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O tema “família” é vasto e complexo porque abrange a diversas áreas do saber humano. No contexto religioso, envolve a área bíblica, teológica e doutrinária; no campo social, envolve sociologia, antropologia, psicologia e o campo jurídico. Desde a Antiguidade, os judeus tinham uma legislação específica sobre o assunto, a interpretação dos diversos preceitos sobre da Lei de Moisés relativos à família na sua amplitude. É a terceira parte da Mishná, intitulada, Nashim, “mulheres”, que legisla sobre noivado, casamento e divórcio. A Mishná é a segunda parte do Talmude, antiga literatura judaica, a Lei Oral identificada no Novo Testamento como a “tradição dos anciãos” ou “dos antigos” (Mt 15.2; Mc 7.3).
Muitas obras sobre o tema aqui em tela
já foram publicadas com grande sucesso, trazendo bênçãos para as igrejas, e
vários seminários sobre a família são promovidos pelas igrejas, e têm sido uma
bênção. Não se pretende aqui repetir o que os outros já disseram com clareza e
muita propriedade, nos seus escritos e seminários. O enfoque do presente estudo
se restringe a alguns pontos já conhecidos dos crentes, como reiterar e
reafirmar alguns aspectos da tradição cristã com respeito ao conceito de
família, reiterando os princípios do casamento estabelecido por Deus na criação:
“Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e
serão ambos uma carne” (Gn 2.24), da monogamia, da heterossexualidade e de sua
indissolubilidade.
A
Igreja, como um povo especial, zeloso e de boas obras, está muito distante de
tais práticas, e os crentes em Jesus jamais terão formadores de opinião como
referência.
O
CONCEITO DE FAMÍLIA
Os dois principais termos hebraicos
para “família” no Antigo , â, “família, clã, parentes”, e bayît. Testamento são
mishpah “casa, lar, templo, família”. Mas o termo “família” na Bíblia tem
significado amplo; pode indicar o lar, o clã, a tribo e a própria nação, como
também uma dinastia e até a Igreja. Mas o sentido que nos interessa aqui é
família composta de pai e mãe ou pai, mãe e filhos, a família nuclear (Gn 35.2;
Hb 11.7).
No entanto, a família nuclear é também
identificada como “casa” nas Escrituras Sagradas: “Eu e a minha casa serviremos
ao SENHOR” (Js 24.15); “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua
casa” (At 16.31). Está claro em Josué 7.14-18, no â. O significado de mishpah
caso do pecado de Acã, na ordem para determinar por sorteio o ( â. shebet),
depois a família [mishpah culpado, primeiro a tribo [ em seguida a casa [bayît]
(vv. 14, 17, 18).
Essa mesma ordem reaparece mais
adiante: “Fazendo chegar a tribo de Benjamim pelas suas famílias, tomou-se a
família de Matri; e dela tomou Saul, filho de Quis” (1 Sm 10.21); “Não sou eu o
menor da tribo de Benjamin? E a minha família, a menor de todas as famílias da
tribo de Benjamim?” (1 Sm 9.21). A tribo é a shebet de â de Matri, de onde a
família ou clã é a mishpah Benjamim, procedeu o pai de Saul, Quis. A ordem é a
seguinte: tribo, clã e família nuclear.
O clã é a família estendida. A palavra bayît
indica geralmente os moradores de uma única casa, ao passo que é uma subdivisão
da tribo. â. mishpah A família no contexto deste capítulo é a nuclear, composta
de pai, mãe e filhos (Sl 128.1-4). Nem todos os casais têm filhos, ou seja, não
é sempre que a família tem filhos. Abraão e Sara só tiveram Isaque já avançados
em idade e em cumprimento das promessas de Deus (Gn 18.9-15); da mesma forma,
Zacarias e Isabel só tiveram João Batista na velhice (Lc 1.5-25). O termo
“família” expressa em si mesmo a ideia de que o homem não foi criado para viver
só, isolado e na solidão, mas em amor, companheirismo e responsabilidade de
pacto (Gn 2.18).13 Família é um conceito de pacto, que une um homem e uma
mulher (Ml 2.14). O casamento é o início de uma nova família, um novo lar, uma
nova vida que começa como realização dos sonhos dos noivos.
O casamento é uma instituição
estabelecida pelo Criador (Gn 2.18-24) e sancionada pelo Senhor Jesus Cristo,
com sua presença nas bodas de Caná da Galileia (Jo 2.1-6). Consiste na união de
um homem e uma mulher que se amam e se respeitam.
É
a melhor e a mais sólida estrutura social que Deus estabeleceu, com três
propósitos, a saber: a) para que o casal edifique um altar de adoração a Deus
em seu lar; b) para a felicidade humana; c) para conservar a raça humana sobre
a terra – a procriação. O apóstolo Paulo ressaltou a pureza e a santidade do
ato conjugal ao compará-lo com a união mística entre Cristo e a sua Igreja (2
Co 11.2; Ef 5.22-33).
A família não é invenção humana; ela é
sagrada e foi instituída por Deus na criação: “E criou Deus o homem à sua
imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e
Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1.27, 28)
e ratificada e sanificada pelo Senhor Jesus com a sua presença no casamento de
Caná da Galileia (Jo 2.111).
As palavras “macho e fêmea os criou”
mostram que o homem, ’adam, em hebraico aqui, significa ser humano. A recente
edição da Bíblia, Nova Versão Transformadora (NVT), traduz assim o v. 27:
“Assim, Deus os criou seres humanos à sua própria imagem, à imagem de Deus os
criou; homem e mulher os criou”, explicando no rodapé o significado ’adam.
Sem
dúvida, o relato da criação aqui remete à igualdade ontológica de ambos (Gl
3.28), pois ambos são portadores da imagem divina; a diferença é em sexualidade
(1 Pe 3.7).
A Bíblia ilustra essa união entre um
homem e uma mulher com a comunhão de Deus com seu povo Israel (Is 54.5) e de
Cristo com a sua Igreja (2 Co 11.2; Ef 5.22-33). Deus instituiu a família para
a procriação do gênero humano sobre a terra, para a multiplicação da espécie
humana: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra”, e para o bem-estar
espiritual, emocional e físico, o companheirismo e a felicidade do casal, isto
é, do homem e da mulher (Gn 2.18-25). Ao unir esse casal, Adão e Eva, estava
Deus instituindo o casamento. É de Myer Pearlman essa declaração: “A natureza
dessa união foi instituída por Deus com o primeiro casal humano, Adão e Eva, lá
no jardim do Éden; seu propósito foi proporcionar felicidade à raça humana.
Desde então os seres humanos a têm praticado, e, para dar-lhe consistência, a
têm legalizado. Pode dizer-se que o matrimônio é o contrato legal de uma união
espiritual” (PEARLMAN, 1987, pp. 6, 7).
A família é um dos temas importante da
Bíblia. A atenção que Deus dá a família não deve passar despercebida. A família
consta desde o relato da criação. O Gênesis é o livro das origens de todas as
coisas: dos céus e da terra, do homem e do pecado, do sacrifício e da promessa
de redenção, do casamento e da família, do homicídio, das nações, das línguas e
da nação de Israel. A historicidade dos seus três primeiros capítulos é
confirmada em toda a Bíblia. Há no Decálogo pelo menos três preceitos em defesa
da família – o quinto: “Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12; Dt 5.16), o
sétimo: “Não adulterarás” (Êx 20.14; Dt 5.18), e
o
último: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Êx 20.17; Dt 5.21). A Lei de
Moisés dispõe de diversos preceitos para proteger a família. O Antigo
Testamento traz diversos conselhos e orientações para a harmonia e a alegria no
lar. O Novo Testamento não é diferente. Quando o Senhor Jesus Cristo trata do
assunto do divórcio, condenando o adultério e toda a formação de prostituição,
e mencionando os preceitos do Decálogo, está na mesma linha do Antigo
Testamento. O apóstolo Paulo é mais específico no aconselhamento de casais e no
relacionamento de pais e filhos (1 Co 7.1-40; Ef 5.22-33; 6.1-4; Cl 3.18-21; 1
Tm 2.9-15; 3.4, 5, 8-16; Tt 2.1-8). O apóstolo Pedro também aconselha os casais
(1 Pe 3.1-7).
O ensino transmitido pelas famílias
cristãs aos filhos é uma contribuição importante na construção de uma sociedade
justa e solidária. Mas o mundo espera uma solidariedade sem Deus, e paz e
justiça sem Jesus; o modelo mundano é uma afronta a Deus, por isso os expoentes
ateus e incrédulos veem na família uma ameaça e assim procuram eliminá-la com
suas leis. Tudo o que é de Deus ou provém dele é odiado pelo reino das trevas.
Jesus disse: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me
aborreceu a mim” (Jo 15.18). Daí esse desprezo pela família cristã.
PRINCÍPIOS
BÁSICOS
São três os princípios básicos
originais do casamento estabelecido pelo Criador: “Portanto, deixará o varão o
seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn
2.24). O fato de o homem deixar pai e mãe e “apegar-se-á à sua mulher” remete a
dois princípios fundamentais: a heterossexualidade, pois o casamento é entre um
homem e uma mulher; e a monogamia, porque está escrito “à sua mulher” e não “às
suas mulheres”. O homem deve se casar com uma só mulher.
O
terceiro princípio original é o da indissolubilidade, “e serão ambos uma
carne”.
A heterossexualidade é o relacionamento
conjugal com aprovação divina dentro do casamento. Quando Deus disse:
“Frutificai,
e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 1. 28), estava se referindo ao casal
“macho e fêmea” (v. 27). Isso diz respeito à procriação, que só é possível pelo
ato conjugal entre um homem e uma mulher. Com o avanço dos recursos
científicos, é possível o invento de muitas coisas, mas esses princípios são
invioláveis, a heterossexualidade e dentro do casamento, numa relação sexual
responsável. Ninguém tem o direito de fazer o que quiser com o seu corpo, pois
está escrito que ele pertence a Deus e não a nós mesmos (1 Co 6.20; 7.23), e
nem a outrem sem responsabilidade.
A
ideia gnóstica é de que o corpo é por natureza mau, mas não danifica a pureza
do espírito; assim pode-se fazer dele o que quiser é completamente falsa, pois
Deus veio ao mundo num corpo (Jo 1.14; Hb 10.5), o nosso corpo é a morada de
Deus e do Espírito Santo (1 Co 3.16; 6.19) e Deus irá ressuscitá-lo (1 Co
15.42). Assim, o corpo deve ser conservado em santidade (1 Ts 5.23). A heterossexualidade
é pecado fora do casamento; isso se chama adultério ou fornicação.
A prática homossexual é condenada de
ponta a ponta na Bíblia (Gn 19.4, 5; Lv 18.22; 20.13; Jz 19.22; Rm 1.24-28; 1
Co 6.10; 1 Tm 1.9, 10; Jd 7); mesmo assim, há um esforço concentrado de
eliminar essa condenação exarada no Livro de Deus, até mesmo por alguns
“teólogos”. Eles podem até convencer as Nações Unidas, a Organização Mundial de
Saúde, os parlamentares do mundo inteiro, todos os governantes da terra, mas
jamais poderão convencer o Deus do céu, autor da Bíblia.
A monogamia é o sistema que estabelece
o casamento de um homem com uma única mulher e vice-versa, estabelecido por
Deus na criação: “apegar-se-á à sua mulher” (Gn 2.24). O texto não diz “às suas
mulheres”; este é o princípio original. O vocábulo vem de dois termos gregos:
monós, “único”, e gamos, “casamento”. O sistema monogâmico é o oposto da
poligamia e da poliandria.14 O modelo divino original é resgatado no
cristianismo, a começar pelo Senhor Jesus ao ratificar a instituição no relato
da criação (Mt 19.4-6). O apóstolo Paulo também reafirma esse princípio: “Mas,
por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha
o seu próprio marido” (1 Co 7.2). E, mais adiante, nos requisitos para os
presbíteros, cujo ensino vale para todos os cristãos, o apóstolo afirma:
“marido de uma só mulher” (I Tm 3.2). Havia no começo do cristianismo muitas
famílias polígamas, provenientes tanto dos judeus como dos gentios. Eram
situações que não podiam ser facilmente resolvidas. Essas pessoas abraçaram o
evangelho de Jesus, nasceram de novo. O que deviam fazer com suas mulheres e
filhos? Muitos ficaram assim, nessa condição, mas não podiam exercer cargos na
Igreja.
O termo “poligamia” vem de duas
palavras gregas: polys, “muito”, e gamos, “casamento”. Trata-se do sistema
social que permite a um homem se casar com mais de uma mulher ao mesmo tempo, e
isso foi introduzido pelo pecado (Gn 4.19). No antigo Oriente Médio, era mais
uma ostentação de poder (1 Rs 11.1-3). A poligamia nunca foi um mandamento;
simplesmente aparece na legislação mosaica (Êx 21.9, 10; Dt 21.15). Os judeus
abandonaram essa prática, mas os muçulmanos ainda a mantêm.
Ela não aparece no Antigo Testamento
depois da monarquia, exceto no caso de alguns reis, como Davi e Salomão, isso
mostra que nesse período não era estilo de vida do povo, mas exceção.
A indissolubilidade do casamento está
no propósito divino desde o princípio da criação, como disse Jesus: “Não tendes
lido que, no princípio, o Criador os fez macho e fêmea e disse: Portanto,
deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher, e serão dois numa só carne?
Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não
separe o homem” (Mt 19.4-6). O Senhor Jesus está dizendo que a vontade de Deus
expressa nas palavras de Gênesis 2.24 é a indissolubilidade. Isso é da natureza
do casamento, independentemente da confissão religiosa dos nubentes. Deus está
presente no voto solene durante o pacto do casamento, a cerimônia, qualquer que
seja o regime, cultura regional ou época. Essa verdade está presente numa
repreensão divina à falta de fidelidade conjugal: “Porque o SENHOR foi
testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal,
sendo ela a tua companheira e a mulher do teu concerto” (Ml 2.14). Assim, o
casamento é mais que um contrato jurídico; é uma união espiritual e
indissolúvel.
O divórcio é um remédio amargo para uma
solução inglória. A Bíblia não incentiva nem encoraja o divórcio (1 Co 7.10,
11); apenas o permite em situações específicas por causa da pecaminosidade
humana (Mt 19.7, 8). Em termos genéricos, pode-se afirmar que casamento só
termina pela morte de um dos cônjuges (Rm 7.4), pela infidelidade conjugal (Mt
5.31; 19.7) ou pela deserção por parte do cônjuge descrente (1 Co 7.14, 15). A
nota de rodapé sobre 1 Coríntios 7.8-16 da Bíblia de Estudo Apologia Cristã,
publicação da CPAD, conclui assim o assunto:
Paulo não estava contradizendo o
ensinamento de Jesus, nem fazendo acréscimos a ele, mas aplicando-o a um
contexto particular. As Escrituras apresentam duas claras infrações ao concerto
do casamento (Gn 2.24; Mt 19.5): a deserção (que infringe a instrução de
“apegar-se”) e o adultério (que infringe a instrução de ser “uma só carne”); em
minha opinião, estas infrações são motivos legítimos para o divórcio (e,
portanto, um novo casamento). Onde esta ruptura não tiver ocorrido, o novo
casamento depois do divórcio não é opção aceitável. Quando possível, todavia, a
reconciliação é o ideal.
O cônjuge vítima de traição e de
deserção não estará em adultério se contrair novas núpcias.
Pacto
é o mesmo que uma aliança, um concerto; o termo vem do hebraico berît e do
grego diatheke, é uma obrigação entre pessoas, como amigos, marido e mulher;
entre grupos de pessoas; ou entre divindade e indivíduo ou um povo. O verbo
“fazer” presente em “fazer aliança, pacto, concerto” corresponde ao hebraico
karat berît, que literalmente significa “cortar aliança, pacto ou concerto”.
Isso porque sua origem está no sacrifício de animais que são partidos ao meio
durante a cerimônia de um pacto (Gn 15.9-18; 31.44-54).
A poliandria é o sistema social e
familiar que inclui a pluralidade de maridos; é a poligamia às avessas, quando
uma mulher pode ter mais de um marido ao mesmo tempo. Não é muito comum, mas
ainda pode ser visto na região do Tibet.
EXTRAÍDO DO LIVRO CUJA INFORMAÇÕES ABAIXO.
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