A liberdade sob a lei do Espírito

I. O CONFLITO DA LEI

1. Considerações preliminares. Observe que o texto em pauta começa com a conjunção “portanto” (v.1), que mostra sua ligação com o capítulo anterior. E necessário entender a parte final do referido capítulo (7.13-25). Pois só entenderemos o capítulo 8 de Romanos se compreendermos devidamente o conflito da lei.
2. Paulo como cristão. Há muitas discussões sobre este tema: “O conflito da lei” (7.13-25). O mais provável é que o homem do conflito, em questão, é o apóstolo Paulo, representando os cristãos na sua luta contra o pecado. E, para essa interpretação, há três argumentos:
a) A natureza pecaminosa do homem. Ninguém está totalmente isento do pecado: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos” (1Jo 1.8).
b) O tempo verbal. Antes do v.12, o apóstolo usa o verbo no tempo presente, por exemplo: “...mas eu sou carnal” (v.14), “o que faço não aprovo... o pecado que habita em mim” (vv.15,17). O que não acontece antes do v.13: “... despertou em mim... reviveu o pecado e eu morri... me enganou, e me matou” (vv.8,9,11), que dá a ideia de passado.
c) Reconhecimento de suas fraquezas. O conflito espiritual abrange a confissão de alguém com elevado grau de maturidade cristã, pois reconhece suas debilidades diante da lei, algo que um não convertido dificilmente reconheceria.
3. Objetivo do texto de Rm 7.13-25. Paulo mostra a luta do homem religioso querendo obedecer à vontade de Deus, sem Jesus e sem o Espírito Santo. O propósito do apóstolo, nessa passagem, é mostrar que nada podemos fazer para obedecer a Deus sem a ajuda do Espírito Santo.
Somos absolutamente impotentes, e necessitamos da libertação do pecado e do “eu”. Mas isso só é possível em Jesus Cristo, nosso Senhor. Por isso, o Espírito Santo não aparece nessa passagem, e o nome de Jesus só aparece no v.25, que é o versículo de transição para o capítulo 8, e que inicia com “portanto”.

II. OS QUE ESTÃO EM CRISTO JESUS

1. A dupla bênção (vv.1,2). Jesus Cristo, em sua morte e ressurreição, nos salvou da condenação — “nenhuma condenação há” (v.1) e “a lei do Espírito de vida me livrou da lei do pecado e da morte” (v.2). Em Romanos, a palavra “lei” pode ser aplicada ao Pentateuco (3.21) e a todas as Escrituras (3.19), pois dos vv.10 a 18 há uma citação de Isaías e cinco dos Salmos. Aqui, no v.2, “lei do Espírito de vida” significa um princípio divino. Princípio esse que quebrou outro princípio maligno — a “lei do pecado e da morte”.
2. Carne (v.3). O conceito paulino de carne em Romanos pode aplicar-se à humanidade (Rm 3.20), à natureza humana (1.3), ao corpo (2.28), à descendência de um homem (4.1), à fragilidade humana (6.19), à velha natureza do crente (6.6; 7.18,25) e ao homem não regenerado (8.8). No v.3 diz respeito à natureza humana de Cristo (8.3). Ver 1Jo 3.5; 1Pe 2.22; 2Co 5.21.
3. Uma obra divina. Uma vez que a carne está debilitada e impotente para guardar a lei, acha-se esta impossibilitada de salvar. O problema, então, não era da lei, mas do homem sem qualquer poder para guardá-la.
A lei diz: “faça e viva”, entretanto, a graça diz: “viva e faça”. Fazemos a vontade de Deus com a ajuda e a direção do Espírito Santo para a nossa santificação.
4. A liberdade do Espírito (v.4). A liberdade em Cristo que gozamos advém do fato de não estarmos debaixo da lei, mas da graça (Rm 6.14). Uma vez debaixo da graça, “não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito”. É no capítulo 8 que a operação do Espírito Santo na vida do cristão é manifesta com mais clareza.

III. A INCLINAÇÃO DA CARNE E A INCLINAÇÃO DO ESPÍRITO

1. Carnais e espirituais (vv.5,6). O apóstolo fala de dois grupos de pessoas os carnais e os espirituais. Cabe a cada crente fazer uma análise introspectiva para verificar se suas inclinações são carnais ou espirituais.
O homem é aquilo que imagina a sua alma (Pv 23.7). E Jesus afirmou que o homem fala daquilo que o seu coração estiver cheio (Lc 6.45).
O pensamento do homem norteia o seu comportamento. Se a mente é carnal, seu comportamento é carnal, resultando em morte; se a mente é espiritual, seu comportamento é espiritual, resultando em vida e paz.
2. Inclinação da carne (v.7). Isso significa ter mente carnal, vida controlada pela carne. Tal pessoa não está sob o domínio do Espírito. Quem assim vive, não pode agradar a Deus (v.8). Só conseguiremos agradar a Deus fazendo-lhe a vontade. Mas só o conseguiremos se estivermos sob a direção do Espírito Santo.
3. Inclinação do Espírito. Os que são justificados pela fé em Cristo, nasceram de novo, e, portanto, são regenerados. São filhos de Deus. Eles ocupam-se inteiramente das coisas de Deus. Procuram conhecer cada vez mais a Cristo, inteirar-se da Palavra de Deus, dedicar-se à evangelização, à oração, ao jejum, ao louvor. Sua expectativa é a vinda de Jesus!

IV. O ESPÍRITO SANTO MORA EM NÓS

1. Mudança de homem religioso para homem espiritual. Interessante é observar o contraste entre os capítulos 7 e 8 de Romanos. No capítulo 7, o apóstolo afirma por duas vezes: “o pecado habita em mim” (Rm 7.17,20). No capítulo 8, é o Espírito Santo quem habita em nós (v.9).
Agora, somos devedores ao Espírito, que nos deu vida, e não à carne, que resulta em morte (vv.12,13).
2. O Espírito de Deus (v.9). O Espírito Santo é chamado “Espírito de Cristo” (At 16.7; Fp 1.19). São referências à deidade absoluta de Jesus (Jo 1.1; 9.5; Tt 2.13). Veja que o Espírito Santo, ou “Espírito de Cristo”, habita em nós (v.9). No versículo seguinte, lemos que Cristo habita em nós (v.10), e o v.11 diz que somos morada da Trindade.
3. Filhos de Deus (v.14). Somos filhos de Deus por adoção através do sacrifício de Jesus (vv.15-17; Gl 4.5,6). Como filhos, recebemos o Espírito Santo, e, por meio dEle, somos guiados (v.14). Eis porque o Espírito de Deus testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (v.16). O grande privilégio dos filhos de Deus é ser morada do Espírito Santo (1Co 3.16,17).

CONCLUSÃO

Os muçulmanos prostram-se diante de Alá (Deus em árabe) como escravos e não como filhos. Os judeus não ousam dirigir-se a Deus como Pai apesar de Deus chamar Israel de filho (Os 11.1). No entanto, podemos dirigir-nos a Deus, clamando: Aba Pai. Quão grande é o nosso privilégio!




Fonte: Lições Bíblicas CPAD 1998 2º Trimestre — Jovens e Adultos

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