I. CORRIGINDO UM MAL-ENTENDIDO
Depois de haver demonstrado que a
salvação dos gentios e judeus dá-se unicamente pela fé, por meio de Jesus
Cristo, agora surge uma dificuldade gerada por uma interpretação errônea.
1. O duplo problema. Se a salvação é pela fé, então cada um pode
fazer o que quer e andar como quiser? Se a lei não salva, temos algum
compromisso com ela? A dificuldade era dupla, porque havia os que se
interessavam por essa interpretação distorcida (Jd v.4). Por outro lado, os que
entendiam o ensino paulino dessa forma o condenavam. Haja vista os judeus (Rm
3.8). Mais adiante, o apóstolo defende-se dessa acusação (v.31).
2. A preocupação do apóstolo. A preocupação de Paulo não era somente evitar
o mal-entendido dos seus leitores, mas também defender-se dos que o
interpretavam de maneira errônea. O apóstolo via nisso o risco de o
Cristianismo cair no antinomianismo, que é libertinagem. A preposição grega anti, significa “contra”, e o substantivo nomos, “lei, norma”. A partir daí o
apóstolo dos gentios faz uma exposição mostrando, provando e justificando ser
incompatível com o espírito do evangelho de Cristo o crente viver em pecado.
3. A doutrina de Paulo. Convém lembrar que a Epístola aos Romanos não
é fruto do acaso, nem o apóstolo a ditou de improviso conforme as ideias lhe
iam surgindo (Rm 16.22).
Essa carta representa o que Paulo
vivia. Ele respirava essas coisas. São frutos de muitos anos de experiências
com Deus. Ele pregava essa doutrina em todas as igrejas (At 21.21). E,
inspirado pelo Espírito Santo, escreveu essas mesmas coisas aos romanos.
II. A INCOMPATIBILIDADE DO CRISTÃO COM O
PECADO
1. Origem das perguntas. As perguntas do apóstolo nos versículos 1 e 2
são diretamente em decorrência dos versículos 20 e 21 do capítulo anterior:
“... onde o pecado abundou, superabundou a graça”.
Paulo esclarece que isso não
significa que devamos pecar e continuar a pecar para recebermos mais graça.
Essas perguntas são o ponto de partida para esclarecer a necessidade de
santificação dos crentes, para que ninguém venha confundir a graça de Deus com
abuso da liberdade cristã.
2. Romanos 5.12-19. Nesse texto, o apóstolo traça um paralelo
entre Adão e Cristo, mostrando que toda a humanidade está unificada em Adão e
em Cristo.
Por causa da transgressão de Adão,
todos os homens tomaram-se pecadores, e por isso a morte passou a todos os
homens. Mas em virtude da justiça de Cristo, Deus coloca gratuitamente, pela fé
em Jesus, a salvação à disposição de toda a raça humana.
3. O paralelo exato. O apóstolo afirma que, com a promulgação da
lei, abundou o pecado. A condição humana piorou ao invés de melhorar. Até que
veio o Salvador e então “superabundou a graça”. No v.21, Paulo apresenta um
paralelo exato com relação à graça: “Para que, assim como o pecado reinou na
morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por Jesus
Cristo, nosso Senhor”.
4. O significado de Romanos 5.20. Isso não significa que o cristão deve
aprofundar-se no pecado esperando obter maior graça. Mas, assim como o pecado
reinou com domínio total sobre o homem, Deus quis que sua graça dominasse, por
meio da justiça de Cristo, produzindo vida abundante, no povo salvo.
III. MORTO PARA O PECADO
Morto para o pecado não significa que
o pecado, no cristão, tenha sido zerado. Isso seria perfeição absoluta. Vejamos
o que Paulo ensina a respeito.
1. “Morto para o pecado” (v.2). Essa fraseologia era muito comum entre
judeus, gregos e romanos. Para esses povos, “morrer” para uma pessoa, ou coisa,
significava separar-se totalmente, não ter mais nada com a situação anterior.
Isso significa que o novo nascimento
é o divisor de águas entre o velho homem e a nova vida em Cristo. Não temos
mais nada com o mundo; agora vivemos para Cristo (Cl 3.3-5). Como pode alguém
estar morto para o pecado e, ao mesmo tempo, continuar a viver nele? Não é
possível o cristão viver do mesmo modo que vivia antes de conhecer Jesus.
2. O velho homem crucificado (v.6a). Não confundir com Gálatas 5.24: “E os que são
de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”, pois, no
v.6, o apóstolo fala de algo que já nos aconteceu, enquanto que, em Gálatas,
ele fala de algo que acontece com todos os que são crucificados com Cristo. A
primeira (v.6a) fala de morte definitiva, legal — cravado, abolido legalmente
—, e é algo passado; enquanto que a segunda diz respeito à morte moral, que é
contínua, repetitiva. Essa morte espiritual do cristão, com respeito à
santidade, é morte para o pecado; e a de Gálatas 5.24 é a mortificação do “eu”.
3. Desfeito o corpo do pecado (v.6b). Essa expressão, usada pelo apóstolo, denota a
natureza pecaminosa que se exterioriza por meio do corpo. O pecado foi abolido
legalmente na morte de Cristo, e com Ele, morremos (2Co 5.14). Diante disso não
há como servir a um tirano destronado nem obedecer a um sistema caído.
A palavra grega para “desfeito” tem o
sentido de “vencido, dominado” e não destruído. A expressão: “A fim de que não
sirvamos mais ao pecado”, assinala o propósito de tudo isso. Ou seja: devemos
servir unicamente a Cristo, que é o nosso Senhor.
4. A morte liberta o homem de suas
obrigações (v.7). “Porque aquele que está morto
está justificado do pecado”. Não se pode aplicar uma sentença a um morto. Por
conseguinte, nosso compromisso com o pecado se foi quando morremos com Cristo.
Por isso, estamos libertos do reino do pecado. “Justificado”, aqui, diz
respeito à libertação do poder do pecado.
IV. VIVO PARA CRISTO
1. A ilustração do batismo (vv.4,5). Paulo ilustra essa situação na prática do
batismo, pois os cristãos de então tinham essa experiência (Mt 28.19; At 2.38).
Era, portanto, fácil compreender a ilustração do batismo. Essa passagem mostra,
com muita clareza, que o batismo é por imersão, como o próprio verbo grego baptizo sugere: “mergulhar, imergir”, o
oposto de aspergir.
2. Nossa identidade com Cristo
(vv.8-11). Leia mais uma vez os versículos
4 e 5, e veja a analogia que o apóstolo faz. “Sepultados com ele pelo batismo
na morte” significa que estamos identificados com Cristo na sua morte. Da mesma
maneira, fomos ressuscitados com ele na sua ressurreição (vv.9,10). Diante
disso, vem a conclusão: “Considerai-vos como mortos para o pecado; mas vivos
para Deus, em Cristo Jesus nosso Senhor” (v.11).
3. Santificação (v.11). “Vivo para Deus” significa viver em
santidade. A santificação é um dos aspectos da salvação, bem como a
justificação e regeneração (1Co 6.11; Tt 3.5-7). O termo original grego, hagiasmos, “santificação”, significa “separar
do mundo, apartar-se do pecado, consagrar”.
4. Agora devemos dominar o pecado
(vv.12-14). A salvação pela graça traz como
resultado a santificação (1Co 6.11). “Não reine, portanto, o pecado em vosso
corpo mortal” (v.12), implica viver em retidão moral, de maneira irrepreensível
e inculpável no meio de uma geração perversa e corrompida (Fp 2.15; Cl 1.22;
1Ts 2.10).
CONCLUSÃO
Ainda hoje há quem interprete
erroneamente a doutrina bíblica “pela graça e pela fé somente” da sola gracia, sola fide. Essa doutrina, porém, mostra que
não somos servos da lei, mas servos voluntários de Cristo.
Somos livres do pecado para servir à
justiça de Deus (Rm 6.18). A salvação pela graça não nos exime de compromissos
com Deus, com a Palavra e com a Igreja. Devemos ter muito cuidado, pois o abuso
da liberdade cristã leva o cristão à libertinagem.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD 1998 2º Trimestre —
Jovens e Adultos
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