I. CONCEITUAÇÃO DE IGREJA
1. Origem
da palavra. A palavra
igreja vem do grego, ekklesia,
significando, literalmente, “os chamados para fora”. Na Grécia antiga,
identificava uma “assembleia”, em que um arauto convocava as pessoas para uma
reunião, que podia ser realizada ao ar-livre, numa praça, com finalidade
religiosa, política ou de outra ordem. Na realidade, tomos tirados “para fora”
do mundo e Ele “nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Ef
2.6).
2.
Conceituação bíblica. No Novo
Testamento, encontramos expressões que denotam o significado e missão
espiritual da Igreja.
a)
“Multiforme sabedoria de Deus” (Ef 3.10). Neste aspecto, a igreja revela ao mundo a sabedoria
de Deus, em suas muitas e variadas formas de manifestação. A criação do mundo,
do homem, e do universo, bem como suas relações com as coisas criadas são
expressões da sabedoria divina (ver Sl 19.1-4; Rm 1.19,20).
b) “Coluna
e firmeza da verdade” (1 Tm 3.15). É a única
e exclusiva instituição, em todo o mundo, em todos os tempos, que tem
credenciais para ser sustentáculo da verdade. As “verdades” dos homens mudam a
cada dia. A verdade apresentada pela Igreja é imutável, pois é encarnada no
próprio Cristo (vide Jo 14.6).
II. O FUNDAMENTO DA IGREJA
1. Não é
Pedro (Mt 16.15-18). O texto
bíblico revela o diálogo entre Jesus e os discípulos, quando estes disseram que
certas pessoas o consideravam como João Batista ressurreto, ou Elias, ou
Jeremias ou outro dos antigos profetas (ver Mt 14.1,2; Lc 9.7,8; Mc 6.14,15).
Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (v.15). “E Simão Pedro,
respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v.16). Diante dessa
resposta, Jesus disse: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi
carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu
te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela” (vv.17,18).
2. A pedra
é Cristo. Na
resposta de Jesus (v.18), podemos ver que Ele próprio é a pedra sobre a qual a
Igreja está assentada. Quando Ele disse: “Tu és Pedro”, usou a palavra petros que quer dizer “pedrinha” ou “fragmento de
pedra”, que pode ser removida. De fato, Pedro demonstrou certa fragilidade, em
sua personalidade. Numa ocasião, deixou-se usar pelo inimigo (Mc 8.33); num
momento crucial, negou Jesus três vezes (Mt 26.69-75). Por isso, quando Jesus
disse: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, Ele utilizou a palavra petra, que tem
o significado de rocha inamovível, e não petros que é “fragmento”.
3. A
edificação da Igreja. Em Mt
16.18, vemos a promessa da edificação da Igreja sobre o próprio Cristo. Ele é a
Rocha. Somente Ele satisfaz essa condição, conforme lemos em 1 Co 3.11; 10.14;
Rm 9.33; Mt 21.42; Mc 12.20; Lc 20.17. Sem dúvida, Pedro foi um dos líderes da
Igreja primitiva, ao lado de Tiago e de João (At 12.17; 15.13; Gl 2.9).
Contudo, não há base bíblica para afirmar que a Igreja teria Pedro como a rocha
sobre a qual ela seria edificada. Jesus é o fundamento da Igreja (1 Co 3.11).
Se alguém tem dúvida, basta ouvir o que o próprio Pedro disse em 1 Pe 2.4,5; At
4.8,11.
4. As
chaves dadas a Pedro. Em sua
resposta a Pedro, Jesus disse: “E eu te darei as chaves do Reino dos céus...”
(Mt 16.19a.). As “chaves dos céus” são melhor entendidas como o poder e a
autoridade para transmitir a mensagem do evangelho. No Dia de Pentecostes,
Pedro foi usado por Deus para abrir as portas do Cristianismo aos judeus (At
2.38-42) e aos gentios, na casa de Cornélio (At 10.34-36). Portanto, Pedro não
é o porteiro do céu, como pensam os romanistas.
III. PRERROGATIVAS DA IGREJA
1. O poder
de ligar e desligar. “...e tudo
o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra
será desligado nos céus” (Mt 16.19). Trata-se de autoridade dada por Cristo à
Igreja, representada ali por Pedro, usado por Deus, e estendida a todos os
apóstolos (Mt 18.18; Jo 20.23), no sentido de receber a aceitação de pecadores
ao Reino dos céus, ou de desligá-los, mediante a autoridade concedida por
Jesus. Esse poder não é absoluto. Só pode ser utilizado de modo legítimo, nos
limites estabelecidos pela Palavra de Deus.
2. A
autoridade para reconciliar. Jesus
mostrou que há quatro passos importantes, para a reconciliação entre irmãos: a)
o ofendido deve procurar o irmão: “vai e repreende-o entre ti e ele só” (Mt
18.15a); neste passo, há uma bifurcação; “se te ouvir, ganhaste a teu irmão”
(Mt 18.15b); “mas, se não te ouvir”, vem o segundo passo; b) “leva ainda
contigo um ou dois, para que pela boca de duas testemunhas toda a palavra seja
confirmada” (Mt 16.16); c) “e se não as escutar, dize-o à igreja” (v.17a); d)
“e, se também não escutar à igreja, considera-o como um gentio e publicano”
(v.17b). Aqui, temos algumas observações. Primeiro, Jesus não mandou o irmão
ofendido pedir perdão ao ofensor, como ensina alguém, de modo ingênuo. Segundo,
vemos, nesse texto, a autoridade da Igreja para respaldar a reconciliação e
para excluir aquele que não quer reconciliar-se.
3.
Autoridade da concordância (Mt 18.19,20).
a) “Se
dois de vós concordarem na terra”. Esta
expressão mostra-nos o valor da união entre os crentes, bem como o valor da
oração coletiva, a começar por um grupo de duas pessoas, que resolvem orar a
Deus, em nome de Jesus (Jo 14.13), num só pensamento, num só propósito santo.
Esse ensino previne contra o egoísmo na adoração. Deus é “Pai nosso”, de todos,
e não apenas de cada indivíduo. A oração individual é valiosa (Mt 6.6), mas não
exclui a oração coletiva.
b) “Acerca
de qualquer coisa que pedirem”. A
expressão “qualquer coisa” tem levado muitos a uma interpretação forçada do
texto, crendo que o crente pode pedir o que deseja a Deus, tendo este obrigação
de atendê-lo. Ocorre que Jesus ensinou algumas condições para o crente ser
ouvido. Não é só dois crentes se unirem e pedirem, por exemplo, a morte de um
desafeto; ou para ganharem rios de dinheiro; ou para fazerem o casamento de
alguém com outrem. É necessário que as pessoas estejam em Cristo, e que sua
Palavra esteja nas pessoas (Jo 15.7). É importante lembrar que Deus nos atende
se pedirmos algo de acordo com sua vontade (1 Jo 5.14).
c) “Isto
será feito por meu Pai que está nos céus”. Conforme dissemos no item anterior, Deus
atende o crente que lhe pede algo em nome de Jesus (Jo 14.13), e se tal pedido
for da sua vontade (1 Jo 5.14).
d) “Dois
ou três” (v.20). Jesus nos
garante que podemos ter sua presença, não só nas grandes reuniões, mas em
qualquer lugar em que dois ou três crentes estejam em comunhão com Deus e com
eles mesmos. Dessa forma, a dimensão da igreja local (At 20.28; 1 Co 1.2) ou
universal (Hb 12.23) não depende de grandes números, mas de união e reunião em
nome de Jesus.
CONCLUSÃO
A Igreja
de Jesus Cristo, seja no sentido local ou universal, representa os interesses
do Reino de Deus, na face da Terra. Sem ela, certamente a humanidade não teria
como encontrar o caminho, a verdade e a vida, indispensáveis à salvação dos
homens. No sentido espiritual, a Igreja é a noiva do Cordeiro, “igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível” (Ef 5.27). Que nos sintamos felizes e honrados de pertencer à
Igreja do Senhor Jesus.
Fonte Lições Bíblicas CPAD Ano 2000 2º Trimestre - Jovens e Adultos
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