I. O CAMPO DA
ESCATOLOGIA BÍBLICA
1. A
escatologia tem sua base na revelação divina. A Bíblia é a revelação da vontade de Deus à
humanidade. Inicialmente, Deus escolheu a semente de Abraão, ou seja, o povo de
Israel, para revelar a sua vontade. Mais tarde, Deus ampliou o campo da sua
revelação e formou um novo povo, a Igreja, constituída de judeus e gentios (Ef
2.11-19). A partir de então, a Igreja é o alvo da revelação divina. Toda a
revelação aponta para o futuro e a Igreja caminha neste mundo com uma
esperança, pois é identificada como “peregrina e forasteira”, 1Pe 2.11. Ela
existe por causa da esperança (Rm 5.2; 8.24; Ef 4.4; 1Ts 4.13). A esperança
indica uma meta; traça planos para um futuro. O mundo pagão se fecha dentro de
um fatalismo histórico, sem expectativas, sem futuro, mas a Bíblia revela o
futuro.
2. A
escatologia pertence ao campo da profecia. A preocupação principal do estudo da
escatologia é interpretar os textos proféticos das Escrituras. As verdades
proféticas se tornam claras e definidas quando se tem o cuidado de
interpretá-las seguindo os princípios de interpretação, observando o seu
contexto histórico e doutrinário. O apóstolo Pedro teve o cuidado de explicar
essa questão quando escreveu: “E temos mui firme, a palavra dos profetas, à
qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro,
até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração”, 2Pe
1.19. Na verdade, o apóstolo procura contrastar as ideias humanas com a palavra
da profecia escrita na Bíblia. Ele fortalece a origem divina das Escrituras e
da sua profecia. Não podemos duvidar nem admitir falha na Palavra de Deus. Ela
é inspirada pelo Espírito Santo (2Tm 3.16). A inerrância das Escrituras tem sua
base na infalibilidade da Palavra de Deus. Outrossim, o mesmo autor declara que
“nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia
nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus
falaram inspirados pelo Espírito Santo”, 2Pe 1.20,21.
II. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA ESCATOLOGIA
Na
história da Igreja têm sido adotados vários métodos de interpretação no que
concerne às escrituras proféticas. Eles têm produzido explicações e posições
que obrigam os cristãos a serem cautelosos. Há idéias divergentes, por exemplo,
com respeito ao arrebatamento da Igreja. Alguns o admitem antes e outros crêem
que se dará no meio da Grande Tribulação. As teorias são várias, mas precisamos
ser definidos sobre o assunto. Para isso, dois métodos de interpretação devem
merecer a nossa atenção.
1. O
método alegórico ou figurado. Alguns
teólogos definem a alegoria “como qualquer declaração de fatos supostos que
admite a interpretação literal, mas que requer, também, uma interpretação moral
ou figurada”. Quando interpretamos uma profecia bíblica, sem atentarmos para o
seu sentido real, figurado ou literal, negamos o seu valor histórico, dando uma
interpretação de somenos importância. Corremos o risco de anular a revelação de
Deus naquela profecia. Daí, as palavras e os eventos proféticos perderem o
significado para alguns cristãos.
Quando o
sentido de uma profecia é literal e se interpreta alegoricamente, se está, de
fato, pervertendo o verdadeiro sentido da Escrituras, com o pretexto de se
buscar um sentido mais profundo ou espiritual. Por exemplo, há os que
interpretam o Milênio alegoricamente. Não acreditam num Milênio literal. Por
esse modo, além de mutilarem o sentido real e literal da profecia, anulam a
esperança da Igreja.
Tenhamos
cuidado com interpretações feitas superficialmente ao bel-prazer das
especulações do intérprete, com idéias próprias ou ao que lhe parece razoável.
Declarações como: “eu penso que é isso”, “eu sinto que é isso”, são típicas de
interpretações vaidosas, irresponsáveis e vazias de temor a Deus. Portanto, o
método alegórico deve ser utilizado corretamente. Paulo utilizou-o em Gálatas
4.21-31. Ele tomou as figuras ilustradas no texto com fatos literais da antiga
dispensação, mas apresentou-os como sombras de eventos futuros.
2. O
método literal e textual. Esse é o
método gramático-histórico. Isto é: se preocupa em dar um sentido literal às
palavras da profecia, interpretando-as conforme o significado ordinário, de uso
normal. A preocupação básica é interpretar o texto sagrado consoante a natureza
da inspiração da profecia. Uma vez que cremos na inspiração plena das
Escrituras através do Espírito Santo, devemos atentar para o fato de que há
textos que têm apenas um sentido espiritual, sem que exija, obrigatoriamente,
uma interpretação literal ou figurada.
Ambos os
métodos são válidos, mas devem ser utilizados com cuidado e precisão. Há uma
perfeita relação entre as verdades literais e a linguagem figurada. Temos o
exemplo bíblico da apresentação de João Batista no texto de João 1.6, que diz:
“Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João”. Notemos que o texto está
falando literalmente de um homem, cujo nome, de fato, era João. Os termos
empregados referem-se literalmente a alguém fisicamente. Mais tarde, João
Batista, ao identificar Jesus, usou uma linguagem figurada, quando diz: “Eis aí
o Cordeiro de Deus”, Jo 1.29. Na verdade, Jesus era um homem real e literal,
mas João usou a forma figurada para denotar o sentido literal da pessoa de
Jesus.
III. A PROFECIA NA PERSPECTIVA ESCATOLÓGICA
Não
entenderemos a profecia bíblica se a confundirmos com “o dom da profecia”. A
profecia bíblica tem um caráter inerrável, porque ela está nas Escrituras
inspiradas pelo Espírito Santo. A profecia, como dom do Espírito, tem a sua
importância no contexto da Igreja de Cristo na Terra, pois depende de quem a
transmite e, por isso, sujeita a erro e julgamento (1Co 14.29), e não pode ter
validade se a mesma choca-se com o ensino geral das Escrituras.
1. A
profecia cumprida e a futura. Para que a
profecia bíblica tenha o crédito que merece, devemos estudá-la no que concerne
ao que já foi cumprido e, também, referente ao futuro. Uma grande parte dos
livros da Bíblia contém predições. Quando estudamos as profecias cumpridas
podemos enxergar o seu caráter divino, e fazer distinção com as profecias não
cumpridas. Jesus, em seu discurso aos discípulos no aposento alto, falou do
ministério do Espírito Santo após sua ascensão aos céus, e disse: “Ele vos
ensinará e vos anunciará as coisas que hão de vir”, Jo 16.13.
2. A
profecia e o ministério da Palavra. Toda declaração bíblica sobre profecia é tão
crível quanto àquelas declarações históricas. Certo autor de teologia declarou
que “a história da raça humana é a história da comunicação de Deus com o
homem”. Deus mesmo recorre à sua Palavra, não como uma simples evidência da
verdade declarada, mas como a única forma pela qual nós podemos obter uma
perfeita e completa visão do propósito divino em relação à salvação. Por isso,
precisamos observar a história do passado, presente e futuro. Devemos ter
confiança de que assim como teve cumprimento a Palavra de Deus no passado e o
tem no presente, o mesmo acontecerá com as profecias relacionadas ao futuro.
CONCLUSÃO
As
Escrituras Sagradas apresentam um só sistema de verdade. Não importa o que
dizem as várias escolas de interpretação. Suas interpretações podem variar e
até estar equivocadas. E, nem a Bíblia se presta a dar apoio a qualquer sistema
de interpretação. O futuro é uma parte do plano de Deus, e só Ele conhece tudo
o que encerra a profecia. As opiniões humanas têm valor enquanto estiverem em
conformidade com as Escrituras.
Fonte: Lições Bíblicas CPAD 1998 3º Trimestre — Jovens e Adultos
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