I. CONCEITO DE ESTADO
1. Estado. O apóstolo nessa breve seção de sete
versículos, descarta a possibilidade de a Igreja desconsiderar as autoridades
constituídas. O Estado é a nação politicamente organizada ou uma coletividade
organizada para fins de governo, e a política é a arte de bem governar e
administrar. Onde houver uma comunidade, há necessidade de uma hierarquia política
e de uma organização para protegê-la, beneficiá-la e regê-la por leis que
regulamentem com justiça e equidade a vida em sociedade.
2. Pátria. Disse Rui Barbosa: “A pátria não é ninguém:
são todos... não é um sistema e nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma
de governo, é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço
dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da
liberdade”. O cristão, portanto, deve ser patriota, pois é um filho de Deus,
tendo na sua vida o amor de Deus e a direção do Espírito Santo para praticar a
justiça baseada no amor cristão.
3. As duas pátrias. O apóstolo Paulo também era cidadão de duas
pátrias — cidadão do céu (Fp 3.20) e ao mesmo tempo cidadão romano (At
22.25-28). Era cidadão romano, mesmo sendo judeu e, portanto, pertencente a uma
raça subjugada por Roma. Ele reconhecia essa dupla cidadania, pois não
renunciou a sua cidadania da terra por se tornar cristão, antes se valeu de
suas prerrogativas (At 25.11). Por isso também temos compromisso com as duas
pátrias — a terrestre e a celestial.
4. As leis romanas. Roma era um império tirano e pagão. Uma
pirâmide de corrupção e poder, quase que indestrutível. Mesmo assim, suas leis
protegeram até mesmo o apóstolo Paulo quando sua vida corria risco entre os
judeus (At 23.20-24). Paulo recorreu às leis romanas, quando sentiu-se violado
nos seus direitos como cidadão de Roma (At 25.9-11).
II. AS AUTORIDADES CONSTITUÍDAS
1. A submissão (v.1a). “Toda a alma” é o mesmo que todo o homem. O
apóstolo escreveu esta mensagem para os cristãos em Roma, a capital do Império.
Com certeza devia haver naquela igreja alguma relutância por parte de alguns,
com relação ao Estado, de outra forma o apóstolo não iria abordar esse assunto.
2. “Ordenadas por Deus” (v.1b). A submissão às autoridades é pelo fato destas
serem constituídas por Deus para o bem-estar social do povo, incluindo os
cristãos. O próprio apóstolo viveu essa experiência, quando as próprias leis
romanas protegeram o apóstolo da fúria dos judeus (At 25.9-11). Deus delegou
aos homens a sua autoridade.
3. É pecado resistir às autoridades
(v.2). Quem desconsidera as leis e os
líderes de sua nação, estado ou município, está simultaneamente desconsiderando
o bem-estar da população e a ordem pública. Se o cristão se recusa servir a sua
nação, ele não está amando o seu próximo, nem colaborando para o bem-estar da
sociedade.
4. Oração pelos governantes. Agora, a vida espiritual de cada um é outro
assunto; por isso devemos orar por eles (1Tm 2.1-4). Devemos orar pelos nossos
governantes, tanto pela sua administração como também para a salvação deles, e
para que possamos ter uma vida pacífica na sociedade.
III. O SERVIÇO MILITAR
1. A espada (v.4). As forças armadas e as polícias civil e
militar ou qualquer corporação afim, não são uma figura decorativa. Essas
instituições existem para manter a ordem pública. Por isso é necessário punir
os infratores da lei. Essa punição é representada nesse texto (v.4), pela
palavra “espada”.
2. Pena capital. Muitos entendem que o v.4 é uma referência à
pena capital. Pode ser. Deus instituiu a pena capital (Gn 9.6; Lv 20.10). Essas
penas no Antigo Testamento foram substituídas na Nova Aliança pelas exclusões
do rol de membros da Igreja (cf. Lv 20.10; 1Co 5.1-5). O apóstolo não ordena,
não encoraja e nem aconselha a pena capital; simplesmente reconhece que ela
existe.
3. A Bíblia não condena um cristão
ser militar. Não há na Bíblia nenhuma
proibição ao serviço militar ou a quaisquer cargos públicos. João Batista
recomenda aos soldados que fossem bons servidores do Estado (Lc 3.12-14). Não
está escrito que Pedro obrigou Cornélio a abandonar a sua centúria (At
10.30-46), nem tampouco obrigou Paulo ao carcereiro de Filipos a deixar a sua
função pública, pois o mesmo carcereiro transmitiu a Paulo e a Silas a ordem de
soltura deles (At 16.31-36).
4. O centurião de Cafarnaum. Jesus em nenhum momento condenou ou desprezou
o serviço militar ou a quem a ele servia. Tanto é verídico isto que Ele curou o
criado deste militar (Mt 8.13). É importante notar que o mesmo que ensinou o
amor ao próximo não condenou o centurião por ser um servidor do exército que
dominava o próprio povo judeu.
5. Cafarnaum. Provavelmente Cafarnaum era um posto militar
importante do governo romano. Jesus não mandou que o centurião de Cafarnaum
abandonasse o cargo (Mt 8.5-13). Centurião é o comandante militar de uma
centúria (companhia de cem homens), mas poderia ser uma unidade militar maior.
6. Atitude do centurião. Pela atitude que o centurião tomou (Mt 8.8)
podemos observar que ele era um homem humilde, talvez até religioso, pois tinha
bom testemunho dos judeus (Lc 7.5). A demonstração de fé do centurião, que
muito impressionou o Senhor Jesus Cristo, foi exatamente sobre o serviço
militar: “Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas
ordens; e digo a este: Vai, e ele vai, e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu
criado: Faz isto, e ele o faz” (Mt 8.9). Jesus se admirou da fé dele (Mt 8.10).
IV. RECONHECENDO OS DIREITOS DO ESTADO
O cristão tem o dever de cuidar do
bem-estar de todos, e isso inclui o princípio bíblico de amar ao próximo. Não
reconhecer as normas baixadas pelo Estado com o propósito de preservar a ordem
e o bem-estar da sociedade é uma rebeldia contra os governantes diametralmente
contrária a Deus, pois a autoridade “é ministro de Deus para o teu bem” (Rm
13.4).
2. Os limites de César. O apóstolo Paulo escreveu esse ensino num
período histórico de relativa calma no Império Romano, com o objetivo de
estabelecer regras gerais sobre a conduta do cristão em relação aos governantes
terrenos. Essa obediência aplica-se a circunstâncias normais, porque, se de
alguma forma essas leis vierem a ferir a consciência cristã fundamentada na
Bíblia, não devemos considerá-las, pois os direitos de César terminam onde
começam os de Deus. César não pode ir além dos limites delegados por Deus. Numa
situação como essa ficamos com a Palavra de Deus (At 4.18,19).
3. Em caso de anomalia estatal. Num sistema monstruoso, brutal, como o
nazismo, a atitude do cristão torna-se bem diferente da que seria numa situação
normal. Numa situação de anomalia, a atitude do cristão deve ser semelhante à
de Pedro e João: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós
do que a Deus?” (At 4.19; 5.29).
4. O tributo (v.6). A tributação existe como recursos para gerir
o Estado e desta forma proporcionar a segurança do povo, o bem-estar social e
manter a ordem pública. Os impostos são revertidos para benefícios da própria
sociedade: “Por esta razão pagais tributos”. É, portanto, nosso dever obedecer
às autoridades, pagando-lhes impostos (v.7).
5. A responsabilidade cristã. O cristão como cidadão tem o dever de
obedecer às autoridades, pagando-lhes os impostos porque é mandamento bíblico
(Rm 13.7). É pecado sonegar impostos. Somos a luz do mundo (Mt 5.14). A Igreja
deve sempre ser o espelho da sociedade. O próprio Jesus pagou impostos, sendo
Ele dono de tudo; isso para não escandalizar os que estavam de fora e para nos
deixar o exemplo (Mt 17.24-27).
CONCLUSÃO
Vivemos num país democrático. Demos
graças a Deus por isso. Oremos com perseverança pelas nossas autoridades. É
melhor um governo imperfeito do que governo nenhum, onde prevalece o poder
absoluto, arbitrário, perverso e desumano. Também, diante de leis perversas não
devemos ser omissos. Ver Is 10.1,2; Tg 5.4-6.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD 1998 2º Trimestre —
Jovens e Adultos
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