Não
obstante outros antes dele ostentassem uma verdadeira fé em Deus e a
demonstrassem por meio de suas orações e pela construção de altares, Abraão é
que veio a ser chamado de “o pai da fé”. Jamais vemos nas Escrituras os que são
da “fé”, ou “fiéis”, identificados como filhos de Adão, Sete, Enoque ou Noé.
Invariavelmente, eles são identificados (por si mesmos ou por outros) como
“filhos de Abraão” (G1 3.6-9)- Os israelitas que oravam a Deus, gerações após
Abraão, comumente dirigiam-se ao Senhor como “o Deus de Abraão”.
As escavações arqueológicas feitas em Ur dos
Caldeus mostram que Abrão (Abraão) viveu seus primeiros anos numa cultura muito
idólatra e materialista. O nome “Ur” pode derivar-se de uma raiz que significa
“luz”. Esta cidade era o centro da adoração à deusa lua, Sin (também chamada
Nana pelos antigos sumérios). Sendo este o caso, aumenta-se o mérito de Abraão,
que se tornou tão devoto do verdadeiro Deus. A linhagem de Abraão, em Génesis,
é traçada de volta a Sem (cap. 11) e daí a Sete (cap. 5). É possível que a fé
de Abraão tenha sido o fruto já maduro da fé de Sete, quando o povo começou a
“invocar o nome do Senhor” (Gn 4.26).
Por que esse patriarca, isoladamente e com uma
herança relativamente dúbia, ergueu-se a tão elevada estatura espiritual, cuja
influência permanece até hoje? Por duas razões evidentes: 1) sua obediência à
Palavra do Senhor; e 2) sua edificação de altares para adoração pública, a fim
de que todos pudessem invocar o nome do Senhor. Essas duas evidências de uma
inabalável crença em Deus fizeram de Abraão um gigante na fé e o pai dos fiéis.
O
significado de um altar Note como Abraão se dedicava à atividade de levantar
altares ao Senhor: E apareceu o Senhor a Abrão e disse: À tua semente darei
esta terra. E edificou ali um altar ao Senhor que lhe aparecera. E moveu-se
dali para a montanha à banda do oriente de Betei e armou a sua tenda, tendo
Betei ao ocidente e Ai ao oriente; e edificou ali um altar ao Senhor e invocou
o nome do Senhor (Gn 12.7,8). E fez as suas jornadas do Sul até Betei, até ao
lugar onde, ao princípio, estivera a sua tenda, entre Betei e Ai; até ao lugar
do altar que, dantes, ali tinha feito; e aí Abrão invocou ali o nome do Senhor
(Gn 13.3,4).
Cada passo na edificação de um altar
prevê uma reunião entre a humanidade e a deidade. Veja que Abraão “invocou o
nome do Senhor” no local cio altar, indicando que ele estava consciente de que,
ao edificá-lo, preparava-se para uma relação especial com Deus. Abraão também
edificou outro altar em Hebrom (Gn 13-18), e ainda um outro, o mais memorável,
no monte Moriá: “E vieram ao lugar que Deus lhes dissera, e edificou Abraão ali
um altar, e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isaque, seu filho, e deitou-o sobre
o altar em cima da lenha” (Gn 22.9).
Ouvir a palavra do Senhor, adorar num
altar e mostrar fé no Deus Todo-poderoso são elementos inseparáveis nos relatos
do Antigo Testamento. Pode haver altares físicos sem uma fé correspondente no
sobrenatural, mas é duvidoso que haja fé genuína onde não se ouve a Palavra do
Senhor (cf. Rm 10.17) nem se reserva um local de encontro com Deus.
Abraão foi identificado por Deus como
“meu amigo” (Is 41.8). A amizade indica relação e comunhão íntimas. Estudando a
vida desse notabilíssimo patriarca, ficamos admirados diante das evidências de
uma contínua intimidade com Deus. Veja a interação entre Deus e Abraão, nesta
passagem:
Depois destas coisas veio a palavra do
Senhor a Abrão, em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu
grandíssimo galardão. Então, disse Abrão: Senhor Jeová, que me hás de dar? Pois
ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer. Disse mais
Abrão: Eis que não me tens dado semente, e eis que um nascido na minha casa
será o meu herdeiro. E eis que veio a palavra do Senhor a ele, dizendo: Este
não será o teu herdeiro; mas aquele que de ti será gerado, esse será o teu
herdeiro (Gn 15.1-4). Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos,
apareceu o Senhor a Abrão e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-poderoso; anda em
minha presença e sê perfeito. E porei o meu concerto entre mim e ti e te
multiplicarei grandissimamente. Então, caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou
Deus com ele, dizendo: Quanto a mim, eis o meu concerto contigo é... (Gn
17.1-4)
Atente para os sinais de comunhão entre
Abraão e Deus, em alguns versículos do capítulo 17 de Génesis: “Disse Deus mais
a Abraão...” (v. 15) “E disse Abraão a Deus...” (v. 18) “E disse Deus...” (v.
19) “E acabou de falar com ele e subiu Deus de Abraão” (v. 22)
Foi por causa de sua intimidade com
Deus que Abraão fez aquela apaixonada intercessão em favor de Sodoma e Gomorra.
Ele mantinha uma relação tão vital com Deus, que este compartilhou com Abraão
seu próprio coração no tocante àquelas duas cidades: “E disse o Senhor:
Ocultarei eu a Abraão o que faço?” (Gn 18.17) E por causa dessa intimidade,
Abraão tornou-se um poderoso intercessor (cf. Gn 18.23-33). Eis como foi
lançada a prática da intercessão, posteriormente reforçada pelas instruções do
Novo Testamento. Tais raízes tornam esse ministério uma responsabilidade dos
servos (e amigos) de Deus até os dias de hoje.
As intercessões de Abraão, embora não
tenham impedido que a ira de Deus caísse sobre aquelas cidades extremamente
ímpias, serviram para livrar Ló e seus familiares: “E aconteceu que, destruindo
Deus as cidades da campina, Deus se lembrou de Abraão e tirou a Ló do meio da
destruição, derribando aquelas cidades em que Ló habitara” (Gn 19-29). Para
nós, a lição é a seguinte: toda intercessão significativa só pode se originar
de um coração que esteja em perfeita intimidade com os sentimentos e propósitos
do coração de Deus.
Quando Abraão não orou
Embora Abraão tenha sido o paradigma de
uma pessoa cheia de fé, ainda assim trazia a carga de sua própria humanidade.
Não obstante ter sido elevado a grandes alturas em seu relacionamento com Deus,
ainda assim mostrou-se vulnerável ao fracasso, quando não orava. Mais de uma
vez Abraão falhou porque presumiu e dependeu de seus próprios recursos. Com sua
esposa, ele tentou cumprir a promessa de Deus através de meios humanos: “E
disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me tem impedido de gerar; entra, pois, à
minha serva, porventura, terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai” (Gn
16.2). O resultado desse episódio não foi apenas o nascimento de um filho,
Ismael, mas a instauração de uma linhagem que, com frequência, seria um espinho
nas ilhargas de Israel (cf. G1 4.22-29).
Novamente, em seu encontro com
Abimeleque, rei de Gerar (Gn 20), Abraão agiu de acordo com seu próprio
conselho; pensou, mas não orou. Temendo por sua vida, ele resolveu dizer que
Sara era sua irmã. Quando o logro se tornou conhecido, Abraão racionalizou suas
ações. Tentou se explicar, mas nada justifica o agir à parte de Deus-. “Porque
eu dizia comigo: Certamente não há temor de Deus neste lugar, e eles me matarão
por amor da minha mulher” (Gn 20.11).
Por sua insensatez e fracasso, tão
contrários ao caráter de um campeão da fé, Abraão criou uma perigosa circunstância
para Abimeleque: “Deus, porém, veio a Abimeleque em sonhos de noite e
disse-lhe: Eis que morto és por causa da mulher que tomaste; porque ela está
casada com marido” (Gn 20.3)-
Não podemos sondar a mente de Deus e
nem compreender por que tratou tão duramente o rei que, sem querer, tornara-se
vítima do logro de Abraão. Mas pelo menos deveríamos aprender que a falta de
oração pode nos levar a uma escolha errada, introduzindo-nos num curso de ação
que infligirá perdas e danos, não somente a nós, mas também a pessoas inocentes
à nossa volta.
Apesar de Abraão ter fracassado por sua
própria negligência quanto à oração, ele não permitiu que o fracasso
desencorajasse outras orações. Pelo contrário, aproveitou-se da oportunidade
para descobrir uma nova dimensão de oração — a petição por cura — e achou os
ouvidos de Deus abertos: “E orou Abraão a Deus, e sarou Deus a Abimeleque, e a
sua mulher, e as suas servas, de maneira que tiveram filhos; porque o Senhor
havia fechado totalmente todas as madres da casa de Abimeleque, por causa de
Sara, mulher de Abraão” (Gn 20.17,18).
Extraído do
livro Teologia bíblica da oração.
Robert L. Brandt e Zenas
J. Bicket
Todos os direitos
reservados. Copyright © 2007 para a língua portuguesa da Casa
Publicadora das
Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Título do original em inglês: The Spirit Help Us
Pray
Logion Press, Springfield, Missouri
Primeira edição em
inglês: 1993
Tradução: João
Marques Bentes
Revisão: Gleyce
Duque
Editoração: Flamir
Ambrósio
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