A experiência de Abraão, nosso pai na fé


I. A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ

1. Definição. A justificação é um ato divino, de cunho jurídico, e implica em declarar justo o indivíduo. Diz Daniel B. Pecota, na obra Teologia Sistemática, Uma Perspectiva Pentecostal (CPAD): “O termo ‘justificação’ refere-se ao ato mediante o qual, com base na obra infinitamente justa e satisfatória de Cristo, na cruz, Deus declara os pecadores condenados livres de toda a culpa do pecado e de suas consequências eternas, declarando-os plenamente justos aos seus olhos”.
Myer Pearlman definiu assim a justificação: “É um ato da livre graça de Deus pelo qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos aos seus olhos somente por ser imputada a justiça de Cristo, que se recebe pela fé”.
2. Justificação significa perdão dos pecados (vv.7,8). O sentido do verbo “justificar”, (que aparece 39 vezes no Novo Testamento, 27 das quais nos escritos paulinos), vai muito além de um mero conceito jurídico humano e diminuto, e de um estéril pronunciamento forense. Através da justificação, sublime doutrina fundamental, o pecador arrependido passa a ser visto por Deus como um justo.
3. O que isso representa? Representa vida (Rm 5.17-19), perdão de pecados (vv.7,8), cujo resultado é a santificação. Romanos 4.25 diz que a ressurreição de Jesus originou a nossa justificação. Se Jesus não tivesse ressuscitado não haveria justificação, nem salvação.

II. O PATRIARCA ABRAÃO

1. A fé de Abraão (v.1). Ele estava com 75 anos quando partiu de Harã. Deus prometera-lhe multiplicar a sua descendência, e dar-lhe a terra de suas peregrinações. Promessa esta ratificada quando Abraão era já velho, o qual não duvidou do poder de Deus nem de sua promessa. Abraão não levou em conta a sua idade nem a de Sara, cujo período de maternidade já havia passado. Além disso, ela era estéril.
Essa fé em Deus foi-lhe imputada como justiça. Todo o capítulo 4 de Romanos gira em torno de Gênesis 15.6: “E creu ele no SENHOR, e foi-lhe imputado isto por justiça”. O apóstolo está mostrando que Abraão foi justificado diante de Deus pela fé e não pelas obras.
2. Uma doutrina coerente (vv.2-5). Essa passagem citada por Paulo não foi uma escolha aleatória. As boas obras de Abraão eram frutos de sua fé em Deus. Vejamos o desdobramento dos versículos acima. Você já viu alguém agradecer a seu patrão por haver recebido seu salário? Claro que não! Por que? Porque o patrão cumpriu com o seu dever, retribuindo-lhe um serviço prestado: “Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida” (v.4).

III. O REI DAVI

1. A bem-aventurança do perdão (vv.6,7). O apóstolo aproveitou a oportunidade para citar o Salmo 32, que corresponde ao mesmo contexto. O verbo “imputar” no Salmo 32 é o mesmo de Gn 15.6. “Imputar” é creditar ou lançar na conta de uma pessoa. Deus credita a justiça na conta do pecador. Isto é: Deus “conta” os homens como justos por causa do que creem e não por causa de suas obras. Assim, diante de Deus o cristão, embora pecador na condição humana seja posto na posição (imputado) de justo. O salmista diz que é bem-aventurado o homem que obtém o perdão de Deus. O perdão é gratuito, depende de o pecador buscar e crer na bondade de Deus.
2. Pecados cobertos. Esta expressão dizia respeito às transgressões e pecados “cobertos” com o sangue expiador do sacrifício de animais no tempo do Antigo Testamento (Lv 4.1-5.13; 6.4-30; 8.14-17; 16.3-22). Mas, agora, o perdão dos pecados é alcançado pelos homens através da fé no sacrifício único e perfeito de Cristo pelos pecados (Hb 10.1-12). Essa fé é contada como justiça diante de Deus.
Cabe aqui uma observação: Não confundir “pecados cobertos” com “pecados encobertos”. Esta última expressão diz respeito a pecados escondidos, que, na dispensação da graça, no caso dos fiéis, é necessário confessá-los para se obter vitória (Pv 28.13).

IV. A CIRCUNCISÃO

1. Definição. Circuncisão é uma espécie de cirurgia de remoção do prepúcio. Essa prática, em Israel, foi instituída por Deus como sinal da aliança feita com Abraão (Gn 17.11), e depois com toda a nação israelita (Dt 10.16; 30.6).
2. Novo Testamento. Os cristãos, tanto gentios como judeus, estão desobrigados dessa prática (At 15.3-21; Gl 2.3; 5.6). O apóstolo já havia advertido os gálatas: o cristão que observa tal prática, como condição para a salvação, ainda reconhece a sua dívida com a lei, e, por isso, está obrigado a cumpri-la na sua totalidade (Gl 5.1-4). Em outras palavras, ele volta ao seu estado original de pecador, carente de salvação.
3. Significado da circuncisão de Abraão (vv.9,10). Se Abraão é o pai dos judeus, segundo a carne (v.1), isso significa que a justificação pela fé é só para os judeus? O apóstolo lembra que Abraão foi justificado pela fé quando ainda era incircunciso. Pois de Gênesis 15.6, (justificação de Abraão pela fé) a Gênesis 17.11, época em que ele foi circuncidado, há um período de 14 anos. Assim, Abraão é o pai de todos os que creem — tanto judeus como gentios. Daí, a Igreja Cristã ser reconhecida como o verdadeiro Israel. O fator raça já não tem qualquer importância na dispensação da graça.
4. Abraão é nosso pai (vv.11,16). Esta doutrina era uma afronta para os judeus. Para nós que nascemos numa cultura diferente da que viveu Paulo, e por estarmos habituados aos conceitos cristãos, nada disso soa estranho. Naquela época, porém, afirmar que os verdadeiros filhos de Abraão eram os cristãos, independentemente de serem ou não judeus, caía como uma bomba no meio judaico. Nesse sentido, Paulo era visto como progressista e inovador.
Os judeus daqueles dias achavam que Paulo estava destruindo os costumes de seus antepassados, e não se contentaram com isso. Eles também achavam que o apóstolo estava-lhes roubando Abraão como o patriarca da nação israelita. Até mesmo no seio da Igreja, Paulo enfrentava perseguição dos judeus e oposição dos judeus cristãos (2Co 11.24-26). A fúria dos judeus chegava a ponto de perseguirem a Paulo de cidade em cidade, até o prenderem (At 21.20-22,28).
5. Selo da justiça da fé (v.11). O selo não é a essência de algo que foi selado, mas a sua confirmação ou aprovação oficial do que se acha escrito. Uma pessoa pode ser um exímio motorista, um ás no volante, mas precisa submeter-se a um exame a fim de receber a carteira, que é o certificado que atesta a sua habilitação: No caso de Abraão, a circuncisão atestava a sua justificação; isto é: ele já estava justificado quando foi circuncidado.
O mesmo se pode dizer com respeito ao batismo. O cristão é batizado porque já é salvo, e não para ser salvo. O batismo serve como selo daquilo que já possuímos — a salvação pela fé em Jesus. Se acrescentarmos qualquer coisa à fé, como condição para se obter a salvação, voltaremos ao legalismo. Por isso pregamos que o batismo não é salvação.

CONCLUSÃO

Se o homem é salvo pelas obras, como ensinam o Judaísmo, o Catolicismo e as seitas, ele não tem de agradecer a Deus. O homem estaria recebendo o salário condizente aos seus feitos. A salvação, portanto, é um ato soberano da graça de Deus (Ef 2.8,9; Tt 2.11; 3.5), e não dos méritos humanos (Is 64.6).




Fonte: Lições Bíblicas CPAD 1998 2º Trimestre — Jovens e Adultos

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