: “E eis que
também
Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para
aquela que era chamada estéril. Porque para Deus nada é impossível” (Lc
1.36,37). Diante dessas explicações do anjo, Maria demonstrou outra qualidade
que lhe era peculiar e que muito agradara a Deus — a sua submissão à vontade do
Senhor: “Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim
segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela” (Lc 1.38).
3. Maria, Mulher e Mãe
Desde a gravidez, Maria soube
comportar-se como verdadeira mãe, cheia de amor e cuidado, ao lado de José. Com
resignação e paciência, ela suportou as dificuldades que teve para dar à luz e
precisou deslocar-se de Nazaré a Belém para alistar-se com o esposo num censo
decretado pelo governo.
1) Os cuidados no nascimento de
Jesus. Ali chegando, Maria não teve onde hospedar-se, na iminência de ter o seu
filho: “E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela
havia de dar à luz. E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos,
e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lc
2.6,7). Imaginemos agora uma jovem mãe prestes a dar à luz a seu primeiro filho
ver os trabalhos de parto chegarem e não ter lugar certo para ter a criança.
José também deve ter-se preocupado, mas Deus proveu uma solução que marcou o
nascimento do Salvador do mundo. Cuidadosamente, com o auxílio de José, Maria
deu à luz a Jesus, “envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura” (v. 7),
num coxo para alimentar animais. Um tremendo contraste! Um Rei nascendo numa
manjedoura!
Enquanto as pessoas ficavam
maravilhadas com o relato dos pastores de Belém que encontraram o pequeno
infante, anunciado por um coro celestial naquele lugar tão esquisito, Maria
demonstrava a humildade e a prudência de uma verdadeira serva de Deus. Ela
guardava tudo o que ouvia em seu coração: “Mas Maria guardava todas essas
coisas, conferindo-as em seu coração” (Lc 2.19).
2) O cuidado em cumprir a Lei do
Senhor. Maria mostrou sua devoção e cuidado em cumprir a palavra de Deus,
concernente ao nascimento e primeiros dias de seu filho. Ao completar os oito
dias de nascimento da criança, Maria e José fizeram-no passar pelo doloroso
processo da circuncisão (Lc 2.21). Depois de 33 dias de purificação (Lv 12.4),
eles levaram o menino para ser apresentado para ser consagrado ao Senhor,
conforme a Lei (Êx 13.2). Naquela cerimônia, como eram muito pobres e não
podiam adquirir um cordeiro, eles levaram “um par de rolas ou dois pombinhos”
(Lc 2.22,23). Após cumprir todo o ritual previsto na Lei, Maria e José voltaram
para Nazaré.
3) Outros filhos de Maria. Depois de
ter Jesus, Maria teve outros filhos. Diz Mateus: “E, chegando à sua pátria,
ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam e diziam: Donde veio a este a
sabedoria e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama
sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, ejosé, e Simão, e Judas?” (Mt 13.54,55). A
igreja católica insiste em dizer que Maria só teve Jesus para sustentar o dogma
da virgindade perpétua de Maria. Proclamado em 649 d.C. no Concilio Ecumênico
de Latrão, houve uma declaração condenatória para quem discordasse desse dogma.
Diz o texto: “Seja condenado quem não professar, de acordo com os santos
Padres, que Maria, mãe de Deus em sentido próprio e verdadeiro, permaneceu
sempre santa, virgem e imaculada quando, em sentido próprio e verdadeiro,
concebeu do Espírito Santo, sem o concurso do sêmen de homem, e deu à luz
Aquele que é gerado por Deus Pai, antes de todos os séculos, o Verbo de Deus,
permanecendo inviolada a sua virgindade também depois do parto”.2
Essa
condenação não tem efeito algum na vida dos que professam a verdadeira fé
cristã. A argumentação sobre os irmãos de Jesus levou a igreja católica a
sustentar o dogma da imaculada conceição e sua virgindade perpétua. No tempo de
Maria, uma mulher que não tivesse filhos era considerada amaldiçoada por Deus,
que lhe ferira a madre. O simples fato de ter filhos na época de Maria era
sinal de bênção, de galardão. Diz o salmo sobre o valor da maternidade: “Quem é
como o Senhor, nosso Deus, que habita nas alturas [...];
2 Maria
Sempre Virgem. Disponível em: http://www.firanciscanos.org.br/, acesso em
23.10.2016. que faz com que a mulher estéril habite em família e seja
alegre mãe de filhos? Louvai ao Senhor!” (SI 113.5,9). “Eis que os filhos são
herança do Senhor, e o fruto do ventre, o seu galardão” (Sl 127.3).
III - O SEU
PAPEL NO PLANO DA SALVAÇÃO
1. Ela Deu à
Luz "a semente da mulher"
Sua missão ou o seu papel no plano
da salvação foi previsto por Deus no Éden, no cenário da Queda. Ali, após a
tragédia do pecado, por amor e misericórdia, Deus declarou, na repreensão a
Satanás, ainda na sua forma de serpente: “E porei inimizade entre ti e a mulher
e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Essa declaração divina é considerada o
“protoevangelho” de Deus. Em sua presciência, no princípio de tudo, Deus já via
a jovem de Nazaré como a escolhida para cumprir seus propósitos na redenção do
homem. Maria era aquela que encarnara as condições para atender aos requisitos
de Deus para receber em seu ventre o salvador do mundo. Diz Paulo: “Mas, vindo
a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de
filhos” (Gl 4.4,5). Jesus, que ofereceu o perfeito sacrifício, trouxe a
verdadeira e perfeita expiação para o que nEle crê. Desse modo, somente através
da expiação é que a ira de Deus é aplacada, livrando o pecador da condenação
eterna, que é o fim de todos aqueles que não se arrependem de suas
transgressões contra a santidade de Deus. Com a expiação, Deus pune o pecado e
livra o pecador que aceita o sacrifício de Cristo em seu lugar. Nesse plano
divino, Maria teve participação especial, acolhendo em seu ventre o Filho de
Deus, que se fez Filho do Homem, para remir todos os homens que o aceitam como
salvador.
2. Maria não
É Redentora
Nos
primórdios da Igreja, não havia qualquer menção a outro papel de Maria, a mãe
de Jesus, a não ser a elevadíssima missão de ser mãe do Salvador do Mundo. Ela
própria jamais reivindicou para si nenhuma honraria ou adoração. Maria era
bastante humilde e sábia para reconhecer seu lugar no plano salvífico de Deus.
Diante da anunciação de que seria mãe de Jesus, ela, humilde e reverentemente
deu a sua resposta de acordo com seu caráter de serva e mulher submissa à
vontade de Deus: “Disse, então, Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em
mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela” (Lc 1.38). Nos ensinos do
Novo Testamento, não existe nenhuma base para considerar Maria como redentora
ou como mediadora entre Jesus e os homens, como ensina a igreja católica. Esse
e outros ensinos não têm fundamento bíblico, porém são aceitos como dogmas, ou
proposições de fé que não admitem questionamento ou crítica. Tal posicionamento
é perigoso, pois a Bíblia diz que “[•••] por amor de vós, para que, em nós,
aprendais a não ir além do que está escrito [...]” (1 Co 4.6).
O ensino de que Maria é redentora e
mediadora provém do dogma romano, estabelecido no Concilio de Efeso, realizado
em 431 d.C. No Concilio, discutiu-se acerca da maternidade de Maria — se ela
era apenas mãe de Cristo homem ou Mãe de Deus. A conclusão dogmática foi: se
Maria era mãe de Jesus, e Jesus é Deus, logo ela era mãe de Deus. Tal conclusão
fere a revelação bíblica por várias razões. Deus é eterno. Como teria Ele mãe?
Jesus é eterno como Deus. Como poderia Maria ser mãe da condição divina de
Cristo? Maria é criatura, nasceu de um pai e de uma mãe humanos. Como poderia
ela ser mãe do Criador? Deus é imortal. Como poderia Maria, uma pessoa mortal,
dar à luz a um ser imortal? São questões que, por si só, já trazem a resposta
de que tal crença ou ensino é extrabíblico e discordante da ortodoxia bíblica.
Logo, como Maria não poderia ser
divina, não pode ser atribuído a ela o papel exclusivo de Cristo, de ser o
Redentor. Ele, e somente Ele, ofereceu-se em sacrifício pelo homem perdido. Só
Ele foi “declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação,
pela ressurreição dos mortos —Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1.4). A
declaração de Jesus é direta, incisiva e contundente sobre quem é o salvador:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus
enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o
mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já
está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo
3.16-18). Considerar Maria num papel que não lhe foi destinado por Deus é
incorrer no pecado da mariolatria, o que não condiz com o caráter humilde,
submisso e santo da mãe de Jesus.
3. Maria não
É Mediadora
Como decorrência do dogma da
imaculada conceição de Maria, considerando-a “mãe de Deus”, os católicos
romanos entendem que ela tem méritos para ser intermediária entre os homens e
Jesus. Não se pode negar a honra e os privilégios que Deus concedeu a Maria de
Nazaré para ser a mãe do Filho de Deus, encarnado em seu ventre. Em toda a
história da humanidade, ela foi a única mulher que concebeu pela intervenção do
Espírito Santo. Mas a ela, não se deve render culto ou adoração. Jesus disse:
“[...] Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás” (Mt 4.10). Nenhum ser
na terra ou no céu recebe adoração, a não ser Deus e seu filho Jesus Cristo.
João, na revelação de Patmos, quis prostrar-se aos pés do anjo, mas o
mensageiro celeste não aceitou: “E eu lancei-me a seus pés para o adorar, mas
ele disse-me: Olha, não faças tal; sou teu conservo e de teus irmãos que têm o
testemunho de Jesus; adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de
profecia” (Ap 19.10; 22.9 - grifo nosso).
Maria
tinha plena consciência do seu lugar no plano de Deus. Ela nunca arrogou para
si o título de medianeira ou mediadora, e jamais de “mãe de Deus”. Ela
reconheceu sua condição de “serva do Senhor”: “Disse, então, Maria: Eis aqui a
serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se
dela” (Lc 1.38). Maria reconhecia sua condição humana, atingida pelo pecado
original. Ela demonstrou isso em seu cântico de exaltação a Deus: “Disse,
então, Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em
Deus, meu Salvador” (Lc 1.46,47 - grifo nosso). Ela tinha a consciência de que
era pecadora e que Deus era seu Salvador.
Diante desses argumentos com base na
Bíblia, como surgiu, então, a doutrina de que Maria é mediadora entre Deus e os
homens? Com toda certeza, surgiu com base na Tradição e em ensinos
extrabíblicos que visam acrescentar à fé aquilo que não teve o respaldo na
Palavra de Deus. O dogma da Assunção de Maria diz que: “E de fé que Maria
Santíssima subiu ao céu em corpo e alma”. O Papa Pio XII, em sua bula Munificentíssimo
Deus (de Io de novembro de 1950) fala sobre a morte de Maria, num trecho, e, em
outro, proclama: “[...] quando o curso de sua vida terrena terminou, (ela) foi
levada de corpo e alma para a glória do céu”.3 Diz um texto que exalta Maria à
condição de medianeira: “Santo Bernardino afirma que, ao terceiro dia após a
morte de Maria, quando os apóstolos se reuniram ao redor de sua tumba, eles a
encontraram vazia. O corpo sagrado tinha sido levado para o Paraíso
Celestial... Maria teve que ser coroada Rainha dos Céus pelo Pai Eterno: ela
teve que ter um trono à mão direita do seu Filho... Agora, dia a dia, hora a
hora, ela está rogando por nós, obtendo graças por nós, preservando-nos do
perigo, escudando-nos contra a tentação, derramando bênçãos sobre nós”.4 Essa
crença de que Maria está no Céu e roga pelos homens tem respaldo na liturgia
católica em orações ditadas pelos ensinadores católicos. A oração mais
conhecida no catolicismo, a Ave Maria, reforça a ideia de que Maria é mediadora
ou intercessora. “Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora, e
na hora de nossa morte, amém”.
Se tal acontecimento fosse
verdadeiro, cremos que o Espírito Santo não o desprezaria e determinaria que
fosse incluído no texto bíblico. Essa versão apócrifa diz que Maria ressuscitou
ao terceiro dia como Jesus! Foi levada ao Paraíso como Jesus! E tem “um trono à
mão direita do seu Filho”! Se isso fosse verdade, não havería mais a Trindade
no céu, e sim uma “Quaternidade”, o que contraria frontalmente todo ensino da
Bíblia sobre a triunidade de Deus. Basta um ensino errado como esse para
prejudicar toda a ortodoxia bíblica e levar tantos ao erro e a heresias. Se não
bastasse o ensino herético de que Maria ressuscitou ao terceiro dia, o mesmo
Bernardino de Sena diz, numa terrível blasfêmia, subordinando até Deus à
suposta autoridade de Maria: “[...] Bernardino de Sena (também canonizado pelo
Vaticano) diz: Todas as coisas são sujeitas ao império da Virgem, até mesmo o
próprio Deus”\5 Um ensino como esse jamais honra Maria, a Mãe de Jesus como
Homem. Só pode ser de origem maligna para confundir as mentes incautas,
levando-as à mariolatria. A Bíblia é clara como a luz do dia com relação ao
relacionamento do homem com Deus, exclusivamente através de Nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. À Maria, não foi concedida a posição de deusa (para ser
mãe de Deus), nem de mediadora entre Deus ou entre Jesus e os homens.
• Jesus é o mediador perfeito. Não
há necessidade de outro mediador ou de uma mediadora. “Porque há um só Deus e
um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” (1 Tm 2.5).
• Somente Jesus tem o direito e a
autoridade para interceder pelos salvos, porque Ele, e somente Ele, morreu na
cruz para nos salvar: “Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes,
quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também
intercede por nós” (Rm 8.34).
• O único Sumo Sacerdote pelo qual
podemos chegar a Deus é Jesus: “[...] mas este, porque permanece eternamente,
tem um sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que
por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb
7.24,25).
CONCLUSÃO
Maria, como a única mulher no mundo
que foi escolhida por Deus para ser a mãe de Jesus, que se fez homem para
salvar o ser humano, merece todo respeito, honra e reconhecimento de seu papel
no plano de Deus em relação à humanidade. Na presciência de Deus, ela já era “a
semente da mulher” (Gn 3.15), que havería de ferir a cabeça da serpente, que é
o Diabo. Ela foi a única mulher que concebeu pelo Espírito Santo. Entretanto,
não há qualquer base bíblica para que lha rendamos culto, adoração ou a
consideremos mediadora entre Deus e os homens, pois esse papel é exclusivo de
Cristo Jesus, Nosso Senhor.
Fonte :
Livro o Caráterdo Cristão
Moldado pela Palavra de Deus e provado como ouro
Elinaldo Renovato de Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário