Mansidão versus
Pelejas
A
palavra mansidão, em grego, épraótes, e destaca uma pessoa que é gentil,
humilde, cortês, amável,
suave, tolerante
(ICo 4.21; Gl 5.22,23; Ef 4.2; Cl 3.12; Tt 3.2;lPe
3.15). No português, mansidão é definida como serenidade, tranquilidade, calma,
índole ou procedimento manso, pacífico.
As
duas definições expressam qualidades que um homem natural
ou
carnal não pode ter por si próprio, pois essa grande virtude é fruto do
Espírito Santo de Deus.
A
mansidão pode ser entendida como uma qualidade suavizante, como uma canção que
tranquiliza a alma mais angustiante,
como
um médico que trata seu paciente com toda delicadeza,
como
um pastor que cuida da ovelha com todo carinho. Ela não
expressa
falta de coragem, disposição, mas é o lenitivo que traz o melhor alívio para
quem está sofrendo.
A Singularidade da Mansidão
Um
ditador, um político, por vezes, promete, em suas campanhas, que tratará o povo
com brandura, carinho, delicadeza, de modo que até as pessoas ficam surpresas
quando pessoas de natureza diferente fazem tais promessas, e por um momento isso
pode vir a acontecer. A mansidão, no contexto filosófico e político, pode ser
descrita assim:
a)
Delicadeza no bom trato com as pessoas.
b) Não implicação de argumentos filosóficos.
Essa atitude
parte
daqueles que não querem mais criar conflitos em certas discussões, por
isso se tornam suaves.
c)
Bom humor para manter a paz, a tranquilidade ambiental.
d)
Não se apropria de linguagem ofensiva para atacar alguém.
e)
A mansidão é vista também como um tipo de freio para o
nosso
próprio corpo (Tg 3.3). Platão dizia que a mansidão pode ser vista no bom trato
para com os animais, como, por exemplo, um cão que tem sua natureza feroz, mas
quando é treinado, disciplinado,
torna-se manso. O homem pode ser
veemente, mas sem deixar de ser delicado.
Agora
trataremos da mansidão dentro do contexto bíblico,
mas
antes vamos nos apropriar mais uma vez da definição que o pastor Stanley Horton
faz:
A
mansidão não é autorrebaixamento ou fazer pouco de si mesmo. Pelo contrário, é
uma humildade genuína que não se considera importante demais para realizar as
tarefas humildes. Não assume ares de grandeza ou imponência no sentido de
deixar de ser cortês, atencioso e gentil com todas as pessoas. E modesta, mas
bem-disposta a dar sua contribuição quando algo precisa ser feito. (HORTON, 1993, p. 194)
Para
Aristóteles, a mansidão era vista como um vício de de
ficiência,
autodepreciação, e não uma virtude, isso porque o seu olhar foi apenas do ponto
de vista humano, natural. Champlin, no seu comentário bíblico, dá também uma
definição maravilhosa sobre a mansidão, mas isso ele faz na perspectiva
bíblica:
[...]
Trata-se de uma submissão do espírito humano para
com
Deus, e, em seguida, para com o homem. A mansidão
é
resultado da verdadeira humildade, por causa do reconhecimento do valor alheio,
com recusa de nos considerarmos superiores. Deus é a fonte dessa graça, e
Cristo Jesus é o seu exemplo supremo, o que Ele demonstrou em todo o seu modo
de tratar os homens. (CHAMPLIN, 1995, p. 511)
Nessas
duas definições, está claro que para o espírito humano ser humilde, manso,
reconhecer o valor do outro, sem querer ser superior a ninguém, é uma atitude
que vem do próprio Espírito Santo para o homem que se quebranta a Ele. Se assim
não for, sempre o espírito de soberba e exaltação é o que o dominará.
A
mansidão é uma qualidade que está presente em toda a Biblia. No Antigo
Testamento, ela é apresentada como a glória para uma mulher. O que torna uma
mulher bonita, cheia de charme, elegante não são apenas os apetrechos
exteriores, mas sim sua delicadeza, sua suavidade.
A
mansidão é também o segredo para a prosperidade de um
rei
(Sl 45.4,5), pois a tirania, soberba, sempre precedem a queda (Pv 16.18). Quem
está na liderança, seja de uma igreja, seja de uma empresa ou de um lar,
precisa ter o fruto da mansidão, doçura, delicadeza, pois dessa forma será
amado, respeitado. Às vezes pensamos que o soberbo, que é o arrogante, o
presunçoso, aquele que se acha melhor que todo o mundo é quem vai ter vitória,
mas o profeta Isaías escreveu sobre os mansos dizendo: “O pé a pisará:
os
pés dos aflitos e os passos dos pobres”
(Is 26.6).
Meu
irmão, nós somos tentados em alguns
momentos a querer usar do espírito de soberba, de impor nossa vontade sobre
os
outros, mas essa atitude infantil e carnal sempre nos colocará em sérios
apuros. Portanto, o melhor é ser dirigido pelo Espírito Santo, procedendo em
tudo com mansidão, pois a Bíblia diz que os mansos é quem herdarão a terra (Mt
5.5).
Os
homens mais valentes e perigosos que o mundo já conheceu estão no cemitério,
aqueles que se acham mais espertos,
cheios
de tramas, negociatas, que se apresentam como duros,
maquiavélicos,
sempre estão perdendo os seus tronos. Por isso, nesse particular é melhor
seguir o ditado francês: “É preciso ter mãos de ferro com luvas de veludo”.
Mas
alguém pode perguntar: Por que os mansos vencem, visto que não agem com tramas,
truques, imposição, valentia?
A
resposta para essa pergunta é simples:
a) Ele está no amparo de Deus (SI 147.6).
b)
É guiado por Deus (SI 25.9).
c)
É defendido por Deus (SI 76.9).
Moisés
enfrentou muitas lutas, pelejas, oposições, mas saiu
vitorioso.
Isso porque manifestou um espírito de mansidão (Nm 12.3). Sobre a mansidão de Moisés, gosto muito da
definição que o teólogo Gordon J. Wenhan faz, pois ele a destaca como humildade
e dependência divina.
[...]
Desta vez, quando a sua própria posição estava sendo
questionada,
ele ficou em silêncio, pois era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os
homens que havia sobre a terra (3). A palavra “humilde” expressa melhor o sentido
da palavra hebraica anaw do que manso.
E uma palavra que em outras passagens é usada apenas em poesia. Algumas
vezes ela se refere às pessoas que estão
na
pobreza propriamente dita, ou aos que são fracos e
susceptíveis
de serem explorados (Am 2.7; Is 11.4).
Tais
pessoas
precisam esperar a ajuda de Deus, porque são
incapazes de resolver os seus próprios problemas...”.
(WENHAN,
1991, p. 118)
A
mansidão de Moisés é descrita então como uma dependência total e plena de Deus.
Ele não era um homem fraco, sem caráter, que deixava as coisas ficarem soltas,
nem tampouco um covarde, que não agia, mas era forte, destemido, severo,
irava-se no momento apropriado, e humilhava-se no momento certo. Se Moisés
fosse fraco, sem ânimo, atitude, jamais teria conduzido o povo de Deus à Terra
Prometida.
No
Novo Testamento, praótes nunca aparece isolado; sempre
vem
acompanhada do amor. E a mão de ferro com luvas de veludo (ICo 4.21), para que qualquer atitude nunca
seja firmada na soberba, amargura, mas sim na boa vontade para com o próximo.
Essa
postura Paulo teve.
A
mansidão, agindo na vida do servo de Deus, faz com que
ele
tome atitude baseada na humildade, simplicidade, e não na soberba ou em um
sistema legalista. Existem regras que não são feitas pelo amor; antes, visam
mais complicar que ajudar, mas vivendo dominado pelo fruto do Espírito, a
mansidão, as atitudes tomadas sempre serão grandiosas e benéficas.
Em certos
momentos Jesus agiu mais
com o espírito
da
mansidão do que com o sistema
legalista do seu tempo, quando os
acusadores apresentaram a mulher
apanhada em adultério, fizeram menção
da lei, pela qual
ela deveria ser julgada e morta,
mas Ele se apresentou manso e livrou aquela mulher (Jo 8.5-11). Paulo também
agiu baseado nesse mesmo princípio
(2Co 10.1).
O
cristão deve viver em mansidão, humildade, tanto mental
mente
como na prática, isso porque o seu grande mestre, Jesus, jamais esboçou espírito de soberba, grandeza, superioridade, mas foi manso (Mt
11.29). Quando a mansidão é uma realidade presente na vida dos servos de Cristo,
não há no seu meio espaço para a soberba, mas atitude humilde para servir e
agradar os outros (Ef 4.2).
O
Relacionamento de Praótes
com a Severidade
Os que não querem viver em mansidão serão
fortemente
repreendidos
por estarem agindo no espírito da soberba. Paulo era manso, mas perguntou aos
crentes da igreja de Corinto de que forma queriam que ele fosse até eles, se
com mansidão ou vara (1 Co 4.21). Ser manso não quer dizer que as coisas
erradas jamais devem ser corrigidas, que uma postura severa não deve ser
tomada! Pelo contrário, a verdadeira
mansidão exige que a justiça seja feita.
Paulo
lutou constantemente contra aqueles que eram soberbos
e
que contrariavam os ensinos da Palavra de Deus, mas sua postura era de
mansidão. Ele jamais procurou criar embates, guerras, confusão. Ensinava que,
para com essas pessoas belicosas, os servos de Deus deveriam evidenciar
humildade, mansidão, cortesia. “Que da ninguém infamem, nem sejam contenciosos,
mas modestos, mostrando toda a mansidão para com todos os homens” (Tt 3.2).
A
mansidão não apenas contrasta com o espírito de soberba
e
reprova os desobedientes, como procura demonstrar para o
próprio
cristão sua pequenez, sua insignificância e quanto depende da Palavra de Deus
para poder crescer cada vez mais (Tg
1.21).
As
bênçãos da mansidão para nossa vida são estas:
a)
A correção que o cristão faz para com o outro é no espírito de mansidão (Gl
6.1). Um servo de Deus jamais corrige o outro para lhe causar vergonha,
humilhação, mas sempre visando à sua perfeição espiritual. A correção procura
levantar o caído, nunca, jamais, deixá-lo em um sentimento constante de
derrota.
b) Ela vence com delicadeza os que têm o
espírito de opsição
ferrenha. O servo de Deus tem a missão
de combater os que
ensinam doutrinas erradas, que provocam perturbações no meio
da igreja, mas sua ação deve ser sempre com mansidão (2 Tm 2.25). Lembre-se: fogo não se apaga com
fogo, mas com água.
c) A mansidão é uma forma de se apresentar o
nosso testemunho perante todos. Um
cristão dominado pela mansidão
não
procura impor suas verdades, mas responde com mansidão
e
temor os que pedirem razão de sua fé em Cristo
(1 Pe 3.15).
Um
espírito manso e quieto, com sabedoria, é a maneira mais
apropriada
para se atrair os pecadores para o nosso meio
(Tg 3.13; 1 Pe 3.4).
d)
Ela conquista. Quem tem esse fruto na vida com certeza
conquistará
a terra (Mt 5.5).
Nós
devemos ter esse fruto em nossa vida porque foi ele
que
caracterizou grandemente a vida de Cristo. Jesus disse que devemos aprender
dEle, pois era manso (Mt
11.29); em uma das profecias vaticinadas sobre Ele, foi destacada a
mansidão ou humildade (Zc 9.9); e Paulo, falando aos crentes rebeldes de Corinto,
usou sua autoridade tomando como exemplo a mansidão de Jesus Cristo (2 Co
10.1).
Quando
a mansidão domina a vida do crente, ele tem auto
controle,
a força da natureza pecaminosa não se sobressai. Por essa razão, pode
controlar-se diante das mais difíceis situações, e tratar com delicadeza os que
se lhe opõem. A mansidão nos ensina a repreender sem ferir, a discutir um
determinado assunto sem detratar o próximo, a irar-se sem pecar. A mansidão
ensina-nos a viver bem com nós mesmos e com o nosso irmão.
A Peleja com o Espírito Combativo
A
palavra grega erithéia fala de rivalidade, ambição egoísta, discórdias,
espírito partidário que se fundamenta no egoísmo.
A
rivalidade ou peleja como obra da carne sempre busca fazer
oposição
à obra de Cristo, visando à contenda: “Nada façais por contenda ou por
vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si
mesmo” (Fp 2.3).
Precisamos
entender que há uma distinção entre erithós no
grego
koinê para o grego clássico. No grego clássico essa palavra era entendida como
alguém que era contratado para um serviço sem expressar qualquer sentido
negativo. Ela expressava também o sentido de se conseguir votos para um
determinado cargo por meio de pessoas contratadas.
No
entanto, cada vez mais essa palavra foi sendo espalmada
do
seu real sentido, passando realmente a ser negativa. Alguns começaram a dizer
que erithós estaria firmada em uma atividade puramente egoísta, em que os
partidários buscavam chegar ao poder apenas para realizar seus desejos egoístas,
sem qualquer preocupação com o povo ou com uma política verdadeira que os
beneficiasse.
Note
que num primeiro momento essa palavra era entendida
como
uma pessoa que era contratada para prestar um serviço e
dele
tirar seu sustento, mas agora ela é entendida não apenas como uma busca por um
dinheiro, mas sim por uma posição marcada
pela ambição, com o objetivo de apenas alcançar seus interesses próprios.
Existem
muitos que estão fazendo pelejas nas igrejas, alguns
buscando
cargos, posições, mas será se realmente é pelo bem da obra de Deus, ou seria
para fins pessoais? Paulo falou daqueles que pregavam o Evangelho, mas não com
sinceridade, pois queriam tão somente desacreditar o seu apostolado.
N
o meu livro Tesouros nas Cartas da
Prisão, falando sobre
esses
pregadores falsos e o posicionamento de Paulo, digo:
Esses
homens buscavam egoisticamente apenas posição, tudo por meio de artimanhas,
meios desonestos, era assim que dizia Aristóteles, usando a palavra eritbéia,
rivalidade ou
ambição
egoística (Rm 2.8; G15.20; Tg 3.14,16). Eles tinham
em
mente duas coisas: tirar a influência de Paulo na congregação e aborrecê-lo na
prisão. Os que lerem esse texto devem entender que a posição de Paulo em
respeito a esses falsos pregadores é que ele não os defende, mas defende
somente o Evangelho.
Mesmo
que o Evangelho fosse usado por meios ilegais para interesses pessoais, ele é o
poder de Deus para salvar qualquer pessoa. E então, Paulo enfatiza o poder do Evangelho.
Segundo Michael, diz que Paulo estava agitado
quando
escreveu esse versículo. (GOMES, 2015, p. 129)
Os
que são dominados pela eritbéia sempre estão se opondo
às
verdades divinas, querendo causar transtorno em tudo, pois seu desejo por
alguma coisa não vem dominado por bons planos, nem está alicerçado no bem comum
de todos. Antes, seu objetivo é conquistar o melhor para si, tudo de modo
egoísta, ao contrário do servo de Deus, cujo anelo é fazer tudo para glória de
Deus (Rm 2.8-10).
Nas
palavras de Paulo, ele usa eritbéia sempre de modo negativo, expressando o
sentimento daqueles que realmente estão dominados pelo pecado, o que faz com
que a inveja, ira, intrigas, apareçam no meio do povo de Deus (2 Co 12.20).
Se
vivermos nos domínios do Espírito Santo, jamais iremos
produzir
as obras da carne, e evitaremos o desejo egoístico de querer fazer alguma coisa
na obra de Deus apenas para ganharmos posição, sermos aplaudidos, nem faremos
concorrência com nós mesmos.
Hoje
vemos pregadores que
fazem questão de desfazer dos
outros, não é por zelo, nem por amor à
Palavra, nem para
edificação
de vidas, mas seu intento é ser reconhecido
como
um
grande especialista em matéria de pregação, teologia. Nesse ponto, é bom seguir
a recomendação de Paulo: “Nada façais por contendas...” (Fp 2.3).
Quando agimos
dominados pelo espírito combativo da
peleja,
os males que surgirão dentro da igreja serão os piores, especialmente o
partidarismo. No momento em que essa obra carnal dominou o coração de muitos
crentes em Corinto, eles passaram a olhar para Paulo e outros apóstolos com
desprezo, já priorizando outros: “Quero dizer, com isso, que cada um de vós
diz: Eu sou de Paulo, e eu, de Apoio, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo” (1 Co
1.12).
Meus
irmãos, jamais devemos pelejar por qualquer coisa ou
cargo
na igreja ou em comissões, acreditando que por estar ali é que seremos vistos,
reconhecidos, nem querer servir ao corpo de Cristo para sermos reconhecidos
pelos homens. Se estivermos com esse sentimento, precisamos urgentemente nos
esvaziarmos dele, pois corremos o risco
de pagarmos o mesmo preço que Ananias e Safira pagaram (At 5.1-16).
As
pelejas na igreja produzem intrigas, brigas, politicagem,
e
alguns crentes começam a fazer parte de um determinado grupinho não por querer
bem à obra, mas porque deseja também
uma
posição na igreja.
Uma
prova bem clara dessa verdade é que em muitas reuniões
que
se prolongam na igreja e em outros
ambientes, quando se
sabe
que é para tratar de um assunto polêmico, ou para resolver o caso de um obreiro
que está com problema, a maioria se mostra interessado, mas quando é para falar
de oração, evangelismo, missão, muitos saem do recinto.
Para
debelarmos de vez com o espírito de pelejas no meio da
igreja,
o caminho certo é vivermos debaixo do poder do Espírito Santo, sempre tendo
Cristo como centro de tudo, pois assim nossos sentimentos e desejos serão sinceros
e aprovados por Deus.
Fonte: Aqui👇👇
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