A
Igreja é a comunidade do Senhor Jesus Cristo formada por pessoas de todos os
lugares ao longo dos séculos. Ela já existia no plano divino antes dos tempos
dos séculos, mas iniciou a sua jornada histórica no dia de Pentecostes (At 2),
com um grupo de 120 discípulos e discípulas, incluindo os apóstolos que estavam
reunidos no cenáculo em Jerusalém aguardando a “promessa do Pai” (At 1.4, 5,
13-15). A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes marcou o início da
sua longa jornada (At 2.1-12) com a conversão de “quase três mil pessoas” (At
2.41) como primícias de uma grande colheita que se iniciava naquela ocasião.
A
igreja, como corpo espiritual de Cristo, é um organismo vivo com suas reuniões
em torno do Senhor Jesus e suas ordenanças; como congregação ou assembleia, é
também uma organização, com sua forma de governo. O ponto de partida de sua
proclamação é a ressurreição de Cristo. A existência da Igreja não é resultado
de um entusiasmo coletivo, mas a manifestação do poder de Deus.
A IGREJA
O termo grego ekklesía, usado no Novo
Testamento para “igreja”, vem do verbo ekkaleo, “chamar, convocar”, que a
Septuaginta traduziu do hebraico qara‘ el, “chamar para” em: “E chamaram Ló e
disseram-lhe...” (Gn 19.5). A ekklesía, “eclésia, assembleia, ajuntamento,
igreja”, era a Assembleia do Povo na antiga Grécia que funcionava como poder
legislativo, mas formada por todos os cidadãos; apesar disso, segundo Mário
Curtis Giordani, “na prática, era relativamente pequeno o número de cidadãos
que compareciam às reuniões” (GIORDANI, 1986, p. 172). Mas os tradutores da
Septuaginta empregaram ekklesía para traduzir o hebraico qahal, “assembleia,
multidão humana reunida”, em referência à congregação de Israel, além de outros
termos que aparecem com menos frequência no Antigo Testamento.
O
Novo Testamento grego usa ekklesía para se referir à congregação de Israel:
“Este é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava
no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu as palavras de vida para
no-las dar” (At 7.38). Só mais uma vez ekklesía se aplica à comunidade de
Israel no Novo Testamento (Hb 2.12). Três vezes se usa para o ajuntamento ou a
assembleia provocada por Demétrio contra o apóstolo Paulo no teatro em Éfeso
(At 19.32, 39, 41); e 110 vezes o termo se refere à Igreja. Nesse sentido, a
comunidade do Senhor é uma congregação especial formada por pessoas de todas as
épocas e de todos os lugares chamadas pelo Senhor Jesus para pertencerem a
Cristo (Rm 1.6), ter comunhão com ele (1 Co 1.9) e fazer parte da família
espiritual de Deus (Ef 2.19), como afirma a Declaração de Fé. O termo “igreja”
refere-se
também
a um grupo de crentes em cada localidade geográfica (Rm 16.16; 1 Co 1.2; Gl 1.2).
A
Igreja é um organismo, um corpo espiritual em que todos os crentes em Jesus
estão unidos uns aos outros e todos eles com a sua cabeça, que é o Senhor Jesus
Cristo: “o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo” (Ef 1.22, 23);
“ele é a cabeça do corpo da igreja” (Cl 1.18). Trata-se de uma congregação
espiritual cujos membros foram remidos pelo sangue de Jesus, que veio a existir
no palco da história como resultado da obra da cruz, do triunfo da ressurreição
de Cristo e da vinda do Espírito Santo; é exatamente o que o Senhor Jesus
chamou de “minha igreja” (Mt 16.18). Em resumo, “a Igreja é a assembleia
universal dos santos de todos os lugares e de todas as épocas, cujos nomes
estão escritos nos céus: “À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que
estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos
aperfeiçoados” [Hb 12.23]”
(Declaração
de Fé).
É o novo povo que o Senhor Jesus formou
dentre judeus e gentios (Ef 2.12-14) em torno de Si mesmo como o próprio corpo
de Cristo (1 Co 12.12-27), para adoração e louvor da glória de Deus e para
anunciar o evangelho da salvação ao mundo inteiro (Ef 1.11, 12; Mc 16.15). Cada
crente em Jesus é a morada de Deus: Não sabeis vós que sois o templo de Deus e
que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16); “Ou não sabeis que o nosso
corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e
que não sois de vós mesmos?” (1 Co 6.19); “no qual também vós juntamente sois
edificados para morada de Deus no Espírito” (Ef 2.22).
AS ORDENANÇAS
A ordenança é um rito simbólico
universal e pessoal que aponta para as verdades centrais da fé cristã. São duas
as ordenanças da Igreja. A primeira é o batismo em águas: “Portanto, ide,
ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo” (Mt 28.19); e a segunda, a Ceia do Senhor: “Tomando o pão e tendo dado
graças, partiu-o e deu aos discípulos, dizendo: Este é o meu corpo que é dado
por vós; fazei isto em memória de mim. Depois da ceia tomou do mesmo modo o
cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado
por vós” (Lc 22.19, 20).
Essas
duas cerimônias ou ritos sagrados são conhecidos também como sacramentos por
alguns grupos protestantes e também pelos católicos. Mas a Igreja Católica
acrescentou mais cinco sacramentos, ao passo que os protestantes mantiveram os
dois ritos bíblicos. No entanto, nem sempre os dois termos são intercambiáveis,
pois isso depende da interpretação e cada grupo sobre o assunto. O termo
sacramentum vem do latim que originalmente era para um juramento público de
fidelidade do soldado romano, mas, antes disso, era o nome dado ao depósito
feito em lugar sagrado pelas partes envolvidas numa questão jurídica até o
pronunciamento da sentença. Os pais latinos empregaram essa palavra para o
vocábulo grego mysterion, “mistério, secreto”, que veio a significar ordenança
ou rito sagrado. Para muitos, esses rituais transmitem graça espiritual ou
salvífica levando a pessoa da morte espiritual para a vida. Para os grupos que
pensam dessa maneira, ordenanças e sacramentos não são termos alternativos. A
Assembleia de Deus não emprega o termo “sacramento”, mas a palavra “ordenança”,
do latim ordo, “fileira, ordem”, conforme o capítulo XI da sua Declaração de
Fé.
Essas ordenanças não produzem nenhuma
mudança espiritual em quem se submete ao batismo e participa da ceia do Senhor.
Mas
isso não diminui a sua importância; antes, pelo contrário, elas são de grande
valor. Esses rituais são ordens de nosso Senhor Jesus Cristo, pois ele mesmo
pediu para ser batizado (Mt 3.14, 15). E também se trata de um símbolo da nossa
união com ele e ao mesmo tempo a confissão pública dessa união (Rm 6.3-5). A
ceia do Senhor é o memorial de sua morte em nosso lugar (1 Co 11.23-26). Essas
são razões pelas quais os crentes nunca tratam dessas coisas sagradas com
leviandade. Assim, o batismo em águas e a ceia do Senhor foram instituídos por
ordem de Jesus para que fossem observados na Igreja, não porque transmitem algum
poder místico ou graça salvífica, mas porque simbolizam o que já aconteceu na
vida de quem aceitou a salvação de Cristo.
O batismo
O batismo em águas é o rito que
simboliza o início da vida espiritual. É um testemunho público de “nossa
identificação com Jesus, em sua morte e ressurreição, que tornou possível a
nossa vida que temos nEle (Rm 6.1-4)” (MENZIES & HORTON, 2001, p. 93).
Trata-se de um ato significativo e importante em que o crente em Jesus é
mergulhado nas águas, o corpo inteiro de uma só vez, “em nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19), conforme ordenou o Senhor Jesus. Muitos
debates surgiram ao longo dos séculos sobre o modus operandi desse ritual, como
o batismo por imersão, por aspersão e assim por diante. Mas o Novo Testamento
deixa claro que o ato era realizado por imersão: “porque havia ali muitas
águas; e vinham ali e eram batizados” (Jo 3.23); “E, sendo Jesus batizado, saiu
logo da água” (Mt 3.16); “E mandou parar o carro, e desceram ambos à água,
tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água, o Espírito
do Senhor arrebatou a Filipe” (At 8.38, 39). A ilustração paulina do batismo em
águas reforça a do batismo por imersão: “Ou não sabeis que todos quantos fomos
batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos
sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos
mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm
6.3, 4); “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no
poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos” (Cl 2.12). Todas essas declarações
são evidências de um batismo por imersão.
O batismo era efetuado conforme a
fórmula ordenada pelo Senhor Jesus: “batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo” (Mt 28.19), e isso é confirmado num antigo documento da
Igreja, chamado Didaque11, ou Instrução dos Doze Apóstolos: “Depois de ditas
todas essas coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo.
Se
você não tem água corrente, batize em outra água; se não puder batizar em água
fria, faça-o em água quente” (Didaque, 7.1, 2). Hoje, os unicistas batizam só
em nome de Jesus e colocam essa forma de batismo como condição para a salvação.
O batismo “em nome de Jesus” não é uma
fórmula. A prova disso é que não existe um padrão nessas palavras para que seja
possível uma fórmula. A expressão só aparece quatro vezes no Novo Testamento:
“em nome de Jesus Cristo” (At 2.38), “em nome do Senhor Jesus” (At 8.16; 19.5)
e “em nome do Senhor” (At 10.48). Isso apenas significa ser o batismo realizado
na autoridade do nome de Jesus. Afinal, tudo o que fazemos é em nome de Jesus
(Cl 3.17), isto é, na sua autoridade, como a oração (Jo 14.13; Ef 5.20), a
pregação do evangelho (Lc 24.47; At 8.12), a cura de coxos (At 3.6), de
paralíticos (At 9.34) e de enfermos (Tg 5.14, 15) e a expulsão de demônios (At
16.18), entre outros milagres.
O batismo não é essencial para a
remissão de pecados. A frase “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados” (At 2.38) tem sido motivo de
controvérsias sem fim. Uma leitura isolada parece isso mesmo.
Muitos
pais da Igreja a interpretavam dessa maneira. Isso aparece no Credo
Niceno-Constantinopolitano (ver capítulo 4). Mas, segundo A. T. Robertson, a
exegese do texto permite outro significado. Ele afirma que a preposição grega
eis, traduzida por “para”, aqui, tem amplo significado, por isso deve ser
compreendida à luz do contexto. Há outro emprego tão correto quanto o de
propósito ou objetivo. Veja o uso dessa preposição em três versões diferentes
de um mesmo versículo bíblico: “Quem recebe um profeta na qualidade de profeta
receberá galardão de profeta; e quem recebe um justo na qualidade de justo,
receberá galardão de justo” (Mt 10.41 – ARC); “no caráter de profeta... no
caráter de justo” (ARA); “por ser profeta... por ser justo” (TB). A mesma
preposição é usada aqui para “na qualidade de profeta ... na qualidade de
justo, no caráter de profeta... no caráter de justo ... por ser profeta... por
ser justo”. Poderíamos dizer ainda: “em nome de profeta... em nome de justo”.
Os ninivitas “se arrependeram com a pregação de Jonas” (Mt 12.41). O “com”
nessa passagem é a mesma preposição eis. Diante disso, Robertson é da opinião
que o apóstolo apelava ao “batismo para cada um daqueles que já se haviam
arrependido, e que isso foi feito em nome de Jesus Cristo com base no perdão
dos pecados que eles já tinham recebido” (ROBERTSON, tomo 3, 1989, p. 50).
A salvação é pela fé somente (Ef 2.8,
9). O Novo Testamento mostra que o batismo não salva: “Quem crer e for batizado
será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16). A segunda cláusula
não diz: “Quem não for batizado será condenado”. João batizava as pessoas depois
de manifestarem “frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.8; Lc 3.8); as pessoas
batizadas no dia de Pentecostes haviam primeiramente recebido a palavra (At
2.41). O malfeitor crucificado ao lado do Senhor Jesus não foi batizado; no
entanto, Jesus lhe disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no
Paraíso” (Lc 23.43).
A prática do batismo infantil se
fundamenta basicamente na interpretação de que o batismo é um meio da graça
salvadora, para uns; e outros o interpretam como sinal e selo da aliança, que
teria sido substituído pela circuncisão dos israelitas, mas está escrito:
“Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude
alguma, mas sim o ser uma nova criatura” (Gl 6.15). Essas interpretações não se
sustentam biblicamente. O batismo é somente para os crentes em Jesus e é
necessário primeiro crer nele e também pedir para ser batizado (At 8.36-38).
Para isso, é necessário arrependimento e fé. A criança não preenche esses
requisitos. O Novo Testamento mostra o batismo seguido da fé (At 2.41; 8.12).
Isso não deixa margem para o batismo infantil. Os que defendem essa prática
costumam apelar para o testemunho de Lídia (At 16.15), do
carcereiro
de Filipos (At 16.33, 34), de Crispo, o principal da sinagoga de Corinto,
juntamente com os demais que receberam a Jesus como seu Salvador (At 18.8) e a
família de Estéfanas que o apóstolo Paulo batizou (1 Co 1.16). Nenhum desses
testemunhos remete a crianças; é uma interpretação forçada querer introduzir
batismo infantil nessas passagens bíblicas.
A Ceia do
Senhor
A Ceia do Senhor é o rito da comunhão e
significa a continuação da vida espiritual (1 Co 11.20). A Ceia do Senhor foi
instituída diretamente pelo Senhor Jesus após a refeição da Páscoa na companhia
de seus discípulos (Mt 26.26-28). Desde então a Igreja vem celebrando esse
memorial e proclamando a nova aliança: “Semelhantemente também, depois de cear,
tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; fazei
isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim” (1 Co 11.25). Essa
solenidade envolve o passado, a morte de Jesus; o presente, a nossa comunhão; e
o futuro, a sua vinda – “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Co 11.26).
As palavras de Jesus “Isto é o meu
corpo” (Mt 26.26) e “Isto é o meu sangue” (Mt 26.28) são os seus dois elementos
da ceia do Senhor. O Senhor Jesus estava pessoalmente com os seus discípulos
quando disse essas palavras. Isso mostra que o corpo e o sangue aqui não são
literais; trata-se de uma linguagem metafórica (1 Co 5.8). Os católicos romanos
ensinam que, no ato da consagração, o pão e o vinho são literalmente
transformados no verdadeiro corpo e sangue de Cristo, uma mudança metafísica;
eles afirmam que essa mudança é na essência ou substância, não nos acidentes,
como eles chamam, mantendo o pão a forma, a textura e o sabor do pão. Essa
doutrina é chamada de transubstanciação, aprovada no Concílio de Latrão IV em
1215 e reafirmada no Concílio de Trento no século 16. Durante a Reforma
Protestante, surgiram novas interpretações. Lutero rejeitou a doutrina da
transubstanciação, mas defendia a ideia de que o corpo e o sangue de Jesus
estão presentes “em, com e sob” o pão e o vinho, mas as moléculas não são transformadas
em carne e sangue. Essa doutrina foi chamada mais tarde de consubstanciação. No
entendimento dos católicos romanos, o pão e o vinho são o corpo e o sangue
físico de Cristo; na concepção luterana, o pão e o vinho contêm o corpo e o
sangue físico. As igrejas reformadas defendem a presença espiritual do corpo e
do sangue, mas o apóstolo Paulo não fala sobre essa presença na reunião porque
Jesus já está presente conosco e principalmente nos cultos (Mt 18.20; 28.20; Jo
14.23). Zwínglio, reformador suíço contemporâneo de Lutero, ensinava que esses
elementos são emblemas que representam o corpo e o sangue de Jesus. Na verdade,
esses elementos são metafóricos e representam o corpo e o sangue de Jesus. A
Ceia do Senhor é um momento sublime de relacionamento e comunhão com Jesus.
Trata-se de um compêndio de preceitos
morais e de instrução sobre a organização das comunidades cristãs sobre
diversos assuntos, como batismo, ceia do Senhor, oração, jejum e assim por
diante. O texto foi produzido entre os anos 70 e 120, mas, segundo Eusébio de
Cesareia, não é obra de nenhum apóstolo (História eclesiástica, livro 3.XXV).
Sobre este material:
Todo a obra aqui exposta foi extraído do livro cujas informações abaixo sem nenhuma adaptação.
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