Historicamente, o conceito de ética
surgiu na Grécia antiga, período que coincide com o século IV a.C. Na prática,
a ética sempre fez parte do dia a dia da humanidade. Quando os códigos ainda
não estavam escritos e positivados, a própria consciência estabelecia a ética a
ser observada (Rm 2.14,15). As Sagradas Escrituras contêm os funda- mentos da
ética para a sociedade humana. No Antigo Testamento, Deus revelou instruções
éticas específicas. Nos Evangelhos, encontramos os ensinamentos éticos de
Jesus. Nas epístolas neotestamentárias, o tema está amplamente registrado.
1.
O CONCEITO DE ÉTICA CRISTÃ
O filósofo e educador Cortella
(1954-) apresenta uma definição para ética que em muito se assemelha com os
textos bíblicos:
Ética é o conjunto de valores e
princípios que usamos para responder a três grandes questões da vida: 1. quero?
2. devo? e 3. posso? Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu
devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo
que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve. (CORTELLA,
2014)
De fato, de maneira simples e
genérica, a ética cristã está relacionada às respostas de tais questões. O
apóstolo Paulo, de certo modo, ensina a prática da ética, sob esses aspectos: o
que quero, devo e posso. Ele afirma que tudo é lícito, mas que nem tudo convêm
e nem tudo edifica, portanto, o cristão não pode e nem deve se deixar dominar
por aquilo que foge da ética cristã (1 Co 6.12).
1.
Definição Geral
A palavra “ética” possui origem no
vocábulo grego ethos, que literalmente significa “costumes” ou
“hábitos”. No latim, é usado o termo correspondente mos (moral)
com o sentido de “normas” ou “regras”. Assim, “ética e moral referem-se ao
conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são
considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros” (CHAUÍ, 1995,
p. 340). Como esses termos, “ética” e “moral”, são muito próximos, eles são
muitas vezes confundidos e usados como sinônimos. No entanto, para fins
didáticos e acadêmicos, é possível defini-los separadamente.
2.
Ética e Moral
A ética enquanto ciência pode ser entendida
como a parte da filosofia que investiga os fundamentos da moral adotados por
uma cultura. Foram os filósofos gregos que começaram a estudar esses
fundamentos para então “identificar” uma pessoa como sendo boa ou má e também
um ato como sendo bom ou mau. A partir desses fundamentos, alguém pode ser
classificado como “ético” ou “antiético”.
Pode-se afirmar, por exemplo, que a
ética de Platão (427-347 a.C.) era “transcendente”e “deontológica”. Essa teoria
acredita que a noção do correto é algo moralmente bom em si mesmo. Nesse caso,
a fundamentação do certo e do errado está ligada ao bem-estar da alma, um
estado inerente ao ser humano e procedente de um mundo superior. Aqui o homem
obedece ao dever, independentemente das consequências que a obediência pode
resultar para si ou para os outros (PALLISTER, 2005, p. 20).
Em contrapartida, com Aristóteles
(384-322 a.C.) surgiu a ética “imanente” e “teleológica” ou “utilitária”. Essa teoria
argumenta que o correto só pode ser definido a partir das consequências que um
ato ou uma ação possa produzir. Aqui a fundamentação do certo e o errado
procedem do mundo dos homens e depende apenas da utilidade e do bem-estar que
as ações do indivíduo podem resultar para si ou para os outros.
A moral, por sua vez, refere-se ao
comportamento das pessoas e às reações dos indivíduos que compõem uma sociedade
em relação às regras estabelecidas pela ética. Como observado, essas regras
podem ser diferentes de uma cultura para outra e ainda podem ser modificadas de
acordo com as transformações vividas pelos grupos sociais. Tudo depende da
fonte de autoridade que lhes serve de fundamento para os padrões de conduta.
Quando se analisa as teorias éticas
acima discutidas, percebe-se que na “deontológica” é o princípio da ação moral
que é bom ou mau independentemente do seu resultado. Já na teoria
“teleológica”, o princípio moral é substituído pela previsão racional das
vantagens e desvantagens que determinada ação pode produzir. No primeiro caso,
os atos morais, mesmo corretos, podem prejudicar a si e ao outro. No segundo
caso, a moral se relativiza, busca não se prejudicar evitando o sofrimento, e
assim pode servir para legitimar a máxima que diz “os fins justificam os
meios”.
3.
Ética Cristã
A ética cristã tem como objetivo
indicar a conduta ideal para a retidão do comportamento humano. O fundamento
moral da ética cristã são as Escrituras Sagradas. Portanto, a ética cristã não
se modifica e nem se relativiza. Desse modo, a ética cristã não pode ser
desassociada da moral e dos bons costumes preconizados nas doutrinas bíblicas.
Sob esta concepção, os pais da Igreja
adotaram a ética “transcendente” e “deontológica”. Isso significa que a vida
ética cristã procede de um Deus transcendente e pessoal que concede ao ser
humano a capacidade de viver a verdadeira moral. Agostinho de Hipona, na
obra Cidade de Deus (escrita entre 413-426 d.C.), reconhece
que a graça de Deus é indispensável para transformar o caráter humano e fazê-lo
viver de acordo com os padrões morais divinamente estabelecidos. Para
Agostinho, a educação, a meditação, os códigos e as leis, por si mesmas, não
conseguem levar o homem a agir de modo ético.
Na perspectiva de Agostinho, a ética
cristã só poderia ser vivida quando o cristão experimentasse a verdadeira
regeneração. O mero esforço humano servia unicamente para disfarçar a natureza
caída. A eventual virtude demonstrada por alguém era algo temporário, falso e
aparente. Somente a genuína regeneração faria o homem verdadeiramente virtuoso.
Tomás de Aquino discordou e propôs algumas modificações nessa visão
agostiniana. Aquino considerava que as leis humanas não somente inibiam a prática
do mal, mas também podiam moldar pessoas de boa índole. O ensino de Aquino não
deixou de “ser transcendente e deontológico”, contudo, permitiu flexibilizar a
ética.
Com o advento da Reforma Protestante
(1517), os reformadores restauraram a ética de Agostinho, defenderam a
revelação bíblica como única infalível e inerrante regra de fé e conduta (Sola
Scriptura)
e a estenderam a todos os homens.
Assim, a ética protestante reafirma a doutrina bíblica de que todos serão
julgados à luz do conhecimento que tiveram de Deus. E, de acordo com o apóstolo
Paulo, quando esse conhecimento for parcial, os homens serão julgados pela lei
escrita em seus corações (Rm 2.14-16).
4.
Princípios da Ética Cristã
A principal fundamentação para a
ética cristã encontra-se na revelação divina. Desse modo, os princípios adotados
pela ética cristã são bíblicos, e, portanto, imutáveis. Em consequência, os
princípios bíblicos têm aplicação hoje, assim como o tiveram antigamente.
Aquilo que a revelação bíblica considera como pecado, permanece sendo pecado. A
lei divina não pode ser revogada e ajustada aos interesses humanos. Esses
princípios são universais e por isso não se admite uma ética cristã diferente
de uma cultura para outra cultura. Os padrões da ética e da moral cristã não
sofrem mutações. A verdade bíblica não pode ser relativizada ou flexibilizada
para atender o egoísmo e o hedonismo da raça humana. O texto bíblico permanece
inalterado e imexível. Por isso, os valores cristãos são permanentes, pois a
fonte de autoridade é permanente. Quanto a esta realidade, Cristo afirmou: “o
céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mt 24.35).
2.
FUNDAMENTOS DA ÉTICA CRISTÃ
Como já afirmamos no tópico anterior,
a ética cristã tem como principal fundamento o texto inspirado das Sagradas
Escrituras. É verdade que não se pode desprezar a tradição da Igreja, as leis
civis e criminais, as variadas literaturas e nem tampouco os bons costumes
adotados pela sociedade; entretanto, para o cristão, toda e qualquer prática e
conduta precisa passar pelo crivo e pelo aval da Palavra de Deus (Hb 4.12).
Nesse sentido, a Bíblia Sagrada foi reafirmada na Reforma Protestante como
sendo o principal fundamento da fé cristã. Lutero e outros reformadores
combateram “a elevação católica da tradição a um status igual
ou até mesmo superior das Escrituras” (COMFORT, 1998, p. 68).
Tendo a inspiração divina como pressuposto,
a Bíblia Sagrada difere de outros livros pela sua inerrância e infalibilidade.
Esses conceitos teológicos apontam que as Escrituras não contêm erro algum, que
seus ensinos são fidedignos e confiáveis, e, por isso, não podem falhar. Por conseguinte, aquele que crê na
inspiração das Escrituras também deve crer que a Bíblia é inerrante e
infalível.
1.
O Decálogo
A partir do século V, a Igreja
Católica começou a ensinar os fiéis a prática do confessionário. Com o
propósito de julgar as confissões, os sacerdotes católicos eram orientados a
proferir penitências por meio de “manuais penitenciais ou confessionais”. As
penas eram elaboradas conforme os sete pecados capitais: soberba, inveja,
cobiça, ira, preguiça, avareza, gula e luxúria. No século XV, o teólogo francês
Jean de Gerson (1363-1429) discordou dessa forma de tratar os pecados e
voltou-se para os Dez Mandamentos, que chamou de “a rocha da Ética Cristã”
(KEENA, 1999, p.13).
No século seguinte, por ocasião da
Reforma Protestante, os Dez Mandamentos passaram a ser a principal base de
instrução moral e ética para a Igreja protestante. O uso do Decálogo era uma
resposta à teologia católica e uma rejeição à supremacia, por mais de dez
séculos, dos sete pecados capitais. A justificativa era de que o Decálogo constava
das Escrituras e não de um compêndio de penitências. Enquanto os sete pecados
capitais tratavam prioritariamente das ações ofensivas à vida humana, os Dez
Mandamentos expressavam a vontade divina, primariamente por meio da nossa
relação com Deus e depois com os nossos irmãos.
Os Dez Mandamentos ou “dez palavras”
estão revelados em Êxodo 20.1-17 e Deuteronômio 5.6-21. O Decálogo contém
prescrições e proibições com três claras expressões positivas: a) A
relação do homem com Deus — “Eu sou o Senhor teu Deus” (Êx 20.2);
b) A relação do homem na adoração — “Lembra-te do sábado” (Êx
20.8); e c) A relação do homem com o próximo — “Honra a teu
pai e a tua mãe” (Êx 20.12). As outras sete declarações negativas estão
diretamente subordinadas a essas três esferas da vontade de Deus. Em vista
disso, os Dez Mandamentos são preceitos éticos que fazem parte da lei moral de
Deus e devem ser obedecidos.
Os quatro primeiros Mandamentos
tratam da relação do homem e sua adoração para com Deus: o Senhor requer culto
exclusivo, condena a idolatria, alerta sobre o mal-uso do seu nome e lembra que
tem direito ao tempo do homem (Êx 20.1-11). Os seis últimos referem-se à
relação para com o próximo: o Senhor exige honra aos genitores, zela pela integridade da vida, repudia o
adultério, proíbe o furto, a mentira e a cobiça (Êx 20.12-17). Essas ordenanças
se caracterizam como atos morais que o homem pode escolher praticar ou recusar.
Por isso, o cumprimento do Decálogo pode ser resumido na prática do amor. Esse
foi o ensino do legislador e Moisés (Dt 4.6-8) e de Paulo, o apóstolo dos
gentios (Rm 13.10; 1 Tm 1.5). O próprio Cristo enfatizou essa verdade e
ratificou que o amor a Deus e ao próximo é a expressão máxima dos Dez
Mandamentos (Mt 22.37-39). Como o Decálogo faz parte da lei moral de Deus e
está baseado na natureza divina, os Dez Mandamentos permanecem válidos para
todos os cristãos desempenhando a função de “rocha da Ética Cristã”.
2.
Os Evangelhos e Atos
Os Evangelhos são mais do que simples
biografias de Jesus, e o livro de Atos mais do que simples história da Igreja.
A narrativa desses livros serve a um propósito teológico: o de apresentar os
ensinos de Jesus, diretamente ou por meio dos apóstolos, como parte da “boa
vontade de Deus para com os homens” (Lc. 2.14). Isto posto, o evangelho
refere-se às boas novas de Cristo (Mt 9.35). A mensagem registrada pelos evangelistas
contém apelo ao arrependimento, renúncia ao pecado, oferta de perdão, esperança
de salvação e santidade de vida (Mt 3.2, Lc 1.77, 9.62). Os seguidores de
Cristo são convocados a viver as doutrinas do evangelho e adotaram a ética e a
moral do Reino de Deus (Mt 16.24; Mc 10.42-45). Por meio do evangelho, o homem
pode compartilhar a natureza moral de Deus (Mt 5.48). O genuíno evangelho
produz mudanças no caráter do cristão (Tt 2.11-14), e quem pauta sua vida pelo
evangelho recebe o dom do Espírito Santo (At 2.38,39).
3.
O Sermão do Monte
Reconhecidamente, o Sermão do Monte reúne
princípios do mais alto idealismo moral e “tem sido entendido como a aplicação
maior da ética de amor ao próximo e da Lei Áurea que ele contém” (HENRY, 2007,
p. 548). No Sermão são reveladas a ética e a moral do Reino de Deus em questões
como: a ira, adultério, divórcio, juramento, vingança e o amor. Cristo ensina
que quando uma pessoa não consegue controlar a sua ira, ela pode perder o controle e matar
alguém (Mt 5.21,22). O Comentário Bíblico Pentecostal do Novo
Testamento salienta que “o assassinato começa com a raiva; a pessoa
tem de lidar com a raiva a fim de evitar o assassinato” (2003, p. 45). Essa
proposição adverte que o pecado da ira precede o pecado de assassinato, que é a
violação do sexto mandamento do Decálogo (Êx 20.13).
Após abordar a questão da ira, Cristo
passa a ensinar acerca da violação de outro mandamento do Decálogo — o
adultério (Êx 20.14). O Senhor apresenta uma moral muita acima daquela
convencionada entre os judeus. Para os rabinos o adultério só era caracterizado
por meio do ato sexual. Para Cristo, o adultério está no pensamento, na
intenção do coração que enche os olhos de luxúria (Mt 5.27,28). O Senhor também
ensina sobre a santidade e indissolubilidade do casamento (Mt 5.31,32). Quanto
à prática de juramentos permitidos na lei mosaica (Mt 5.33- 37), Cristo aponta
para uma nova conduta:
No comentário sobre a antiga lei
Jesus faz um ajuste importante. [...] O emprego do advérbio holos (“de
maneira nenhuma”, Mt 5.34) indica que Jesus esperava que esta atividade
cessasse completamente. Os juramentos que aludem indiretamente a Deus, pela
referência a céu, terra e até a própria pessoa, eram proibidos [...] A pessoa
honesta não tem necessidade de fazer juramento; um simples sim ou não é
suficiente. (STRONSTAD, 2003, p. 46)
Em relação ao sentimento de vingança,
Cristo ensina não revidar as ofensas sofridas (Mt 5.38-41). Ao contrário, Ele
nos ensina a ser caridosos e beneficentes (Mt 5.42). No que diz respeito ao
amor — o resumo da lei e dos profetas — em especial o “amor ao próximo”, a
moral e a ética cristã requerem do cristão o dever de amar seus inimigos:
falando bem deles, fazendo o bem a eles e orando por eles (Mt 5.44). Quem não o
fizer é considerado hipócrita e indigno de receber galardão (Mt 5.46-48).
O sermão também aborda questões como
a esmola, a oração e os jejuns. Aqui, somos advertidos contra a hipocrisia e o
sentimento de vanglória. A esmola, a oração e o jejum devem ser praticados a
partir de um coração sincero, e não para sermos aplaudidos ou reconhecidos
pelos homens (Mt 6.1,5,16). Na sequência, Cristo trata do problema do
pré-julgamento — uma advertência contra a mania precipitada, arrogante e
orgulhosa em julgar os outros (Mt 7.1,2). Cristo ainda trata do livre-arbítrio
e apresenta ao homem dois caminhos: o largo e
o estreito (Mt 7.13,14). Ato
contínuo, o Senhor faz um grande alerta contra os falsos profetas e ensina que
o ministério de alguém deve ser provado pelos seus frutos (Mt 7.15-23). Por
fim, o Senhor adverte sobre a necessidade de o cristão ouvir e praticar as
palavras proferidas no sermão (Mt 5.24-35). Ressalta-se então que o sermão
chama os homens para uma vida ética de perfeição em Cristo (Mt 5.48) e os
concita a priorizar o Reino de Deus e sua justiça (Mt 6.33).
3.
FOMOS CHAMADOS A VIVER ETICAMENTE
As Escrituras alertam sobre o perigo
de não vivermos de modo ético. Os israelitas no deserto foram abençoados e
sustentados pelo maná (Êx 16.4) e pela água potável (Êx 17.6) que Deus lhes
concedia de modo sobrenatural, mas a maior parte deles foi reprovada por não
viver a lei moral outorgada por Deus (1 Co 10.5). Somente dois israelitas
daquela geração, Josué e Calebe, puderam herdar a Terra Prometida (Nm 14.30).
No capítulo 10, versículos 1 a 10, da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios,
o apóstolo seleciona cinco pecados cometidos pelos israelitas que ficaram
registrados, em forma de negação, para nossa advertência: “Porque tudo o que
dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4a).
1.
Não Cobicemos as Coisas Más
Paulo adverte a Igreja a não incorrer
no pecado da cobiça uma vez que as experiências dos israelitas no deserto
“foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram”
(1 Co 10.6). No deserto, os israelitas cobiçavam prazeres proibidos e sentiam
saudades do Egito. A multidão que saiu do Egito era composta por uma “mistura
de gente” que aproveitou a ocasião para fugir de Faraó. Essa gente deu início à
murmuração que contaminou os israelitas e gerou um descontentamento
generalizado (Nm 11.4-6).
Ainda hoje, pseudocristãos cobiçam os
prazeres do mundo. Muitos desses são negativamente influenciados pela “mistura”
do joio na Igreja (Mt 13.25). Por isso, o apóstolo dos gentios ensina que “as
más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). A convivência com o
joio pode corromper e incitar a rebelião. Os que se contaminam passam a
rejeitar o maná celeste que é Cristo ( Jo 6.35,48,51) e decidem viver sob o
jugo do hedonismo (excessiva busca pelo prazer) e sob a escravidão do pecado, isso porque se
negam em observar a lei moral do Decálogo que diz: “Não cobiçarás” (Êx 20.17).
2.
Não vos Torneis Idólatras
O apóstolo também alertou a Igreja
acerca do perigo da idolatria (1 Co 10.7). Enquanto Moisés recebia a Lei
permanecendo afastado do povo por 40 dias e 40 noites (Êx 24.18; 31.18), os
israelitas se corrompiam adorando um bezerro fundido (Êx 32.4). Longe de seu
líder, Israel falhou vergonhosamente. Arão, o vice-líder, cedeu às pressões do
povo e ordenou que trouxessem contribuição para promover a idolatria e foi
prontamente atendido (Êx 32.1-4). Chegou ao ridículo de erigir um altar e se
tornou sacerdote de um falso culto (Êx 32.5,6). Infelizmente, em nossos dias
essas cenas se repetem. Muitos são hipócritas e fora das vistas da liderança
vivem em pecado. Outros são falsos líderes que ensinam o erro e promovem falsa
espiritualidade estando fadados ao juízo (Mt 23.15; Rm 1.32). Constatamos
estarrecido como os falsos profetas conseguem atrair dinheiro para os seus
falsos cultos. A idolatria tem sido sustentada por “ofertas de amor” e “ofertas
de sacrifício” pelo povo alienado e mal instruído. O Dicionário
Wycliffe define idolatria como:
Uma transliteração da palavra
gr. eidololatria, cujo significado entendemos ser “a adoração
a ídolos; a adoração a imagens como divinas e sagradas” [...] Com base nesse
termo foi formada a palavra eidolon, “imagem”, que veio a
significar especificamente uma imagem de um deus como um objeto de adoração, ou
um símbolo material do sobrenatural como tal objeto. O segundo termo é latreia,
significando “culto ou adoração aos deuses”. Idolatria, então, é prestar honras
divinas a qualquer produto de fabricação humana, ou atribuir poderes divinos a operações
puramente naturais. (PFEIFFER, 2008, p. 944)
Observa-se nesse conceito que a
idolatria consiste em adorar, venerar ou prestar culto a algo ou alguém em
lugar de Deus. É importante ressaltar que o ato de idolatria não consiste
apenas na adoração de uma imagem, mas também “a qualquer produto de fabricação
humana”. Assim sendo, atualmente, falsos cristãos e falsos líderes desprovidos
de temor adoram o dinheiro e os bens materiais, e os utilizam para promover o
falso culto atraindo sobre si à ira divina (Êx 32.35). O mal da idolatria
desvirtua a moral cristã e mantém o povo afastado do verdadeiro culto ( Jo
4.23).
3.
Não nos Prostituamos
O terceiro pecado relacionado por
Paulo adverte a Igreja a respeito da maldição provocada pela imoralidade sexual
(1 Co 10.8). A história tem início quando Israel deteve-se em Sitim, uma região
nas campinas de Moabe (Nm 22.1-30). A presença dos israelitas aterrorizou a
Balaque, rei dos moabitas. Balaque então contratou o profeta pagão Balaão para
amaldiçoar a Israel. Como Balaão foi divinamente impedido de amaldiçoar o povo
da promessa (Nm 23.8), ensinou a Balaque como fazer para moral- mente corromper
os israelitas (Nm 31.16). Essa conduta ficou conhecida nas Escrituras de
maneira negativa e pejorativamente como “doutrina de Balaão” (2 Pe 2.15; Jd
1.11; Ap 2.14). A motivação em corromper Israel era fazê-los pecar e assim
causar a queda da nação. Lamentavelmente, os israelitas foram presa fácil. As
mulheres moabitas convidaram o povo para participar de seu culto a Baal-Peor. A
prática cultual dos moabitas era tomada por glutonarias, orgias sexuais,
fornicação e adultério, o que levou os israelitas a prostituírem-se com as
filhas dos moabitas.
Não demorou muito e a ira de Deus se
acendeu contra os pecadores. Moisés foi instruído a enforcar a luz do dia e
publicamente todos os chefes do povo que se envolveram com a orgia e o culto a
Baal-Peor. Em seguida, os juízes foram orientados a matar cada um os seus
homens que se junta- ram a Baal-Peor. Enquanto Israel chorava essas mortes, uma
praga assolava todo o povo. Em meio à ira divina, um rebelde príncipe israelita
apresentou no arraial uma princesa midianita que ele trouxera consigo o que
vendo o sacerdote Fineias indignado os atravessou a ambos com uma lança e a
praga cessou (Nm 25.1-15). Ciente do grande mal e das graves consequências da
imoralidade sexual, Paulo exorta a Igreja a vigiar constantemente. Ao analisar
esse assunto o Comentário do Novo Testamento — Aplicação Pessoal,
afirma que a intenção paulina era mostrar que “Deus não teria complacência para
com aqueles que afirmassem pertencer a Ele, mas que ainda participassem de
cultos pagãos e da imoralidade sexual” (2009, v. 2, p. 148). Aliás, a imoralidade
encabeça a lista de Paulo das obras da carne: “adultério, fornicação, impureza
e lascívia” (Gl 5.19). Nesse quesito, o apóstolo ordena ao cristão viver
eticamente e conservar o corpo irrepreensível (1 Co 6.18; 1 Ts 5.23).
4.
Não Tentemos ao Senhor
Neste ponto, o apóstolo previne a
Igreja quanto ao perigo da maldição em se provocar a Deus (1 Co 10.9). Os
israelitas tentaram o Senhor com suas rebeldias, queixas, incredulidade e
irreverência. Paulo lembra o protesto dos israelitas contra Deus por terem sido
conduzidos para o deserto: “E o povo falou contra Deus e contra Moisés: Por que
nos fizestes subir do Egito para que morrêssemos neste deserto? Pois aqui nem
pão nem água há; e a nossa alma tem fastio deste pão tão vil” (Nm 21.5). Esse
questionamento foi extremamente ofensivo aos olhos do Senhor. Ele os tirara do
Egito com mão forte e poderosa, e estava provendo-lhes todo o sustento. Mas o
povo demonstrava ingratidão e falta de confiança. Eles estavam testando e
colocando à prova a paciência do Todo-Poderoso. “Tentar o Senhor é experimentar
até que ponto se pode abusar da paciência de Deus antes de incorrer em seu
julgamento” (Dt 6.16) (STRONSTAD, 2008, p. 995).
Como resultado de “tentarem ao
Senhor”, o juízo divino foi instantâneo sobre o povo. O Senhor mandou serpentes
ardentes e a natureza incurável das picadas matou muita gente em Israel (Nm
21.6). Ao reconhecerem o pecado, os queixosos suplicaram a Moisés que
intercedesse diante de Deus (Nm 21.7). O arrependimento ces- sou a praga e
possibilitou a cura para os que iam sendo picados (Nm 21.8,9). O apóstolo
trouxe esse fato à memória da Igreja em Corinto, pois alguns dos irmãos também
estavam “tentando ao Senhor” com os seus recorrentes pecados e afrontas à
santidade do Altíssimo. Por conseguinte, os que de forma proposital rebelam-se
contra a vontade do Senhor, ignoram a ética cristã e violam a lei moral de
Deus, ficam sujeitos à ira divina (Rm 2.8,9).
5.
Não Murmureis
Por fim, o apóstolo alerta acerca do
pecado da murmuração (1 Co 10.10). Infelizmente, esse fato aconteceu várias
vezes na peregrinação dos israelitas. É possível que na citação paulina esteja
incluída a murmuração ocorrida em Cades quando o povo se recusou entrar na
Terra Prometida recebendo o castigo por meio de uma praga (Nm 14.2,36,37). Mas
o incidente na contradição de Coré parece servir melhor ao propósito do apóstolo.
A rebelião liderada por Coré era uma murmuração não apenas contra Moisés e
Arão, mas também contra o próprio Deus (Nm 16.1-35). Coré e duzentos e
cinquenta aliados questionaram a escolha divina de confiar à liderança do povo
e o ministério a Moisés e Arão. Diante dessa murmuração, eles foram submetidos
a um teste de santidade. No dia seguinte, Arão, Coré e os 250 revoltosos
ofereceram incenso em seus incensários. Coré trouxe o povo todo para assistir
ao ritual e colocá-los contra Moisés e Arão. Todavia, enquanto o cerimonial
acontecia, a terra se abriu e engoliu as tendas, os bens e as famílias dos
líderes da rebelião. E, enquanto o povo corria com medo de ser tragado pela
terra, “saiu fogo do Senhor, e consumiu os duzentos e cinquenta homens que ofereciam
o incenso”.
Apesar de o juízo divino ter aberto a
terra e enviado fogo contra os murmuradores rebelados, o coração do povo era
extremamente obstinado. No dia seguinte, tornaram a afrontar Moisés e Arão e
lançaram sobre eles a culpa pela morte de Coré, Datã, Abirão e suas famílias,
bem como dos 250 príncipes que ofereciam incenso (Nm 16.41,42). Diante dessa
teimosia e insensatez, Deus enviou uma praga que consumiu quatorze mil e
setecentos israelitas (Nm 16.49). Lamentavelmente, a murmuração foi frequente e
permanece em nossos dias: “murmurar contra Deus, ou contra os líderes que Ele
designou, resulta no castigo divino [...] Esse era outro problema que a Igreja
de Corinto estava enfrentando” (RIBAS, 2009, v. 2, p. 148). O significado aqui
se refere à falta de ética que provoca maledicência, inveja e calúnias contra o
próximo, e ainda provoca a ira de Deus.
No epílogo dessas advertências, Paulo
reitera que as experiências de Israel servem de exemplo para os cristãos não
cometerem os mesmos erros, pois “estão escritas para aviso nosso” (1 Co 10.11).
O apóstolo ainda admoesta os cristãos que cuidam estar em pé que tomem muito
cuidado para não cair (1 Co 10.12). Ao encerrar essas admoestações, Paulo
apresenta uma palavra de esperança. Ele afirma que as tentações são comuns a
todos, mas que não devemos desanimar, pois não estamos sozinhos em nossas
fraquezas. Deus não nos deixará ser tentados além de nossa capacidade de
resistir. A fidelidade do Senhor provê a cada um o meio de escape (1 Co 10.13).
Portanto, devemos entregar nosso caminho ao Senhor e depositar nEle toda a
nossa confiança (Sl 37.5).
RETIRADO DO LIVRO - VALORES CRISTÃOS -
Enfrentando as questões morais do
nosso tempo.
Douglas Baptista.