RETIRADO DO LIVRO: A supremacia de Cristo.
Comentário
de Hebreus 3.1-19
Neste capítulo, o autor de Hebreus faz um contraste
entre Jesus e Moisés. O objetivo é chamar a atenção dos leitores para a
importância e a urgência da mensagem cristã. Moisés era lembrado e reverenciado
não apenas por ter sido um grande legislador hebreu, mas também como um servo
que se sacrificou em prol do seu povo.
Ele foi um bom mordomo na casa de Deus. No Antigo
Testamento, o povo de Israel era considerado a família de Deus e foi por essa
família que Moisés sacrificou-se. Mas o que representava os esforços de Moisés,
que era um simples servo na casa de Deus, diante de Jesus, o bendito Filho de
Deus, que voluntariamente deu sua própria vida em resgate do mundo?
Como aconteceu na trajetória do êxodo, os cristãos
hebreus estavam repetindo os mesmos erros cometidos pelos seus antepassados.
Carl B. Gibbs destaca que:
"muitos dos leitores da Epístola aos Hebreus
estavam em perigo de rejeitar a Cristo e voltar ao judaísmo. Sabendo disso, o
autor que conhecia a história de Moisés muito bem fez uma comparação entre a
decisão tomada no tempo de Moisés e uma decisão atual. Quis ele despertar a
atenção dos seus leitores para o fato de que assim como os filhos de Israel se
revelaram contra Moisés, decidindo por voltar para o Egito, a mesma coisa
estaria acontecendo com os cristãos hebreus que estavam na iminência de
abandonar a Cristo e voltar ao seu antigo modo de vida (Hb 2.15). Assim
como os israelitas tiveram que peregrinar durante penosos quarenta anos, como
paga da sua desobediência, os hebreus cristãos estavam correndo o perigo de
serem cortados da videira verdadeira (Jesus Cristo) e serem lançados no fogo da
perdição eterna".
"Pelo que, irmãos santos,
participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo
sacerdote da nossa confissão" (v. 1). Tendo chegado à
conclusão de seus argumentos no final do capítulo 2 de sua epístola, o autor
dirige-se a seus leitores chamando-os de "irmãos santos". Os
lexicógrafos Liddel e Scott destacam que, no grego clássico, esse vocábulo (santos,
gr. hágios) possuía o sentido de algo devotado à divindade e era
traduzido como sagrado, santo. Era usado tanto em relação a coisas
quanto a pessoas. Quando usado em referência a pessoas, possuía o sentido de santo,
puro. No contexto do Novo
Testamento, a palavra "santos" tem o sentido de algo ou alguém que
foi separado para servir exclusivamente a Deus. Não pode ser usado ou estar a
serviço de outra coisa. Essa santificação possui dois aspectos. Ela pode ser
posicional, aquilo que, no Novo Testamento, é descrito como "estar em
Cristo" (2 Co 5.17), e também progressiva, identificando aqueles que
receberam Cristo como Salvador e, a partir daí, passam a andar nEle (CI 2.6).
Na carta aos Hebreus, aparecem ambos os sentidos.
Os crentes são exortados e lembrados que são
participantes da vocação celestial. A palavra vocação traduz o termo grego klesis,
que ocorre 11 vezes no Novo Testamento grego. Uma dessas ocorrências
aparece na primeira carta de Pedro 1.10 com o sentido de chamada, vocação, e
é usado em conjunto com ekloge, termo traduzido como eleição. "Portanto,
irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação [klesis] e eleição
[ekloge]; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis". Fomos
chamados a participar da eleição em Cristo Jesus. Fomos eleitos em Cristo e,
enquanto permanecermos nEle, estaremos seguros. Somos exortados a ser fiéis a
esse chamado, tendo sempre em mente que a necessidade de vigilância deve estar
sempre presente para evitar o decair da fé.
O autor destaca que Jesus Cristo é o Apóstolo e Sumo
Sacerdote da nossa confissão. O apóstolo era alguém enviado em uma missão,
enquanto o sacerdote atuava como um representante dos homens diante de Deus.
Jesus exerceu essas funções mais do que qualquer outra pessoa do antigo pacto.
Na sua missão salvífica, Ele foi constituído por Deus como o grande Apóstolo e
Sumo Sacerdote da nossa salvação. A palavra "confissão" (gr. homologia)
significa, também, concordância. Aqui, é usado no sentido da profissão de
fé, isto é, a fé cristã abraçada pelos crentes hebreus.3 John Wesley
(1703-1791) traduziu a palavra apóstolo aqui como "o mensageiro de Deus,
que pleiteia a causa de Deus conosco", e o sumo sacerdote como aquele que
"defende nossa causa com Deus". Wesley lembra que ambos estão
contidos na palavra "mediador" e que o autor "compara Cristo, o
Apóstolo, com Moisés; e o Sacerdote, com Arão. Ambos os ofícios que Moisés e
Arão exerciam, e Cristo carregou-os juntos e de forma muito mais eficaz".
"Sendo fiel ao que o
constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa" (v. 2). O
versículo 2 é uma referência a Números 12.7. Nesse contexto, o termo
"casa" também significa família e é aplicada em relação ao povo de
Deus na antiga aliança. O autor lembra que Moisés foi um mordomo fiel na casa
de Deus durante a peregrinação no deserto e usa essa metáfora como uma
analogia da missão de Jesus, o Filho de Deus. Jesus, assim como Moisés, também
foi fiel sobre a casa de Deus - a Igreja -, mas as semelhanças entre Jesus e
Moisés param por aí porque Jesus em tudo é superior ao grande legislador
hebreu.
"Porque ele é tido por digno de
tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele
que a edificou" (v. 3).
Adam Clarke destaca que:
"não há dúvida de que um homem que constrói uma
casa para sua comodidade é mais honrável que a casa mesma; mas a casa aqui se
refere à Igreja de Deus. Essa igreja, aqui denominada casa, ou
"família", está edificada por Cristo; portanto, Ele deve ser maior
que Moisés, que era somente um membro e oficial dessa igreja".
"Porque toda casa é edificada por
alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus" (v.
4). Tomando o termo "casa" como sinônimo de "família", o
autor mostra que o homem, na sua função gregária, constrói famílias,
comunidades, etc., mas, na verdade, Deus que é o cabeça de toda a raça.
"E, na verdade, Moisés foi fiel em
toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de
anunciar" (v. 5). O autor novamente volta à figura
de Moisés. O argumento do autor é simples e objetivo: Moisés foi um servo
dedicado na casa de Deus. Ele procurou seguir com diligência e fazer com que o
povo seguisse as diretrizes da Lei de Deus. Todavia, Moisés era um coadjuvante
onde Jesus seria o ator principal. Moisés era uma sombra, Jesus é a realidade.
O versículo 6 mostra a Igreja como a casa de Deus hoje.
"Mas Cristo, como Filho, sobre a
sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a
confiança e a glória da esperança até ao fim" (v.
6). Esse versículo é paralelo a 1 Tm 3.15: "Mas, se tardar, para que
saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna
e firmeza da verdade". A Igreja de Deus não é um prédio nem
qualquer estrutura arquitetônica, mas, sim, o povo comprado com o sangue de
Jesus Cristo. Quem faz parte da Igreja precisa demonstrar confiança a fim de
poder ter esperança até o fim. O autor tem seu foco no futuro e, ao usar os
termos parresia (confiança) e elpis (esperança), ele quer chamar
a atenção para esse fato. Ele vê a vida cristã dentro de um contexto
escatológico, não imediatista. Donald A. Hegner comenta que:
"a palavra confiança (parresia) ocorre
quatro vezes em Hebreus, duas vezes em referência ao culto (4.16; 10.19) e
outras duas vezes quanto ao modo de enfrentar as dificuldades na vida (aqui e
em 10.35). A palavra esperança (elpis) expressa a expectativa futura do
autor em contraste com a 'escatologia realizada' em Cristo. Aqui, assim como em
outras passagens do Novo Testamento, a palavra tem conotações de 'expectativa
confiante"'.
"Portanto, como diz o Espírito
Santo, se ouvirdes hoje a sua voz" (v. 7). O versículo 7
introduz uma citação do Salmo 95.7. O autor toma essas palavras do salmista não
apenas como uma advertência para os dias passados, mas também para os seus
dias. Isso só era possível graças à inspiração do Espírito Santo sobre as
letras sagradas. O autor não queria que aquilo que aconteceu com a geração do
êxodo fosse repetido com seus leitores.
"Não endureçais o vosso coração,
como na provocação, no dia da tentação no deserto" (v.
8). Charles F. Pfeiffer destaca que "ainda que Moisés tenha sido fiel a
Deus, a geração da qual ele formava parte pereceu no deserto. Esse fato serviu
como advertência à geração que escutou o evangelho de Cristo e esteve em perigo
de rejeitá-lo".7 O autor de Hebreus mostra claramente nesse texto que é a
própria pessoa que endurece (gr. sklerynô) o seu coração. Essa mesma
palavra ocorre em Romanos 9.18, dizendo que Deus "endurece a quem
quer". Esse texto de Romanos 9.18, juntamente com o da carta aos Hebreus,
forma um paralelo com os textos de Atos 19.9 e 7.51, onde os judeus
"endureceram" seus corações para não aceitar a Palavra de Deus. Em
ambos os textos, a palavra "endurecer" procede da mesma raiz grega skleros
(endurecer), que, por sua vez, dá origem à palavra portuguesa esclerose.
O contexto deixa claro que Deus só endurece quem já está endurecido. Noutras
palavras, quem resiste à sua Palavra será endurecido por ela.
"Onde vossos pais me tentaram, me
provaram e viram, por quarenta anos, as minhas obras" (v.
9). O versículo 9 explica as razões desse endurecimento. O autor tem em mente a
rota do êxodo, que cobriu um período de 40 anos. Nessa trajetória, os
israelitas presenciaram milagres, sinais e maravilhas, mas não se sentiram
convencidos por eles. A tradução do expositor Philip Edgcumbe Hughes
(1915-1990) expressa melhor o sentido do texto: "fui provocado durante
quarenta anos".8 Essa provocação produziu endurecimento, e a desobediência
contumaz provocou a ira de Deus.
"Por isso, me indignei contra esta
geração e disse: Estes sempre erram em seu coração e não conheceram os meus
caminhos" (v. 10). Como foi mostrado, essa
desobediência repetitiva provocou a ira divina. A consequência dessa
desobediência e rebeldia foi a privação de entrarem na Terra Prometida.
"Assim, jurei na minha ira que não
entrarão no meu repouso" (v. 11). O autor faz um
paralelo entre a desobediência dos antigos hebreus com aqueles seus dias. Adam
Clarke destacou com muita propriedade:
"Os desobedientes israelitas sirvam de
advertência; foram resgatados do cativeiro e tiveram a mais completa promessa
de uma terra de prosperidade e descanso. Por causa da desobediência, não a
obtiveram e caíram no deserto. Vocês foram resgatados da escravidão do pecado e
tem a mais benévola esperança de herança entre os santos na luz. Pela
incredulidade e desobediência, eles perderam o seu descanso; pelas mesmas
coisas vocês também podem perdê-lo".
"Vede, irmãos, que nunca haja em
qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo" (v.
12). A advertência é intensificada pela exortação do autor. Mais uma vez, ele
lembra que a falta de vigilância somada com a negligência e desobediência pode
conduzir ao fracasso espiritual. Ele adverte-os do perigo de apostatar e cair
da fé. Grant R. Osborne destaca que, no versículo 12, o autor começa com o verbo grego blepete
("tome cuidado, cuide-se"), que, no Novo Testamento, é usado para
dar o grito de alerta sobre a vigilância e obediência espiritual. Uma
chamada à obediência aos mandamentos de Deus. Nesse contexto negativo, também
significa "cuidado" com o mesmo coração "mal"
e incrédulo que Israel mostrou no deserto. Ele observa que incredulidade e
endurecimento são sinônimos aqui.
"No versículo 12, é um genitivo descritivo que
significa um 'coração incrédulo' que se toma "mal"
(poneria) ou cheio de iniquidade (v. 12,19), que é interpretado como 'seus
corações estão sempre errados' no versículo 1Oh. Essa incredulidade também os
leva a 'se afastarem do Deus vivo' (en to aposténai apoTheou zontos), estendendo
a imagem até 'eles não conheceram os meus caminhos' no versículo 1Ob. Esse é o
cerne da questão, preparando-se para o pleno uso dessa imagem da apostasia em Hb
6.6 (onde será discutido mais detalhadamente)".
Osborne ainda observa que esse é um caminhar
da incredulidade, do mal, da queda, e que isso é, obviamente, um aviso sério,
com con sequências terríveis.
O termo grego apostenai (apartar), usado aqui
em Hebreus 3.12, é o infinitivo aoristo do verbo aphistemi, que ocorre
14 vezes no Novo Testamento grego, significando: cair, deixar, afastar.13 É
desse verbo que se origina a palavra apostasia. A apostasia é
definida como "a rejeição deliberada de Cristo e de seus ensinamentos por
parte de um cristão (Hb 10.26-29; Jo 15.22)". 14 (Veja um estudo completo
dessa palavra no Apêndice, posto logo após o capítulo 14 deste livro). A Bíblia
de Estudo Harper Collins destaca que:
"a admoestação para ser cuidadoso (ver
também 12.25) é comum no NT. Para o perigo de desviar-se, ou apostatar,
veja Nm 14.9, que trata da geração do deserto, e Mt 24.10-12. Um jogo de
palavras gregas ligando o desviar-se (apostenai) e o coração incrédulo (apistias)".
Como ficará demonstrado posteriormente, há uma
relação da queda da fé aqui retratada com aquela sobre a qual o autor voltará a
tratar no capítulo 6.4-6 (veja apêndice no final deste livro). Adam Clarke
observa oportunamente que a nossa participação na glória depende de nossa
firmeza na fé até o final de nossa carreira cristã. Jesus alertou que as coisas más procedem de
dentro do coração do homem: "Porque do coração procedem os maus
pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e
blasfêmias" (Mt 15.19). É por isso que os cristãos necessitam de
vigilância e também de estimular uns aos outros.
"Antes, exortai-vos uns aos outros
todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para
que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado" (v. 13). Aqui, o
sentido do texto é o de que os cristãos não permitam que seus corações sejam
seduzidos pelo pecado. O autor usa o termo grego parakaleo, isto é,
chamar à parte para consolar, para se referir à necessidade do encorajamento
contínuo. William Barclay (1907-1978) observa que esse mesmo termo era usado
por um militar para estimular as suas tropas.17 Joseph Benson observa que
alguns passos devem ser tomados para se pôr em prática as palavras do autor de
hebreus:
(1) Uma profunda preocupação com a salvação de cada
um e o crescimento na graça; (2) Sabedoria e entendimento sobre as coisas
divinas; (3) Cuidado para que somente palavras de verdade e sobriedade sejam
ditas, pois somente essas palavras serão recebidas como tendo autoridade e
alcançarão os fins desejados; (4) Evitar aquelas expressões rudes e severas que
expressam indelicadeza; em vez disso, usar palavras com brandura, compaixão,
ternura e amor, pelo menos para aqueles que estão dispostos a reconhecer a
vontade de Deus; (5) Evitar falar com leviandade e sempre falar com seriedade;
(6) Prestar atenção ao tempo, lugar, pessoas e ocasiões; (7) Ser exemplo para
as pessoas exortadas; (8) Devemos ser incansáveis nesse dever e exortar um ao
outro diariamente. Não somente em reuniões feitas para isso, mas também em todo
e qualquer lugar sempre que estivermos em companhia um do outro.
Essas exortações tomam-se relevantes porque, para o
autor, o cristão tomou-se um participante de Cristo.
"Porque nos tornamos participantes
de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao
fim" (v. 14). O termo grego gnomai, de onde deriva
gegonamen, usado aqui pelo autor, ocorre 661 vezes no Novo Testamento
grego. Aqui nesse texto, ele encontra-se no tempo perfeito, e o seu
sentido é que os cristãos tornaram-se participantes de Cristo no passado
(quando o receberam como Salvador) e continuavam no presente tempo como
participantes dEle. Isso, no entanto, só teria valor se eles continuassem
firmados em Cristo até o fim. O autor
repete a exortação anteriormente lembrada por ele no versículo 8.
"Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes
a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provocação" (v.
15). Samuel Pérez Millos observa que :
"com toda probabilidade, como se disse antes,
na mente do salmista (Sl 95.7) estava o sucesso ocorrido em Cades-Barneia, onde
o povo não creu que Deus havia-o enviado para ocupar Canaã, duvidando de seu
poder para dar-lhes vitória sobre os povos que ocupavam a terra (Nm 14.1ss). Deus
estabeleceu uma ação judicial sobre o povo rebelde, de modo que nenhum dos
homens maiores de 20 anos entrariam na terra por haverem murmurado contra Deus
(Nm 14.27,29). A advertência é solene, já que Deus pode aplicar aos crentes
rebeldes uma disciplina similar a que aplicou aos israelitas que não quiseram
obedecer a sua voz".
"Porque, havendo-a alguns ouvido, o
provocaram; mas não todos os que saíram do Egito por meio de Moisés" (v.
16). O versículo 16 distingue os desobedientes dos obedientes. O livro de
Números narra que, quando chegou ao Sinai, Moisés precisou fazer a contagem dos
israelitas de 20 anos de idade para cima (Nm 1.1-3). Os dados, não incluindo os
levitas, chegaram a 603.550 homens (Nm 1.46). O versículo 17 mostra que esses
homens, excetuando Calebe e Josué, estavam incluídos na maldição de
Deus, que os privava de entrar na Terra Prometida (Nm 14.29,30).
"Mas com quem se indignou por
quarenta anos? Não foi, porventura, com os que pecaram, cujos corpos caíram no
deserto?" (v. 17). Essa geração peregrinou pelo
deserto até ser consumida (Nm 14.33,34).
"E a quem jurou que não entrariam
no seu repouso, senão aos que foram desobedientes?" (v.
18). Quando essa geração chegou à fronteira da Terra Prometida, Moisés
novamente fez a recontagem do povo (Nm 26.1,2,63). Fritz Laubach observa que
ali foi colocado o ponto final nessa triste história do povo de Deus, concluída
pelas palavras do cronista sagrado: "E entre estes nenhum houve dos que
foram contados por Moisés e Arão, o sacerdote, quando contaram aos filhos de
Israel no deserto do Sinai. Porque o SENHOR dissera deles que certamente
morreriam no deserto; e nenhum deles ficou, senão Calebe, filho de Jefoné, e
Josué, filho de Num" (Nm 26.64,65).21
"E vemos que não
puderam entrar por causa da sua incredulidade" (v.
19). A advertência encerra-se neste capítulo com as palavras desse versículo. O
autor mostra o perigo da desobediência e rebelião contra Deus. Se não puderam
entrar na Terra Prometida, no descanso que Deus preparou, a culpa não era do
Senhor. Os cristãos hebreus deveriam tomar isso definitivamente como exemplo -
o pecado pode, sim, impedir o cristão de entrar no repouso de Deus. Adam Clarke
destaca que não foi um decreto de Deus que os impediu; não foi porque lhes
faltavam as forças para fazê-lo; não foi porque lhes faltou o conselho divino
instruindo-os como deveriam fazer. Tudo isso eles tinham em abundância; pelo
que escolheram pecar e não crer. A incredulidade produz desobediência, e essa,
por sua vez, dureza de coração e cegueira mental; tudo isso lhes atraiu o juízo
de Deus, e a ira caiu sobre todos eles até o último.
RETIRADO DO
LIVRO: A supremacia de Cristo.
Fé,
esperança e ânimo na carta aos Hebreus.
José
Gonçalves
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