(Subsídio Teológico Lição 7/ 1º Trim 2017)Benignidade versus Porfias

Diversas palavras são usadas para definir benignidade como virtude do fruto do Espírito: bondade, ternura e gentileza.
Benignidade do grego é chrestótes, quer dizer bondade, retidão e fazer o que é certo (Rm 3.12; G1 5.22; Ef 2.7; Tt 3.4).
No livro do pastor Stanley Horton, Doutrina do Espírito Santo no Antigo e no Novo Testamento, ele define benignidade desta maneira:

A benignidade é a generosidade que procura ver as pessoas da melhor maneira possível. É compassiva e dá a resposta branda, que segundo disse Salomão, desvia a ira, ou evita explosões de raivas (Pv 15.1). (HORTON, 1993, p. 194)

Na Vulgata Latina, benignidade é benignitas, trata-se de uma pessoa lhana, delicada, cortês, afável, que sabe tratar bem. Sumariamente, benignidade é uma pessoa bonita em generosidade, que sua presença é maravilhosa, doce, que todos se sentem bem de estar ao seu lado e que muitos nem sequer ousem atacar (2Co 6.6).

Estudiosos dizem que uma pessoa que tem a benignidade em sua vida, está carimbada com o símbolo de Deus, visto que Ele é a expressão maior da bondade (ICo 13.4).

Quem deseja ver a expressão maior da benignidade basta tão somente olhar o exemplo de Jesus na Palavra, Paulo diz que se desejamos ser benignos devemos imitá-lo (Ef 4.32). Atitudes inflexíveis e severidade, não fazem parte do caráter do servo de Cristo, mas sim a humildade, o respeito e a consideração.

Precisamos ter em nossa vida a benignidade, uma vez que é por meio dela que conseguimos manter a unidade do Corpo, a Igreja, pois quem é benigno sabe dar valor às pessoas. Existem alguns crentes, que estão no meio da igreja, que não medem esforços para tratar mal ou desvalorizar o seu irmão, isso em qualquer lugar, o que prova que essa virtude do Espírito não está em sua vida.

Jesus disse que nossa luz precisa brilhar diante dos homens para que o Pai seja glorificado (Mt 5.14-16), isso acontece quando o crente procura expressar perdão, misericórdia, amor e trata bem pessoas, mas quando ele se blasona, desfaz de alguém por se achar superior, mais intelectual, não somente se tornará alguém que inspira antipatia, mas todos jamais irão querer estar a seu lado. Um homem sem a benignidade perde sua identidade de humano.

Algo muito interessante na benignidade é que não somente os cristãos a contemplavam como algo divino, imperadores, filósofos pagãos, historiadores, todos afirmavam que ela expressava a verdadeira imagem de Deus no homem. Dentro da Escrituras Sagradas a benignidade é definida como tendo sua origem plenamente em Deus.

Tanto no Antigo como no Novo Testamento, Deus é visto como bom, e isso foi confirmado por Jesus, é claro que a maior ênfase sobre a bondade do Ser Etéreo não se dá apenas no campo da moralidade, mas, sim, de sua própria essência, é isso que se pode ver nas muitas citações bíblicas, tanto feitas por profetas como pelos salmistas (Jr 40.11,12; SI 106.1).

Muitos estudiosos, como no caso de Marcião, olharam para as páginas do Antigo e Novo Testamento de modo errado, por isso passaram a entender moralmente a Deus como um ser severo, ríspido e inflexível, porém, os que serviam a Deus com humildade, olharam para sua bondade como algo bem atrativo, gracioso e suave.

No livro História da Teologia, o doutor Bengt Hagglund, escrevendo a respeito de Marcião, diz:

Essa linha de pensamento aproximou Marcião da doutrina gnóstica dos dois deuses. Em Marcião — e isto era característica sua — o Deus criador do Antigo Testamento era o
Deus da Lei, que considerava um Deus de severidade e ira, que se vingava de seus inimigos e mantinha seus seguidores em servidão sob a Lei. O Deus supremo, como Marcião o concebia, não era tanto uma essência espiritual abstrata, um Deus infinitamente transcendental; era, antes, o Deus desconhecido que se revelou ao mundo em Cristo. Marcião o conceituava como Deus da graça e misericórdia, o Deus do amor puro. Esse Deus, dizia Marcião, combateu e conquistou o Deus da Lei e da justiça e, por graça pura, salvou os que creram nEle. (HAGGLUND, 1981, p. 33)

Na Enciclopédia de Orlando Boyer, ele fala da benignidade de muitas maneiras:

a) A benignidade de Deus dura para sempre (1 Cr 16.34).
b) A benignidade de Deus leva o homem ao arrependimento
(Rm 2.4).
c) O cristão deve revestir-se da benignidade (Cl 3.12).
d) A benignidade é uma virtude do fruto do Espírito Santo
(Gí 5.22).
e) O cristão precisa viver na benignidade do Espírito Santo
(2 Co 6.6).
f) A benignidade já foi manifestada (Tt 3.4).
g) Ela é pedras preciosas (Ez 27.22).
h) Como bons frutos (Jr 24.2).

A bondade de Deus é imensurável, ela é cosmológica, atinge
toda a natureza e beneficia até o mais vil pecador (Lc 6.35; SI 85.12). Deus mostra sua benignidade a todo tempo, isso porque é impossível Ele deixar de agir assim, pois jamais se esquece de ser benigno (Sl 77.9).

Tudo o que acontece de bom em nossa vida vem de Deus, às vezes, não entendemos o seu trabalhar, todavia, como disse Paulo, em tudo devemos dar graças (lTs 5.18), pois esse mesmo apóstolo ensinou que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28). Cremos que Deus está no controle das coisas, e tudo que acontece em nossa vida é por causa de sua benignidade.

Mencionamos anteriormente que Deus é bom em absoluto, o salmista confirma isso dizendo que seus juízos são benignos.
“Desvia de mim o opróbrio que temo, pois os teus juízos são bons” (Sl 119.39).

No Salmo 119, do versículo 33 a 40, o autor mostra o seu interesse e desejo pela educação divina, ele deseja que sua vida seja orientada pela Palavra, para que não se torne um homem insensato.
Note a presença dos verbos: ensina-me; dá-me entendimento; faz-me andar; inclino meu coração.

O que notamos nesses versículos é que o salmista busca harmonizar sua vida com a vida divina, ele não quer andar de qualquer maneira, mas almeja trilhar as veredas da santidade dos mandamentos da Palavra.

Quem não tem um coração transformado pela Palavra pode inclinar-se às coisas desta vida e esquecer-se de Deus, mas quem/inclina o coração para a Palavra vence. O desejo do salmista é
que seu coração se apegue à Palavra de Deus, já que desse modo poderá vencer a cobiça pelas coisas materiais, como também os falsos valores deste mundo vil (Mt 26.41).

Aquele que anda no temor do Senhor, ou seja, em plena reverência para com os mandamentos divinos, com certeza desfrutará das promessas divinas. Há um temor no coração do salmista: o opróbrio que temo (Sl 119.39), ele não queria afogar-se nas zombarias dos homens, de modo que não correspondesse com os ensinos dos mandamentos. O salmista diz que os juízos do Senhor são bons, João diz que os mandamentos do Senhor não são pesados (l° jo 5.3).

Nas palavras do salmista entendemos que os mandamentos do Senhor são benignos, eles servem para educar e orientar, pois o que Deus deseja é que seus filhos sejam instruídos para salvação (SI 119.65,68). Está escrito em 1 Timóteo 2.4 que o desejo de Deus é que todos sejam salvos e venham ao pleno conhecimento da verdade, mas uma coisa muito interessante podemos notar no Salmo 25.8, onde está escrito que Deus instrui os pecadores a respeito do seu caminho. Isso prova o quanto Ele ama a todos e busca a salvação de todos. Por meio dos ensinos divinos o homem toma conhecimento de sua santidade, misericórdia e benignidade.

Falar dessa benignidade divina é algo espetacular, uma vez que por intermédio dela, o homem pode entender as seguintes coisas sobre Deus:

a) Deus manifesta sua benignidade aos pobres (SI 68.10).
b) Para os que confiam em nEle (SI 68.10).
c) Os que esperam nEle (SI 34.8).
d) Vem para os que o temem (SI 31.19).
e) Para os que buscam amparo nEle (Na 1.7).

O homem do presente século pode desenvolver a benignidade no seu viver, todavia, isso não depende de seus esforços, nem tão pouco acontece pelo fato de desfrutar da bondade divina. Para
de fato ser benigno é necessário que o Espírito Santo plante essa virtude na vida de cada pessoa, desse modo o homem poderá ser benigno, caso não seja assim, iremos lamentar como o salmista:
um mundo sem pessoas realmente benignas. “Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl 53.3).

A benignidade humana é relativa, não perdura para sempre, ao contrário da benignidade que vem do Espírito Santo de Deus, ela é bela, maravilhosa e dura para sempre, quando o cristão procura
viver segundo a lei do amor de Deus.

Os Benefícios da Benignidade

Em muitas passagens do Antigo Testamento destacamos a importância da benignidade, mas agora iremos apresentar seus benefícios à luz do Novo Testamento. No livro dos Salmos, falando da benignidade de Deus, está escrito: “Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele confia” (SI 34.8).

Por mais que tenhamos falhas e cometamos erros, sempre seremos levados a compreender a bondade de Deus. Era isso que o rei Davi sabia, mesmo diante de todos os seus erros. Ele sempre pôde ver o agir divino, por isso diz que em toda e qualquer situação louvaria a Deus, quer fosse em noites escuras ou em um dia bem ensolarado, daí a expressão: “Em todo tempo...”

Os que provam da bondade de Deus jamais desejam abandoná-la, dado que seus benefícios são grandiosos, Paulo diz que por meio dela, o homem é levado ao arrependimento e abandona o pecado (Rm 2.4), o que é confirmado por Pedro também (l Pe 2.3), claro que essa bondade não faculta oportunidade para alguém pecar o quanto quiser, pois é bom lembrar que Paulo diz que a bondade vem, também, acompanhada da severidade divina (Rm 11.22).

Falando dos benefícios dessa benignidade, atente para este versículo: “Mas quando apareceu a benignidade e a caridade de Deus, nosso Salvador, para com os homens” (Tt 3.4). Na explicação
deste versículo o doutor J. N. D. Kelly diz:

Paulo pinta o quadro em cores escuras, com exagerada autoacusação, mas reflete com exatidão a sincera repugnância que ele, como cristão, sentia ao relembrar o tipo de vida em que ele, e outros cristãos convertidos, tais como Tito e os cretenses, tinham sido envolvidos anteriormente. Não
foi nada do que eles mesmos tinham conseguido realizar, mas, sim, somente a intervenção divina, quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, que consegui desembaraçá-los daquela vida. (KELLY, 2006, p. 226)
Nesse texto entendemos que a benignidade de Deus é uma ação salvadora para com o pecador, ainda que sua vida estivesse manchada pela escuridão do pecado, a luz de Deus brilhou pelo envio de seu Filho ao Mundo (Jo 3.16; Ef 2.7). Quem passa a viver na benignidade é perdoado e transformado em uma nova criatura, e tem a capacidade espiritual para ser bom para com o seu próximo.

Meus irmãos oremos e estejamos debaixo da orientação do Espírito Santo de Deus, deixemos que as suas virtudes estejam em nós, especialmente a benignidade, pois ela dinamiza nossa vida cristã para considerarmos os outros e evitarmos artifícios que resistam aos bons costumes (lCo 15.33; Cl 3.12).

Paulo pediu à igreja de Efeso que cada crente fosse benigno uns para com os outros, pois já somos educados pela graça divina (Ef 4.32), desse modo aquilo que é satírico não tem mais poder em nossa vida, pois fomos transformados e reeducados pelo nosso grande mestre Jesus, que nos limpou dos fardos velhos (Mt 11.30). Portanto, agora podemos ser benignos para com as outras pessoas como Deus foi com cada um de nós.

Os Males da Porfia

O Léxico em Espanhol, de Roberto Hanna, fala de porfia, do grego éris como contenda e rivalidade egoísta (HANNA, 2007, P- 437).

Na Bíblia de Estudos Palavras-Chaves, no Dicionário de James Strong, está escrito que éris é de origem incerta; discussão, isto é, consequentemente brigas: contenda, debate, luta, divergência.

Pela definição dessa palavra, não se pode concluir outra coisa, a não ser que quem está dominado pela obra carnal cometerá sérios prejuízos à obra de Deus. Primeiramente a porfia se dá no campo da mente, é um sentimento hostil que tem como objetivo apenas causar divisões e dissensões entre as pessoas, pois cria discórdias e brigas, sempre dominada pela ambição.

Em sua derivação, erithós apontava para um servo alugado; ou erithia que significa trabalho por contrato, então é uma referência às pessoas que exerciam certas posições oficiais por salários ou dominadas por desejos egoísticos, que para realizar seus intentos presunçosos, criavam facções e partidarismos.

Essa obra da carne busca rasgar com violência e em pedaços aquilo que está unido, que é bom, perfeito e belo. No momento em que um crente é dominado pela porfia, dentro de si acende as labaredas que põe fogo em tudo. Temos visto exemplos de pessoas que matam outras por causa de uma discussão.

Devemos sempre procurar evitar as discussões, já que o homem dominado pelas obras da carne é um vulcão adormecido, nele está presente todo tipo de inveja, ira, zanga, ódio e a qualquer instante pode entrar em erupção. Na mitologia grega, éris era a deusa da contenda, seu trabalho era produzir violência, brigas e mortes.

O apóstolo Paulo falou de éris como sendo aquilo que descreve a vida do homem que tira Deus de cena (Rm 1.29), por intermédio dessa porfia as pessoas não se importam com as amizades, o bem-estar com o próximo, a consideração, uma vez que o que é importa é a confusão. Todavia, quem tem o fruto do Espírito Santo de Deus tem a benignidade e jamais procede dessa forma, pois seu propósito é cumprir o que a Palavra ensina (Rm 13.13).

O éris é obra da carne, por isso jamais deve estar no coração do cristão verdadeiro, porém, segundo os gramáticos bíblicos, essa palavra no contexto que Paulo faz uso, lamentavelmente é em relação aos crentes (ICo 3.3; 2 Co 12.20). Observe que as desavenças, as brigas, os debates, preferências, tudo isso estava dividindo o corpo de Cristo, o procedimento desses crentes provou que ainda estavam dominados pela obra da carne chamada porfia.

Falamos no início desse tópico que a porfia rasga, divide e quebra a comunhão, foi isso que aconteceu na igreja de Corinto. As porfias, ali presentes, dividiram os crentes fazendo com que uns gostassem mais de certo apóstolo do que de outros. E com pesar que digo, mas em muitas igrejas existem pessoas que estão influenciadas pelo espírito da porfia, usam sua mente para criar divisão, contenda e toda sorte de intrigas.

O apóstolo Tiago falou que sabedoria que vem do alto é pacífica, moderada e tratável, sempre deseja o bem e trabalha para promover a unidade da igreja (Tg 3.17). Louvamos a Deus porque em nosso meio existem muitos cristãos sinceros que são dominados pela sabedoria espiritual. Entretanto, Tiago também diz que se no meio do povo de Deus existe amarga inveja e sentimento faccioso no coração, esses estão dominados pela sabedoria terrena, animal e diabólica (Tg 3.14-16).

Quantos não estão atrapalhando, perturbando e causando escândalos à fé de certos crentes por estarem ensinando doutrina de demônios? Alguns têm aparência de piedade, mas, na verdade, são instrumentos de Satanás, destes todos devemos fugir, pois não hesitam em dizer até coisas absurdas apenas para criar partidos para si (2Tm 3.5).

Para que a porfia não domine nossos corações, especialmente, a igreja como Corpo de Cristo, é essencial que o seu lema em todos os sentidos seja a entronização de Cristo, evitar os debates teológicos que não salvam nem edificam, especialmente aqueles que são feitos sem qualquer fundamentação lógica.

Paulo disse aos cristãos polêmicos de Corinto que ele não queria propor outras coisas para eles, se não o assunto de Jesus Cristo ressuscitado (lC o 2.2).

Paulo não anunciou o evangelho na excelência da sabedoria humana. Ele pregou a mensagem de Deus na cidade de Corinto sem motivos humanos e métodos humanos, mas no poder do Espírito Santo de Deus. Em algumas Bíblias os tradutores colocam a palavra “testemunho”, mas no original aparece mystérion (trata-se dos segredos divinos, e não pode ser descobertos sem a revelação divina [Mt 16.17]). Em se tratando das coisas de Deus.

Paulo não desprezava a sabedoria humana, e, por vezes, fez uso dela. Todavia, era apenas como efeito de introdução, pois até mesmo pregando na Cidade de Atentas, que era muito culta, o início de sua mensagem foi sobre a revelação do Deus criador e conclui com a ressurreição, tema que o apóstolo bem sabia que não tinha tanta aceitação entre os gregos.

Entronizemos nas nossas pregações e ensinos a mensagem da cruz de Cristo, e jamais intencionemos buscar atrair membros para nós mesmos, para nossas teses teológicas, deixemos que Jesus seja a atração maior, o centro de tudo, pois nossa salvação custou o seu sangue (1 Pe 1.18.19). A igreja que destrona Jesus está morta há muito tempo (Ap 3.20).


Lembre-se, querido irmão, a porfia não é apenas contendas de palavras com uma pessoa; ela é obra da carne e pode atingir qualquer um de nós. No momento em que um pastor ou irmão começa a elogiar seu trabalho, querendo desfazer de outro, já é contenda; quando age falando mais de si mesmo do que do evangelho, já é éris; quando busca mais honra para si mesmo do que para Jesus, já é porfia também; quando prega por inveja, é porfia. Rendamo-nos ao Espírito Santo e deixemos que Ele faça brotar em nós os melhores frutos.

FONTE:
Livro de apoio 1º Trimestre de 2017
 As Obras da Carne e o Fruto do Espírito
Escrito por: Osiel Gomes.
Osiel  Gomes é pastor, formado em Teologia, Filosofia, Direito, Pedagogia, Psicanálise e pós--graduado em Docência do Ensino Superior.

Preside a Igreja evangélica Assembleia de Deus - Campo Tirirical, em São Luis, Maranhão

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